Filmes fantásticos: Destilando valores dos fotogramas de ficção.
Aquaman. (Aquaman) Diretor: James Wan. Jason Momoa, Amber Heard, Nicole Kidman, Patrick Wilson, Dolph Lundgren, Willem Dafoe, Graham McTavish, 143 min. 2018.
Máquinas Mortais (Mortal Engines). Diretor: Christian Rivers. Roteiro: Peter Jackson. Hera Hilmar, Robert Sheehan, Hugo Weaving, Jihae, Ronan Raftery, Leila George, Patrick Malahide, Stephen Lang. Duración: 128 min. 2018.
Pantera Negra (Black Panther). Diretor: Ryan Coogler. Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Angela Bassett, Forest Whitaker, Andy Serkis, Florence Kasumba. 144 min. 2018.
Ao longo das últimas semanas, foram entrando no meu radar alguns filmes diferentes daqueles que costumo comentar. Nem saberia dizer por quê: fantasias na tela, comics que viram filmes (comics com os quais não estou familiarizado, diga-se de passagem), super-heróis. Não posso dizer que nada sabia deles pois alguma dica tinha me chegado: uma candidatura ao Oscar acompanhada de alta bilheteria, a realização bem conseguida de um Comic clássico….e um diretor que está sempre na minha lista de gente séria no comando de mais uma das suas ficções.
O fato é que, entre um filme “oficial” e outro, acabei assistindo estes três….e gostei. Não somente gostei, mas senti o impulso de filosofar em cima deles, de dar corda ao pensamento vital, de tirar conclusões para a vida. Parei, e refleti: não tem como fugir, meu caro. Você pensava que estava assistindo alguma coisa para relaxar…..e eis que estás aqui escrevendo, espremendo as cenas e os diálogos, enfim, destilando valores desses fotogramas de ficção. E todos juntos, ao mesmo tempo, porque a imaginação que é obrigada a voar durante a projeção, atua como batedeira que mistura em saborosa combinação, este mousse de pensamentos, uma mélange de considerações que se traduzem em atitudes perante os desafios que nos cercam. Para isso servem as histórias, e os heróis: para educar-nos na pedagogia do exemplo. Os gregos que o digam.
Uma saga mitológica leva-nos até Aquaman, o herói entre dois mundos, com dupla cidadania oficial, produzido por conta do amor -essa força que une os mundos, e que agora novamente estão separados. Enfrentados, em obstinado antagonismo. Não é fácil ser herói, o ônus é tremendo, os superpoderes estão sempre no limite, entre o possível e a missão a cumprir. Parece que a conta não fecha. E o herói, que não gostaria de sê-lo, quer viver a sua vida, tirar férias, mas não consegue. Lembrei dos comentários que fiz num dos enormes filmes de Batman a este respeito: o herói sem direito a férias.
E também veio à mente uma instigante consideração que li recentemente num magnífico livro de Julián Marías, filósofo espanhol, discípulo de Ortega falando da missão de cada um: “A vida se move entre dois elementos que não se escolhem: um deles é a circunstância que nos é imposta, com a qual nos deparamos, querendo ou não; o outro é a vocação, que não nos é imposta, porque frente a ela somos livres, mas nos é proposta, e se somos infiéis a ela, uma vez que a descobrimos, a consequência é a inautenticidade, a falsidade da nossa vida”. Um belo corolário do postulado Orteguiano “Eu sou eu e as minhas circunstâncias”. Frase muito citada, mas a maior parte das vezes de modo incompleto, pois a frase continua “…. e se não salvo ela (a circunstância) eu também não me salvo”. Coloca-se frequentemente a circunstância como uma desculpa, e não como um desafio que é preciso salvar, redimir. Por isso acrescenta Ortega: “Temos que buscar para nossa circunstância o que tem de peculiaridade, o lugar acertado na imensa perspectiva do mundo. Não nos deter diante dos valores fixos, mas conquistar na nossa vida individual o local oportuno entre eles. Em resumo: a reabsorção da circunstância é o destino concreto do homem”.Leia mais