MEU PÉ ESQUERDO: A virtude gigante de uma mãe.
(My left foot). Diretor: Jim Sherridan. Daniel Day Lewis, Brenda Fricker, Ray McAnally.
Irlanda, 1989 102 min.
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Este é o primeiro filme do diretor Irlandês Jim Sherridan, que tem sido recebido pela crítica com elogios, acumulado prêmios e agradado o público. Narra a vida de Christy Brown, um deficiente com paralisia cerebral, que se converte num pintor célebre usando a única parte do seu corpo sobre a qual tem domínio: o pé esquerdo. Esse mesmo é o título da autobiografia de Christy Brown (1932-1981), na qual se baseia o filme.
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Necessário é destacar a interpretação magnífica de Daniel Day Lewis, que ganhou Oscar de melhor ator. Encarna perfeitamente as limitações físicas da personagem, a personalidade -voluntariosa às vezes, com humor ácido outras- e o seu relacionamento com as pessoas que lhe rodeiam. Sherridan consegue criar um clima, recorrendo ao flash-back, que toca pela sua sensibilidade e delicadeza, embora retrate com crueza os momentos dramáticos.
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Mas por trás de Lewis, do deficiente, em paralelo corre a figura que enche a tela e dá suporte a todo o filme: a mãe de Christy Brown, um concentrado de valores maternos. O filme, com justiça, poderia ser julgado só deste ponto de vista: uma apologia da mãe de família. Brenda Fricker a torna real, em interpretação maravilhosa, cálida, de mãe irlandesa, de família operária, com 22 filhos -conforme consta nas memórias de Christy, embora no filme não seja explícito- dos quais sobreviveram 18. Christy era o décimo.
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É precisamente a mãe, essa mulher com decisão e pulso, cheia de ternura -sem sentimentalismos nem falsas compaixões- a que promove a superação da doença do protagonista. Ela é quem alicerça a família nos momentos difíceis, temperando com bom humor os dissabores, dando unidade e impondo a todos respeito mútuo e convicções firmes. Exige, educa, compreende, perdoa. Uma mãe que é um gigante de virtudes, devotada aos filhos, que extrai recursos da própria indigência e os multiplica com a força do carinho e da própria doação. Não é de se estranhar que seja esta a primeira palavra pintada por Christy, com o seu pé esquerdo: mãe, com giz, no chão, em momento de lirismo emocionante, como se estivesse aparecendo uma obra de arte.
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Os demais aspectos do filme impõem-se sozinhos; a perspectiva materna é prato cheio para estes comentários e para muitas reflexões. Triste seria -verdadeiro desperdiço- que o espectador, em momento de descuido, passasse por cima deste papel secundário, coadjuvante na tela, mas com proporções gigantes na vida mesma, como lição de fé e de amor.
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Um filme obrigatório, para todos. Para as mães uma homenagem e um modelo que, sendo um chamado de atenção, é sobretudo um estímulo e um desafio de virtudes. “A ausência da generosidade maternal -escreve Marañón- gera o defeito mais corrosivo do homem, que é o ceticismo. Essas gerações, terrivelmente céticas, porque não cresceram junto das suas mães ocupadas, são as principais responsáveis pelo tom dissolvente, amorfo, da humanidade atual”. É mais um pensamento, perspectiva gigante da tarefa materna, que coroa, como cereja no bolo, aquilo que no filme é mostrado amplificado, no detalhe.