Dennis Lehane: “Naquele Dia”

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Dennis Lehane: “Naquele Dia”. (The given day: a novel). Companhia da Letras. São Paulo. 2009. 690 pgs.

     As quase 700 pgs deste livro são mais uma saga de época, tão a gosto dos americanos, que gira em volta de um par de personagens principais, com inúmeros coadjuvantes. Boston, no final da Primeira Guerra Mundial, a “Atenas da América”, onde irlandeses e italianos se aglomeram nas suas colônias respectivas, e os negros fazem tímida aparição num cenário absolutamente ianque.  

     O autor é, naturalmente, de Boston e as descrições dos bairros, avenidas, pontes e vielas respondem ao seu gosto pessoal e, certamente, a quem conhece a cidade como a palma da mão. Algo que fica muito distante –e até resulta cansativo- para quem não está igualmente familiarizado com a topografia. Esse é, junto com a extensão do livro, um dos pontos negativos: não descreve os locais, os dá por suposto, como se estivesse falando com os próprios habitantes da cidade.

     O ponto alto é a construção do caráter dos personagens – com destaque para os irlandeses, os grandes protagonistas-, que integram a polícia de Boston e querem construir uma América que consideram seu território adotivo. Descasos políticos, salários desfasados, articulações políticas, greves e violência, desenham um panorama que lembra “As Gangs de New York”, do indigesto filme de Scorsese.

     O ambiente de época está bem delineado, há personagens reais misturados com fictícios, heróis anônimos e gente de bom coração mesclada com bandoleiros e gangsteres da estirpe mais diversa. Por exemplo, aquele policial que “tinha um sorrio radioso como uma lua cheia num rio, uma dessa personalidade ruidosas e brincalhonas que não merecem a menor confiança; são homens que sempre escondem a parte de si mesmo que não estava rindo, guardando-a tão fundo que ela ficava mais faminta, como um urso recém-saído da hibernação”. Há também outros personagens que o autor nos impõe sem nenhum motivo; sua presença não se justifica, dispersa o núcleo da trama, torna a leitura tediosa.

     Enfim, mais um épico com sabor americano que ajuda a compreender uma época da historia de USA: o resultado de cultura histórica é o melhor saldo de um romance por demais extenso. Além de entender um pouco mais sobre as paixões humanas que, essas sim, não têm nacionalidade nem bandeira: as vemos retratadas no vizinho, no colega, em nós mesmos. O tempo todo.

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