O MESTRE DE MÚSICA

Pablo González BlascoFilmes Leave a Comment

(Le mâitre de musique) Diretor: Gerar Corbiau. José Van Dam, Anne Roussel, Philippe Volter. Bélgica, 1988. 98 min.

A estética e o bom gosto é algo cada vez mais ausente nos filmes de hoje. Por isso, esta produção, dirigida pelo belga Gerard Corbiau merece destaque especial. O argumento é original e simples. Um prestigioso cantor de ópera – Joachim Dallayrac-, magnificamente interpretado pelo barítono belga José Van Dam, retira-se dos palcos por motivos de saúde. Daí para frente sua vida será dedicada à preparação de dois alunos: uma jovem soprano e um ladrão, que resgata no meio de um furto, e parece ser um tenor com potencial. Avançado o filme, intervém o convite-desafio do príncipe Scotti, mecenas italiano, para um concurso de canto lírico. A rivalidade de anos, que encerra velhas mágoas entre Joachim e Scotti, será agora protagonizada pelo enfrentamento dos alunos de ambos.

            “O mestre de música” é um filme que, suportado com um argumento leve, se recreia num preciosismo narrativo de detalhes, todos muito bem conseguidos. Como um brinco de diamantes. A fotografia deliciosa -as cenas são autênticas aquarelas- a interpretação ótima, e, sobretudo, a música envolvendo cada quadro, de modo preciso, escolhida a dedo. Evidentemente, os entendidos saberão aprofundar no significado que cada trecho musical acrescenta aos perfis visuais. Assim, Mahler coloca um fundo genial no interior atormentado de Joachim; as árias de Verdi se correspondem com momentos definidos do argumento e com os estados de ânimo das personagens: sofrimento, frivolidade, angústia. O duo de La Traviata, paroxismo de sentimentos entre Violeta e Alfredo (‘Croce e delizia, delizia al cuor’) é outro ponto alto do filme, magnificamente interpretado pelos discípulos de Joachim. E também Bellini, Mozart, Schubert, em momentos escolhidos vão emoldurando as diversas cenas, como maravilhosas miniaturas, pequenas caixas de música, trabalhadas com perfeição.

            Pensar que o filme é destinado aos entendidos em Ópera seria recortar seu longo alcance e o poder de atração pela beleza plástica que exerce sobre qualquer espectador com um mínimo de sensibilidade. Mais correto é afirmar que são “lições fora de programa” para os iniciantes. Corbiau consegue despertar o interesse pela ópera, pelo canto lírico, pela música que, nota-se, conhece muito bem. A experiência demonstra que o “espectro de gostos”  do filme é amplo, já que a arte sempre agrada quando apresentada com bom gosto, na dose certa, com riqueza de matizes e beleza de expressão. Neste sentido, O mestre de música será uma agradável surpresa para os espectadores: para muitos o despertar de uma sensibilidade que ignoravam possuir – quem sabe adormecida pelos lugares comuns do cinema por atacado; para todos, um espetáculo delicioso, lirismo e arte, bálsamo para os olhos, para os ouvidos, para o espírito. Cinema de primeira classe.

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