The Crown: Um aprendizado de atitudes embrulhado em bom gosto.

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The Crown: Um aprendizado de atitudes embrulhado em bom gosto.

Creador: Peter Morgan. Claire FoyMatt SmithVictoria Hamilton, Vanessa Kirby,Pip Torrens, John Lithgow, Jared Harris, Alex Jennings, Eileen Atkins, Harriet Walter, Jeremy Northam, Harry Hadden-Paton.

 

Não sou de assistir séries. Assusta-me o risco de quase assumir um compromisso que envolve tempo, o que nem sempre tenho. Aliás, nunca tenho; a menos que haja uma rotina saudável que te proteja da adição incontrolada. Mas fiz uma exceção nas férias, e encontrei uma rotina. Foram vinte episódios, cobrindo as duas temporadas. Um capítulo por dia; resistindo a avançar no seguinte, aprendendo a ficar com o gostinho de quem quer mais. E degustando cada um deles, digerindo os ensinamentos embutidos em cada episódio, como se de um curso de férias se tratasse.

Fascinou-me, fez-me pensar, e aprendi. Muito. Por isso escrevo estas linhas: um tributo justo, o reconhecimento necessário a um aprendizado com o cinema, em formato de série, que é quase teatro. Enfim, uma homenagem ao aprendizado humanista, através das artes. Porque isto é arte, bom gosto, clareza e, antes de mais nada, reflexão. Um mês após finalizado o meu “curso de férias” as cenas, sobretudo os diálogos, acodem à memória ilustrando as situações que me cercam no quotidiano. Porque humanismo é isso: a luz que as humanidades e as artes trazem para o nosso dia a dia; não é uma fuga, um oásis para escapar por alguns momentos do deserto ou da selva da rotina diária, mas perspectiva luminosa que acende o nosso caminhar humano.

Já o disse, aprendi muito; desde o primeiro momento, em cada um dos episódios. Aprendi a importância de estabelecer as prioridades verdadeiras; quer dizer, o que se espera de cada um de nós, qual é a missão concreta que nos cabe. Logo no início, uma jornada de caça. O rei Jorge VI, já doente e sabendo que lhe resta pouco tempo, conversa com o genro, Philip. “Os títulos, o ducado de Edimburgo, todas essas coisas…. Isso não é teu trabalho…. O teu trabalho é ela! She is the job! Cuida dela, apoia-a, e não te percas com outras coisas. Essa é a tua missão”. Clareza imensa que qualquer um agradeceria para manter o foco no que deve fazer na vida, sem perder-se em quimeras inúteis.Leia mais

Luz Gabás: “Palmeras en la Nieve”.

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Luz Gabás: “Palmeras en la Nieve”. Temas de Hoy. Madrid. (2012). 736 pgs.

Tenía este libro en mi estante hace ya algún tiempo, esperando la ocasión oportuna. Tapas duras, voluminoso, en fin, de esos que no puedes andar llevando por ahí, y mucho menos en estos tiempos donde los que todavía disfrutamos leyendo en papel somos vistos como antediluvianos. La ocasión la brinda un corto periodo de vacaciones, donde puedes leer en tu cuarto, sin necesidad de grúas para cargar el libro, sin que nadie te mire como un genuino representante del anacronismo.

Las palmeras son de la Guinea Española, de la Isla de Fernando Poo -aquella que se convirtió en expresión para designar lo lejos que algo estaba. Así me llega el recuerdo de la infancia -ni que te fueras a ¡Fernando Poo! – junto con la otra provincia, Rio Muni, que aprendíamos en el colegio, en los años 60 cuando no se respiraban aires de independencia.

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Rafael Gómez Perez- “El Secreto del Silencio”

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Rafael Gómez Perez. El Secreto del Silencio. Rialp. 2016. 96 pgs.

Um ensaio, ou melhor, um passeio pelos cenários do silêncio, porque não sustenta nenhuma tese concreta; ou talvez porque sustenta muitas, num amplo panorama do que representa o silêncio. Transforma-se num grito -de silencio- um apelo contra o ruído das palavras inúteis ou dos mutismos estéreis. Uma excursão que decantará pelo gosto ao silencio, uma aventura que cada um deve trilhar por sua conta

O autor diz tratar-se de um breviário do silêncio, e logo de cara adverte que o grande inimigo do silêncio é o ruído, não o som. Um ruído que com frequência vem representado pelas redes sócias, onde qualquer um pode dizer o que quer sobre o humano e o divino, amparado na palavra escrita e em condições de possível anonimato. A ignorância tem um caminho amplo para se manifestar. Eis uma importante advertência: estar na internet não é garantia de verdade. São apenas opiniões e como adverte Hannah Arendt numa obra interessantíssima reduzir a verdade à opinião é a melhor estratégia para esvaziá-la.

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Maria Gudin. “Mar Abierta”

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Maria Gudin. “Mar Abierta” De Bolsillo. Penguin Random House Group. 2016. 538  pgs

Conocía a la autora de otros registros académicos. Su libro, Cerebro y Afectividad, supuso una buena ayuda cuando elaboraba mi tesis doctoral, e investigaba -un modo de decir elegante para describir algo que divertía y nos hacía aprender a todos- cómo el cine puede ayudar en la educación afectiva de los futuros médicos. Después me enteré que mi colega había derivado para la novela histórica y se había zambullido en el mundo de la España Visigótica. Aunque compré algún libro suyo de ese periodo, esta es la primera novela suya que leo. Me gustó.

Mis sobrinas adolescentes son del fan club de María Gudín, y me lo han comentado varias veces. Me preguntaba por qué, pero la lectura de Mar Abierta me lo ha explicado todo perfectamente. Un modo sencillo de narrar, explícito, sin muchas filigranas;  podría ser una película pues el guion está montado. Película de aventuras y de acción. Mucha acción.  Como les gusta a los adolescentes.

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Stefan Zweig: Adeus Europa. O Encanto da Cultura em Família

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Stefan Zweig: Farewell to Europe. Diretora: Maria Schrader. Josef Hader, Barbara Sukowa, Aenne Schwarz, Matthias Brandt, Charly Hübner. (2016). 106 min.

O nome do escritor austríaco acompanhou a minha infância e adolescência. Meu avô materno e um tio avô paterno sempre falavam de Stefan Zweig. Nas partidas de Dominó- jogavam muito bem, chateavam-se quando perdiam, e no final quem lucrou fomos as crianças que dominamos as contas das fichas- saia o nome de algumas das suas obras. Lembro de uma que o meu tio sempre comentava: La Piedad Peligrosa, era o nome em espanhol. Devia ser para prevenir-se nas partidas de domino e não dar moleza para as crianças, não ter dor delas, pois o tiro sai pela culatra. O mesmo que acontece ao protagonista do romance, que se engraça -sem chegar a amar- com uma moça deficiente, que acaba fazendo dele gato e sapato.

O título em português (acabo de pesquisar na internet) é Coração Impaciente, mas em inglês se aproxima mais do castelhano: Beware of Pity, quer dizer, cuidado com as falsas piedades. Com essas informações que hoje estão ao alcance de todos, consegui ligar os meus professores do Dominó, com Stefan Zweig e o porque da presença do escritor judeu entre as fichas alvinegras. E reparei -uma vez mais- que de nada adianta ter informações disponíveis, se não temos vivencias que as costurem. Quem não mama a cultura, as informações de internet apenas mascaram uma subnutrição crônica e inútil. Vale lembrar que eu sempre levei muito a sério os comentários do meu avô e do meu tio avô, homens que tinham atravessado a guerra civil espanhola, com perdas e até com passagens pela cadeia. Quer dizer, esses homens que pela dureza da vida, possuem uma especial sabedoria do que é realmente essencial, e o que é perfumaria. Dai que o nome do escritor ressoasse com cerimônia nos meus ouvidos.

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Agustin Alonso-Gutierrez. A Traición.

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Un pequeño libro, que tenía anotado entre mis pendencias antiguas y con el que me hice casi por accidente, pues vino adosado a otra compra. Parece escrito para jóvenes, y debe serlo. El autor trabaja con guiones de televisión.  Recordé las novelas de TVE que veíamos cuando éramos críos: la invasión Napoleónica, el Conde de Montecristo, Los Miserables. Un modo divertido y cautivante de aprender historia, y de zambullirse en la cultura clásica. Una provocación que te hacía querer saber más.

¿De qué va este libro, que es un guion de novela? Un cuadro histórico. 1625, en el Madrid de los Austrias con todo lo que tenemos derecho. Descripciones de calles y locales que a los madrileños les serán entrañablemente familiares. Un protagonista: Juan Martin, que “sólo quería ser soldado e irse a luchar a Flandes, porque todo esto me queda muy grande”. Pero nuestro héroe por accidente se ve metido en los tejemanejes da las conspiraciones palaciegas.

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José Lasaga Medina & Antonio López Vega: “Ortega y Marañón ante la crisis del liberalismo”

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José Lasaga Medina & Antonio López Vega: “Ortega y Marañón ante la crisis del liberalismo”. Ediciones Cinca. Madrid. 2017. 250 pgs. 

Uma viagem com rápida passagem por Madrid, e uma cerveja com um velho amigo, rendem-me este novo livro da sua autoria. As figuras de Ortega y Gasset y de Gregorio Marañon, que me são tão caras e de quem muito tenho aprendido, aparecem mais uma vez juntas: na capa do livro, em foto significativa, nos textos que deles se recolhem, e no pensamento liberal, objeto da presente obra.

O ensaio sobre Ortega, traz reflexões que já conhecia, mas que sempre se relem com gosto, como os trechos das Meditações do Quixote.  “Cada qual é filho das suas obras; considera, irmão Sancho que ninguém é mais do que outro até que não faça mais do que o outro. O verdadeiro individualismo não é ser diferente, mas fazer-se diferente. O indivíduo é poder criador de diferenças”.

O ser liberal que implica entender o outro, coisa que “irrita a qualquer espanhol: que o próximo existe e é preciso contar com ele (…) O liberalismo é a suprema generosidade: é o direito que a maioria outorga à minoria e, por tanto, o mais nobre grito que ressoou no planeta. Proclama a decisão de conviver com o inimigo, ainda mais, com o inimigo débil”.

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Leonardo Padura: La neblina del ayer

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Leonardo Padura: La neblina del ayer. Maxi Tusquets. Barcelona 2016. 358 pgs.

Padura nos ofrece otra entrega de Mario Conde, el detective que ya no ejerce, pero conserva el mismo instinto, los mismos modos, incluso las formas éticas. Ahora se dedica a la compra y venta de libros viejos, y se ejercita en la cultura que se ve le sienta bien.  “Su educación tenía que ver con todo esto. Conde, que en su juventud había cometido los más diversos desafueros -robar, copiar exámenes, pagar con trampas- jamás se atrevió a llevarse con afanes personales un solo libro de la biblioteca, a pesar de que Cristóbal había establecido la impensable excepción de dejarlo entrar en al almacén de libros para que hurgara a su antojo y escogiera sus lecturas. Aquel bibliotecario, Cristóbal, que le advertía: Condecito, cada libro, cualquiera, es insustituible, cada uno tiene una palabra, una frase, una idea que espera ´por su lector”.

Pero una vez policía, parece que no consigues librarte del atuendo. El olfato de detective le hace meterse, entre libros viejos, donde duermen crímenes antiguos, latentes, olvidados. Por un lado, una biblioteca suculenta que aparece a la venta, por urgencia económica de sus dueños. Por otro, una foto encontrada entre uno de los libros, de una bolerista de los años 50, a quien parece se tragó la tierra. La artista desaparecida que cantaba boleros, siempre suaves, disfrutando, con un aire de desprecio, medio agresiva, como si estuviera contando cosas de su propia vida.

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Um homem chamado Ove: a importância de um sorriso

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En man som heter Ove. Suécia. 2015. Diretor: Hannes Holm. Rolf Lassgård, Bahar Pars, Filip Berg, Ida Engvoll, Tobias Almborg, Klas Wiljergård, Chatarina Larsson. 116 min

Os filmes nórdicos são assim. Diretos, pontuais. Sem rodeios, sem enganchar-se em sentimentalismos latinos, sem entrelinhas. Tudo são linhas: claras, diretas ao ponto. Chegam frequentemente embrulhados numa produção sóbria, barata, sem grandes pretensões. A não ser, como digo, dar o recado. Este pequeno filme sueco é mais um exemplo. Um filme modesto, que resulta monumental no conteúdo sem guarnições. E a mensagem é a que consta no título: a importância de um sorriso.

Ove é um velho rabugento que não encontra motivo para continuar vivendo. É mais, quer desaparecer, mas as estratégias discretas para um suicídio sem barulho, não são fáceis. A buscada tragédia desemboca no cômico. Quer dizer, o drama se dilui no humor, como bem apontava Bergson naquele pequeno-grande ensaio sobre o riso que esvazia a tragédia com o quotidiano. Imaginem -dizia mais ou menos o filósofo francês- que Aquiles, o herói dos pés ligeiros, bocejasse ou se espreguiçasse antes do combate com Hector. Um desastre. O filho dos deuses aparece com toda a miséria limitante dos humanos.

Mas, que houve com o nosso Ove? Que aconteceu com este sujeito -nota-se logo que é um homem bom- para tornar-se antissocial, reclamar de Deus e o mundo, brigar com a própria sombra, enfim, apresentar-se como uma criatura insuportável? Por que há situações que conseguem espremer toneladas de azedume das pessoas que, por outro lado, são boa gente? Eis uma questão que contemplamos diariamente, na vida dos outros …. e na nossa própria. O que faz com que tiremos do fundo do poço nossa pior versão?

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Lamberto Maffei: Alabanza de la Lentitud

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Lamberto Maffei: Alabanza de la Lentitud. Alianza editorial. Madrid (2016).128 pgs.

Um pesquisador italiano de neurociências, com vertente humanista, faz uma reflexão em voz alta sobre a lentidão. Isso é este livro: uma advertência de que as coisas realmente importantes e substâncias requerem um tempo que o mundo atual não parece disposto a conceder-lhes.

Sua reflexão inicia-se num museu em Florença onde observa pintadas no teto umas tartarugas com uma vela acoplada. E o lema clássico: Festina lente! (apressar-se com lentidão). Quer dizer, não atropelar as coisas, refletir, ponderar, e aí sim, decidir e ir atrás, sem hesitar. O ímpeto irreflexivo é tão nocivo como a decisão pela metade. Isto nada mais é do que as partes clássicas da virtude da prudência. Mas parece que o museu lhe inspira: “um museu de arte produz mais serotonina do que qualquer fármaco”.

A proposta de Maffei é clara: refletir sobre os mecanismos cerebrais que conduzem as reações rápidas e as lentas. E sua interação com uma civilização que prima pela rapidez. Adverte que a rapidez da evolução técnica -muito rápido, com um pulsar de botão- nada tem a ver com o ritmo fisiológico do organismo, e do cérebro. Uma sociedade que compete com a biologia está destinada a perder.  Discorre depois sobre um tema que domina: a neurofisiologia. O desenvolvimento do cérebro humano, a plasticidade que possui, que permite ir sendo moldado através de décadas. Enquanto que a maturidade do cérebro do rato precisa de apenas algumas semanas e o de outros mamíferos de vários meses, somente no homem a plasticidade que permite atingir a maturidade estende-se por anos.

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