John Green: “A Culpa é das Estrelas”

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John Green: “A Culpa é das Estrelas”. Ed Intrínseca. Rio de Janeiro. 2012. 286 pgs.

     Recebi este livro num amigo secreto natalino, com uma recomendação muito precisa: manter-se afinado com o que os jovens de hoje pensam. Quer dizer: um recurso para conhecer os mistérios do jovem. Reconheço que no início tive certa repulsa; lembrei do Nelson Rodrigues que explodia aqueles que tudo creditavam aos jovens, pelo simples fato de sê-lo, sem atentar para nenhum outro valor ou conteúdo que, por ventura, se pudesse encontrar no sujeito. Mas, mesmo assim, enfrentei o desafio.

     Encontrei pontos positivos, bastantes. A originalidade, o primeiro: uma narração, em primeira pessoa, de uma garota adolescente com câncer, lutando pela sobrevivência. O humor, desenfadado, espirituoso, que permeia as situações, ou melhor, os diálogos que são a grande base do romance. E, um destaque especial, para a tradução. Não li o original em inglês, mas a adaptação de linguagem é perfeita, tem a similitude da curiosa melodia com que os jovens se exprimem. Frases como “minha mãe permaneceu abraçada a mim, tipo, um bilhão de anos”, “foi mal, desculpa”, resultam familiares.

     Mas é justamente aqui, onde surpreendi o engodo do livro. Se atentamos ao modo de falar, podemos até pensar que é uma adolescente a que relata os fatos: sonhos, desejos, desventuras, frustrações, alegrias. Por exemplo “Eu sou tipo. Tipo. Sou tipo uma granada, mãe. Eu sou uma granada e, em algum momento, vou explodir, e gostaria de diminuir a quantidade de vítimas, tá?”. Mas o que não encaixa é o conteúdo, a densidade do pensamento. Valha a explicação ontológica da situação anterior a modo de exemplo: “Eu odiava fazê-los sofrer. A maior parte do tempo, conseguia não me lembrar disso, mas a verdade inexorável era: eles podiam estar felizes por me ter por perto, mas eu era o alfa e o ômega no sofrimento dos meus pais”. Pode ser que eu esteja mesmo por fora, e por isso ganhei o livro, mas confesso que esse tipo reflexão nunca ouvi de uma adolescente.

     O autor apresenta personagens embebidas num vídeo game bélico que com naturalidade migram para reflexões que envolvem filósofos e humanistas. Sem solução de continuidade, como quem muda o canal da TV, o que de fato acontece para assistir America’s Next Top Model e tentar –sem conseguir- resgatar a vertente adolescente da personagem.

     É muito possível que seja o livro mais lido entre os jovens, e que gostem. Mas quem escreve, de fato, não é uma adolescente mas sim um autor com cabedal de cultura e que tem a habilidade de borrifar com frases de efeito –tudo muito teen, muito cool- a trama do romance. Vai ver que esse é o sistema, a metodologia, para se fazer ouvir pelos jovens. O embrulho, o perfume do invólucro, deve sintonizar com as percepções vitais dos jovens, para colocar dentro um conteúdo mais substancial, na esperança de que seja assimilado. Mas o livro, para mim, não é um romance de alegria no sofrimento –como poderiam ser os de Dickens, Bronte, Austen, e tantos outros clássicos. Também não é uma obra que destila romantismo, melancolia e doçura como está escrito na contra capa. É apenas uma metodologia que pode funcionar. Ou não. Teremos de pensar mais a respeito, mas vale o esforço do escritor.

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