Alexandre Dianine-Havard “Perfil del líder”

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Alexandre Dianine-Havard “Perfil del líder”. Palabra. Madrid (2010). 204 págs.

O subtítulo do livro dá uma pista de que tipo de liderança se pretende falar: “em busca de uma liderança virtuosa”. E com este prelúdio, e fácil adentrar-se na leitura deste livro simples porem denso, onde os recados vão gotejando pouco a pouco, solicitando do leitor pausa para meditação. Mais do que uma teoria sobre a liderança -aliás, sobram teorias acerca do tema, que virou bola da vez- este livro seria um roteiro singelo para um exame de consciência -uma reflexão sincera- daqueles que a vida colocou em posição de liderar outros, e levantar bandeiras.

 A virtude necessária de quem está no comando é o leitmotiv, o fio condutor, de todo o livro. Uma evocação de Peter Drucker, reconhecido guru no tema de gestão, dá a largada : “A liderança se exercita através do caráter”. E o autor tira as consequências: “Reforçamos nosso caráter mediante a prática de hábitos morais, denominados virtudes éticas ou virtudes humanas. Desse modo o caráter marca o nosso temperamento que deixa de dominar nossa personalidade (…) Magnanimidade e humidade são virtudes inseparáveis na liderança. A magnanimidade é a origem das ambições nobres, a humildade canaliza essas ambições para o serviço aos outros”.

Virtude, por tanto, condição sine qua non, de quem pretende liderar. Virtude que não é um esforço titânico pela perfeição, mas um hábito que se incorpora no modo de ser, que facilita a ação, e que conta com os afetos e emoções. “Para praticar a virtude é preciso exercer a vontade, mas também enobrecer o coração. Os valores tem de penetrar o mais profundo do coração”.Leia mais

Leonardo Padura. “Herejes”.

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Leonardo Padura. “Herejes”. Maxi Tusquets Ed. Barcelona 2015. 516 págs.

Em la primera página de créditos se advierte que la lista de las obras de Padura se divide en dos grupos: el primero incluye la serie de Mario Conde, el ex policía con el que yo ya estaba familiarizado, aunque no se ganó mi devoción. En el segundo grupo consta El hombre que amaba los perros, la obra cumbre de Padura, donde Conde no aparece. Y también éste que nos ocupa que, aunque no listado como tal, incluye a Mario Conde pero como un segundón: si cuando se supone que era el protagonista ya no me hizo mucho tilín, ahora está casi sobrando.

 Un personaje curioso que intenta ganarse la vida con la compra y venta de libros, mientras arrastra sus no pocas heridas, con una estampa inolvidable, como un Neanderthal demodé. “De su viejo orgullo quedaba tan poco en pie que, cuando andaba con la soga demasiado ajustada al cuello, aterrizaba allí con su lamentos. A sus 54 años se sabía un integrante de la generación escondida, los cada vez más envejecidos y derrotados seres que, sin poder salir de su madriguera, habían evolucionado para convertirse en la generación más desencantada y jodida dentro del nuevo país que se iba configurando. Sin fuerzas ni edad para reciclarse….apenas les quedaba el recurso de resistir como sobrevivientes”.

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Antoine de Saint- Exupéry: “Terre des Hommes”

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Antoine de Saint- Exupéry: “Terre des Hommes”. Le livre de Poche. Paris (1965). 243 pgs. 

Tinha lido esta obra de Saint Exupéry bastantes anos atrás. Desta vez, trazê-la ao cenário da tertúlia literária, teve uma dupla intenção. A mais evidente, servir de pauta para as nossas reflexões conjuntas. A outra, pessoal, desenferrujar o meu francês, pois viajava para uma atividade acadêmica naquelas latitudes, e tinha caído nas minhas mãos um exemplar na língua original.  Os objetivos somente foram conseguidos parcialmente. Explico.

Logo de cara vi que as pensadoras sentadas na primeira fila, tinham o livro e um caderno de anotações. Suspeitei que havia material para compartilhar, os olhares o confirmavam, deixei o público falar. E desfrutei com os comentários, magníficos. “Como este homem consegue tirar poesia de toneladas de areia, no meio de um deserto? Uma poesia da areia interminável, como se tratando de algo corriqueiro? E nós, que não conseguimos tirar brilho do nosso quotidiano, desconhecemos o nosso quintal, e gastamos a vida invejando o quintal alheio. Nós, sedentos de novidades, incapazes de reparar que o muro do jardim pode encerrar mais mistérios que a muralha da China”.

As intervenções pipocavam pela sala, mãos levantadas, leituras das anotações: “A terra nos ensina mais do que todos os livros. O homem se descobre quando se mede frente aos obstáculos. O burocrata que constrói a paz cegando-se com o cimento da rotina, como as térmitas se cobrem para fugir da luz. A grandeza de uma tarefa é, antes de mais nada, poder unir os homens: é um verdadeiro luxo, as relações humanas. Os bens da terra escapam entre as mãos como a areia das dunas….A passagem do tempo não é habitualmente percebido pelos homens. Vivem num paz provisória”Leia mais

Hostiles: Categoria e Valores Clássicos num Faroeste Moderno

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Hostiles. Direção: Scott Cooper. Christian Bale, Rosamund Pike, Wes Studi, Jesse Plemons, Rory Cochrane. Duración: 133 min. USA. 2017

Aqueles que desfrutamos a infância-adolescência nos anos 60, e fomos nutridos com faroestes clássicos, olhamos com desconfiança quando aparece um novo filme que alguns situam nessa categoria. Um faroeste moderno… será? Sempre penso que tentam me vender um Rolls Royce, com perfume britânico…. made in China.

Nada a ver com aqueles filmes ingênuos onde o mocinho ganhava depois de eliminar, sem efeitos especiais, manadas de índios, ou a turma de bandidos em quem era impossível encontrar um pingo de humanidade. Ou aqueles outros, mais densos,  maduros, psicológicos. Mistura-se com as lembranças da infância a metodologia do baixinho durão, Alan Ladd, em Os brutos também amam “Como fazem os bandidos de verdade?” – pergunta o garoto. Shane sorri: “Alguns usam dois revólveres, outros os colocam ao contrário, tem quem pendure no ombro… mas basta um quando se sabe atirar”. Esse é o tema: para fazer um faroeste é preciso saber atirar. De nada adianta preencher com perfumaria.

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Michael J. Sandel: “Justiça. O que é fazer a coisa certa”. Ed. Civilização Brasileira

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Michael J. Sandel: “Justiça. O que é fazer a coisa certa”. Ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro 2012. 349 pgs.

 Comprei este livro há algum tempo, por sugestão de um amigo. Passou a esperar sua vez na prateleira do meu escritório. Mas numa viagem recente passando por Espanha, minha irmã -que como professora de filosofia está sempre ligada no que diz respeito à sua classe- avisou-me que tinham concedido o Prêmio Princesa de Astúrias em Ciências Sociais a Michael Sandel. O prêmio -antes príncipe, agora princesa porque a herdeira da coroa é uma mulher, Leonor de Borbón – é condecoração de peso. Como sempre, são estes estopins vitais o que te leva a desentocar o livro e mergulhar na leitura.

 Michael Sandel, professor de Filosofia e Ciência Política em Harvard, é um mestre popular entre os alunos. Decola de casos práticos, para avançar na micro ética, através de perguntas -método socrático- que são uma provocação para refletir sobre temas que muitas vezes passam batidos. Sandel pergunta e faz pensar; não dá respostas, apenas mostra as consequências das variáveis da escolha, e suas consequências. O livro apresenta, de modo erudito mas acessível, em leitura amena e fácil de acompanhar, os dilemas éticos que enfrentamos e as possíveis respostas que o ser humano pensante pode dar. Insisto no qualificativo de pensante, porque o que Sandel proporciona não é uma receita de bolo, um manual de escoteiro para comportar-se bem: desnuda as consequências das opções éticas para que ninguém diga que não sabia onde iria chegar, uma vez decididas as posturas assumidas.

 A distribuição de bens e justiça, atende basicamente a três maneiras de abordar a questão: a que considera o máximo bem estar, aquela que prima pela liberdade e a que se rege pela virtude. Esse será o leitmotiv de todo o livro. Maximizar a utilidade ou o bem-estar, a máxima felicidade para o maior número de pessoas. Ou priorizar a liberdade de escolha, nas suas versões variadas, do liberalismo radical, até uma liberdade pautada por uma suposta equanimidade Ou, finalmente, o cultivo da virtude e da preocupação com o bem comum . Anoto textualmente; “Essa mudança no nosso modo de pensar indo e vindo do mundo da ação para o mundo da reflexão, é no que consiste a reflexão moral. Este livro não é uma história das ideias, e sim uma jornada de reflexão moral e política”.Leia mais

Susanna Tamaro: La Tigresa y el acróbata

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Susanna Tamaro: La Tigresa y el acróbata. Seix Barral. Barcelona (2017). 222 págs. 

O Tigre e o Acrobata. Editorial Presença. Queluz de Baixo. (Portugal) 2017. 144 pgs.

Volta Susanna Tamaro com um livro provocador. Como sempre. Ela diz tratar-se de uma fábula para adultos; aliás, não creio que seja ela porque não costuma categorizar seus livros. Escreve, sem mais, do fundo do coração. Um espasmo afetivo de escritura reflexiva. Imagino que deve ser coisa dos editores, e dos que anotam as orelhas dos livros. Os mesmos que comparam esta nova obra com o Pequeno Príncipe. Leio a versão em espanhol, e vejo que razão não lhes falta. Tem algo da personagem de Saint Exupéry, mas tem muitas coisas mais. Antes de rascunhar estas linhas vejo que o livro já foi traduzido ao português. As minhas anotações, em livre tradução, imagino não fiquem muito distantes do texto. Embora, para já, é bom advertir que o tigre original é uma tigresa, quer dizer, fêmea….Isso, que sempre faz a diferença no mundo dos humanos, tratando-se de animais e de Susanna Tamaro no comando, nos coloca em outros registros. Bem adverte logo de início: “Não fosse pelo homem, o mundo seria perfeito. É no ser humano onde radica a discórdia”. Um chamado com toque feminino.

Do que fala este livro? Ou melhor, o que nos faz pensar quando nos deslizamos -como um felino, suavemente- por suas páginas? As variações e interpretações serão, certamente, muitas; ao gosto – e à sensibilidade- do leitor.  Mas, o fundo é claro: cada um tem de traçar o seu destino. Como dizia Fernando Pessoa: a vida é o que fazemos dela. “O Céu marca o destino para cada um. Um Tigre tem de ser sempre tigre. Não deixes espaço para outras naturezas”. O dilema é quando aceitamos o destino como algo “que vem de fábrica”, abrindo mão da liberdade: que significa abrir mão da criatividade, da originalidade, e também da  e do risco de pensar fora da caixa, como se diz hoje nos ambiente pseudointelectuais.Leia mais

O Rei do Show: Sonhos, boa vontade e compromisso embrulhados em música

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The Greatest Showman. Diretor: Michael Gracey. Hugh Jackman, Michelle Williams, Zac Efron, Rebecca Ferguson, Zendaya, Paul Sparks, Keala Settle, Sam Humphrey. USA 2017. 105 min.

Sempre gostei de musicais, embora por motivos diferentes, de acordo com as fases da vida que todos atravessamos. Os musicais de minha infância, aqueles que você não escolhia, mas a família te levava assistir para de algum modo imbuir-se do gosto musical doméstico.  A Noviça Rebelde -tradução infeliz de The Sound of Music– onde o verdadeiro protagonista é mesmo a música, as canções, e não a suposta noviça que, por sinal, nem chegou a ser tal. A madre superiora adverte a Maria, que as paredes do convento não são refúgio para os que têm receio de viver no mundo (Climb every mountain, aquela canção impactante). A tradução do título para o espanhol -idioma da minha infância- sem ser exata, era mais feliz do que a noviça: Sonrisas y Lágrimas, chamava-se. Impactou-me, e também marcou tradição na família: lembro de meu pai dizer que quando as crianças ficavam inquietas e chorosas -já os netos, ainda bebés- nada como colocar a trilha sonora do filme para acalmá-los. Sempre funcionou; e ocorreu-me recomendar a experiência vital com os filhos e netos dos amigos, com sucesso repetido.

Depois veio Oliver, a versão musical do conto de Dickens, e as personagens magníficas embrulhadas em canções : desde a voz infantil do protagonista (Who would by me this wonderful morning), até o chefe da gangue de garotos, Fagin, contando o dinheiro enquanto entoa “I’m revising , the situation”.  Inesquecíveis também aqueles filmes que ficavam mais de um ano em cartaz em elegantes cinemas de Madrid: My Fair Lady, West Side Story. Esses, mesmo lançados na minha infância, assisti depois, já adulto, muitas vezes, apreciando a música e a história que era uma simples desculpa para apresentar melodias inesquecíveis.

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Fabrice Hadjadj: ¿Que es una família?

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La transcendência em paños menores ( y otras consideraciones ultrasexistas). Nuevo Inicio. Granada. 2015. 210 pgs.

 

Tinha anotada esta referência há algum tempo, e finalmente encontrei o livro numa viagem passando por Espanha. Leio a versão em castelhano, comento-a em português com a quase certeza de que dificilmente será traduzido ao nosso idioma. Não porque careça de interesse, mas porque seria questão de compatibilizar o peculiar estilo do autor, com um público disposto a comprar suas obras. Um equilíbrio nem sempre fácil.  O autor recolhe nesta obra uma série de conferencias proferidas diante de público diverso. Ocorre-me pensar que se a leitura não é fácil, mais complicado será acompanhar seu raciocínio ao vivo. Salvo que seja um comunicador nato, que consegue esclarecer com a linguagem corporal a densidade do seu pensamento. Não porque seja conceitualmente árduo, mas porque é essencialmente chocante e direto. As vezes a clareza pode ser tanta que deslumbre o espectador.

Logo no início já nos adverte que sua obra dista muito do que ele gostaria que fosse. “Me perguntam: como faz você para publicar tantos livros tendo uma família numerosa (6 filhos), casado com uma atriz, Siffreine?. Na verdade não o faço como gostaria, deixo que as crianças invadam meus livros, ao tempo que enquanto escrevo gostaria de estar mais disponível para eles. Mas vai ver que isso é a vida: os livros perdem em perfeição, mas ganham em verdade de vida; verdade manca, mas real”.

Os capítulos do livro são as diversas conferências. Em todos eles, como já advertido, prima a clareza impactante, abordando temas tremendamente atuais, com perspectiva diferente, crua. “O que é uma família? Mesmo com as falácias modernas -afirma- o essencial não se pode descontruir. Embora surgem propostas de famílias que não passam pelo sexo normal, o produto final quer se assemelhar à família que arranca da paixão e da cama do casal. São sempre adultos com crianças (adotadas, fabricadas, importadas). Ninguém propõe família com n adultos, ou acasalamento com outra espécie animal ou vegetal, ou variações curiosas (robô e chimpanzé, top model e planta carnívora)…Mantem uma ordem que imita a natural: sua subversão aparente é submissão, e suas ofensivas são no fundo homenagens inconscientes”.Leia mais

12 Heróis: Liderança em versão épica.

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12 Strong. Diretor: Nicolai Fuglsig. Chris Hemsworth, Navid Negahban, Michael Shannon, Michael Peña. USA 2018. 130 min.

Deve ser uma americanada, do começo ao fim. Isso pensei de bate pronto quando me deparei com o título, e li em diagonal o argumento. Mas tropecei com o nome do Diretor, um Dinamarquês de 46 anos, e a dúvida surgiu. Felizmente. O que terá a contar um escandinavo sobre as revanches do 11 de Setembro? O protagonista -americano, mas com os créditos de Thor, em várias versões- também se encaixava no mundo viking. Mas o Afeganistão, talibãs, Al Qaeda, e toda essa série interminável de variações sobre o mesmo tema que rendem espasmos patrióticos ianques, não pareciam sintonizar com uma história de deuses e homens ao gosto nórdico.

Com estas questões em mente acomodei-me para ver a feitura do diretor viking. As torres gêmeas afundando, o militar que volta às pressas para a base, e o recado dos superiores: agora o comando é nosso, nada de brincadeiras, este inimigo é de caráter nacional, e global. O time do jovem capitão Mitch Nelson lhe é retirado, os homens se revoltam, querem ele. “Mas esse sujeito não tem experiência bélica, é um teórico” -gritam os generais. Os seus replicam: “Ele é nosso líder, o único capaz de comandar esta missão que tem sabor suicida”. Hesitação, o alto comando cede ao pedido dos soldados -dos 11 que integrariam a primeira missão contra os terroristas após o desastre. O capitão é chamado de volta. Detalham o objetivo da patrulha e lhe advertem: “Você sabe que as chances de todos voltarem vivos são….”. Nelson interrompe categórico: “Cem por cento. Todos vamos voltar”. Surpresa do general que sorri perante tamanha arrogância, e do espectador que, agora sim, acomoda-se na poltrona. Isto é diferente. Tem eco de narrativa épica.

Um comando de 12 homens -uma história que aconteceu realmente, mas foi levada na surdina, pelo sigilo que implicava- destinados a destruir os ninhos de terroristas numa cidade do Afeganistão.  Logo após o 11 de Setembro, com o sangue ainda sem coagular. Chegam as primeiras lições: entender a cultura, pisar o território, que é muito mais do que conhecer o mapa, mesmo com recursos de satélites precisos. Nem tudo o que vive e se move em solo afegano é Talibã. Há histórias pregressas, brigas quase seculares de tribos e culturas que agora se encontram juntas lutando contra um inimigo terrível e comum. O que não quer dizer que se entendam entre eles; aliás, carregam mágoas e ódios antigos. E no meio dessa mistura, aquele grupo de americanos comandado por um homem sem experiência de guerra tem de navegar para chegar a bom porto.Leia mais