Luís Henrique Pellanda: “Detetive à Deriva”
Luís Henrique Pellanda: “Detetive à Deriva”. Arquipélago Editorial. Porto Alegre. 2016. 223 págs..
Sempre é um desafio ensaiar um resumo de um livro de crônicas. Falta o fio condutor, o argumento sobre o qual podemos ir tecendo nossas filigranas reflexivas. Talvez por isso resisto aos livros de crônicas, não lido bem com colcha de retalhos. Mas algumas vezes, como neste caso, tropeço com uma linha que costura todas minhas considerações…..É sutil, delicada, mas forte; como a que agarra o peixe sem esperanças de fugir. Não consegui me livrar de uma leitura serena -pausada, em cômodas prestações, tudo seja dito- destes contos do detetive curitibano. Uma linha estética, o estilo, desenhado num português familiar, intimista, e ao mesmo tempo, elegante. Lembrou-me Drummond, autor que frequento vez por outra, quando sinto necessidade de renovar meu vocabulário e polir o estilo na escrita. Aprendi isso faz muitos anos com um amigo, escritor, poeta, magnifico conferencista, que em certa ocasião, durante uma viagem, me disse: “Observei que andas carregando um livro de Drummond. Podes me emprestar? Estou escrevendo e preciso de vocabulário”
A escrita de Pellanda é o que te agarra, te leva da mão nos passeios urbanos, e no final deixar um ótimo sabor no paladar. Quando se lê, parece fácil, esse modo de escrever, de dizer; é até lógico, evidente. Pavarotti dizia que a partitura de La Boheme é sempre a mesma…depende de quem a canta…..A língua na sua exuberância e simplicidade, o léxico do vocabulário está ai para quem quiser -e puder- tocar e harmonizar.
O detetive à deriva transita por ruas e parques da capital paranaense. Ama Curitiba, e canta aquele território próximo à Praça Tiradentes “como um jardim de ingenuidades”. E tropeça com personagens -reais ou fictícios- que descreve com singela elegância, e eles se apresentam diante de nós com realismo impactante: “elementar, meu caro Watson”, é a função do detetive que revela a evidência. Lá aparece o sujeito “apenas de camisa, desobrigado da cerimônia”, e o velho que carrega a menina: “me garantiram que foi alguém um dia, e não somente este carregador de anjos sonolentos…..ainda precisava transportar os seus bens mais preciosos, o capital da sua alma, suas últimas esperanças. Percebi que, às vezes, o que nos define, mais do que nós mesmos, é a carga que nos coube”.Leia mais