EM NOME DO PAI: A contundente força da Integridade

Pablo González BlascoFilmes Leave a Comment

(The name of the father) Diretor: Jim Sherridan. Daniel Day-Lewis, Pete Postlethwaite, Emma Thompson. USA 1993. 132 min

A questão da Irlanda do Norte, tema que vem ocupando as páginas da imprensa nas últimas décadas, com maior ou menor destaque, mas sempre presente, é o cenário deste filme. O tema é tratado tomando ocasião de uma acusação injusta feita contra 4 pessoas, supostamente culpados de um atentado praticado pelo IRA. O filme corre com lentidão – porque chega ao detalhe e não por faltar-lhe força-, mas mantém a tensão em todo momento e prende o espectador. É todo ele uma rica descrição do processo e da prisão dos acusados, entremeados com injustiça, violência e situações onde se alterna a degradação com a mais alta categoria humana e a capacidade de perdão.

O diretor, Jim Sherridan, é irlandês até o último fio de cabelo e, como fez em

Meu Pé Esquerdo, sabe destacar com relevo os valores, aparentemente cinzentos, de um pai de família (no filme anterior era a mãe) que se destaca como um gigante no meio da mediocridade, dos rancores e das paixões mais baixas. Daniel Day Lewis, um ator que já provou ser capaz de representar qualquer papel, tem um desempenho notável como protagonista. Emma Thompson, comedida, com grande classe num papel que lhe cabe sob medida. Uma figura Shakespeariana, neoclássica, no meio das agitações revolucionárias. E Pete Postlethwaite, que encarna o pai, é o destaque interpretativo, e a condensação de valores que o filme nos mostra. Atrás do que poderia parecer pusilanimidade e covardia, encerra-se a fortaleza e a honestidade de um homem íntegro.

Porque fortaleza -grande lição para o nosso tempo agitado- não é ataque nem agressão, e quase nunca se condensa na violência. Fortaleza é, sobretudo, saber resistir, com serenidade, com ânimo estável e firme, perante as dificuldades que obstaculizam a consecução da meta difícil. Por isso, como ensinam os clássicos, o maior exemplo de fortaleza nos vem dos mártires. Fortaleza, e o seu subproduto a paciência, da qual tanto carecemos os homens desta época e tanto invejamos naqueles que souberam conquistá-la.

“O homem paciente vale mais do que o valente, e o que domina o seu ânimo mais do que o conquistador de cidades”. O recado vem do Livro da Sabedoria. E pulando para o outro lado, das Escrituras para o pensador liberal, a tônica persiste. “O homem forte -escreve Ortega- não pensa nunca em atacar; sua atitude primária é simplesmente afirmativa. A serena e despreocupada afirmação de uma doutrina, de uma vontade, de um desejo é a verdadeira ofensiva de um temperamento guerreiro. O ataque é para ele coisa secundária, e, sempre, uma resposta a alguém que se sentiu ofendido pela enérgica paz da sua afirmação”. O pai, sereno, forte, manso, consegue com enxurradas de amor, domar o ódio que inunda o coração do filho que pensa, erradamente, que o seu pai é um fraco, e acaba curvando-se à verdadeira fortaleza. Verdade desconcertante que estabelece, pela sua clara e estonteante serenidade, o contraponto preciso para nossos frágeis padrões de excelência. Assim surge o pai que Sherridan nos mostra, cuja grandeza percebemos apenas quando o filme já acabou. É como o bom sabor de boca que persiste quando o licor já foi ingerido: somente então se aprecia a suprema qualidade. Um filme necessário, dirigido ao público adulto, excelente como documentário, de perfil atual, e com recados para a vida do dia a dia.

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