Lucia Berlin. “Manual da Faxineira”.
Lucia Berlin. “Manual da Faxineira”. Companhia das Letras, São Paulo, 2015. 460 págs.
Leituras na Pandemia 11
Eis um livro singular, protagonista da nossa tertúlia literária mensal. Prosa clara, afiada, expressiva, que a autora faz gotejar em contos. Com uma tradução magnífica, pois conserva o estilo de Lucia Berlin “in natura”. É de se agradecer, porque o impacto do livro não é apenas o que se conta mas a forma peculiar da narrativa. Todo um estilo que impregna estes contos e que sugiro sejam lidos aos poucos, doses homeopáticas, dois ou três no máximo por dia. Com tempo para degustar.
Vale incluir um dos comentários que se recolhe no prefácio do livro, pela sua agudeza e precisão. “Os contos de Lucia Berlin são elétricos, zumbem e estalam quando seus fios vivos se tocam. E, em resposta, também a cabeça do leitor, seduzida, fascinada, ganha vida, com todas as sinapses disparando. É assim que gostamos de ficar quando estamos lendo — usando nosso cérebro, sentindo nosso coração bater”. Como Berlin mesmo diz, “a maioria dos escritores usa acessórios e cenários retirados de sua própria vida” pois de fato, ela escreve sobre uma mulher que tem quatro filhos e empregos como os que ela teve — de faxineira, enfermeira do setor de emergência, secretária de uma ala hospitalar, telefonista de um hospital, professora. Por isso diz: “Eu exagero muito e misturo ficção com realidade, mas nunca chego de fato a mentir”.
Descrição de situações, pessoas, objetos. Com agudeza e realismo chocante.
“O estranho foi que, durante mais ou menos um ano, aconteceu de irmos à lavanderia Angel’s sempre na mesma hora. Mas não nas mesmas horas. Quer dizer, eu tanto podia ir às sete da manhã de uma segunda-feira como às seis e meia da tarde de uma sexta que ele já estava lá (….) A água começou a escorrer torrencialmente pelo lustre no meu andar do prédio. As luzes continuaram acesas e a água esguichava arco-íris por cada uma delas. A sra. Armitage segurou meu braço com sua mão fria e moribunda e disse: “É um milagre, não é?” No teto havia uma placa: POR QUE RAIOS VOCÊ ESTÁ OLHANDO AQUI PARA CIMA ?”
O avô, dentista e alcoólatra, personagem bizarra, mas certamente com fundamento na realidade. “As prateleiras estavam abarrotadas de ferramentas enferrujadas e de fileiras de dentaduras sorrindo ou fazendo carranca, de cabeça para baixo, como máscaras de teatro (…) A toalha de papel que eu tinha posto na boca do meu avô estava encharcada de sangue agora. Joguei-a no chão, enfiei um punhado de saquinhos de chá na boca dele e apertei os maxilares um contra o outro. Gritei. Sem dente nenhum, o rosto dele parecia uma caveira, ossos brancos em cima do pescoço ensanguentado. Um monstro medonho, um bule de chá que ganhou vida, com etiquetas amarelas e pretas de chá Lipton penduradas como enfeites de Carnaval”.
Lucia Berlim se observa, pensa em voz alta, expõe sua alma sensível com realismo chocante. “Eu não estava sorrindo porque os gatos estavam devorando os passarinhos. É que a minha alegria com as ervilhas-de-cheiro e os tentilhões não tinha tido tempo de murchar (….)O problema era o trambolho que eu tinha nas costas, um colete de metal para corrigir o que chamavam de curvatura, mas que era, vamos encarar os fatos, uma corcunda. Então, eu tive que comprar uma blusa branca e uma saia xadrez de um tamanho muito maior do que o meu para poder vesti-las por cima do colete, e claro que nem passou pela cabeça da minha mãe fazer pelo menos uma bainha na saia(…) Fiquei circulando, não só incapaz de me enturmar, mas aparentemente invisível, o que era um misto de bênção e maldição”.
O título do livro é tomado de um dos contos. Aliás, de vários, onde a faxineira, um dos ofícios que desempenhou, é a protagonista. Original, sabe buscar a história e a poesia, onde outros somente encontrarão rotina e tédio. “Adoro casas e todas as coisas que elas me dizem, então essa é uma das razões por que eu não me importo de trabalhar como faxineira. É como ler um livro. Uma carta de amor enfiada bem no fundo de um armário, garrafas de uísque vazias atrás da secadora, listas de compras… “Por favor, compre sabão em pó, um pacote de linguine e seis latinhas de cerveja. Eu não quis realmente dizer aquilo que eu disse ontem à noite (…) Enquanto espano a casa, vou recolhendo os bilhetinhos e botando em cima da mesa dela. 10 DA MANHÃ NÁUSIA (sic) num pedaço de papel em cima do consolo da lareira. DIARREIA no escorredor de louça. TONTURA FALTA DE MEMÓRIA no fogão. Esquece principalmente se já tomou ou não o seu fenobarbital, que já ligou duas vezes para a minha casa para me perguntar se tinha tomado, onde está o anel de rubi”.
Um tratado antropológico sobre a função de faxineira que, lendo, aprendemos a olhar com imenso respeito. “Faxineiras roubam, sim. Não as coisas com as quais as pessoas para quem a gente trabalha tanto se preocupam. É o supérfluo que acaba te tentando. Não queremos os trocados nos cinzeirinhos. O que eu roubo mesmo são comprimidos para dormir, que guardo para alguma necessidade (…) Conselho para a faxineira: Aceite tudo o que a sua patroa te der e diga obrigada. Você pode deixar o que não quiser no ônibus, na fenda entre o encosto e o assento do banco (…) Tenha como regra nunca trabalhar para amigos. Mais cedo ou mais tarde eles acabam ficando ressentidos porque você sabe coisas demais sobre eles. Ou deixa de gostar deles, pela mesma razão (…) A voz das mulheres sempre sobe duas oitavas quando elas falam com faxineiras ou com gatos (….)Você inevitavelmente vai trabalhar para muita mulher liberada. O primeiro passo é uma terapia de grupo; o segundo, uma faxineira; o terceiro, o divórcio (…)
Mostre a eles que você faz um serviço completo. No primeiro dia, ponha todos os móveis de volta no lugar errado… dez a vinte centímetros. Fazer tudo errado não só deixa claro que você faz um serviço completo, como também dá para eles a chance de ser exigentes e de bancar o “chefe”. A maioria das mulheres americanas se sente muito desconfortável com o fato de ter criados”.
Impossível resumir aqui toda essa avalanche que se recolhe nos contos. Impossível, desnecessário e arriscado, porque seria simplificar a degustação das narrativas que devem ser saboreadas aos poucos. Confesso que um dos contos que me prendeu, curto mas delicioso, foi Meu Jóquei. Vale um par de exemplos, embora todo ele é uma joia. “Eu gosto de trabalhar na emergência — pelo menos lá você conhece homens. Homens de verdade, heróis. Bombeiros e jóqueis. Eles vivem indo para alas de emergência. Jóqueis têm radiografias fantásticas. Quebram ossos a toda hora, mas só se enfaixam e se mandam para a próxima corrida. Os esqueletos deles parecem árvores, ou brontossauros reconstruídos. Radiografias de são Sebastião (…) Ele estava segurando a minha mão. Parecia carinho; eu estava louca para chorar, para ser abraçada. Ah, o que a gente não faz por um pouco de carinho”.
Outros contos que impactam são os relacionados com suas funções nos hospitais: enfermeira, assistente. Descrições magistrais, onde sabe colocar prosa poética no meio da dor e da angústia. “ As ambulâncias são cinza, os motoristas usam uniforme cinza, os lençóis são cinza, os pacientes são cinza-amarelados, a não ser nos lugares em que os médicos marcaram seus crânios ou gargantas com um ofuscante X vermelho em caneta hidrográfica (…) A madame Y é a mulher mais bonita que eu já vi. Ela parece morta, na verdade; tem uma pele translúcida branco-azulada, um rosto oriental de feições extremamente delicadas, sereno, sem idade. Usa botas e calças pretas, jaquetas de gola padre cortadas e ajustadas… na Ásia? Na França? Talvez no Vaticano — elas têm o peso de uma batina de bispo — ou um avental de radiografia. Debruns feitos à mão em tons vivos de fúcsia, vermelho, laranja (…) Uma hora e meia depois todos reaparecem ao mesmo tempo. Ela, com duas manchas cor de malva nas bochechas, os filhos, o Bentley com o filipino, e todos vão embora como que deslizando. Luz e cintilância do carro prateado, o cabelo preto e a jaqueta de seda preta dela. O ritual inteiro flui silenciosamente, como sangue. Ela está morta agora. Não sei direito quando aconteceu; deve ter sido num dos meus dias de folga. Ela sempre pareceu morta de qualquer forma, mas de um jeito bonito, como uma ilustração ou um anúncio”.
A experiência acumulada nos hospitais, rende magníficas narrativas. “Trabalho em hospitais há anos e se tem uma coisa que eu aprendi é que quanto mais doentes os pacientes estão menos barulho eles fazem. É por isso que eu ignoro o interfone dos pacientes. No início, quando uma voz dizia pelo interfone ‘Enfermeira! Rápido’, eu perguntava ‘Qual é o problema?’. Mas isso tomava muito tempo; além do mais, nove entre dez vezes era só a televisão que estava sem cor.”. Experiência que atinge os médicos -aprende a conhecer a pessoa que está por trás do jaleco branco: “Quando fui trabalhar na emergência acabei conhecendo todos os outros médicos com quem tinha falado pelo telefone. Logo descobri que eles eram exatamente como imaginávamos. Os melhores médicos eram aqueles que atendiam as ligações prontamente, eram claros e educados; os piores eram os que costumavam berrar com a gente e dizer coisas como “Será possível que estejam contratando retardadas como telefonistas?”. E, naturalmente, os pacientes: “Uma coisa eu sei sobre a morte. Quanto “melhor” a pessoa, mais amorosa, feliz e afetuosa, menor é a lacuna que a morte dela deixa (…) John – disse Florida- Isso é só dor fantasma. Mas é dor de verdade? – eu perguntei a ela. Ela deu de ombros. “Toda dor é de verdade.”
Magníficas descrições, onde fatos, pessoas e significado se misturam em harmonia que brilha na leitura. “Sabor a ti. Sabor de você. Dá para imaginar uma música americana que falasse sobre como é o gosto de uma pessoa? Tudo no México tinha gosto (…) Tentou se lembrar de quando tinha sido a última vez em que se sentira feliz. Uma vez, pouco depois de ele morrer, ela tinha visto um filme dos irmãos Marx na televisão. Uma noite na ópera. Tivera que desligar; era insuportável rir sozinha (…) Ela usa seda de enrolar cigarro para tirar o excesso de batom. Grandes beijos borrados se abrindo como milho de pipoca pela bolsa inteira (…) O biscoito se expandiu na minha boca como flores japonesas, como um travesseiro estourado (..) Aposto que a Igreja católica perdeu uma porção de aspirantes a freiras quando elas começaram a se vestir como guardas femininas comuns (…) As pessoas sempre se assustam com a beleza das irmãs. Depois de passar um tempo com elas, você se acostuma, como com um lábio leporino (..) Eu não queria só que minha mãe acreditasse em mim quando eu era inocente, coisa que ela nunca fazia, mas também que ela me defendesse quando eu era culpada”.
Lucia Berlim explica o próprio estilo: “O que eu espero conseguir fazer é, por meio da utilização de detalhes intricados, tornar essa mulher tão verossímil que você não tenha como deixar de se compadecer dela”. E no vácuo das lembranças vividas, turbinadas pela imaginação, desata a escrever e cativa o leitor: “A sra. Snowden esperou que a minha avó e eu entrássemos no carro elétrico dela. Era igual a qualquer outro carro, salvo pelo fato de que era muito alto e curto, como um carro de desenho animado quando bate numa parede. Um carro de cabelo em pé. A sra. Snowden não passava, talvez não pudesse passar, de vinte e cinco quilômetros por hora. Andávamos tão devagar que eu via as coisas de um jeito que nunca tinha visto antes. Via tudo ao longo do tempo, como se estivesse observando alguém dormir, a noite inteira. Um homem na calçada decidiu entrar num café, mudou de ideia, foi andando até a esquina, depois voltou e entrou, estendeu o guardanapo no colo e fez uma cara de expectativa, tudo isso antes que nós chegássemos ao fim do quarteirão (….) Elas ficaram agradecidas pelo café da manhã, comendo agachadas e com os cotovelos ossudos para fora, como louva-a-deus, nos morros de lixo (…) Ela foi um anjo que entrou na minha vida e a arruinou para sempre (…) Estou feliz. Acordo de manhã com as bochechas doloridas de tanto sorrir”.
A ironia permeia a narrativa, de mão dada com o realismo. Sofrimento e humor, num mano a mano singular. “As duas riram. Herman! -a sra. Wacher gritou para o marido- Depois que nós duas tivermos morrido, vocês dois prometem fazer uma viagem de férias juntos? Herman sacudiu a cabeça. Não. É preciso quatro pessoas para jogar bridge (…) Eles nunca me dão a impressão de estarem bêbados -eu disse. Isso é porque você nunca viu os dois sóbrios. E eles só começam a beber de verdade depois que a gente vai embora (…) Deus dá amnésia aos bêbados porque, se eles se lembrassem do que fizeram, certamente morreriam de vergonha (…) As perguntas eram constrangedoras, acachapantes, mas tinham um efeito sedativo; a atenção era como uma massagem. Quando queria dizer a alguém como estava se sentindo, mas era difícil, ela mostrava um poema (…) Era pequena e magra, mas parecia velha. Não adulta nem madura, mas como uma velhinha-criança. Tinha um cabelo comprido preto e brilhoso, uma franja que lhe caía nos olhos. Para enxergar, ela tinha que inclinar a cabeça para trás. Parecia um filhote de babuíno. No bom sentido, quero dizer. Um rosto pequeno com grandes olhos pretos”.
A função de escritora também aparece no meio dos contos. “O tipógrafo é um velho texano chamado Jonesy, que opera uma máquina linotipo. É uma máquina maravilhosa, com centenas de peças e engrenagens. Ela derrete o chumbo que faz as letras. Ele escreve as palavras, e aí as engrenagens retinem, rangem e estalam, e depois as palavras saem em linhas de chumbo quente. Isso faz com que cada linha pareça importante (…) Minhas aulas de jornalismo estão indo bem, os professores são ótimos, parecem até repórteres de filmes antigos. Mas eu estou começando a ter uma sensação estranha. Escolhi jornalismo porque queria ser escritora, mas o negócio todo do jornalismo é cortar fora as melhores partes”.
E, no meio deste turbilhão de lembranças salpicadas de humor e ironia, a alma feminina de Lucia Berlim está sempre presente. Fala do policial que “antes de algemar você ele dizia ‘Com licença’ e, quando você ia entrar no carro, ‘Cuidado pra não bater a cabeça”. E de recordações encantadoras e sugestivas: “Eu ainda não usava batom, mas passei um pouco de Merthiolate na boca (…) Eu quero um homem que se despeça do pai com um beijo (…) Um princípio básico do sex appeal, ela me disse, é trabalhar sempre sozinha. Não importava se a outra mulher fosse feia ou bonita… isso simplesmente atrasava e complicava qualquer operação(..) deitamos de barriga no chão, silenciosos como guerrilheiros. Eu sei, eu romantizo tudo”. Romantismo que não elimina a ironia, como a companheira de colégio que gostava de teatro: “A mãe dela lhe manda absorventes Kotex de Oklahoma pelo correio todo mês. Ela está cursando arte dramática. Céus, como é que ela vai poder fazer Lady Macbeth algum dia se fica tão aflita por causa de um pouquinho de sangue?”.
Alma feminina que se expande nas atividades profissionais e sociais. “Acho que havia uma lei que dizia que eu tinha que estar presente quando ele (o médico) estivesse examinando uma paciente do sexo feminino. Eu costumava achar que isso era uma precaução antiquada. Não mesmo. Era impressionante quantas daquelas velhas senhoras eram apaixonadas por ele (…) Durante o almoço, Ruth me contou que tinha começado a se sentir velha e acomodada e que então havia entrado para um grupo de apoio. As Meninas Peraltas, ou M. P., que era na verdade uma referência à Meno Pausa. Ruth sempre dizia essa palavra como se fossem duas. O grupo tinha como objetivo dar mais pique à vida das mulheres (…) Eu acho que você sente vergonha de ser tão feliz e vai fazer isso pra ter o que compartilhar com as M. Ps. Eu entendo. Quando eu tinha onze anos, uma tia me deu um diário de presente. Só o que eu escrevia nele era: ‘Fui pra escola. Fiz o dever de casa’. Aí eu comecei a fazer bobagens só pra ter alguma coisa pra escrever no diário (..) Tem aquele olhar desesperançado que você vê em mulheres que apanham. Deus me perdoe, porque eu também sou mulher, mas quando vejo mulheres com esse olhar tenho vontade de dar uma bofetada nelas”
Ponhamos um ponto final nesta coletânea de citações, com palavras que me chegaram de uma das participantes da tertúlia literária. Apenas para colocar mais lenha nesta fogueira que já está em ponto de ebulição. Copio: “A leitura que fiz, foi de ver o texto, seu conteúdo e estrutura como a vida em movimento. Ela sendo a protagonista. Nenhuma vida é boba ou sem graça, pode ser difícil, isso sim! Mas boba, sem graça e rotineira nenhuma é. A vida da protagonista é uma grande improvisação que ela vai administrando dentro do possível e se utilizando dos recursos disponíveis e, importante, sem se magoar com as circunstâncias, ocupações de trabalho, as mais diversas e relacionamentos improváveis. Até a apresentação da obra faz jus à improvisação. Num conto, ela tem mais idade, com filhos, no seguinte retrata a sua criança, sua adolescência ou a jovem que foi. Achei bastante interessante a observância de uma narrativa em 3a. pessoa. Muito interessante! O bom da 3a. pessoa, no meu olhar, e até pegando um gancho do teatro, é que tem o poder de provocar um distanciamento saudável do nosso eu, nos desnudando de certo egoísmo. Isto posto, não suscita comiseração por parte do outro e nem de nós mesmos. E assim sendo, é possível desenvolvermos um sentimento de compaixão por toda a humanidade e não por alguém em sua individualidade apenas. A compaixão universal, digamos assim, pode nos levar a um humanismo compassivo, que é onde estamos tentando chegar sempre”
Belíssimo resumo da experiência de leitura. Nada a acrescentar. Apenas fechar este longo passeio pelo Manual da Faxineira, com as palavra certeiras de Lucia Berlim: “ Outro dia, ela disse que existia pouca diferença entre a mente de um criminoso e a mente de um poeta. É uma questão de melhorar a realidade, de criar a nossa própria verdade. Vocês têm olho para os detalhes. Dois minutos numa sala e vocês já esquadrinharam tudo e todo mundo. Vocês todos sacam quando uma coisa é mentira”. Palavras sinceras que assumem a responsabilidade pelos próprios atos: “Tudo de bom ou de ruim que aconteceu na minha vida foi previsível e inevitável, sobretudo as escolhas e ações que garantiram que eu viesse a estar agora absolutamente sozinha”. Mas sem azedumes, com um olhar de esperança que nos faz pensar, nos empurra a ser melhores, amáveis, gentis. Ai está o recado final: “Gentil é uma palavra como caridade ; implica um esforço. Como aquela frase de para-choque de caminhão que fala de gestos aleatórios de gentileza. Gentil deveria ser o modo como uma pessoa é sempre, não um gesto que ela opta por fazer”.