O Guarda – Costas e a Primeira DAMA
(Guarding Tess) Dir: Hugh Wilson. Shirley MacLaine, Nicolas Cage. USA 1994. 95 min
A psicologia feminina adquire um colorido peculiar quando entra na terceira idade. É como se, com os cabelos brancos, decantasse a experiência serena dos anos para dar relevo a traços que guardam um encanto especial. Surgem modos diferentes de dizer, de sonhar, de amar. Um amor que é o curioso resultado de uma mistura de sentimentos, algo assim como um resumo dos amores de uma mulher ao longo da sua vida.
Um amor ingênuo e caprichoso, como quando criança; sonhador como o da adolescente; ciumento como se de uma noiva se tratasse; abnegado e silencioso, como o maternal; teimoso e autoritário, próprio das anciãs. Mas em qualquer caso, é um amor elegante, experiente, sereno. Um amor que pede tudo e se contenta com muito pouco: com um sorriso, com um pouco de atenção, mas, isso sim, na hora certa. Amor que exige exclusividade nas formas, mas é tolerante no coração, se satisfaz com um olhar carinhoso.
A primeira dama e o guarda-costas aborda com acerto esta temática, de riqueza incomum, ancorada na interpretação magnífica de Shirley MacLaine, que é capaz de representar este acúmulo de sentimentos numa simples expressão facial, num olhar, num gesto da boca.
Shirley é Tess Carlisle, viúva de um hipotético presidente americano. Goza da proteção policial que o governo coloca à disposição de quem foi a primeira dama do país. Douglas Chesnic é o chefe da equipe de agentes especiais e guarda-costas inseparável de Tess que não consegue viver sem ele por perto, com quem briga continuamente. E o argumento transcorre entre desavenças e reconciliações, caminho a percorrer até descobrir “os modos de carinho” nessa variante da psicologia feminina.
“Assim somos as mulheres -diz uma personagem de um drama clássico do século XVII- que quando queridas desprezamos e, quando odiadas, queremos”. Esta frase resume bem as dificuldades que o bom guarda-costas tem em sintonizar com a primeira dama.
Tudo isto cristaliza numa comédia ágil e encantadora, rica em detalhes, intuitiva, subtil… como o amor da mulher madura que já cursou pós-graduação nesta matéria e sabe, por isso, compreender e perdoar.