Perfis da Espanha: Andanças culturais a propósito de um Congresso Internacional – Parte 3 de 4

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10-11 de Outubro: Andanças por Andaluzia.

Estar em Málaga e não aproveitar para conhecer algumas cidades de Andaluzia, seria um equívoco cultural. De modo que tínhamos já montada nossa viagem para, antes de regressar a Madrid, visitar Granada, Sevilla e Córdoba.

Sabendo da dificuldade para encontrar ingressos para la Alhambra de Granada, tentamos comprá-los no dia anterior em Málaga, mas não tivemos sucesso. Estava tudo completo. Mesmo assim, saímos no Domingo dia 10 rumo a Granada, para fazermos uma visita rápida pela cidade, antes de ir a Sevilla, onde estava contratado nosso hotel para aquela noite.

Aproximando-nos de Granada e consciente do tempo ser curto, adiantei pelo microfone do ônibus, alguns comentários de interesse cultural. Granada é uma cidade símbolo na reconquista espanhola aos árabes, pois foi a última cidade a ser conquistada pelos reis católicos, em janeiro de 1492. O rei Boabdil II, após entregar a chave da cidade para os monarcas espanhóis chorou quando, na sua retirada, contemplou por última vez a beleza da cidade. Sua mãe proferiu a famosa frase “Chora como mulher, quando não foste o suficientemente forte para defender a cidade como homem”. O famoso poema –O pranto do mouro- também arranca desta história, lenda, que toda criança espanhola ouviu contar no colégio.

Foi em Granada, também no mesmo ano de 1492, onde os reis Católicos despediram Colombo na sua viagem a America. E em Granada, na sua catedral, estão enterrados Isabel e Fernando, os reis católicos que unificaram Espanha nesse mesmo ano. A partir desse momento Espanha, que passou a ser de fato uma única nação, pois até o momento estava dividida em reinos diferentes (Castela, Leão, Aragão, Andaluzia)

Os comentários culturais incluíram o poeta Federico Garcia Lorca, de quem o grupo já tinha ouvido falar na exposição de Marañón, pois foi no cigarral de menores, a casa de Marañon em Toledo, onde García Lorca leu a famosa peça de teatro “Bodas de Sangue”, antes de estreá-la.

O tempo era curto e quando chegamos aos jardins da Alhambra, optamos por subir ao ônibus turístico que nos proporcionaria uma visita panorâmica de uma hora e meia pela cidade de Granada. O tempo não ajudou: fazia frio e chuva, algo não comum em Granada. A gravação que o ônibus proporcionou não tinha muitas mais informações daquelas que já tinham sido dadas no microfone do nosso próprio ônibus: o que prova que a cultura aprendida no colégio e nas aulas de história, serve muito bem para andar pelo mundo sem fazer má figura.

No final da tarde, saímos rumo a Sevilla, aonde chegamos quando a noite começava. O contato com Sevilla merecia também algumas explicações culturais apropriadas. Lá fomos nós, de novo, microfone em mão. O fantástico cenário que oferece a Semana Santa em Sevilla, com as imagens religiosas cuidadíssimas, delicadas, bem acabadas – e queridíssimas pela população, que se aglomera em volta de uma ou outra a modo de confrarias – é um momento único que merece ser comentado. Nas visitas as Igrejas certamente o grupo encontraria estas imagens – as Virgens Dolorosas às que tanta devoção tem os sevilhanos. Para maior ilustração pedi para passar aos passageiros do ônibus uma estampa da Macarena, presente de um amigo que sempre levo comigo nas viagens. Comentei sobre as Imagens de Cristo, como o Jesus do Gran Poder, ou Cristo da Expiação, mais conhecido como o Cachorro, nome do cigano que no momento da morte fruto de uma luta com facas, inspirou o escultor que acabou plasmando no rosto de Cristo a expressão agônica do cigano.

Após instalar-nos no hotel –por sinal, muito bem situado, no centro da cidade- saímos para passear e conhecer a cidade. Passeamos do lado do rio Guadalquivir, um dos acessos à cidade desde tempos antigos, guardado nos tempos árabes pela Torre del Oro, como atalaia de vigilância.

A famosa praça de touros –La Maestranza- e, afastando-nos do rio, entramos pelas ruas sevilhanas até chegarmos a contemplar a Catedral e a Giralda que, iluminadas à noite, oferecem um espetáculo singular. Nesse trajeto passamos na frente do famoso Arquivo de Índias, onde se guardam todos os documentos da época do descobrimento de América e da posterior colonização, na época em que a Espanha era metrópole de todas as colônias americanas. Contemplar todas estas obras arquitetônicas à noite, mediante uma iluminação muito bem conseguida, nos fez refletir que temos o privilégio de observar o que os construtores nunca tiveram oportunidade de ver, por carecer de luz elétrica, sendo isto mesmo válido para o interior das catedrais e igrejas, pinturas e retábulos, cujos autores tiveram que criar sem ajuda de luz artificial.

No dia seguinte, à luz do dia, pudemos novamente contemplar a Catedral –onde está enterrado Colombo- a Giralda, o Patio dos Naranjos, o Alcázar e adentrar-nos no bairro de Santa Cruz, antigo bairro judeu, um dos recantos mais típicos de Sevilla.

Uma placa, numa rua próxima à praça de dona Elvira nos adverte que naquela rua morou um cavalheiro que inspirou a lenda de D. Juan, personagem definitivamente ligado à cidade de Sevilha. Os jardins de Murillo, a Praça de Espanha, a prefeitura em estilo plateresco, o elegante hotel Alfonso XIII que é um palácio, e os edifícios ao longo da Avenida de la Constitución, que possuem uma personalidade muito especial. Acabamos o passeio com uma sessão de tapas sevilhanas, e nos preparamos para regressar ao hotel, de onde sairíamos para Córdoba.

Cordoba, a 140 km de Sevilla, outra cidade imprescindível nas andanças andaluzas, nos esperava ao cair da tarde. Não dispúnhamos de muito tempo –umas quatro horas- pois o hotel reservado estava ao norte de Córdoba, já caminho de Madrid. De modo que fomos diretos para visitar a Mesquita – Catedral, que causou uma impressão fabulosa em todo o grupo. Poder apreciar a convivência das culturas – uma catedral dentro da antiga Mesquita, que os cristãos não quiseram destruir quando reconquistaram a cidade das mãos dos califas árabes, e todo este conjunto muito próximo do bairro judeu, nos fez lembrar o liberalismo de Marañón que aprendemos na nossa visita a Toledo.

Na saída da Mesquita nos deparamos com uma figura que nos conquistou e se nos ofereceu para mostrar-nos a cidade. Tratava-se de um senhor Cordobés, de uns 70 anos, que vinha trabalhando com guia há mais de 30. Em pouco mais de uma hora, nos mostrou o bairro judeu, e contou-nos histórias e lendas sobre a cidade. Fundada pelos romanos, proporcionou quando província do Império Romano filósofos como Séneca e poetas como Lucano. Dessa época é a ponte romana que é a entrada principal na parte velha da cidade, onde se levanta um monumento a São Rafael Arcanjo, patrono e protetor de cidade de Córdoba. O passeio pelo bairro judeu, com suas estreitas vielas para evitar que entrasse o sol, por ser um clima muito quente; as ruas sempre branqueadas, e repletas de flores nos deixaram uma impressão magnífica.

A estátua dedicada a Maimônides, filósofo e médico judeu, que convivia com os califas árabes e colaborava culturalmente, foi ponto de parada obrigatória, para nos fazer uma foto oficial do grupo. O nosso guia contou-nos que Maimônides foi obrigado a fugir quando outras tribos árabes invadiram Córdoba e queriam obrigá-lo a converter-se ao Islam. Abandonou a cidade, e foi como médico particular do sultão Saladino até Damasco, onde viveu até a morte. Na saída do bairro judeu, nos deparamos com outro médico e filósofo também natural de Córdoba, mas desta vez de origem árabe: Averroes. Fizemos outra foto com ele, pois os bons exemplos de médicos que eram filósofos nunca são demais nos tempos que correm. O que para nós é um esforço juntar –medicina e filosofia- eles o tinham como ponto de partida.

No final da tarde, já dispondo de pouco tempo, o grupo principal se dispersou. Houve quem foi comprar lembranças, e um pequeno grupo decidiu não abandonar Córdoba sem experimentar o vinho de Jerez Amontillado, como sempre acompanhado de algumas tapas adequadas. Um sabor muito Cordobés, muito de Andaluzia que estávamos deixando atrás na viagem de regresso.

Chegamos ao nosso hotel situado na pequena cidade de La Carolina, na província de Jaén, a caminho de Madrid. Esta foi a última noite andaluza.

12 de Outubro: Feriado Nacional, e Regresso

Houve quem acordou cedo, e outros aproveitaram para descansar no hotel, pois tínhamos previsto a saída para Madrid às 13 horas. Um pequeno grupo que acordou mais cedo foi assistir a Missa na Catedral da Cidade. Celebrava-se nesse dia a festividade de Nossa Senhora do Pilar, padroeira da Espanha. Também se comemora nesse dia, na Espanha, a festa da Hispanidad, recordando o dia em que Colombo chegou a América por primeira vez.

A Missa na Catedral foi uma surpresa. Também nesse dia a Guarda Civil – um corpo militar fundado no século XIX na Espanha, que goza de um prestígio enorme sendo o principal protagonista da luta contra o terrorismo, celebrava nesse dia à sua padroeira, Nossa Senhora do Pilar. Deste modo, todas as autoridades civis e militares estavam presentes na Missa, e foram oficiais da Guarda Civil os que fizeram as leituras correspondentes. E, para maior solenidade, um coro andaluz atuou na Missa: ouvimos sevillanas, rocieras, e toda a variedade que a piedade andaluza sabe colocar no culto, temperado com sua própria cultura, palmas e castanholas. Um momento inesquecível e emocionante, uma belíssima despedida de Andaluzia nesta viagem memorável.

A caminho de Madrid, decidimos improvisar uma parada em Aranjuez, a 50 km de Madrid, que também é, como El Escorial, um Sitio Real, desde a época de Felipe II. Lá se encontra o Palácio Real e os Jardins, que também foram residência dos reis da Espanha. Sua construção iniciada em tempos de Felipe II foi depois desenvolvida por Carlos III, o mesmo que promoveu o Palácio Real de Madrid.

Aranjuez é o nome do famoso concerto que Joaquin Rodrigo compôs e que espalhou o nome da cidade pelo mundo todo. Um concerto para Violão e orquestra que o grupo dizia não conhecer até que após algumas pequenas explicações e breve entonação da melodia temática, descobriram que o tinham gravado no próprio telefone celular. Assim é a vida e a cultura: convivemos com elementos famosos, sem conhecer a sua origem até que num momento dado, uma parada descontraída para um almoço, alguém nos abre os olhos.

O almoço em Aranjuez –em dispersão, porque os gostos sempre são variados- finalizou nossas atividades em conjunto. De lá saímos para o aeroporto de Barajas, onde naquela noite a maioria do grupo tomaria o vôo de volta ao Brasil.

Um pequeno grupo permaneceria ainda alguns dias na Espanha. No mesmo aeroporto de Barajas, já tinham reservado um carro para alugar e, após despedir-nos todos –e também do nosso fiel motorista Manuel, e de agradecer seus serviços- saíram rumo a Salamanca, onde tinham reservado hotel para essa noite.

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