Leonard Sax: Garotos à Deriva, Garotas no Limite
Leonard Sax: Garotos à Deriva, Garotas no Limite. Ed. Quadrante. São Paulo. 2016. 215 pgs.
Após acompanhar a trajetória de Leonard Sax, MD, PhD e de ter lido suas obras – o que rendeu uma amizade frutuosa, e muitas reflexões sobre as necessidades da educação moderna- uma editora brasileira decide traduzir um dos seus livros publicados na França. Trata-se de “Pourquoi les garçons perdent pied et les filles se mettent en danger”. JC Lattes. Paris. 2013., que é uma interessante síntese da ampla experiência deste médico americano no atendimento de adolescentes por mais de um quarto de século. Os comentários que o leitor pode apreciar a seguir, são o corpo do Prefácio que o autor, de comum acordo com a editora, solicitou-me. Procurei incluir nele o resumo principal dos seus ensinamentos, não apenas no presente livro, mas no conjunto da sua obra. Uma contribuição científica que me parece indispensável para professores, gestores de educação e, naturalmente, pais e mães de família.
Prefácio
Recebo o convite para prefaciar este livro, um convite que me chega bilateralmente: por parte dos editores, e por parte do mesmo autor. Não há como recusar. É uma questão de justiça, pois o prefácio que respeitosamente abre esta importante obra é, na verdade, o epílogo de uma história de anos. Contar esta história parece-me muito mais interessante do que escrever um prefácio técnico. Compartilhar com os leitores o meu itinerário pessoal de mãos dadas com as ideias de Leonard Sax, pode ser a maneira mais útil de ajudar a preparar o ânimo para a leitura. É disso que se trata.
Tinha-me chegado alguma referência do primeiro livro de Leonard Sax “Why Gender Matters” , dirigido a pais e educadores. Parece-me lembrar que algo anotei na minha agenda. Na primavera de 2007, encontrava-me em Chicago por conta de um congresso de professores de medicina de família. Deparei-me com o livro na vitrine de uma livraria. Comprei-o, e o devorei nas viagens aéreas que tinha por diante.
Leonard Sax, médico de família com ampla experiência clínica e pesquisador na área da psicologia infanto-juvenil, advertia sobre a importância de considerar as diferenças assim chamadas de gênero, na educação das crianças e jovens. O que é normal para um menino de três anos -movimento, tonalidade de voz do professor- pode resultar para uma menina da mesma idade em algo sem substância (as meninas estão mais atentas às cores do que ao movimento). Lembro-me que os dados referentes a bebês de quatro meses me impactaram: enquanto os meninos respondiam ao movimento de objetos (incluídas as caras dos pais), as meninas tinham melhor resposta às cores. Sem ter consciência do próprio sexo –nem mesmo da própria existência- os bebês demonstram terem um sistema operacional diferente, de acordo com o sexo. E o que desde o começo me convenceu é que Sax apoia seus argumentos em dois pilares essenciais: sua experiência clínica, de mais de 25 anos vendo famílias e adolescentes no consultório, e uma ampla bibliografia de revistas reconhecidas. É por tanto uma pesquisa que responde a questionamentos que surgem da vivência profissional, onde as hipóteses levantadas são depois confirmadas pela literatura. Primeiro as histórias de vida, os exemplos –inúmeros- e depois a fundamentação científica. Uma pesquisa vital. Passei a seguir os passos de Leonard Sax, e comecei o trocar e-mails com ele. Aquilo foi o começo de uma bela amizade –como diria o inspetor Renault a Rick (Bogart) no final de Casablanca.
Alguns anos depois , fiz um contato com Sax explorando a possibilidade de convidá-lo para vir dar umas conferências no Brasil. O projeto não vingou, mas ele enviou-me seu novo livro: Boys Adrift (Meninos à deriva), anunciando-me que estava preparando outro sobre meninas. Quer dizer, dado o recado na sua primeira obra, sente a necessidade de atender especificamente às duas vertentes –masculina e feminina- da educação dos jovens.
O livro dos meninos é uma variação sobre o mesmo tema: as diferenças de gênero, um sistema operacional diferente que vem “de fábrica”. Tudo isso ilustrado com uma grande riqueza de exemplos e detalhes. E, sempre, apoiado na literatura e nas publicações que tem o cuidado de acompanhar e recolher. A pergunta central dessa segunda obra é clara: por que a geração atual de homens jovens se encontra perdida, sem motivação, enfim, à deriva? O tema de ampla desmotivação masculina no campo profissional -e nos projetos de vida- é ilustrado com multidão de exemplos que variam desde a cultura dos índios Navajos, até os caçadores de Leão Marinho entre os esquimós do Alaska, passando por personagens cinematográficos que retratam a “pasmaceira” do adolescente masculino de hoje. E nota-se que o autor não esgota o tema, pois fornece endereços de sites de criação própria, onde muitos mais exemplos podem ser visualizados.
Entre os vários motivos que cita como resposta ao questionamento, dois me chamaram mais a atenção. De um lado o gosto pelos videogames, com ênfase naqueles de caráter violento. Acostumar-se a resolver os problemas da vida com torpedos e bombas, eliminando os adversários, cria um mundo irreal. Na vida real as dificuldades se enfrentam com paciência, criatividade, virtude. Os videogames são um verdadeiro caldo de cultura para criar homens sem motivação, que vivem fora da realidade. O outro motivo é sugestivo e palpável: a falta de modelos, no caso, de modelos masculinos, onde os meninos podem se inspirar.
E é neste ponto onde o autor advoga pela necessidade de colégios separados para meninos e meninas. Entre os muitos exemplos que relata, comenta o caso de meninas de um colégio misto que frequentam atividades sociais abertas num colégio de meninos. “Por que vocês vêm aqui para conversar com rapazes, se têm muitos no colégio de vocês?”- perguntou o autor a várias das garotas. “Os rapazes do nosso colégio são insofríveis, não querem nada, só aparecer. Parecem com o meu irmão menor. Aqui há rapazes bem educados, nos tratam com respeito, não interrompem quando falamos… enfim, nos sentimos mulheres”. Também deve ser ressaltado que o autor, além da experiência profissional como médico, é um pesquisador de campo: visita colégios, fala com alunos e professores, pergunta e escuta.
Um par de anos depois me fiz com o terceiro livro de Sax: Girls on the Edge (Garotas no limite). Sem novidades no fundo –sistema operacional distinto- novamente riqueza de exemplos, detalhes e advertências. As mulheres são diferentes, e apresentam desafios distintos na sua educação. A grande empreitada –o núcleo do livro- é sobre como ajudar às meninas a construir sua identidade como mulheres. E para tamanha tarefa, Sax convoca no fórum de discussão pesquisas recentes (a maioria procedentes de USA), pensadores e educadores, e tempera o cenário com histórias de vida das suas próprias pacientes. A identidade é saber quem você é, e não a aparência que você tem. Identidade não tem a ver com o teu aspecto, com o dinheiro que teus pais têm, quantas músicas guardas no iPod, ou amigos que se amontoam no teu Facebook. Identidade é conexão com você mesma.
Construir a identidade feminina enfrenta hoje uma hipertrofia da dimensão sexual, uma hiper-sexualização das meninas. A sexualidade diz respeito a quem você é não à sua aparência. Estimula-se nas meninas –as vezes são as próprias mães as responsáveis- para que tenham um jeito sexy, sem saberem ainda o que venha a ser a sexualidade. As mulheres querem atenção, mas a cultura atual faz com que confundam atenção com estímulo sexual. O foco está completamente voltado para o seu próprio corpo, e a aparência corporal acaba substituindo o núcleo íntimo da personalidade. Uma verdadeira avalanche de meninas, ainda crianças, nos salões de beleza e no mundo da cosmética, confirma esta cultura. Cita-se uma pesquisa esclarecedoras a este respeito. Submeteu-se um grupo de garotos e outro de meninas a uma prova: resolver um problema de matemática. Tanto os meninos como as meninas foram, por sua vez, divididos em dois grupos: num deles, vestiam agasalho; no outro o maiô de banho. Tudo isto feito individualmente, cada participante num quarto isolado, sem nenhuma companhia ou observador. Comprovou-se que entre os rapazes não havia diferença entre os que estavam vestidos e os que usavam apenas uma sunga: o desempenho na resolução do problema era equivalente. No entanto, entre as garotas, as que estavam de maiô tinham uma performance muito inferior às que estavam de agasalho. É como se elas estivessem tão preocupadas com o seu corpo, que se distraiam da questão colocada. E conste que não havia ninguém olhando: eram cômodos individuais e isolados.
O segundo elemento a ter em conta na formação das mulheres, e que muito me chamou a atenção, é o que Sax denomina a bolha cibernética. Estamos criando mulheres conectadas com o mundo inteiro, e desconectadas delas próprias. O destaque principal corre por conta do Facebook. Em outros tempos as garotas escreviam diários, sabendo que ninguém os leria; somente elas, no aconchego do seu quarto. E nos diários, vertiam a sua alma. Hoje escrevem para que outros vejam –principalmente as fotos (esse é motivo principal das redes sociais, conforme estudo realizado em Harvard: fotos!). E, a identidade, vai se esvaindo no meio do que se escreve que, não necessariamente é a alma: as pessoas acabam acreditando ser a sua identidade o que é socialmente aceito nas redes, e não o que de verdade são. O famoso ditado de que se você não vive como pensa, acabará pensando como vive tem hoje outra versão: acabar identificando-se com o que escreve, com o diário vitrine postado nas redes sociais, essa é a tua nova identidade. Comenta-se um dado assustador de um informe recente: uma garota média americana manda mais de 4000 mensagens por mês, o que significa 135 mensagens diárias. Vale a pena perguntar-se: além de mandar mensagens o que mais elas fazem na vida? São adolescentes globalmente conectadas, mas desmembradas delas próprias. Carecem do ambiente próprio da intimidade característica de uma mulher, onde se produzem os sonhos, desejos, tristezas, lágrimas e todo esse mundo feminino fascinante. Não há tempo para isso, nem espaço: tudo é público.
As recomendações para os pais são diretas, contundentes. Se não viessem de um pesquisador acadêmico, com 25 anos de experiência médica, poderiam interpretar-se como um patrulhamento quase inquisitorial: tire o computador do quarto da garota, vigie o que ela faz, o que ela manda, com quem ela se comunica. Existem ótimos programas para isso, mesmo para acompanhar as mensagens no smartphone. Esta dura recomendação –como quase todas- decola com uma história. Uma garota de 14 anos, anteriormente diagnosticada como portadora de déficit de atenção (e, naturalmente, medicada para tal) chega ao consultório do Dr. Sax. A medicação ajuda pouco; mas a questão –que os outros médicos não tinham descoberto- é que ela dorme muito pouco, menos de 6 horas por dia. Motivo: Facebook noturno. Sax é contundente: diminui a medicação aos poucos e manda tirar o computador do quarto da menina. Ela descompõe-se em reclamações, mas felizmente a mãe entende e concorda: “respeitamos tua intimidade, mas o computador tem de estar num local público, onde teus pais possam ver o que estás fazendo. O quarto é para dormir”. Os pais devem estar no comando, mesmo que não entendam de redes sociais. E ser claros respeito ao tema. É preciso assumir o papel aparente de estraga-prazeres. “Não posso enviar as fotos, nem conversar sobre isso, porque o dinossauro do meu pai está impossível, acompanha tudo o que eu mando”. Não faz mal. Quando a garota tem 13 anos você é um guardião cruel. Mas quando tiver 18 –dai já voa sozinha- entenderá e agradecerá. É preciso estar no comando e dar exemplo: não atender o telefone na mesa quando estão jantando, nem checar e-mails. Frei exemplo é o melhor pregador.
Mas não apenas ser guardião, também fomentar aspectos específicos na educação feminina, como a dimensão espiritual. O autor coloca o desafio aberto: “Promova a dimensão espiritual da sua filha. Não importa que você não seja crente ou não pratique uma religião; é para o bem dela, não para o seu! ” E adverte: “Quando não se promove esta dimensão, a sexualidade mal orientada trata de ocupar o lugar do espírito. E sobrevêm as frustrações, porque os garotos não conseguem preencher o vazio que existe no coração quando falta a dimensão transcendente que as meninas procuram no desenvolvimento da sua personalidade”.
Os desafios da educação não são exclusivos para as mulheres; são diferentes. Todos têm problemas, mas os problemas dos garotos são diferentes dos problemas que enfrentam as meninas no seu desenvolvimento. Os garotos lidam melhor com a solidão, se divertem com os videogames; as meninas precisam de conexões, de network, com outros e, principalmente, consigo mesmas. Os garotos perdem a motivação e se enfurnam no mundo virtual divertindo-se; as meninas tem motivação e querem sair ao mundo e triunfar. Mas, será que estão preparadas? Sabem relaxar, descansar, frequentar a sua intimidade? Quais são os fatores que devem levar-se em conta quando de educar garotas se trata? Um dado, entre muitos, que faz pensar. As consultas nos serviços de psiquiatria cresceram 400% em meninas, comparado com 70% em garotos, em dez anos. E os antidepressivos em mulheres dobraram na última década: uma de cada 8 mulheres toma antidepressivos.
Depois de ler esta última obra, e com o acúmulo de ideias e dados que fui lendo nos originais em inglês, ocorreu-me se não seria o caso de solicitar ao Leonard Sax uma autorização para uma tradução ao português. Mas, pensei, traduzir o quê? Um dos livros? Todos eles? Fazer uma mistura juntando “os melhores momentos” de cada um? Com esses pensamentos andava quando me chega a notícia de que os franceses tinham dado forma ao projeto que eu vinha acalentando. Imediatamente escrevi a Sax que, mais uma vez, fez a gentileza de me enviar um exemplar de Pourquoi les garçons perdent pied et les filles se mettent en danger”. “Foi uma ideia dos franceses –disse-me. Colocaram dados dos meus livros anteriores e acrescentaram alguns da sua própria cultura e realidade. A iniciativa foi deles, não minha. Imagino que você lê francês. Aí te envio um exemplar e depois me dizes o que te parece”. Pareceu-me uma encantadora mélange dos temas que já conhecia, com o inevitável condiment français. E assim lhe fiz saber, informando que conhecia pessoas interessadas em traduzi-lo. “Tem de falar com a editora francesa para autorizar. Se fecham o negócio, você poderia fazer o prefácio”. E por isso me encontro aqui escrevendo.
Se o leitor já leu alguma das obras de Sax, ou mesmo se teve paciência para ler o que até aqui foi escrito no prefácio, o livro ecoará como melodia já conhecida, uma espécie de déjà vu mas com nova riqueza de detalhes. Assim me pareceu a mim.
A advertência inicial centra bem o tema. As grandes diferenças entre meninos e meninas não está nas aptidões, mas na motivação que atinge cada um deles. Isto não acontece com todos. Alguns saem-se muito bem. Por que? Imagino que os pais tem o seu papel, especialmente quando reconhecem os novos desafios que o mundo globalizado lhes coloca na formação dos jovens. As soluções de 1980 não são mais atuais, não funcionam. É preciso atualizar-se, inovar, sentir-se a gosto para exercer a arte de ser pai e formador neste novo mundo.
Como não poderia deixar de ser Sax traz exemplos novos, recentes, que ilustram suas ideias. Em certa cidade houve um movimento para “equalizar os brinquedos, pois brinquedo não tem sexo, temos de acabar com as imposições culturais de gênero”. E passou-se à ação. Tentou-se oferecer bonecas aos garotos, e caminhões às meninas. Resultado: as meninas colocavam os caminhões para dormir junto delas na cama, enquanto os garotos destroçavam as delicadas bonecas utilizando-as a modo de espadas ou de tacos de basebol.
E na educação, exemplos interessantíssimos. Por exemplo, o sucesso de uma professora na Oceania, ensinando física para meninas. Tradicionalmente o ensino da física inicia-se pela cinemática, o movimento, onde os exemplos são de corridas de carros, de batidas, de encontrões no futebol. Algo que naturalmente atrai os meninos, e desinteressa as meninas. Essa professora inicia o ensino da física com a ondulatória; quer dizer, partículas, luz, som. Algo que tem sabor para o mundo feminino. O resultado é um sucesso tremendo no ensino da física entre as meninas. Essa é a base da educação diferenciada –que Sax defende- mostrando que as motivações para aprender são completamente diferentes entre meninos e meninas.
Uma educação que começa na família, continua no colégio, e segue pela vida em todos os desdobramentos do que hoje se conhece como socialização. Os meninos gostam de controlar tudo, também nos videogames; tem vontade de poder. Eles levam a contrária justamente por isso; já as garotas gostam de agradar os adultos, e imitá-los. Isto acontece também com os primatas: enquanto os machos vivem por sua conta às fêmeas são mais comportadas, boas alunas. Os meninos ganham prestígio entre os seus pares destruindo coisas, fazendo bagunça, mas as meninas o ganham sintonizando com os adultos. Elas têm um olhar mais sintonizado com os adultos, e também por isso cuidam melhor dos irmãos, com maior eficácia. Diríamos que têm um marketing e promoção diferentes. A ligação com a educação é clara: as garotas fazem os deveres porque é um modo de ficar bem, enquanto os garotos não os fazem pelo mesmo motivo: promover-se entre os seus colegas.
Há trinta anos, diante do mesmo teste, os garotos se saiam melhor do que as meninas. Hoje estão igualados; não porque as meninas tenham progredido, mas porque os garotos pioraram. Parece que os meninos de doze anos de hoje, se equivalem em resultados aos de oito de 35 anos atrás. Uma possível explicação: falta de jogos de criatividade e excesso de TV e vídeo game. Preparar-se para a vida implica mais do que as habilidades psicomotoras que se utilizam nos videogames. Quando amanhã esse garoto seja pai, e o filho dele começar a chorar, não existe um botão para desligar o choro nem nenhum atalho para resolver a maioria dos problemas domésticos. É preciso paciência. Igualmente, na hora de lidar com os colegas incômodos, não há como eliminá-los com gatilhos de torpedos virtuais, mas é preciso aprender a conviver, gastar tempo, encontrar soluções. Daí que uma das recomendações mais práticas que se recolhem neste livro é: quando quiser dar um brinquedo para o seu filho, dê-lhe aqueles que “não tem interruptor”. Quer dizer, aqueles que para funcionar precisam da força da criatividade do garoto.
O que chama a atenção de um e de outros? Os rapazes fazem fotos do jogo de basquete, enquanto as garotas se fotografam assistindo o tal jogo. Basta checar o Facebook de cada um. Espelho é um acessório feminino, sempre foi. A supressão das diferenças de gênero não torna os meninos e meninas mais iguais; apenas os faz menos humanos. Buscar igualdade entre os sexos, sem levar em conta as diferenças, acaba reforçando os estereótipos e promove as desigualdades. Somos iguais –em direito, em dignidade- mas diferentes no vasto quesito das especificações do produto! Igualdade não significa ser idênticos.
Leonard Sax está envolvido há muito tempo com a NASSPE (National Association for Single Sex Public Education) que promove colégios separados para meninas e para meninos em USA. Quando esta associação iniciou seu trabalho não passavam de 10 as escolas públicas para meninas. Hoje são mais de 500. Neste livro, assim como em todos os anteriores, o autor discursa amplamente sobre este ponto. Os meninos aprendem de modo diferente: interessa-lhes a ação, não a descrição. Mas as garotas se prendem na descrição, na cor, no brilho, a não no movimento que a ação leva implícita. As humanidades, -arte, história, literatura- se fragmentam ao serem ensinadas aos meninos, porque é o jeito que eles têm de aprender. Mas as meninas conseguem aprender melhor tudo junto. O autor se declara abertamente partidário da educação não mista (single sex), e apoia-se em pesquisas para mostrar que meninas que frequentam escolas públicas femininas conseguem até 6 vezes melhores qualificações que outras, com a mesma habilidade, que estudam em escolas mistas. Um argumento contundente, muito em sintonia com a promoção individual das pessoas, e as oportunidades oferecidas. Algo que seduziria a qualquer feminista.
No presente livro, o leitor tem diante uma ótima compilação das pesquisas e experiências clínicas de Leonard Sax, que cristalizam em ideias para nortear a educação moderna. Pode se concordar ou não com as suas teses, mas ninguém poderá dizer que a pesquisa carece de profundidade e de apoio científico. A educação personalizada, individualizada, adaptada às características próprias do sistema operacional de meninos e de meninas é, sem dúvida, um dos carros chefe desta obra.
Mas, é bom advertir, que Sax não deixa por conta da educação formal, do colégio, toda a responsabilidade. Faz questão de implicar os pais no projeto educativo. Ai surge, nas entrelinhas, o que é talvez o aspecto menos cômodo -e mais eficaz- do livro; aquele que pode funcionar para enfrentar o desafio da educação: o envolvimento dos pais. Sem ações positivas dos pais, não apenas individualmente, mas em grupo (ele escreve em inglês: community of parents, que é algo mais do que simples grupo, mas uma ação corporativa bem estruturada) não será possível implementar mudanças inovadoras. Resulta, enfim, um material riquíssimo para reflexão dos pais, pois é para eles que Sax escreve: ser pai não é uma ciência, mas uma arte que deve aprender-se a praticar.
Faço constar aqui o meu agradecimento aos editores e ao amigo e colega Leonard Sax pela oportunidade e o privilégio de poder escrever estas linhas. O maior beneficiado sou eu mesmo, porque quando escrevemos as ideias agrupadas tornam-se claras, palatáveis, se incorporam a modo de aprendizado. Quase me atrevo a sugerir ao leitor que faça o mesmo: não se limite a ler o livro, estude-o, tome notas. E, no final, quando ordenar as ideias levantadas e escritas, é possível que encontre soluções práticas para os desafios que Leonard Sax e a educação moderna nos coloca. É uma sugestão. Voilà.