Sombra: A Missão que nos constrói e nos engrandece.
Diretor: : Zhang Yimou. Deng Chao, Sun Li, Ryan Zheng, Guan Xiaotong, Wang Qianyuan, Hu Jun, Wu Lei, Wang Jingchun. 116 min. 2018.
Forçoso é reconhecer que não sou um amante do cinema oriental. Admiro-o, deixo-me envolver por ele, procuro abrir mão das minhas perspectivas latinas -quase uma categoria a priori de enxergar as coisas, como diria Kant- mas não me conquista. Respeito-o e o aproveito para mim mesmo, mas – a diferença das produções ocidentais- pouco consigo articular com as cenas que chegam embrulhadas em perfumes do oriente. Deve ser uma limitação, como reconheci há muitos anos quando me perguntaram a respeito. “Você que é um homem de formação cultural europeia, ampla, porque utiliza somente filmes de Hollywood e dispensa os mestres orientais, suecos, europeus?” Respondi de bate pronto: “Admiro o cinema de autor. Kurosawa, Bergman, tantos outros. Mas meu tempo para ensinar é limitado. E o que Kurosawa relata em trinta minutos, Hollywood consegue apresentá-lo em poucos segundos”. Enfim, uma limitação atrelada à metodologia docente com o cinema.
Porque, também devo confessar, que dificilmente assisto um filme sem buscar possibilidades educacionais impressas nos fotogramas. Faz muitos anos que não sei o que é ver um filme como distração. O trabalho se impõe, mesmo sem busca-lo. Não é uma maldição oriental, mas algo parecido ao que acontece com a personagem do filme que nos ocupa: a missão toma conta dele por completo. Já volto ao Sombra, mas antes duas palavras sobre o diretor chinês.
Zhang Yimou sempre me surpreende. Cativa-me, embora depois não sei o que fazer com essa avalanche de estética e valores. Mas o conjunto é fascinante. Tudo começou há quase trinta anos, quando apreciei as subtilezas do amor, em “Lanternas Vermelhas”, onde o troféu máximo das concubinas se representa pelas massagens nos pés. Novas variações delicadíssimas, em filme posterior que também anotei no meu catálogo: “A arvore do amore”. Surpreendeu-me nas lutas marciais em forma de balé, em “Clã das Adagas Voadoras” e “Herói”. E novas surpresas na hora de apresentar o compromisso da educação e do cuidado, em “Nenhum a menos” ou “Caminho para Casa”. E os sempre elegantes efeitos visuais, seja qual for a temática, que são a marca registrada desse grande Diretor, com maiúscula.
Sombra situa-nos na China, época antiga, regime feudal. Reis e senhores, sabendo das traições e assassinatos entre as fações, colocavam no seu lugar um sósia, um Sombra, que se fazia passar por eles, desempenhava a consciência seu papel, corria o risco da posição nobiliária, e depois desaparecia sem deixar rasto nas anotações da História. Este filme -diz-nos Yimou no início- é a história de um Sombra.Leia mais