Betty Smith: Uma árvore cresce no Brooklyn
Verus Editora, 2021. 532 págs.

Entregaram-me este livro, na versão espanhola, acompanhado de uma simples frase: Eis um livro encantador, emigrantes em Nova Iorque, vistos pelos olhos de uma garota . Sem mais. E pensei que os meus comentários de livros -esta semana alguém advertiu-me novamente- são por vezes extensos demais. É possível que mais do que animar as pessoas a lerem livros, acabem desanimando. Algo assim como “muita areia para o meu caminhão”, ou tantas árvores que não conseguem enxergar o bosque.
Li a árvore que cresce no Brooklyn, e gostei. Um livro muito feminino porque, como já me foi dito, a lente que filtra o relato, são os olhos de uma menina quase adolescente. Francie. De fato, ai está o encanto do livro, e da árvore, que era amiga da gente pobre. Os emigrantes são irlandeses, que mantem seus costumes e sua religião, no meio da pobreza. Vão à Missa no domingo, “alguns até as seis da manhã, o que tinha seu mérito relativo, pois tinham ficado acordados ate de madrugada e após a primeira Missa, absolvidos de todo pecado, voltavam para casa e dormiam profundamente”.
Francie é a ancora de toda a narrativa: “Uma mulher grávida estava sentada pacificamente em uma cadeira de madeira dura enquanto aproveitava o calor do meio-dia e observava a agitação da rua. Parecia guardar o mistério da vida (…) Francie lembrou-se da surpresa que teve no dia em que sua mãe lhe disse que Jesus era judeu. Sempre acreditei que ele era católico. Mas sua mãe sabia muito, ela lhe disse que para os judeus ele era uma dor de cabeça, um garoto que nunca trabalharia como carpinteiro, que nunca se casaria, nem teria uma casa ou uma família própria. E além disso, os judeus pensavam que seu Messias ainda não havia chegado, foi o que sua mãe disse. Com esses pensamentos na cabeça, Francie parou na frente da judia grávida. ‘Acho que é por isso que os judeus têm tantos filhos’, ela disse para si mesma. Agora entendo por que eles ficam tão parados… eles estão esperando. E é por isso que elas não têm vergonha de ganhar peso e têm uma postura tão digna quando estão grávidas. As mulheres irlandesas, por outro lado, sempre parecem envergonhadas. Deve ser porque eles já sabem que nunca darão à luz o menino Jesus, mas sim outro Mick. Quando eu crescer e descobrir que estou grávida, vou lembrar de andar devagar e com orgulho, mesmo não sendo judia”.
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