SEVEN -OS SETE CRIMES CAPITAIS

Pablo González BlascoFilmes Leave a Comment

 “Seven”Dir: David Fincher. Brad Pitt, Morgan Freeman, Gwyneth Paltrow. USA 1995. 129 min.

Um verdadeiro thriller policial -agora chamam-se “killers”-  no género dos velhos filmes negros americanos. O colorido é apenas meio de expressão, pois as personagens, a temática, e o clímax é completamente “noir”. E para que não reste dúvida o diretor coloca várias sequências “à luz de lanternas”, que mais do que iluminar é  detalhe genial que parece lembrar: não se enganem com o tecnicolor, vocês estão vendo autêntico cinema “noir”!!. Os créditos iniciais -sóbrios, pouco legíveis, poluídos- alinham-se na mesma tônica. Um ensaio brilhante de cinema, com uma temática batida abordada de modo original.

         O policial -Somerset- é  solitário, lacônico, descrente do mundo que considera perdido. Uma espécie de filósofo-detetive a quem o convívio com o sangue e a podridão humana fez-lhe aprofundar nas raízes verdadeiras do mal. Contra elas -crimes e atrocidades- não servem as soluções técnicas, o confronto espetacular “padrão Swat”, mas apenas uma virtude que caiu no esquecimento pela falta de uso. “O amor requer esforço e trabalho” e o mundo não está preparado para isso. Mais fácil é abandonar-se à droga, ao crime, à prostituição, à safadeza.

Morgan Freeman encarna a personagem magistralmente, dominando a cena. Poderia ser uma versão em negro de Humphrey Bogart, nas suas melhores performances policiais. O bandido é da espécie que está de moda: assassino inteligente, com “consciência de missão”, e traços psicóticos. Também é filósofo, como todos os deste gênero atual: “nos acostumamos a ver o pecado em cada esquina, convivemos com ele, porque é comum, todo o mundo o faz”. O jovem investigador -Brad Pitt- uma criatura ainda imatura para o mundo do crime: reage passionalmente, investe contra o mal como um herói de filme -por sinal, de filme de hoje- e recolhe desgostos porque as raízes das paixões são profundas, antigas; como os clássicos que nos mostram a condição e a miséria humana, de quem o detetive Mills deverá aprender.

         O filme prende a atenção, está muito bem conduzido, tem suspense e ação, ingredientes que garantem sucesso. O linguajar é salpicado de grosserias, lama que espirra da sordidez do ambiente.  Mas é óbvio que pretende dar sua mensagem, tem a sua tese. Neste aspecto não é tão feliz, já que deixa os recados mais por conta dos diálogos do que das cenas e das realidades apresentadas.

Se é verdade -como nos diz Somerset- que “a paixão e o pecado não é monopólio dos bandidos, mas algo do quotidiano, que diz respeito a todos e não apenas aos assassinos”, também é verdade que o filme mostra  uma realidade diferente. Uma imagem mostra mais do que mil palavras e isto, no cinema, como dizia Hitchcock, é questão de sobrevivência. Se alguém tem que prestar excessiva atenção aos diálogos para entender o conteúdo do filme, aquilo não é cinema. E as cenas de “Seven” – distanciando-se da sabedoria de Somerset – facilmente levam a concluir que pecado e miséria são apenas o excesso, e um atributo exclusivo dos psicopatas. A miséria quotidiana -que é o início do caminho dos excessos- não é mostrada em imagens, apenas intuída. Embora muito mais difícil de representar plasticamente, teria sido um bom desafio para o diretor.

         Em resumo, um filme notável, que merece ser assistido como o que é: um esplêndido policial. O gosto por ler os clássicos e ver na cultura e na educação um meio para combater a miséria moral é outro aspecto a destacar. As considerações sobre as raízes do mal ficam por conta de cada um, sendo apenas introduzidas na produção. Quem sabe se do esforço por eliminar o mal no quotidiano -onde podem ganhar-se muitas batalhas- nasce o otimismo que no filme, embora excelente, brilha pela sua ausência.

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