Helga Schneider: “Deixa-me ir, mãe”. Berlendis Editores. São Paulo, 2001. 135 pgs.

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173194São 135 páginas que narram o encontro da filha, hoje sexagenária, com uma mãe de 90, que abandonou ela, o irmão de ano e meio, e o marido, para cumprir sua missão e dever sendo guardiã das SS nos campos de extermínio. Um escrito real e psicológico, onde se mistura a falta de amor para uma mãe que nunca o foi, a repulsa, o sentimento de perdão, a obcecação de quem foi cortado por padrões de uma ideologia irracional. Momentos atuais –do encontro de um só dia, após 54 anos- com lembranças do passado e conhecimento das barbaridades provocadas pelos nazistas. Possui grande força narrativa quando se leva em consideração o contexto real: um diálogo, tremendo, de uma filha com a mãe a quem não vê há meio século.

Etty Hillesum. “Una vida conmocionada” – Record, 1981, 260 pgs.

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A Tertúlia Literária mensal, brinda-me a oportunidade de voltar sobre um livro especial, que me impactou no seu dia. Trata-se do Diário de Etty Hillesum, uma intelectual judia holandesa, no período de 1941-1943. A autora acabou sendo deportada para os campos de concentração onde morreu.

O diário é uma avalanche de sentimentos, percepções, sonhos, desejos, procura sincera de Deus, misturada com uma vida nem sempre exemplar. Chama a atenção este estilo místico-humano, certamente sincero, de alguém que não tinha uma religiosidade explícita, que se envolvia com amantes, mas que parecia buscar com paixão um sentido para a sua vida. “A finalidade da meditação deve ser converter-se por dentro numa grande planície, sem matos que impeçam a visão. Tudo isso para que cresça algo de Deus dentro de nós mesmos”.

Uma vida que considera sempre maravilhosa, e na qual entende ser sua função a de servir e doar-se aos outros, e que não tem o direito de escapar daquilo que o seu povo sofreu. “Não se pode dominar tudo com o cérebro, também é preciso deixar fluir um pouco a fonte dos sentimentos e da intuição. O conhecimento é poder, eu sei. Talvez por isso ambicione sabedoria, por esse desejo de me impor. Não o sei ao certo. Senhor, dá-me antes sabedoria do que conhecimento; aquele conhecimento que leva a sabedoria e que faz com que pessoas como eu sejamos felizes”.

Vale lembrar que é uma judia quem escreve, e que entreve qual será o seu fim. Mesmo assim não culpa o sistema, nem a vida, nem mesmo a crueldade dos outros. Somo cada um de nós os que temos de encontrar o modo de fazer o mundo melhor, transformando-nos nós mesmos: “Não vejo outra solução a não ser adentrar-se em nós mesmos e exterminar toda esta corrupção. Não creio que possamos melhorar em algo o mundo exterior, enquanto não melhoremos primeiro nosso interior. Esta me parece a grande lição desta guerra. Que tenhamos aprendido a buscar o mal dentro de nós, e não em nenhuma outra parte (…). Não sinto saudades; estou em casa. Isso o aprendi naqueles dias. Estamos em casa. Sob o céu estamos em casa. Estamos em casa em cada lugar do mundo, sempre que nos levemos a nós mesmos por inteiro”

Reflexão interior, busca de aprimoramento, ao invés de queixar-se e espalhar as reclamações aos quatro ventos. Essa foi uma das grandes conclusões do nosso debate filosófico, na tertúlia literária. A segunda conclusão, segue-se como facilitadora da primeira: para refletir, além de calar e cultivar o silêncio, é preciso escrever. “Não sou capaz de superar isto sozinha? Todo o mundo tem de saber o que acontece, é certo; mas também é preciso tratar bem aos outros e não os carregar constantemente com coisas que podem se suportar perfeitamente na solidão. Faz alguns dias pensei: o pior para mim será quando me tirem o papel e o lápis e não possa conseguir nem um pouco de clareza, que é para mim o mais importante”. Daí arranca a necessidade vital de escrever um diário: refletir, entender e entender-se a uno mesmo. Escrever, vencendo a preguiça, ao invés de quere contar sensações o tempo todo, que acabam onerando os outros, e nada resolvem. Como alguém comentou: São precisos mais diários e menos post no facebook, que dispensam de qualquer reflexão, pelo fato de tornarem-se públicos. Nada fica, é como água sobre as pedras.

E quando se reflete e se agradece a vida, mesmo repleta de contrariedades e durezas, é possível atuar como ponte e união com os outros homens. “Os caminhos reais de união, de pessoa a pessoa, existem neste mundo brutalmente desordenado, só interiormente. Exteriormente estamos fragmentados e os caminhos que vão de um ao outro estão sepultados sob os escombros, o que torna difícil encontrá-lo. Somente no interior é possível um contato ininterrupto e uma convivência conjunta”.

Uma união e compreensão que reclama a presença de Deus, como fonte de amor. “O único gesto decente que nos resta hoje em dia: ajoelhar-nos diante de Deus”. É por tanto natural a referência a Santo Agostinho, aquele campeão do amor, o temperamento mais erótico que já existiu no dizer de Ortega, que afirmava amor meus et pondus meus, meu amor é o meu peso, a minha medida, o norte que me guia. “Vou ler de novo Santo Agostinho. É tão severo e fervoroso. Tão apaixonado e cheio de entrega nas suas cartas de amor a Deus. Na realidade estas são as únicas cartas de amor que a gente deveria escrever: cartas de amor a Deus. Seria soberba demais afirmar que tenho amor demais dentro de mim como para dá-lo apenas a uma pessoa”

Há certas semelhanças com o estilo de Edith Stein, embora Hillesum explore mais o psicologismo do que a filosofia ou a teologia. Um livro que pode ser útil para entender as profundidades que alberga o ser humano, e as tremendas capacidades de melhora e de conversão que nele se encerram. Tudo isso, visto e escrito de um modo tremendamente feminino.

Dawn Eden: “The thrill of the Chaste. Finding Fulfillment while keeping your clothes on. Ed. Thomas Nelson. 224 pgs.

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cover_shadowO testemunho de uma conversa. Conversa, em amplo espectro, e por isso um livro diferente e sugestivo. A autora é uma jornalista, judia, conversa ao cristianismo (não sabemos se é católica ou não, mas provavelmente é evangélica). Sua grande conversão, tema deste livro, é a descoberta da castidade como uma vocação. Embora a autora apóie seu raciocínio na vivência real e coerente da sua nova fé –citando com freqüência passagens da Sagrada Escritura, principalmente do NT- os argumentos que utiliza para defender a castidade são de uma lógica natural, aplicável a qualquer pessoa, independente de credo ou religião. Um livro escrito para mulheres, onde fica claro que a liberação sexual – a facilidade em oferecer-se como objeto sexual- é no fundo medo de não encontrar um companheiro para a vida, medo também de comprometer-se. Tem passagens interessantes não desprovidas de humor: “se você tem que perguntar a alguém se amanhã ainda vai te amar, é porque não estás segura de que te ama hoje à noite”.  Uma coisa –diz ela- é ser solteira (single) e outra muito diferente ser singular (sugestivo jogo de palavras). Queremos alguém que nos ame, que seja como “Deus com pele de homem”. Aborda também as diferenças clássicas da alma feminina e a masculina, e anota como se comportam diante do fenômeno amoroso de modos diferentes. A autora conhece e cita Chesterton, e nota-se que admira o humor do escritor inglês, e tenta imitá-lo. Por isso o inglês dela nem sempre é acessível, visto que escreve em estilo coloquial, jornalístico, próprio de quem elabora artigos de divulgação.  Fala, sem nenhum constrangimento, do seu passado repleto de sexo fácil e esporádico, e arranca dos próprios exemplos para mostrar como a castidade é um valor que enaltece a mulher. Por isso, o livro tem credibilidade e embora abuse às vezes dos argumentos bíblicos, dá o recado para as mulheres. Assim, um livro útil para quem está envolvido na formação das adolescentes e jovens mulheres, que brinda argumentos interessantes para viver na castidade. Não são argumentos novos; a novidade está no modo como a autora os coloca e, sem dúvida, na força que adquirem por ser quem escreve alguém experimentado nestas aventuras.

Raymond Arroyo. “Mother Angelica. The remarkable story of a nun, her nerve, and a network of miracles”. Doubleday. New York. 2005.

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imagemExcelente biografia da Madre Angélica, repleta de episódios que mostram uma mulher de fé, que segue os pedidos de Deus para difundir a boa doutrina. Uma fundadora no estilo de Santa Teresa, com sentido de humor, pulso firme, vida interior e grande perspectiva sobrenatural. Uma mulher que, no dizer de Lee Iacocca, poderia ser a santa padroeira dos CEO’s.

Anotamos alguns episódios, traduzidos do original em inglês.

Pg. 58- entorta o dedo justamente o dia antes da profissão religiosa e o anel não lhe cabe (Jesus don´t Love me). Depois envia cartas de agradecimento do recente casal “O casal agradece. Assinado: Jesus e Angélica’

Pg. 59- Com os muitos sofrimentos reclama com Cristo: “Você me envia tudo isto, pensas que sou um cavalo?”. E ouve no interior “No, you are my Bride”  (Você é a minha noiva). Nunca mais reclamou.

Pg. 65. De uma freira com quem não se dava bem, pois tinha inveja de Angélica, escreve: “Suddenly, when I made an effort to Love her, I found myself able to be more patient and loving toward everybody…When you are concentrating on anything that´s disruptive to your life, you really don´t love anybody”. Se te concentras em algo que te irrita, não conseguirás nunca amar ninguém.

Pg 129. Um visitante no mosteiro. Chega a Madre Angélica e lhe diz: “Por que não empresta US$10.000” O sujeito puxa o talão de cheque e diz: “Sem dúvida, diz ele”. Madre Angêlica, surpresa, comenta:  “Você está brincando?”. “Eu não, e a Senhora?”. Diz Angélica: “Na verdade eu estava, mas não estou mais”

Pg. 167– O stand de Playboy, as garotas deram a volta (não que a parte de trás fosse mais decente do que a da frente- comentou a Madre). Chegou até elas, e deu-lhes umas estampas do Sagrado Coração e deixou-as perplexas.

Pg. 193- Num programa de TV, alguém telefona para Madre Angélica e se da o seguinte diálogo:

– Madre, o meu marido trouxe outra mulher para morar com ele.

– Ponha-os para fora

–Mas, não têm aonde ir?

– Eu vou-te dizer aonde irão: ao inferno.

– Madre,  não quero julgar.

– Minha filha, você é boba. O teu marido dorme com outra em baixo do teu teto e você não quer julgar???

Pg 206 e ss – Relata as polêmicas com os Bispos quando da visita do  Papa em 1987.  Dá-se o seguinte diálogo :

– Não quero ser conservadora nem liberal. Somente católica

– A Senhora afirma que existem Bispos bons e maus? –pergunta um interlocutor que é Bispo

– Exatamente.

– Por exemplo, o meu auxiliar?

– É um bom exemplo do tipo de Bispo que eu não quero no meu programa

– Como você decide qual o Bispo que pode ir ao seu programa e o que não?

– Bem, eu sou a dona do EWTN

– Mas você nem sempre vai estar à frente disso

– Vou dinamitar tudo antes de que caia nas mãos erradas

Pg. 216. Pede para Deus retirar-se destas atividades e ouve

– Não, agora você vai construir uma emissora de rádio para mim, e chegar a todo o mundo

– Mas, Senhor, eu não sei nada de rádio

– Não faz mal, eu sim sei. Pode começa- ouve Angélica no seu interior.

Pg. 230. Perante os desvios dos bispos americanos, em 1992, ela decide voltar ao Latim, ao velho hábito, e torna-se rígida com suas filhas. Nada de chegar perto do que ela denomina a ‘Electric Church- every time you GO, you  get a shock). Cada vez que entras em contato levas choque.

Pg. 237. Está se preparando a tradução ao inglês do Catecismo de Igreja Católica, e são utilizados termos  com linguagem “inclusive e não sexista”. A Madre Angélica, em vista disso, cancela todos os pedidos.  Já tinha comentado que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo e nasceu um indivíduo concreto, não um simples ser humano. “Você nunca pergunta a uma mãe se a criança é humana, pergunta se é uma menina ou um menino”. Ela viaja a Roma para encontrar-se com o Cardeal Ratzinger. Na entrada se cruza com o Cardeal Law de Boston (que tinha sido chamado pelo Vaticano a respeito da versão inglesa do Catecismo) que lhe diz; “Sei que tem uma entrevista com o Cardeal Ratzinger. Não se esqueça de advogar pela linguagem inclusiva. É muito importante para América”. Ela sorri e diz: “Meu rapaz, você deveria saber muito bem o que eu vou falar com ele”.

Pg. 242. “Estou cansada de ti, igreja liberal em América. Estou farta”. Os comentário são depois que uma via sacra foi representada por uma mulher. “Coloquem uma mulher branca para representar Martin Luther King, ou Maomé, ou Moises, e vamos ver o que acontece. Por que temos que ser os católicos os únicos que podemos ser pisoteados e não temos direito de dizer nada?”.

Pg. 259 e ss . The Mahony affair – o bispo de LA, que numa carta pastoral deixa dúvidas sobre a presença real de Cristo na Eucaristia. Madre Angélica acusa ele publicamente, prega obediência zero, e mesmo pedindo desculpas depois, ela não dá o braço a torcer. O conflito dura vários anos e ela não dá marcha ré. “Não tenho dedicada a minha vida inteira para louvar e adorar o Santíssimo Sacramento e agora, por que um cardeal diz estas coisas, vou ter que negar o que eu faço e ao que eu dediquei a minha vida? De jeito nenhum. Como vou enfrentar o Senhor dessa maneira?” Algum comentário de fontes oficiais disse : “Mother Angelica hás de the guts to tell him what we do not”. (Ela tem a coragem (?) de dizer o que não somos capazes de dizer nós)

Pg. 282. O Bispo de Alabama, sempre apoiou ela, mas ficou incomodado quando alguém comentou:  “Este é David Foley, da diocese the Mother Angélica”. Levanta a questão da Missa ad orientem (de costas) e quer visitar o mosteiro. A briga é grande, e ela não arreda pé.

Pg. 321. Quando estava na UTI, após a cirurgia de um derrame cerebral hemorrágico gravíssimo, e as pessoas pensavam que morreria ou seria um vegetal, o bispo Foley entra para visitá-la. De repente a sua pressão sobe, os alarmes tocam e as freiras sabem que ela volta a ser ela mesma: não tinha perdido a memória e sabia quem estava na frente dela. Havia esperança.

Alma de Herói – Seabiscuit: A Liderança que nos constrói nas dificuldades.

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(Seabiscuit) Diretor: Gary Ross. Atores: Jeff Bridges , Chris Cooper , Tobey Maguire , Valerie Mahaffey. 140 min. 2003

seabiscuit1Após alguns meses de silencio – apenas mutismo virtual: muito trabalho, pouquíssimos filmes, nenhum comentário cinematográfico- nesta semana que antecede o Natal penso que é tempo de pagar mais uma velha dívida. Assim, rascunho estas linhas para promover Seabiscuit – que encontramos traduzido ao português como Alma de Herói. Estou quase certo que quando assisti, há quatro anos, o título que constava na caixa do DVD era esse mesmo: Seabiuscuit- Um sonho americano. Tanto faz. Seabiscuit, que é um cavalo, tem mesmo alma de herói, e também é um sonho. Não somente americano, mas um sonho possível de todos nós.

Alguém poderia perguntar: mas por que isto e uma dívida? Por que você sente a obrigação de escrever sobre este filme, que é uma diversão familiar com perfil Disney? Acontece isso com todo filme que você assiste? Uma necessidade –incômoda dívida – de escrever? Não, em absoluto. Mas, meu caro leitor, eu conheço as minhas dívidas, o quanto devo a alguns filmes, e o peso que tiveram –e têm- na minha vida. Há muitos anos, François Truffaut escreveu um livro que intitulou: “Os filmes da minha vida”. Não é um catálogo dos 100 mais, nem dos 100 melhores. São, simplesmente, os filmes de Truffaut, os que lhe marcaram e tiveram um significado peculiar, as suas dívidas.

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O médico perante a morte

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A nossa vida é feita de histórias. São as vivências as que marcam e definem o nosso perfil e alimentam nossa existência. Somente depois vamos buscar as idéias, o embasamento–o referencial teórico, como dizem os pesquisadores- que sustenta e ordena as vivências.

Talvez por isto, enquanto revisava os tópicos que aqui se recolhem e com os quais venho lidando há muitos anos, uma história veio à minha lembrança. Foi há anos atrás, conversando com um amigo médico que se dedica aos Cuidados Paliativos num país da Europa. Perguntei-lhe como tinha decidido trabalhar nessa área. Ele sorriu e respondeu com uma simplicidade esmagante: “Não pense você que eu tinha vocação para fazer Cuidados Paliativos, ou que isto era o meu sonho. Na verdade, sou geriatra de formação, e o que sempre fiz foi dedicar-me ao meu paciente com afinco. Com o tempo, reparei que ao cuidar do meu paciente até o final, olhei em volta e todos os médicos que tinham participado na vida dos meus pacientes haviam desaparecido no momento em que eles finalizavam a vida. Fiquei sozinho. Na verdade me surpreendi praticando paliativos. Como você vê, foi apenas uma conseqüência da minha dedicação. E ver que ninguém estava lá para fazer isso. Mais nada”.

A história é esclarecedora e serve de advertência. As considerações que aqui se expõem são uma reflexão sobre as vivências pessoais, no momento de lidar com a morte dos pacientes que acompanhamos ao longo da vida. Não são fruto de um estudo teórico, e distam muito de querer ser a opinião de um especialista no tema. São pensamentos em voz alta de quem teve o privilégio de ser testemunha nessas circunstâncias tão especiais que fazem parte da vida de um médico.

Para ordenar esses pensamentos, parece conveniente juntá-los em dois grandes grupos. No primeiro, quer delimitar-se a questão, o eterno dilema que os médicos vivem de combinar a técnica com o humanismo, particularizando-o no momento da morte do paciente. No segundo, comenta-se a função técnica do médico, que denominamos o gerenciamento da morte.

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Eudora Welty: “A Filha do Otimista”. Editora Mandarim. São Paulo. 1997. 176 pgs.

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152925_955A escritora Eudora Welty ganha com esta obra o Premio Pullitzer em 1972. Uma narrativa fluida, fácil, que desenha um verdadeiro quadro de costumes, marca registrada dos escritores sulistas de USA. As personagens estão bem descritas, muitas vezes esboçadas mediante comentários precisos que são como uma radiografia da alma desses seres para quem a terra –o sul, o Mississipi- a família, os vizinhos são parte integrante do seu viver. Uma complicação inesperada de uma cirurgia oftalmológica acaba com a vida do juiz McKelva, viúvo e casado há um ano com Fay. O drama familiar junta a nova esposa com Laurel, a filha do primeiro casamento, seres completamente opostos. De um lado Laurel, também viúva, sensível, repleta de recordações; do outro Fay, a personificação do egoísmo e da insensibilidade. Esse é o verdadeiro drama, palco do romance, e as outras personagens são apenas coadjuvantes que colaboram para aumentar o contraste. A obra é de fácil leitura, mas nem por isso está desprovida de lirismo e de poesia. Os questionamentos surgem da reflexão, sempre muito feminina, e fazem pensar no que realmente importa na vida, na capacidade de perdão, nas bobagens que o homem é capaz de fazer  –verdadeiros sem sentido- e a contemplação do passado traz sempre o grande interrogante: sempre teria sido possível fazer mais, fazer as coisas melhor, quando se tem “um coração que pode se esvaziar e se encher outra vez, no tecido restaurado pelos sonhos”. Impossível deixar de pensar, enquanto se lêem estas páginas, nas tremendas diferenças –de formação, de postura, de sensibilidade- que existem entre as pessoas que acabam se juntando numa mesma família. Ter isso presente pouparia, talvez, muitos desgostos familiares; ou, pelo menos, ajudaria a encará-los de outro modo.

O paciente e a Família perante a morte: O Papel do Médico de Família

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Estudar a morte, o último evento da vida, do ponto de vista médico traz novidades de metodologia. Para começar o termo final vem dado, sabemos o que esperar. Por outro lado, a morte é um fenômeno individual: cada um morre sozinho, de um jeito determinado, com suas vivências personalíssimas. Cabe, pois, estudar o processo de morrer, propriamente dito, onde o médico -o profissional de saúde em geral- deverá ser um elo entre os outros dois termos do processo: o paciente, em fase fina da vida, e a família do paciente. Se no processo de cuidar e de curar, situado no âmago da atuação médica, deve-se lembrar que o protagonista é sempre o paciente e não o médico, no caso da morte esta ressalva assume particular destaque. De qualquer forma é bom recordar que o médico, o bom médico, pode aspirar no máximo a ser um bom coadjuvante no processo. O ator principal é sempre o paciente.

Mas a função de coadjuvante não pode fazer perder de vista o que denominamos postulado fundamental da Medicina de Família: “Perante a doença, o único profissional é o médico. A família e o paciente são sempre amadores”. Quer dizer, é do médico de quem devemos esperar uma atitude profissional na situação que nos envolve, e não do paciente, nem da família. Traduzindo em exemplos do dia a dia: não existe o paciente complicado, a família difícil de lidar. São desafios para o médico que com seu profissionalismo deverá dirigir a situação. O paciente que não adere ao tratamento, que não confia no profissional, a família insegura são, embora seja penoso reconhecê-lo, resultado de falta de competência do médico que não soube conduzir-se com a atitude correta.

Estudar a morte, o último evento da vida, do ponto de vista médico traz novidades de metodologia. Para começar o termo final vem dado, sabemos o que esperar. Por outro lado, a morte é um fenômeno individual: cada um morre sozinho, de um jeito determinado, com suas vivências personalíssimas. Cabe, pois, estudar o processo de morrer, propriamente dito, onde o médico -o profissional de saúde em geral- deverá ser um elo entre os outros dois termos do processo: o paciente, em fase final da vida, e a família do paciente. Se no processo de cuidar e de curar, situado no âmago da atuação médica, deve-se lembrar que o protagonista é sempre o paciente e não o médico, no caso da morte esta ressalva assume particular destaque. De qualquer forma é bom recordar que o médico, o bom médico, pode aspirar no máximo a ser um bom coadjuvante no processo. O ator principal é sempre o paciente.

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Medicina e Pessoa Humana

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Uma medicina técnica, institucional e despersonalizada

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Em nosso tempo, presidido por uma medicina altamente técnica, a prestação de serviços compete, em geral, às instituições – sejam elas públicas ou privadas – e, conseqüentemente, de perfil cada vez mais impessoal. A relação médico-paciente, essência da prática médica, dificilmente encontra espaço neste universo. Caminha-se, fatalmente, para uma despersonalização da medicina. Aqui está, em poucas palavras, o cerne da questão que emerge com evidência quando contemplamos o panorama que o atendimento médico nos oferece neste final de século.

Essa é a questão e o problema, se é que de um problema se trata. A nossa tarefa não consiste tanto em encontrar os culpados – que, a rigor, não existem com consciência culpável – como em achar soluções para recuperar a base da arte médica. Cabe, no entanto, uma análise breve das razões que conduziram a medicina – e com ela os médicos – a esta condição que, curiosamente, parece não preencher as necessidades básicas do paciente. Afinal, é com ele que está a palavra e o juízo de valor: se a prática médica não satisfaz o indivíduo doente pode ser útil para muitas coisas mas, falando com propriedade, aquilo não será medicina.

Vivemos tempos de progresso tecnológico vertiginoso; as novidades e descobertas sucedem-se em ritmo onde os dias são medida insuficiente, devendo se recorrer aos minutos para registrar os avanços da técnica. O aumento do volume de conhecimento requer, para sua correta administração, a necessária divisão técnica. Surgem as especialidades, as sub-especialidades, as micro-especialidades, uma tentativa de armazenar o progresso, de catalogar os recursos para, estudados com profundidade, poder depois prestar um serviço altamente especializado e eficaz. Nunca foi mais evidente que os sonhos de “enciclopedismo”, em tentativa frustrada de reunir o conhecimento vigente da época presente, são hoje postura anacrônica quando não ingênua. O progresso é uma realidade incontestável. Os especialistas e super-especialistas são o fruto natural desse contexto.

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