ROB ROY
(Rob Roy) Diretor: Michael Caton-Jones. Liam Neeson, Jessica Lange, John Hurt, Tim Roth. USA-Escócia, 1995. 139 min
Escócia, século XVIII, é o ambiente para situar este filme, inspirado num romance de Walter Scott -arauto do romantismo inglês, um romantismo com sabor sempre medieval- que focaliza as lutas entre os nobres da corte e os clãs tradicionais da Escócia. Uma variante tardia de feudalismo, já que na verdade o filme é histórico, até épico poderíamos chamá-lo a não ser pela ausência dos milhares de figurantes, ingrediente necessário nessas superproduções hollywoodianas dos anos 50 e 60.
Rob Roy, é Robert McGregor, chefe do clã McGregor em luta contra os capangas -por sinal, capangas de peruca, finíssimos e perfumados, mas verdadeiramente malvados- que lhe roubaram seu dinheiro, e tratam seu povo de modo arbitrário. Rob Roy é todo ele um canto à honra, uma versão escocesa, com saia incluída, de “El Cid”. Seu maior argumento de credibilidade, suas credenciais são, nem mais nem menos, a “palavra de cavalheiro”. A honra, que “é um presente que o homem se dá a si mesmo”, seu ideal de vida, correndo parelho com os satélites necessários do cavalheiro: a fidelidade, a verdade, o amor incondicional à mulher que adora.
Um homem não pode viver sem honra – diz Rodrigo de Vivar, “El Cid”; mas onde há nobreza e cavalheirismo também cresce a traição e a mesquinhez. “Esse negócio da honra vai acabar te custando a vida”- é o argumento dos seus adversários. E até a própria mulher que “amando muito a honra, amo mais meu marido e sua vida”, são o contraponto necessário para destacar a virtude do herói.
Poderia ser um filme redondo pela temática, pelos valores de fundo. Mas vivemos tempos onde a poesia e o ideal que a integridade de uma alma nobre nos sugere, parece ser indigesta em estado puro. É preciso embrulhá-la -pelo menos assim pensam os produtores de cinema- em doses exageradas de realismo, explicitando detalhes que, sendo reais, poderiam omitir-se sem desmerecer a produção, nem diminuir o herói. Isto faz com que o filme apresente cenas de grande crueza e de uma objetividade fisiológica incômoda, que o tornam desagradável neste particular. Uma pena, já que em conjunto é um filme a ser respeitado, que agradará. Feitas as ressalvas, lembra, por exemplo, um belo prato… de bacalhau: delicioso no seu conjunto, mas com espinhos que atrapalham e impedem uma refeição descontraída.
Destaque especialíssimo para a atuação de Jessica Lange -num papel dramático, mostrando uma personalidade sólida, pouco conhecida nela. O mau da história -Tim Roth- é mau mesmo, e a encarnação da personagem é simplesmente magistral, eclipsando o resto dos atores. O compromisso com o mal, a garantia de ganhar a aversão de todo e qualquer tipo de público é elemento necessário neste tipo de filmes. Em “Rob Roy” este papel está perfeitamente conseguido.
Não falta, no conjunto do filme, uma apologia da honra, os versos de romantismo que tocam o coração em cenas muito bem conseguidas. A dignidade da mulher violentada que desfila como uma rainha, o amor do herói que compreende e purifica a maldade dos outros: “se for menino -diz da criança por nascer- chame-o Robert; se menina, dê-lhe o nome da minha amada, Mary Mc Gregor!” Estes momentos emocionantes fazem até esquecer os eventuais espinhos, sempre que o público seja suficientemente maduro e com paciência para separá-los.