Os Miseráveis

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por: Victor Bariani

A realidade que nos cerca tem um grande poder de puxar-nos para baixo,
fazendo com que olhemos apenas para o miserável e sufocante chão. No entanto, às
vezes, a vida pode nos dar um belo presente erguendo-nos para cima para que, mesmo
por uns instantes, olhemos de um ponto de vista mais alto e humano, respirando novos
ares e aproximando-nos das virtudes e dos valores que nos motivam a viver e que, por
muitos momentos, são esquecidos, pois não se encontram no chão que nos habituamos a
olhar. O cinema é uma dessas cordas elevadoras de almas, e essa obra de arte da qual
escrevo é um verdadeiro guindaste.

Através de um belíssimo musical, somos convidados a entender como um
homem pode retribuir a injustiça, a dor e o sofrimento com o perdão, a caridade e o
amor. O que, ao olhar para o chão, seria entendido como loucura é aqui a forma mais
sublime de se chegar a Deus, revolucionando a si mesmo (que me perdoem os céticos,
mas é impossível não falar de espiritualidade e, por conseguinte, de Deus, ao se pincelar
impressões sobre esse filme). Afinal, qual é a melhor maneira de criar uma revolução?
Por meio do convencimento das massas alguns diriam, ou talvez pegando em armas,
diriam outros, ou ainda, fazendo algo incrivelmente revolucionário para suas cabeças,
muitos iriam compartilhar a torto e a direito qualquer “post no facebook” relacionado à
corrupção política. Contudo, existe outro meio de incitar uma revolução, o qual não
envolve nada que se encontre na miséria do chão, mas está dentro de nós: a revolução
do amor.

O intuito máximo de uma revolução é a mudança. Dito isso, é válido o seguinte
questionamento: na obra em questão, quem de fato cumpriu com os objetivos da
revolução? Aqueles que devolveram a dor e a violência na mesma moeda ou aqueles
que tiveram a coragem de estender sua caridade e compaixão ao inimigo? Jean Valjean
não incitou as massas, não defendeu a guerrilha, nem muito menos ficaria navegando
pela internet com a intenção de jogar pragas virtuais em seus inimigos reais. Em lugar
dessas ações compreensíveis, mas ineficazes, ele fez sua parte: influenciou para o bem a
vida das pessoas que conheceu, procurando amá-las incondicionalmente. Por que fez
isso? Pois um dia fizeram isso para ele quando tiveram a oportunidade de pagar no
“olho por olho” um crime desesperado que cometeu. E por que esse alguém retribuiu de
maneira tão nobre a ação tão miserável de Jean? Pois um dia fizeram, possivelmente, o
mesmo para essa pessoa, de modo que chegamos à conclusão que em cada um de nós
existe um gancho que espera que alguma corda prenda nele para nos elevar, para
tornarmos mais humanos.

Muita ilusão e idealismo, inaplicáveis à realidade? A questão é: de qual
realidade estamos falando? Caso essa realidade seja acabar com as guerras e a miséria,
sim, isso é um pensamento muito idealista. Entretanto, nossa realidade é aquilo que nos
cerca, de modo que colocar um sorriso no rosto de uma criança, cumprir o dever com
alegria e simplicidade, ajudar um homem preso em baixo de uma carroça e amar ao
próximo como a ti mesmo são, dentre outros, genuínos atos revolucionários.

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