Joseph Fadelle: “O Preço a pagar por me tornar cristão”
Joseph Fadelle: “O Preço a pagar por me tornar cristão”. Paulinas. São Paulo, 2015. 310 pgs.
Eis um testemunho comovente que faz pensar. E muito. Um jovem soldado iraquiano, muçulmano, é forçado a dividir a hospedagem da caserna com outro soldado cristão. Lutam por uma causa comum, mas a motivação e as crenças são diferentes e, por conta do ambiente cultural, impossíveis de se misturar: como água e óleo. As conversas com o companheiro ao qual se afeiçoa, as perguntas que ele lhe faz, os silêncios prolongados do interlocutor, levam Mohammed até a conversão. Aí começa a sua aventura, onde terá que enfrentar a família, as raízes, a confortável posição social e a perseguição aberta, incluída a tortura e o cárcere. Esse é o preço a pagar para tornar-se cristão. Um preço que pode exigir dele a própria vida, assim como a da sua mulher e filhos que seguirão o seu caminho.
Uma história que poderia parecer ficção se não fosse real, tal é o teor do relato, tocante e assustador que alinhava ao longo destas 300 páginas. Não é um homem que renega das suas crenças, mas que descobre um complemento maior que abraça e engrandece sua existência: “Desse modo, tenho na cabeça todos os nomes que o Alcorão dá a Alá. Conhecem-se noventa e nove: Eterno, Inconcebido, Único, Inacessível, Firme, Invencível, Glorioso, Sábio, Benevolente, Misericordioso, mas também Vingador… Em contrapartida, também existe outro nome, o centésimo, que ninguém conhece. Mas eu tenho a impressão de que hoje descobri este nome misterioso e desconhecido de Alá: é o Amor”.
Uma leitura cativante. Poderia ser, repito, uma novela de aventuras se não fosse o trágico esforço pela sobrevivência de um homem a quem sua fé o coloca em permanente perigo de vida. Sabe que esse é o preço da sua crença, e está disposto a pagá-lo porque o tem em alta estima: “Isso me atinge profundamente a mim que, desde há anos, penso todos os dias que é bem possível que venha morrer por Cristo. E, de tal maneira, que chego a ficar triste com a ideia de poder morrer naturalmente, banalmente.”
Impossível prever a reação do leitor, porque cada um terá a sua. A minha foi, desde o primeiro momento, de agradecimento misturado com a vergonha de uma vida fácil, sem riscos. Lembrei-me de um pensamento que li há muito tempo e que encaixa perfeitamente no meu sentir em oposição com a exemplar conduta deste personagem. Diz mais ou menos o seguinte: aqueles que recebem tudo de golpe, devem ser agradecidos a Deus; igual que reagiria um cego que recuperasse a vista de repente, enquanto aos outros nem se lhes passa pela cabeça que devem dar graças porque enxergam. Quer dizer, viver agradecendo é o resultado deste testemunho magnífico.