Parker J. Palmer. “The Courage to Teach”.
Parker J. Palmer. “The Courage to Teach”. Jossey-Bass. S.Francisco. 1998. 200 pgs.
Eis um livro essencial para todos os que se aventuram a ensinar. Um livro para professores que querem se comprometer com algo que é uma missão, uma vocação, não um trabalho. O autor é claramente um outsider – não deve ser fácil integrá-lo às estruturas rígidas das instituições de ensino – que se dedica à formação de professores e a escrever. Este livro é mais do que uma coleção de conselhos e facilmente se demonstra: são experiências vividas e sobre as quais muito se refletiu. São 200 páginas de sabedoria, para ler em “câmara lenta”, observando na margem as ideias que surgem – com certeza virão! – relativas ao nosso mundo e que as considerações do autor despertam.
Embora o livro não tenha desperdiço, se alguns capítulos precisassem ser destacados, eu o faria com 4 deles:
A Introdução e o Primeiro capítulo (O Coração de um Professor), colocam a questão crucial no início para que ninguém se deixe enganar pelo livro, pensando que é mais um aventura de autoajuda. O autor comenta que os professores muitas vezes se perguntam o que ensinar (o conteúdo da disciplina). Todos eles fazem isso: é uma condição de sobrevivência. Outros, muito menos, pensam no método: como ensinar? Outros, menos ainda, ousam pensar: e a quem devo ensinar isso? E quase ninguém faz a pergunta mais importante: no final, quem ensina? E conclui: Porque, gostemos ou não, ensinamos o que somos. Ensinar bem não se limita às técnicas, mas resulta da identidade e integridade do professor que ensina. A coragem de ensinar – título do livro – é ter o coração aberto para ir além do convencional. Em seguida, ele desenvolve o que seria identidade e integridade, e o que acontece quando o professor “perde o coração” (deixa de ensinar desde o fundo do seu coração).
O Segundo capítulo (Uma cultura do medo) nos coloca diante do desafio dos novos paradigmas educacionais. Os medos que nos ajudam a sobreviver e os que nos paralisam. O medo de perder a posição conquistada – de sair da zona de conforto – de se entregar à missão de ensinar. Sem novos paradigmas, que envolvam correr riscos, o diagnóstico dos alunos será medíocre e a ajuda do professor muito limitada. Aborda a questão de encontrar perguntas que você não sabe como responder e que o ameaçam. Na verdade, isso é educação: buscar juntos respostas que construam o conhecimento, do professor e do aluno. As responsabilidades que devem ser atribuídas ao aluno, pois ele tem de assumir as suas. Medo de perder popularidade. O medo determina o que aprendemos e o que ensinamos.
O Capítulo 6 (Aprendizagem na comunidade), coloca o tópico interessante de como ajudar uns aos outros entre os colegas. Os professores ensinam “de portas fechadas”, sem que ninguém lhes veja agir, exceto os alunos. Quem vai nos corrigir e nos ajudar? E quando nos encontramos raramente falamos sobre nós mesmos; Estamos falando sobre os alunos e, principalmente, sobre aqueles que causam problemas. O autor insiste: temos que falar sobre nós mesmos, ajudar uns aos outros, expor nossas dúvidas, nossos sucessos e fracassos abertamente aos nossos pares.
Capítulo 7 (Sem mais divisões) é uma síntese formidável de todo o livro. Você não pode ter duas vidas: uma como professor, a outra privada. Somos, em todos os momentos, exemplo e transparência. O tema da identidade e integridade ressurge aqui fortemente. Quando a vida está dividida, somos nós mesmos que, conscientemente ou não, conspiramos contra nossos ideais.