Eudora Welty: “A Filha do Otimista”. Editora Mandarim. São Paulo. 1997. 176 pgs.
A escritora Eudora Welty ganha com esta obra o Premio Pullitzer em 1972. Uma narrativa fluida, fácil, que desenha um verdadeiro quadro de costumes, marca registrada dos escritores sulistas de USA. As personagens estão bem descritas, muitas vezes esboçadas mediante comentários precisos que são como uma radiografia da alma desses seres para quem a terra –o sul, o Mississipi- a família, os vizinhos são parte integrante do seu viver. Uma complicação inesperada de uma cirurgia oftalmológica acaba com a vida do juiz McKelva, viúvo e casado há um ano com Fay. O drama familiar junta a nova esposa com Laurel, a filha do primeiro casamento, seres completamente opostos. De um lado Laurel, também viúva, sensível, repleta de recordações; do outro Fay, a personificação do egoísmo e da insensibilidade. Esse é o verdadeiro drama, palco do romance, e as outras personagens são apenas coadjuvantes que colaboram para aumentar o contraste. A obra é de fácil leitura, mas nem por isso está desprovida de lirismo e de poesia. Os questionamentos surgem da reflexão, sempre muito feminina, e fazem pensar no que realmente importa na vida, na capacidade de perdão, nas bobagens que o homem é capaz de fazer –verdadeiros sem sentido- e a contemplação do passado traz sempre o grande interrogante: sempre teria sido possível fazer mais, fazer as coisas melhor, quando se tem “um coração que pode se esvaziar e se encher outra vez, no tecido restaurado pelos sonhos”. Impossível deixar de pensar, enquanto se lêem estas páginas, nas tremendas diferenças –de formação, de postura, de sensibilidade- que existem entre as pessoas que acabam se juntando numa mesma família. Ter isso presente pouparia, talvez, muitos desgostos familiares; ou, pelo menos, ajudaria a encará-los de outro modo.