Alexandre Dianine-Havard “Perfil del líder”

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Alexandre Dianine-Havard “Perfil del líder”. Palabra. Madrid (2010). 204 págs.

O subtítulo do livro dá uma pista de que tipo de liderança se pretende falar: “em busca de uma liderança virtuosa”. E com este prelúdio, e fácil adentrar-se na leitura deste livro simples porem denso, onde os recados vão gotejando pouco a pouco, solicitando do leitor pausa para meditação. Mais do que uma teoria sobre a liderança -aliás, sobram teorias acerca do tema, que virou bola da vez- este livro seria um roteiro singelo para um exame de consciência -uma reflexão sincera- daqueles que a vida colocou em posição de liderar outros, e levantar bandeiras.

 A virtude necessária de quem está no comando é o leitmotiv, o fio condutor, de todo o livro. Uma evocação de Peter Drucker, reconhecido guru no tema de gestão, dá a largada : “A liderança se exercita através do caráter”. E o autor tira as consequências: “Reforçamos nosso caráter mediante a prática de hábitos morais, denominados virtudes éticas ou virtudes humanas. Desse modo o caráter marca o nosso temperamento que deixa de dominar nossa personalidade (…) Magnanimidade e humidade são virtudes inseparáveis na liderança. A magnanimidade é a origem das ambições nobres, a humildade canaliza essas ambições para o serviço aos outros”.

Virtude, por tanto, condição sine qua non, de quem pretende liderar. Virtude que não é um esforço titânico pela perfeição, mas um hábito que se incorpora no modo de ser, que facilita a ação, e que conta com os afetos e emoções. “Para praticar a virtude é preciso exercer a vontade, mas também enobrecer o coração. Os valores tem de penetrar o mais profundo do coração”.

 O livro recolhe exemplos paradigmáticos de liderança mundial para ilustrar as teses -o roteiro de reflexão- que o autor coloca. Numa das referências, chamou-me a atenção um pensamento vindo de Cory Aquino, a que foi presidente das Filipinas (1986-1992), uma líder mundialmente reconhecida: “Sem valores verdadeiros uma democracia não passa de uma confederação de loucos”. Grande verdade. Não basta opinar o que te dá na veneta, mas é preciso checar até que ponto essa opinião tem embasamento em valores, e na verdade.

 Virtude e exemplo. Algo cuja carência é epidémica. Daí o rigor das normas e protocolos, numa tentativa frustrada, de suprir as virtudes que o líder não tem, e a falta de exemplo para homologar seus discursos. “Como não podemos nos apoiar no cenário público na virtude dos líderes tudo corre por conta de regulamentos e punições, pretendendo-se que o medo ao castigo remedeie a debilidade moral. A falta de luta interior, contra si mesmo, própria da ética, da passo a uma necessária luta exterior contra os outros. Não há outra saída da crise a não ser o exercício da virtude”. Regras estas que são muito pouco seguras visto que uma “ética fundamentada apenas em normas é instável, porque facilmente pode ser substituída por ideologias, espiritualidade esotérica, objetivos pragmáticos, ou slogans de moda”.

 Como liderar? A liderança da virtude em ação. Novos itens para o gabarito de exame de consciência. “Os líderes arrastam mais do que empurram, ensinam mais do que mandam, inspiram mais do que corrigem. Mais do que exercitar o poder a liderança é o esforço para dar aos subordinados a capacidade de realizar-se por si mesmos (…) O líder tem seguidores, mas estes são sempre felizes colaboradores, sócios numa nobre empresa (…) Quando deve mudar alguém de posto, o líder tem que avaliar não apenas a produtividade mas a motivação, saber porque a pessoa atua: isso orienta o posto para o qual deve ser escalado, o tamanho dos seus sonhos, e os objetivos que persegue”.

 Daí a importância de dirigir por missão, não por objetivos; saber o porquê importa mais do que o como. E proteger-se das próprias manias ou faltas de visão, pedir ajuda para os colaboradores, estar aberto às críticas, dar facilidade para que cheguem as correções: “A colegialidade tem um efeito duplo: faz amadurecer aos que tomam as decisões e protege a organização da ditadura”.

 Essa liderança na prática exige reflexão, planejamento, investir tempo na função desempenhada: pensar! “Os líderes devem dedicar uma parte importante do seu tempo a funções do seu cargo: planificação a longo prazo, educação moral e profissional das pessoas à sua volta, motivação dos subordinados. Estudos mostram que a maioria dos que estão em postos de liderança não dedicam a esse função nem 10% do seu tempo”. Imagino que estão muito ocupados com outras coisas…..e perdem a sabedoria das prioridades. Por isso, o autor não resiste a citar a Santo Agostinho, um pensador de densidade moral imensa, que cobre inúmeros campos, também este que nos ocupa. “Procurai adquirir as virtudes que faltam nos outros, e não vereis os seus defeitos, porque vos não os tereis”. E conclui: “Não é acumular experiencia vital o que nos faz desenvolver a prudência, mas a reflexão sobre essas experiências”. O fecho de ouro para enfrentar, com sinceridade e valentia, este singelo roteiro de reflexão que trará luzes novas para um tema sobremaneira citado…..e muito pouco vivido.

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