José Orlandis: “História breve do Cristianismo”
José Orlandis: “História breve do Cristianismo”. Rei dos Livros. Lisboa. 1989. 200pgs.
A minha admiração pelo Professor Orlandis vem de longe. Homem de vasta cultura, historiador profundo, possui uma caraterística rara entre os que se aventuram a contar-nos a História: uma surpreendente capacidade de síntese. Orlandis consegue, mais uma vez, traçar em menos de 200 páginas a trajetória do Cristianismo. Seu relato, sucinto, preciso, funciona como o arcabouço que firma as linhas mestras do percurso da Igreja de Cristo. É como um esqueleto que define o perfil principal que depois, por conta do gosto e das possibilidades de cada leitor, poder-se-á preencher com estudos mais aprofundados, monografias, biografias específicas, e obras de maior porte. Mas as vigas de sustentação são essenciais para entender o conjunto do tema. A sua descrição ágil lembra os traços desses desenhistas admiráveis que com quatro riscos esboçam o perfil inconfundível do sujeito contemplado.
Algumas semanas atrás, após uma longa conversa com universitários sobre temas históricos, alguém perguntou-me qual seria o livro certo para se aprofundar no tema que tínhamos tratado. Meu conselho foi direto: “Leia um bom manual que desenhe o tema geral, o arcabouço. Depois podes partir para boas biografias –sempre um modo ameno de aprender Historia da mão dos personagens que a construíram. Mas, primeiro, um manual com crédito, desses que levam no título breve história de…”
Após a leitura deste pequeno grande livro, comprovo que o meu conselho foi certeiro. Orlandis desenha de modo esquemático o itinerário da Igreja. No plano doutrinal arranca dos tempos apostólicos e das primeiras controvérsias doutrinais que originaram os Concílios ecumênicos, passeia pelo ambiente que faz surgir as heresias, os cismas de Oriente e de Ocidente, para chegar na Reforma Protestante, e no Modernismo. Aborda sucintamente, mas com precisão admirável, as relações da Igreja com o poder civil, que gera a aliança da Igreja com o império que a amparava. Primeiro o Carolíngio, depois o Sacro Império Germânico, os Habsburgos espanhóis, e a França. Os Padres da Igreja, Santos, Imperadores e, naturalmente, os Papas são os figurantes deste magnífico índice ampliado e comentado da História da Igreja.
Nada é deixado de fora, tudo é contemplado. E tem o cuidado de advertir os temas que propositalmente são apenas citados, porque o espaço não permite maior extensão. Relato sóbrio, denso, completo. Um excelente perfume contido, como de costume, num pequeno recipiente. Uma leitura necessária e prévia a qualquer mergulho histórico de maior porte. Um recurso imprescindível –cito palavras textuais- “para que qualquer pessoa com o nível cultural comum aos homens de hoje, possa fazer uma ideia clara de como foram e do que representaram vinte séculos de História do Cristianismo”