Theodore Dalrymple: “Em defesa do preconceito. A necessidade de se ter ideias preconcebidas”
Theodore Dalrymple: “Em defesa do preconceito. A necessidade de se ter ideias preconcebidas”. É Realizações. São Paulo. 2015. 141 págs..
Aventuro-me novamente na leitura pausada de um livro de Dalrymple, sabendo de ante mão o que vou encontrar: a clareza do óbvio, impacto que gera reflexão. Como bem aponta o prefácio (do Reinaldo de Azevedo, o que também não me estranha), é um desses livros “que reorganizam nossa experiência”. Quer dizer, mais do que novidade, trata-se de um olhar perspicaz sobre a realidade que nos rodeia, aquela que passa desapercebida, por desaviso, ou mesmo, por omissão, por não querer pensar.
Vivemos momentos onde qualquer preconceito -ideias importadas que não são de fabricação própria- tornam-se suspeitas. Tempos de ceticismo e de questionamento de toda autoridade. Embora, adverte o escritor inglês, “são poucos os que se mostrarão céticos a ponto e duvidar que o Sol surja amanhã, muito embora eles tenham certa dificuldade na hora de oferecer evidências sólidas que sustentem a teoria heliocêntrica. Os mesmos que acreditam que, ao apertar a tomada, a luz se acenderá, mesmo que lhes falte qualquer conhecimento sobre a teoria da eletricidade. Todavia, um feroz e insaciável espírito investigativo os domina por completo no exato momento em que percebem que os seus interesses estão em jogo”. Quer dizer, um preconceito seletivo porque é notório que “o amor pela verdade, embora exista, é geralmente mais fraco que o amor pelo poder”.
São muitos os que pensam que a qualidade mais importante de um ato ou de uma opinião não se associa a sua correção, ou ao esforço para se atingir a verdade, mas simplesmente em ter uma opinião própria. Essa seria a grande qualidade. Aquilo de “a minha opinião é tão valida quanto à sua”, como se tudo fosse questão de opinião (vale a pena consultar a provocadora obra de Hannah Arendt, Verdade e Mentira em Política). Daí o famoso “tudo é válido. Ou pior, é autêntico, quer dizer o que conta é a transparência, mesmo que esse despudor revele uma ignorância supina. Há que livrar-se da opinião herdada, como se fosse inimiga da humanidade”.Leia mais