David Allen: “A arte de fazer acontecer” (Getting things done). Elsevier. São Paulo. 2005 200pgs.

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Poderia ser um livro de auto-ajuda e talvez seja mesmo. Um livro para fazer melhor as coisas que todos temos de fazer diariamente. Os conselhos não são novos nem brilhantes, mas nem por isso deixam de ter importância; especialmente porque mesmo sendo conhecidos, são poucos os que, no frigir dos ovos, os colocam em prática. O autor recomenda que sendo muitas e de caráter muito diverso as pendências de cada um, as tiremos da mente –da memória RAM- e as armazenemos em compartimentos adequados para consultar quando for necessário. Criar, pois, caixas de entrada que, periodicamente serão esvaziadas no processo que catalogará as pendências nas prateleiras correspondentes: fazer agora, estudar depois, algum dia talvez, para quando tiver tempo. Esvaziar a mente para dedicar-se ao que, neste momento presente, estamos fazendo: um belo conselho, de lógica esmagadora.  “Na minha experiência –diz o autor- tudo o que é mantido na memória RAM psíquica vai demandar menos ou mais atenção da que lhe é devida, nunca a atenção exata: essa somente pode se atingir tirando as coisas da memória RAM e colocando-as no lugar que lhes corresponde(…) Nesse momento passaremos a refletir sobre as coisas ao invés de apenas lembrar que elas existem”.

    A falta de tempo não é, como muitos pensam, o verdadeiro problema. O problema é mesmo a falta de definição de um projeto que, por ser pouco claro, não resulta fácil estabelecer quais os passos a seguir para implementá-lo. Daí que uma das perguntas importantes que o autor recomenda é: “Muito bem, e agora: qual é a próxima ação a fazer? Essa pergunta centra o foco de modo surpreendente.

    O gerenciamento da agenda é um dos pontos fortes do livro. As pessoas costumam colocar na agenda o que gostariam de fazer, mas não necessariamente o que vão fazer. O resultado é claro: a agenda deixe de ser válida, porque deixamos de acreditar no que nela está anotada. “Olhe para a sua agenda como um território sagrado, e antes de colocar algo nela pense se de fato quer fazer aquilo, ou é um simples desejo”.

    Muitos dos conselhos são de senso comum mas, como o autor afirma, “poucas pessoas tem realmente o seus processos e sua organização afiados ao ponto de serem funcionais à máxima capacidade”. A importância de fabricar-se um sistema de gerenciamento que funcione, e no qual confiemos, é imprescindível visto que “o mundo vem até nós com uma velocidade maior do que conseguimos acompanhar, mesmo com a melhor das intenções”.

    Descansar aproveitando as brechas de tempo para fazer coisas pendentes que exigem pouca energia mental. Uma boa receita para poupar perdas de tempo, em descansos mal programados, ou melhor, sem programa nenhum e que acabam ficando por conta da programação da TV –zapping inútil- ou mesmo de navegar sem rumo pela Internet.

    Não culpar as surpresas pelo stress e pela baixa produtividade. As surpresas e imprevistos são a própria vida. Quando somos interrompidos no trabalho –algo que é também a própria vida- saber que as pendências não vão fugir, estão lá nos esperando: isso baixa muito o nível de tensão e as respostas de mau humor às interrupções.  Curtir o trabalho que temos entre as mãos, sem sonhos ou quimeras. “O melhor lugar para ter sucesso é onde você está com aquilo que você tem”.

    De onde vêm os sentimentos negativos, a sensação de frustração? Do excesso de trabalho? Não! Dos acordos que fazemos conosco mesmo e depois não cumprimos. Talvez é necessário não fazer esses acordos, ou renegociá-los, ou mesmo cumpri-los em tempo hábil.

    Um livro que é mais um scanner do que um check-list de tarefas ou funções a fazer. Por isso o autor recomenda ler o livro de vez em quando, como um instrumento de varredura que levante uma ou duas questões que podem ser melhoradas. Não é um livro de “receitas para ser eficaz”, mas um verdadeiro levantador de lebres que podem e devem ser caçadas, com serenidade, desfrutando a vida.

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