What the best college teachers do?
Ken Bain: “What the best college teachers do”.
Havard University Press. Cambridge. Massachusetts. 2004. 207 pgs.
Eis um livro que marcou presença na minha formação como professor. Li muitos anos atrás, tive de voltar sobre ele recentemente, e reparei que deveria publicar -quer dizer, tornar públicas, que isso significa publicar- minhas reflexões para que, sendo o caso, outros possam aproveitar.
O livro recolhe as conclusões de vários estudos sobre professores considerados de excelência. Esse é o título e o propósito da obra. E atenta para as características comuns entre eles, que fazem com que assim sejam considerados. Quais são estas características?
Evidentemente esses professores têm conhecimento sobre o tema que ensinam, mas demonstram compromisso e provocam no aluno um desejo continuado de aprendizado. Quer dizer, são a largada do conhecimento -provocadores de um processo- e não apenas passam conteúdo. O ensino deve promover uma influência permanente e substancial no modo do aluno pensar, agir e sentir. Isto é muito mais do que aprender a matéria ou tirar boas notas.
Ao longo do livro existe uma ideia permanente: o professor está em função do aluno. O aluno é o motivo real da sua profissão. Por isso, mesmo que o professor não possua um curriculum extenso, estuda e está informado sobre o que ocorre no meio cientifico de sua área. Mas vão por diante, são um exemplo permanente, diapasão de tonalidade no aprendizado: fazem intelectualmente, fisicamente e emocionalmente o que esperam de seus alunos. Os professores usam seu conhecimento para facilitar o aprendizado de outros, facilitam o acesso à informação e provocam os estudantes a pensar no assunto em questão.
Esse postulado influencia no modo de preparar as aulas. Anota o autor: “O que você pergunta a você mesmo quando está se preparando para ensinar? Você pensa nos objetivos do estudante e em como atingi-los?”. E esclarece que não se pode atrelar os objetivos ao conhecimento teórico puro e simples, mas torna-se necessário usar objetivos relacionados a vida real.
Naturalmente essas atitudes definem o ambiente de aprendizado, que é também responsabilidade do professor. Um ambiente que deve ser favorável ao conhecimento construído, onde os alunos sentem razoável controle sobre o próprio processo educacional. Um ambiente onde se permite tentar, falhar; e se corrige, e se proporciona feedback. O professor demonstra confiança, acredita na capacidade de aprender de cada um, relata seus próprios interesses, erros e acertos. Há uma comunidade de aprendizado aberta e sincera.
Com relação a arte de ensinar, o autor lembra que o conhecimento deve ser construído, não recebido. Os alunos não são meros recipientes de informação. Nossa memória é formada por modelos mentais da realidade, é necessário construir novos modelos mentais. Para tal é preciso tempo, desafiar mentalmente o estudante, provocar um aprendizado que seja uma experiência intensa e não algo superficial, É mais importante criar um ambiente de discussão e aprendizado do que “cumprir currículo”. Aprender algo não faz sentido a não ser que isto cause uma influência permanente e substancial no modo do aluno pensar, agir e sentir.
As perguntas são cruciais, ajudam a construir conhecimento. Sem fazer perguntas o aluno não tem estimulo para novas respostas e, consequentemente, para memorizar novas informações. As pessoas aprendem melhor quando responder às perguntas formuladas tem importância para elas. Sem interesse não haverá mudança no conhecimento antigo ou esforço para construir novos modelos mentais da realidade. O ser humano é um animal curioso. As pessoas aprendem naturalmente quando tentam resolver problemas que lhes apresentamos. Temos aqui uma versão moderna do ensino Socrático clássico. E paira a dúvida: quantos professores sabem, de fato, fazer as perguntas certas?
Não falta, naturalmente, a questão necessária. O que motiva, o que desencoraja um estudante? Fala-se da conhecida motivação extrínseca e intrínseca, e se adverte que a intrínseca é permanente e deve ser reforçada. Utilizar feedback positivos e negativos conforme a necessidade. A motivação e a performance diminuem quando os alunos se sentem manipulados ou controlados. O estímulo deve vir do próprio professor que, de corpo e alma, motiva os alunos, e lhes mostra a beleza, outras versões dos fatos, uma maneira mais palatável de adquirir informações.
Uma lista de variedade de posturas discentes -cuja análise ultrapassa o propósito destas linhas – dá colorido e faz pensar ao professor. Desde o aluno que aprende por “bulimia” espicaçado pela competição, até os que aprendem superficialmente em função da performance, passando pelos que aprendem a jogar o jogo daquele professor ou disciplina, respondem de acordo com o que é reconhecido, com o politicamente correto, e obviamente essa postura não afeta seu conhecimento ou atitude fora da classe. Mas, uma vez mais, o desafio e o profissionalismo deve correr por conta do professor, sem justificar-se pela baixa qualidade da audiência. Uma série de perguntas, permitem ao professor avaliar sua dedicação. Mais do que um checklist é um verdadeiro exame de consciência da sua atitude profissional.
Conforme vou juntando as anotações que fiz quando li o livro por primeira vez, penso se esses estudantes têm algo a ver com as gerações atuais, onde os postulados do ensino de excelência resultam quase ingênuos. Mas, de repente, tropeço com algo que o autor já devia ter previsto para os que como eu, nos cansamos, vemos a educação com tons de cinza (ou de negro), e corremos o risco de tornar-nos céticos. Afirma textualmente: “Os bons professores não culpam seus alunos por dificuldades que eles enfrentam. Têm um forte senso de compromisso com a comunidade acadêmica e não apenas com sucesso pessoal. Trabalham com perspectivas maiores, rede de colegas ou instituições. Não estão satisfeitos apenas com o que sabem ou já alcançaram”. Sem mais perguntas ou dúvidas. A culpa do insucesso, está claro, é sempre do professor que não sabe adaptar-se aos novos tempos, às gerações que chegam.
Talvez por isso sublinhei uma frase que, em muitas ocasiões, utilizei nas aulas ou workshops com professores e que anoto textualmente a modo de resumo: “O melhor modo de ensinar é frequentemente uma criação intelectual combinada com arte como desempenho. Por isso, os educadores de excelência entendem que ensinar é, antes de mais nada, saber criar bons ambientes de aprendizado”. Parece simples, mas não é. Vale lembrar o magnífico Ted Talk de Ken Robinson quando explica como após umas chuvas o chamado vale da morte na California amanheceu atapetado de flores. O vale não estava morto; apenas dormia. E bastou uma mudança climática para que despertasse. O educador de excelência não é quem controla notas, currículos, e avaliações. É aquele capaz de, com criatividade, controlar o clima, onde o estudante pode florescer.