TÃO LONGE, TÃO PERTO

Pablo González Blasco Filmes Leave a Comment

TÃO LONGE, TÃO PERTO. (In weiter Ferne, So nah!) Diretor: Wim Wenders. Otto Sander, Peter Falk, Horst Buchholz. Alemanha 1993. 141 min

Um filme sobre anjos é sempre uma novidade, embora o tema dos anjos tenha certa atualidade, e até prestígio. Mais pelo esoterismo que o cerca do que propriamente pelos anjos como tais. Hoje se fala de anjos como nunca, e se desconhece, cada vez mais, a realidade da natureza angélica já que, para tentar aproximar-se dela, alguma noção de filosofia e de metafísica se deveria possuir. Os conhecimentos da moda não primam pelo cultivo dessas ciências; daí o contraste, os paradoxos do mundo que substitui a filosofia pelas sensações, o sentido religioso pelo paranormal.

De qualquer forma é uma surpresa agradável o filme do diretor alemão Wim Wenders. Não pretende, nem por aproximação, ser um tratado teológico sobre os anjos mas também não cai na ficção fácil, no subjetivismo. Trata-se de um ensaio sobre a transcendência, âmbito que reúne o que vai além da materialidade, da própria vida. Deste modo, os anjos, a própria alma humana, o desejo de eternidade, o bem e o mal, harmonizam-se no filme em natural convivência com as realidades terrestres.

Com um domínio completo da cena e um jogo de cor habilidoso, Wenders nos mostra a visão angélica em branco e preto, como nos lembrando que o contato dos anjos com os homens transcende o colorido do material, vai além do físico. Mas, nem por isso, é desprovido de aconchego, carinho e,  -por que não?- de amor pelos homens. Um amor que faz com que os anjos vivam em função dos humanos, à volta deles, gastando sua eternidade enfronhados nos afazeres dos homens, empurrando-os para o bem. “Não somos a mensagem, nem a luz. Somos os mensageiros. Não somos nada”. Anjo, mensageiro, que serve os homens, longe mas muito perto para quem os procura.

Neste clima de transcendência, belíssimo e corajoso, Wenders transmite suas próprias preocupações. É claramente um dos chamados “filme de autor”, de um autor que desconcertado com o mal se agarra ao sentido espiritual que a vida humana deve ganhar, no qual o papel dos anjos é alavanca eficaz.

            Filme lento, denso, para público seleto; seleto e compreensivo, que saiba ver um grito da alma humana clamando pelas questões eternas, um debate -de duração eterna-  entre o bem e o mal que todos levamos dentro; nunca uma aula de teologia. Para tal prestar-se-iam melhor os “anjos americanos”, de cinema mais direto, sem intuições, onde o espectador nada tem que pôr da sua parte. Os anjos de Wenders são alemães, olham os mortais do cimo coroado pela estátua do anjo de Berlim, numa perspectiva que fará o espectador pensar. E pode até arrancar dele -infelizmente muito mal acostumado com a comédia fácil- vontade de transcendência. Um filme para ser descoberto.

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