Stanislao Dziwisz: “Una Vida con Karol”

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Stanislao Dziwisz: “Una Vida con Karol”. La esfera de los libros. Madrid. 2008. 254 pgs.

una_vida_con_karol     A recente canonização de João Paulo II foi o estímulo que me fez tirar da prateleira este livro que lá descansava há um par de anos, da época em que o adquiri. Quem escreve é o atual Cardeal de Cracóvia que foi secretário de João Paulo II durante 40 anos, desde a sua ordenação –realizada pelo mesmo Karol Wojtyla- em 1963. São lembranças esparsas que emergem ao compasso do diálogo com o interlocutor, o vaticanista, Gian Franco Svidercoschi.

     Não há grandes novidades, pois é muito o que conhecemos do Papa polonês, que nos foi chegando ao longo dos quase 27 anos de pontificado, o terceiro maior da história da Igreja. Mas serve para destacar aspectos fundamentais da sua figura. O primeiro, sem dúvida, o muito que João Paulo II rezava: era um homem de oração, longa, profunda. “Sua capela privada era o lugar onde vivia os encontros pessoais com Deus. Passava lá o maior tempo possível. As freiras o encontravam muitas vezes lá, prostrado no chão, imerso nas suas preces(…) Não deixava de rezar. Misturava a preparação dos discursos com os mergulhos na capela, onde sumia-se em oração”.

     Da relação de Wojtyla com o Cardeal Wyszynski, primaz da Polônia, relatam-se alguns aspectos que eu não conhecia. Parece ser que quando Karol Wojtyla foi nomeado arcebispo da Cracóvia, não constava na lista de candidatos sugerida por Wyszynski. O secretário do partido comunista polonês orgulhou-se da nomeação e disse que tinha sido ele quem facilitou a nomeação de Wojtyla –pensando tratar-se de uma pessoa aberta e colaboradora, a diferença de Wyszynski que tinha enfrentado o regime, e padecido como vítima da repressão. Mas o provável é que o primaz atuou desse modo –omitindo o nome de Wojtyla- para não queimar o seu verdadeiro candidato. O atentado a João Paulo II acontece quando Wyszynski, já idoso e muito doente, estava morrendo. O primaz soube do atentado e arrancando forças conseguiu prolongar sua agonia por três semanas. Faleceu depois de ter falado com João Paulo II por telefone e certificar-se de que sairia com vida do atentado.

     “O recado inicial do seu pontificado –Non habeate paura, não tenhais medo- era parte da sua memória, da sua historia, do patrimônio religioso e cultural que tinha levado consigo da sua pátria até a cátedra de S. Pedro”. A vivência ampla de João Paulo II com o regime comunistas –frequentemente em Cracóvia tinha que levar os convidados para falar no jardim evitando assim os microfones que sabia estavam espalhados em todo lugar- deu-lhe a credibilidade necessária para enfrentar a Teologia da Libertação. Do primeiro momento, quando aceitou o convite para ir ao México, na Conferência dos Bispos Latino-americanos que aconteceria em Puebla, sua postura foi clara. Era um Papa que conhecia a fundo as falácias marxistas e a dialética da luta de classes que conduz à uma ditadura comunista supressora da liberdade de todos, ricos e pobres. Sabia, assim, detectar dentro da Teologia da Libertação o que era justiça social e o que a opção pelos pobres tinha de fundo marxista.

     Reconheço que eu não tinha apreendido este aspecto tão evidente: aquele que lutaria pela liberdade da Igreja e dos cidadãos que se encontravam no bloco comunista era, ao mesmo tempo, o que melhor poderia desmontar os espasmos sociais de alguns setores eclesiásticos que, no final, favoreciam truncar essa mesma liberdade que se almejava do outro lado da cortina de aço. Vale a pena, como exercício, pensar o que teria sido a história do Ocidente sem este Papa. Por um lado a solução dos impasses impostos pelas barreiras comunistas; do outro, quais teriam sido os rumos da Igreja para desmontar a Teologia da Libertação sem a autoridade de quem tinha experimentado as falsas soluções sociais na sua própria pele.

     João Paulo II era um homem universal, e tinha o mundo inteiro no coração. “Cada dia percorro uma geografia espiritual. Minha espiritualidade é um pouco geográfica!”. Coração onde cabia cada pessoa, com suas peculiaridades e necessidades. É emocionante o episódio onde se relata o encontro do Papa com mulheres que tinham caído na prostituição e vinham pedir ajuda. Elas choravam, o Papa as abraçava e as abençoava.

     Narram-se também os encontros de Wojtyla com outros personagens. Coincidências interessantes como os almoços que, após a morte de Paulo VI, sendo arcebispo de Cracóvia, teve com o Cardeal Luciani (futuro Papa João Paulo I) e com o Cardeal Ratzinger. E o encontro com a Madre Teresa de Calcutá, a quem nomeou embaixatriz da vida, após ela ter ganho o prêmio Nobel.

     Não faltam algumas descrições anedóticas. Quando, nos primeiros tempos do Pontificado, João Paulo II ia esquiar, fazia-o de incógnito, sem segurança, misturando-se com as pessoas. Até que um dia, uma criança o reconheceu: “É o Papa, é o Papa”. Dai em diante as excursões para esquiar passaram a ser mais reservadas, com escolta.
O Cardeal Dziwisz não deixa de anotar alguns detalhes do bom humor de João Paulo II. No final da vida, quando tinha que deslocar-se com frequência até o hospital, o Papa comentava que a Policlínica Gemelli era como o Vaticano III. Houve também quem acusou o Papa de ter inflacionado os santos na Igreja: foram realizadas 1345 beatificações e 483 canonizações durante o seu pontificado. Ele apenas respondeu sorrindo: “A culpa é do Espírito Santo”.

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