Edmund De Waal: “A Lebre com Olhos de Âmbar”
Edmund De Waal: “A Lebre com Olhos de Âmbar”. Ed Intrínseca. Rio de Janeiro. 2010. 318 pgs.
Um bom amigo deixou este livro em cima da minha mesa de trabalho. “Leia, creio que vai gostar. Tem muita historia”. Escrevo sobre o que entendi; de fato o melhor do livro é a História, e não as estórias que não são outra coisa que a historia da família do autor. Edmund de Waal, famoso ceramista inglês, toma como desculpa para nos falar da sua família, as peripécias que uma coleção de netsuquês (miniaturas japonesas entalhadas em madeira e marfim) atravessou nos dois últimos séculos até vir parar nas mãos dele.
Os Ephrussi, judeus emigrados da Rússia (Odessa), distribuem-se em Paris e Viena, desenvolvem negócios com sucesso, dirigem bancos que rendem fortunas, apoiam a construção de uma sociedade na qual se integram perfeitamente. Uma das ramas da família chega a emparentar-se com os Rothschild, sendo fácil perceber a influência econômica e cultural que tiveram em Paris e Viena na segunda metade do século XIX e nos começos do XX, até a primeira guerra mundial.
É verdade que a cultura –a do autor, e da sua família- é ampla, assim como o contato com as artes, da qual foram mecenas em muitas ocasiões. Os impressionistas, “artistas que aprenderam como recortar a vida em vislumbres e interjeições, e mais do que paisagens formais, tinha-se um fio de trapézio dividindo um quadro, as nucas das mulheres na modista, as colunas da Bolsa de Valores”, eram do círculo social dos Ephrussi, assim como os escritores da época cujos volumes vieram engrossar suas bibliotecas. “Ter uma biblioteca –diz uma das personagens citando Victor Hugo- é como um ato de fé”.
O livro desperta interesse, sobre tudo, pela interseção que têm com a Historia, e impulsa a aprofundar no estudo desse período. Mas, como em tudo, tenho uma crítica: embora respeite a profunda influencia que a família de De Waal possa ter tido nos destinos de Europa, contar a Historia em função dos membros da família me parece uma pretensão excessiva. Percebe-se até certo ar endógamo – o mesmo que acontecia com a realeza na Europa, quando fala das diversas personagens da família. Quer dizer, um túnel do tempo nas lembranças familiares, onde as miniaturas –entre as que se conta a tal lebre com olhos de âmbar- são simples desculpa, e as personagens históricas aparecem como coadjuvantes. Como álbum de família, aceitável e desculpável. Como livro histórico, adoece de excessiva ambição. Muita areia para o caminhão, mesmo que seja pilotado por Ephrussi e Rothschild.