O JORNAL
(The Paper) Diretor: Ron Howard. Michael Keaton, Glenn Close, Marisa Tomei. USA 1993. 116 min
Os filmes de jornalistas costumam ter impacto. A caça da notícia, o manuseio dos fatos, o furo de reportagem, são estampadas nas páginas dos diários com maior ou menor veracidade, mas sempre criando opinião. E como o quarto poder mexe com as vidas alheias -as de todo aquele que se cruza no seu caminho- é tema de interesse comum, atrativo, base para uma boa produção. Por ela desfilam heróis e vilãos em pele de jornalistas que são, afinal, seres humanos com seus problemas, suas paixões, sua própria vida a ser vivida.
O Jornal é um filme movimentado nas ideias, de conceitos rápidos e intuitivos como se de uma sucessão de manchetes de jornal se tratasse, projetados em ritmo de carrossel de diapositivos. Poderia muito bem levar no subtítulo “como fabricar o jornal de amanhã”. As quase duas horas da fita transcorrem em apenas 24 horas: as que ocupa a redação de um jornal em elaborar a próxima edição, e como satélites da mesma, a vida paralela das personagens. Pode-se imaginar a densidade de informação: os fatos que são notícia, os destaques, a primeira página. E, para chegar a tudo isso, reuniões, muitas reuniões, decisões pela metade, investigação em “off” paralelas, luta pelo poder, ciúmes, invejas, velhos rancores, e toda a salada do acontecer humano. Tudo isto servido em estilo “fast-food”, condimentado com “gags” -ora cômicas, ora dramáticas, mas dinâmicas e chamativas- entremeada com a problemática pessoal de cada personagem. São figuras espontâneas, desbocadas, de um primarismo genuinamente americano que possuem simpatia e certo encanto.
O resultado é um filme ágil, que agrada o espectador, onde se abordam com acerto temas de fundo de palpitante atualidade: o compromisso com a verdade passando por cima do sensacionalismo, o binômio trabalho-família onde esta última costuma levar a pior parte, a responsabilidade da imprensa. E, com destaque, um recado que Martha, a simpática protagonista, nos transmite, colocando-o em forma de dilema para Henry, seu marido: não esperar os hipotéticos momentos críticos para ser heroico, mas aprender a sê-lo no dia a dia, no detalhe. “Se chegar um bandido, colocar um revólver na sua cabeça e perguntar: escolha, entre a sua família e o jornal, o que você escolhe?” “Isso é bobagem – diz Henry- Isso nunca vai acontecer” “Exatamente, isso é teórico –explica Martha- mas a questão são as escolhas que você faz no dia a dia, de verdade. Nunca vai chegar esse momento decisivo. Todos os momentos o são”. É ali, no rotineiro que facilmente se despreza, onde se decidem as grandes cartadas da família, do trabalho, do amor, em definitivo, da autêntica felicidade.