UM HOMEM DE FAMILIA: Viver como se fosse a segunda vez.

Pablo González Blasco Filmes Leave a Comment

(Family Man) Diretor: Brett Ratner. Nicolas Cage, Téa Leoni, Don Cheadle, Jeremy Piven. 125 min.

Alguém comentou –não lembro quem, e talvez não foi ninguém em concreto, mas sim sentir comum popular- que seria bom viver duas vezes. Uma para testar o modelo, e na outra para reeditar a vida, agora sem erros, passada a limpo. Sim lembro que foi Viktor Frankl , o psiquiatra austríaco criador da Logoterapia – a terapia de sentido da vida- quem recomendava viver e atuar como se tratando da segunda vez e da primeira se tivesse atuado de um modo tão ruim como estávamos a ponto de fazer nesse momento. Em outras palavras: parar e pensar que não vai ter segunda chance, que essa é a definitiva, e corrigir os erros na fonte, antes de emiti-los. Também lembro que Fernando Pessoa admitia que viver a vida –vive-la bem, se entende- era de fato complicado e assim reconhecia em poesia cantada: “Temos todos que vivemos/ Uma vida que é vivida/ e uma vida que é sonhada/ e a única vida que temos/ é essa que é dividida/ entre a verdadeira e a errada.

            Pensadores, poetas, psicólogos tem o seu modo de ver a vida. Os filmes retratam, melhor ou pior, os anseios do ser humano e Hollywood, volta uma vez e outra, sobre as duas vidas –a verdadeira e a errada- e almeja a possibilidade de dar marcha a ré no próprio viver, para acertar o caminho de vez. Um homem de família é uma variação sobre o mesmo tema, em versão divertida, amena, e que faz pensar.

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Theodore Dalrymple: “Podres de Mimados”

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Theodore Dalrymple: “Podres de Mimados. As consequências do sentimentalismo tóxico”. E Realizações. São Paulo. 2015. 200 pgs.

Podres de MimadosTranscorridos pouco mais de 8 meses do meu primeiro encontro com Dalrymple e da sua crítica da sociedade atual decido enfrentar uma nova entrega, seduzido pelo título impagável. Costumo deixar passar um ano antes de ler outra obra do mesmo autor, para sedimentar as ideias (dele, na minha cabeça), e cozinhar as próprias, que são as que em definitivo permanecem. Mas reconheço que o apelo do tema -e as vivências diárias saturadas de espasmos emotivos pipocando à nossa volta- encurtaram a minha rotina de quarentena.

Como sempre, o autor embasa seus comentários em histórias reais, muitas delas fruto da sua experiência como psiquiatra em cadeias, prisões e cenários análogos. Apresenta relatos pontuais, dos quais arranca para desenvolver uma ideia; ou uma explicação, que acaba se convertendo numa análise sociológica. Os relatos são a pista de decolagem para essa construção antropológica.

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Paul Glynn: “Réquiem por Nagasaki”

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Paul Glynn: “Réquiem por Nagasaki”. Palabra. Madrid (2011). 316 págs. (Versão espanhola, do original A Song for Nagasaki; em português: Um Hino a Nagasaki, Ed. Loyola)

Um Hino a NagasakiA tertúlia literária nos oferece esta vez uma oportunidade diferente: conhecer a vida de Takashi Nagai, um sobrevivente à bomba atómica de Nagasaki, e no vácuo da sua biografia -ou do seu livro (Os Sinos de Nagasaki)-  aspectos da cultura japonesa nem sempre conhecidos. Eu pelo menos não os conhecia, porque carecem do aspecto folclórico -que é sempre o que os curiosos e turistas comentam- para adentrar-se numa dimensão espiritual de profunda densidade.

Nagai, médico especializado em radiologia, não por gosto, mas por opção. Perdeu a audição num dos ouvidos durante a guerra na China, tinha dificuldade para utilizar o estetoscópio, e um velho professor lhe propôs dedicar-se a essa especialidade que era o futuro. Não andava equivocado o professor de Nagai, basta ver hoje a dimensão incrível de avanços tecnológicos que nos brinda o diagnóstico por imagem.

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Lembranças de um amor eterno: uma avalanche de conteúdo rebatendo a banalidade da comunicação

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(La Corrispondenza), 2016. Diretor: Giuseppe Tornatore. Música: Ennio Morricone.  Intérpretes: Jeremy Irons, Olga Kurylenko, Simon Johns, James Warren.116 min;

La correspondenza - capaAs tais lembranças de amor eterno é mais um caso desastroso de tradução doméstica. Por que não manter o nome original italiano em tradução literal -embora o filme seja falado em inglês- A Correspondência? Mania de inventar moda, e de colocar em risco algo que não te pertence, e que pode desestimular a assistir este filme especial. Um filme dirigido por Tornatore, com música de Ennio Morricone, e interpretado por Jeremy Irons é algo que, no mínimo, é preciso ver. Um filme em inglês, mas com alma italiana. Daí a importância do título, que forma parte de todo o pacote, ou melhor, da obra de arte.

Um título peculiar, simbólico, representativo de um filme repleto de surpresas. Um verdadeiro mano a mano -nada mais lógico em se tratando de uma correspondência- entre a atriz ucraniana, que segura com pulso mais de 70% das cenas, e o ator britânico que aparece com ritmo regular… na tela do computador! Estender os comentários sobre o argumento seria colocar em risco o filme, já ameaçado pela infeliz tradução do título.

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Cinema, humanização e educação em saúde

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O núcleo do processo de Humanização em Saúde consiste em promover a reflexão do profissional, o exercício filosófico da profissão. No contexto desta reflexão humanizante, é preciso considerar o que deve ser humanizado, como fazê-lo, e os custos que a humanização implica. A educação da afetividade e das emoções é condição necessária para promover atitudes duradouras e eficazes. Assim sendo, o Cinema, que ajuda a refletir sobre aspectos essências da vida, tem se mostrado um recurso metodológico eficaz para promover a reflexão. O uso do cinema, com destaque para o conjunto de cenas variadas (clips) pode incorporar-se nos projetos pedagógicos de educação em saúde, como é ilustrado neste artigo. A formação humanista do profissional de saúde é potencializada com a metodologia do cinema, buscando-se deste modo um modelo de humanismo e humanização sustentável.

Clique aqui para ler o artigo completo.

Cinema, humanização e educação em saúde

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O núcleo do processo de Humanização em Saúde consiste em promover a reflexão do profissional, o exercício filosófico da profissão. No contexto desta reflexão humanizante, é preciso considerar o que deve ser humanizado, como fazê-lo, e os custos que a humanização implica. A educação da afetividade e das emoções é condição necessária para promover atitudes duradouras e eficazes. Assim sendo, o Cinema, que ajuda a refletir sobre aspectos essências da vida, tem se mostrado um recurso metodológico eficaz para promover a reflexão. O uso do cinema, com destaque para o conjunto de cenas variadas (clips) pode incorporar-se nos projetos pedagógicos de educação em saúde, como é ilustrado neste artigo. A formação humanista do profissional de saúde é potencializada com a metodologia do cinema, buscando-se deste modo um modelo de humanismo e humanização sustentável.

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Roger Scruton: “As Vantagens do Pessimismo” (E o perigo da falsa esperança)

Staff Livros 1 Comment

Roger Scruton: “As Vantagens do Pessimismo” (E o perigo da falsa esperança). É Realizações. São Paulo. 2015. 207 pgs.

as vantagens do pessimismoDe que pessimismo nos fala Scruton? Na verdade, trata-se de um discernimento da realidade, de visualizar que vivemos entre seres humanos falíveis, e não num universo de sistemas e ideias que são facilmente modificáveis. Os problemas da humanidade não são questões de ordem técnica, como pensam os que ele denomina otimistas inescrupulosos. Estes são aqueles que acreditam que as dificuldades e desordens da humanidade podem ser superadas por algum tipo de ajuste em larga escala: é suficiente desenvolver um novo arranjo, e as pessoas caminharão para o sucesso. Desse modo, todos os esforços são colocados num plano abstrato e nenhum sequer é situado no campo da virtude pessoal. Essas são as falsas esperanças dos otimistas teóricos que devem ser temperadas com a dose certa de pessimismo, que não é outra coisa mais do que conhecimento real e prático da condição humana. O raciocínio de Scruton é claro, o que associado a uma tradução magnífica, permite acompanhar a lógica do seu discurso sem necessidade de comentários explicativos.

Esses otimistas perigosos e criticados são os que eliminam velhas rotinas, e querem mudar as coisas em proveito próprio. Estão tão propensos a consultar o passado como um batalhão que luta pela sobrevivência está propenso a proteger seus monumentos. O que eles querem é estar do lado vitorioso. Com o menor esforço pessoal possível. O pessimista sensato, não se deixa levar pelas correntes, enfatiza as restrições e os limites, lembra-se da imperfeição e da fragilidade da condição humana. Nas suas deliberações, os mortos e os não nascidos tem a mesma voz, porque sente-se inserido nas tradições e na história. E saber utilizar a dose de pessimismo para temperar as esperanças que, de outra forma, podem nos arruinar.

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Graeme Simsion: “O Projeto Rosie”

Staff Livros Leave a Comment

Graeme Simsion: “O Projeto Rosie”. Record. Rio de Janeiro, 2013. 319 pgs.

O projeto RosieO livro estava entre as minhas pendências. Compõem-se estas de anotações a modo de lista, de comentários que vamos lendo aqui e acolá, em jornais e críticas de literatura especializada. Lembro até de ter recebido um e-mail circular de um colega médico americano elogiando o livro. A tertúlia literária mensal estava chegando, e bati o martelo. É uma das poucas prerrogativas que me cabem nessa atividade: decidir o livro do próximo mês. O resto do que por lá acontece -que é de longe o mais interessante- corre por conta dos seletos participantes.

Mas fui com muita sede ao pote. Esperava algo num registro emotivo em sintonia com os romances dos anos 40, aqueles que Hollywood nos fazia viver com James Stewart, Gary Cooper, e uma infinidade de atrizes maravilhosas comandadas por grandes diretores: Frank Capra, George Cukor e tantos outros.  Mas a leitura do livro não acabava de decolar. Senti falta de tempero no início, às vezes chegando a ser maçante; uma personagem fora da realidade, ou pelo menos da realidade da maioria dos leitores. Raia o cômico, o grotesco, mas faz pensar que existe gente assim e, mais importante, nos leva a refletir no amplo espectro dos temperamentos. Foi aqui onde experimentei a virada. Tive de lembrar das aulas que dei inúmeras vezes -faculdade de medicina incluída- sobre os temperamentos. E de como um não é melhor do que o outro, porque são simplesmente diferentes.

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Sully: O Herói do Rio Hudson. A Criatividade do Fator Humano

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Sully. USA 2016. Diretor: Clint Eastwood. Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney, Autumn Reeser, Anna Gunn, Jerry Ferrara, Sam Huntington. 96 min.

sully-movie-posterO evento foi manchete dos jornais. Um piloto pousa o avião sobre o Rio Hudson, após decolar do aeroporto de La Guardia – Nova Iorque e sofrer uma pane inesperada nos motores. Lembro perfeitamente das fotos que acompanhavam a matéria: o piloto sorridente, ostentando um cuidado bigode, com ar paternalista. Isso é capaz de dar filme -pensei. Clint Eastwood certamente ficou sabendo, mas, pelo que ele comentou depois, aquilo não lhe despertou a inspiração cinematográfica. Foi só posteriormente, quando soube que o piloto herói -que tinha salvado todos os passageiros e a tripulação com uma aterrisagem inédita e arriscada- teve de responder um processo para justificar a proeza e o seu sucesso. Daí o velho Clint acordou, e partiu para montar este filme imperdível.

O filme é fruto de um diretor maduro. Não se limita a contar uma história -o fato em si, foi um voo de poucos minutos- nem se dispersa perifericamente, com as histórias dos passageiros, porque na verdade também conviveram pouquíssimo tempo e não há espaço para relatos paralelos. Nada a ver com aqueles filmes de desastres-bem-sucedidos, aeroportos dos anos 70, incêndios, e variações sobre o mesmo tema. Aqui temos hora e meia longa de celuloide, onde um acontecimento encaixa-se perfeitamente no meio da produção -como o recheio de um sanduiche- e rodeia-se do antes e depois, das vicissitudes que abraçam o episódio, e que o tornam apetitoso. Uma perfeita unidade; mais do que um sanduiche nos é servido um suculento rocambole, onde é impossível separar o preenchimento da cobertura. E o paladar viaja de um ao outro, degustando-o, e sem saber ao certo, o que é futuro ou passado -recheio ou cobertura- como o próprio Comandante Sully, com quem se identifica completamente. Mérito de Clint, que deve ter desfrutado fazendo o filme, porque aos seus 86 anos, certamente ele faz estas coisas para divertir-se. E, também da interpretação única, entranhável e humana, de Tom Hanks. Uma dupla impagável.

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