Rafael Gómez Perez- “El Secreto del Silencio”
Rafael Gómez Perez. El Secreto del Silencio. Rialp. 2016. 96 pgs.
Um ensaio, ou melhor, um passeio pelos cenários do silêncio, porque não sustenta nenhuma tese concreta; ou talvez porque sustenta muitas, num amplo panorama do que representa o silêncio. Transforma-se num grito -de silencio- um apelo contra o ruído das palavras inúteis ou dos mutismos estéreis. Uma excursão que decantará pelo gosto ao silencio, uma aventura que cada um deve trilhar por sua conta
O autor diz tratar-se de um breviário do silêncio, e logo de cara adverte que o grande inimigo do silêncio é o ruído, não o som. Um ruído que com frequência vem representado pelas redes sócias, onde qualquer um pode dizer o que quer sobre o humano e o divino, amparado na palavra escrita e em condições de possível anonimato. A ignorância tem um caminho amplo para se manifestar. Eis uma importante advertência: estar na internet não é garantia de verdade. São apenas opiniões e como adverte Hannah Arendt numa obra interessantíssima reduzir a verdade à opinião é a melhor estratégia para esvaziá-la.
O silêncio produtivo na maturidade não se dá automaticamente. É preciso conquista-lo, de modo pró ativo. Quem não sabe trabalhar o silêncio de modo positivo, quando se apresentam circunstâncias que obrigam a um silêncio involuntário -viver sozinho, pelas circunstâncias que forem- a situação se torna insuportável. E o uso da TV, do telefone, do rádio continuamente acessos para encher o silêncio com coisas de fora.
Os filósofos são convocados para ilustrar-nos melhor este passeio que tem por objetivo deixar-se seduzir pelo silêncio. Wittgenstein, com a sua conhecida frase: “daquilo que não se pode falar, melhor é calar”. Quer dizer, daquilo que não se pode falar de maneira científica, é melhor calar e mostrar. Aí entram o amor, a piedade, a luta pelo bem, a mística. Calar-se para viver com obras, com sentimentos, com alegrias e tristezas, todo esse capítulo humano para o qual não existe ciência, mas sim sabedoria.
A seguir, Heidegger: O pensar não está na nossa mão. Não é uma ação humana. Não é algo que conquistamos. Pensar não é fazer. Pensar é deixar que algo suceda: abandono. É deixar tudo o nosso e deixar-nos a nós mesmos: pura espera, acolhida do que vem, quando queira vir. E finalmente Pascal, com outro pensamento clássico: “todas as desgraças dos homens procedem de uma coisa: o não saber estar sós, repousando tranquilamente no seu quarto”.
Um convite ao silêncio. E uma advertência contra a loquacidade estéril e pouco confiável. Resume o autor: “Quem fala demais em todas as ocasiões não costuma ser pessoa de confiança”. Nada mais a dizer. Apenas refletir, pensar. Em silêncio.