Susanna Tamaro: “Luisito, Uma historia de amor”. Rocco 126pgs.
Comprei este livro há 1 ano, guardei-o no armário e hoje, aproveitando uma viagem e as esperas de aeroporto o devorei de uma tacada só. Senti-me um pouco envergonhado pela demora. Sim, desconfiei que um livro pequeno –uma fábula, diz a orelha- pude-se me impactar. Afinal, já li quase todos os livros da Tamaro e pensei que seria mais um. Enganei-me. Susanna Tamaro continua me surpreendendo. Possui essa capacidade de inventar a vida; inventar no sentido que Ortega utilizava, do original latino invenire, descobrir, redescobrir se preferirmos. Os inventores da vida, apontava Ortega, são os que a descobrem nas pequenas coisas, no quotidiano que os rodeia, nas miudezas, a verdadeira grandeza do viver e por isso não se perdem em quimeras que nunca verão realizadas. Luisito é uma invenção da vida. E Luisito é um papagaio colorido que Anselma encontra um dia no depósito onde se recolhe o lixo do prédio. Anselma, viúva, professora aposentada, machucada pela família e pela vida, encontra no colorido do papagaio uma luz, um arco-íris que iluminará sua existência. E com a luz chega a esperança, o amor, o entendimento das coisas que realmente valem a pena no nosso curto existir – aquelas que não são úteis, e por isso são importantíssimas, numa condena definitiva da sociedade utilitarista que nos sufoca. Com a esperança chega o amor, a compreensão, a coragem de saber perdoar –entender ao menos- as injustiças. Sim, uma fábula encantadora, uma espécie de ópera lírica em um ato, onde o diálogo –melhor monólogo, pois o papagaio mal esboça duas palavras- nos faz refletir. E nos confirma na necessidade que todos carecemos: ter alguém que nos ouça e nos entenda, em silêncio, nos sorrindo como o papagaio empoleirado no canto da sala.