Roger Scruton: “Pensadores da Nova Esquerda”
Roger Scruton: “Pensadores da Nova Esquerda”. É Realizações. S. Paulo 2014. 335 pags.
Já na apresentação nos advertem que Scruton sintetiza o trabalho dos intelectuais que analisa: um moroso farejar do intelecto ao redor de um santuário inatingível. Em sua obstinada luta para negar a realidade, um farejar verdadeiramente diabólico
De fato, este é o assunto. O leitor se lança na leitura do livro buscando encontrar a síntese da construção mental desses pensadores, mas o que realmente encontra é um duelo de alto nível, uma verdadeira disputatio (nos termos clássicos e medievais da palavra) onde Scruton põe a limpo todas as diferenças e dissenções que tem com cada um deles. Algo que, na prática, fica muito longe e distante, dificilmente acessível, ao leitor comum, mesmo com conhecimento do tema. São filigranas -certamente necessárias quando se argumenta com pensadores deste naipe- que escapam ao raciocínio comum. Não é, ao meu modo de ver, um livro de divulgação mas de consulta. Mesmo assim, vale um rápido passeio pelo livro -confesso que às vezes em diagonal, porque o tema requereria mais estudo do que leitura.
Adverte Scruton que o termo Esquerda, deriva da Assembleia dos Estados Gerais de 1789 quando na França, a nobreza sentou-se à direita do rei, e o Terceiro Estado à sua esquerda. E, a seguir, aponta: “O intelectual de esquerda é tipicamente um jacobino. Acredita que o mundo é deficiente em sabedoria e justiça, e que a falha reside não na natureza humana, mas nos sistemas de poder estabelecidos. Não há um simples pensador de esquerda que esteja disposto a responsabilizar-se pelas crueldades perpetradas em nome do seu ideal, embora todos sejam inflexíveis em afirmar que as crueldades de todo o ancien regime devem ser imputadas àqueles que o defenderiam”.
Logo a seguir, já no primeiro capítulo, explica algo que comprovamos diariamente, desde as manchetes dos jornais, até as discussões nas redes sociais -que por vezes atingem um nível lamentável, de baixo calão. “Não estamos negociando com um sistema de crenças sustentadas racionalmente. As proposições importantes do pensamento de esquerda são precisamente aquelas que não podem ser questionadas. São crenças colocadas além das ciências, num reino de absoluta autoridade, que jamais poderá ser acessado pelos não iniciados. A doutrina torna-se inseparável da ação revolucionária. Práxis é o equivalente marxista da fé”. Insistir nos argumentos como muitos ainda querem fazer, é um espasmo inútil, uma tentativa de apologia fadada ao fracasso. O sistema operacional desses gurus de esquerda é outro.Leia mais