Perfis da Espanha: Andanças culturais a propósito de um Congresso Internacional – Parte 2 de 4
6-9 de Outubro: Málaga e o Congresso
O dia 6 de manhã saímos de Madrid rumo a Málaga, onde seria o congresso, motivo principal da viagem. Manuel, o motorista que tinha nos levado nos dias anteriores nas visitas às cidades de Castela, também viria conosco desta vez. Na verdade, foi uma solicitação expressa que fizemos à agência de ônibus, porque já estávamos perfeitamente entrosados com ele. Um bom profissional, que fez toda a diferença nas viagens pela península ibérica.
O caminho de Madrid até Málaga (mais de 550 km), passa pela Mancha, terra de D. Quixote, e tivemos oportunidade de ver alguns dos moinhos de vento –dos velhos- embora a energia eólica de hoje em dia, semeou de moinhos-geradores todo o território. Uma parada estratégica na última vila de Ciudad Real, para comer, antes de descer o desfiladeiro de “Despeñaperros” (literalmente, o local por onde os cachorros despencam….) e entrar em Andaluzia.
Chegamos a Málaga no meio da tarde, e após instalar-nos no hotel saímos para o local do Congresso, pois queríamos assistir a abertura do evento, e já tomar contato com o local, as pessoas, iniciar nosso trabalho que, além de realizar as apresentações que tínhamos assinadas, consistiria também em estabelecer novos contatos, e promover os programas desenvolvidos pela SOBRAMFA. Cada um do grupo tinha vários impressos onde constavam as apresentações que faríamos nos próximos dias, de modo que nos espalhamos entre a grande multidão –mais de 4000 congressistas- e começamos a distribuir os impressos e convidar os novos amigos para nossas apresentações. (cfr. apresentações Wonca 2010)
De volta ao hotel, a expectativa era grande para o dia seguinte. Mesmo assim, decidimos sair para conhecer um pouco a cidade, e comer algo típico: Málaga, cidade costeira, se destaca pelos peixes, frutos do mar e, como em toda Andaluzia, pelo vinho de Jerez. Devíamos, pois, situar-nos no ambiente para iniciar o Congresso com bom pé. Coincidentemente, também havia um aniversario para comemorar.
No dia 7, quinta feira, tivemos uma agenda intensa de atividades, pois nos correspondiam 3 apresentações orais de manhã, e mais duas de tarde.
A sala que nos tinha sido destinada reunia vários exposições sob o título Medical Education. De fato, esse foi o tom de todas nossas apresentações: mostrar como é possível contribuir através da perspectiva metodológica e científica da Medicina de Família para uma melhor formação do estudante de medicina. E nada melhor do que levar os próprios estudantes para apresentar os resultados. O impacto não se fez esperar: vários professores nos procuraram, trocaram cartões, e ficaram impressionados vendo jovens estudantes apresentar os trabalhos, em inglês, num congresso internacional onde os protagonistas costumam ser médicos experientes.
No final desse primeiro dia, tivemos uma reunião no hotel com o Dr. Rogelio Altisent, que vinha de Zaragoza a convite do comitê organizador do Congresso para uma mesa redonda sobre ética em atenção primária, que é a sua especialidade. A reunião foi animada e a seguir alguns fomos jantar com o Rogelio para melhor delinear uma idéia que vem surgindo com força nos últimos tempos: o poder educacional da SOBRAMFA, que vai muito além da Medicina de Família, sendo capaz de colaborar na formação integral do futuro médico em muitos outros aspectos. Tudo faz pensar que a SOBRAMFA terá de promover uma nova instituição, uma variante do que já vem fazendo, para apoiar a formação humanística do estudante de medicina. O nome de IDHEM (Instituto para o Desenvolvimento Humanístico da Educação Médica) vai tomando forma.
No dia 8, sexta feira, tínhamos somente uma apresentação, um workshop para expor as variadas estratégias que temos utilizado na SOBRAMFA para colocar nossos professores dentro das diversas faculdades de Medicina. E assim intitulamos o workshop: estratégias para infiltrar-se nas escolas médicas! Afinal, esse era um dos tópicos principais do congresso que levantava o problema –muito ventilado na Espanha, e em outros países- de como os médicos de família podem ser de fato professores nas faculdades de medicina. O público não foi numeroso, mas sim seleto. Lá estava o Bruno Kissling, que foi o Presidente do último Wonca Meeting em Basiléia ,e algumas outras pessoas, além do nosso grupo em peso, e também Josh Freeman. O resultado foi positivo e, certamente, terá de traduzir-se em alguma publicação, que é o modo de perpetuar os trabalhos que se apresentam nos congressos.
Vale comentar que a comida que era servida –nos três dias de Congresso- era abundante e excelente, completamente diferente de outros congressos internacionais. Os organizadores espanhóis não economizaram neste item, incluído vinho de Rioja que também era servido para quem desejasse.
As atividades do Congresso acabaram cedo nesse dia, e muitos aproveitaram para conhecer a cidade, fazer compras, passear. No final do dia, junto com um pequeno grupo organizamos um jantar de avaliação para pensar na marcha do congresso, nos pontos positivos, nas falhas que seria preciso corrigir, já de cara ao próximo congresso de Wonca, em 2011, que será em Varsóvia (Polônia). Tudo faz pensar, que estes congressos são de fato um instrumento positivo para que os estudantes se lancem em trabalhos científicos, com repercussão internacional, e aprendam a apresentar diante de um público multicultural, em outro idioma. Parece que é, de fato, uma boa colaboração que a SOBRAMFA pode oferecer às faculdades de medicina que queriam integrar-se neste projeto que dever ser, por tal motivo, elaborado de modo formal daqui em diante. Um produto que será gerenciado pelo IDHEM.
O dia 9, sábado, tivemos nossas últimas apresentações. E, desta vez, com um novo desafio. O horário do Workshop de Cine coincidiria com o das três apresentações orais, de modo que não poderíamos estar todo o grupo junto. Decidimos apoiar as apresentações orais –que seriam feitas pelos estudantes- visto que o workshop de cine já tem seu público cativo, e goza de ampla experiência internacional. O resultado foi também muito positivo, nas apresentações e também no workshop que contou com a presença de Francesc Borrell, um velho amigo nosso da Universidade de Barcelona, e que interveio de modo ativo durante o workshop.
Tínhamos livre a tarde desse dia, pois o congresso acabou na hora do almoço. Apesar da chuva –que vinha caindo desde o dia anterior- num grupo pequeno decidimos almoçar no centro da cidade, e visitar o Museu de Picasso. Não foi possível, pela fila imensa de turistas, que suporia mais de uma hora de espera, e o tempo era escasso. Deste modo, decidimos visitar a Alcazaba, a fortaleza árabe situada na parte alta da cidade. Málaga, que foi fundada pelos fenícios no século VII AC, teve um importante papel durante a dominação árabe da Espanha (dos séculos VII até o século XV). O palácio da Alcazaba, de onde se pode visualizar toda a cidade e o porto (local estratégico, que explica o interesse dos fenícios), junto com o Castelo do Gibralfaro, são os principais monumentos da época dos reinos árabes florescentes, nos séculos XI a XIV. Também visitamos um teatro romano, do século I, e comprovamos –como todos fazem nestas ocasiões- a perfeita acústica de que goza sua disposição topográfica.