Natalia Ginzburg: “Lexico Familiar”. Paz e Terra. 1988. 246 ps.
A autora, considerada uma das melhores narradoras em língua italiana da atualidade, relata aqui a historia da sua família, judeus italianos. Não o faz de modo cronológico, nem detalhado. Os grandes eventos –casamentos, nascimentos, mortes- mal os comenta. No entanto, se detêm – e nota-se que o faz com gosto- , nos detalhes, nos modos de dizer, nesse amplo espectro do “léxico familiar” que é o modo real de entender-se dentro de uma família. As brigas, os dizeres, as manias variadas aparecem assim com toda naturalidade sem que isso diminua em nada a união familiar, o respeito e o carinho. Entender os outros como eles são, dar-lhes espaço, respeitar seu modo de ser. Quem sabe é isso o que tanta falta faz hoje: os detalhes dentro de uma família, e o respeito pelas peculiaridades e até pelas manias, sabendo envolver todos num carinho que está por cima de pequenas brigas. No final do livro, a autora explica a importância dessa espontaneidade num parágrafo que é significativo: “Os nossos erros eram gerados por impulso, imprudência, estupidez e candura. Os erros de Pavese nasciam da prudência, da astúcia, do raciocínio, da inteligência. Nada é tão perigoso como essa espécie de erros. Podem ser mortais, como foram para ele, porque é difícil voltar pelos caminhos em que se errou por astúcia. Os erros que se cometem por astúcia nos envolvem estreitamente: a astúcia finca em nós raízes mais profundas do que a irreflexão ou a imprudência. Como se soltar desses laços tão tenazes, tão apertados, tão profundos? A prudência, o raciocínio, a astúcia tem o rosto da razão: o rosto, a voz amarga da razão, que argumenta com seus argumentos infalíveis, aos quais não há nada a responder, só a concordar”. Um belo ensaio que nos faz sentir saudades –e muita falta- da espontaneidade em família, do que verdadeiramente une os membros de uma família.