Meg Meeker: 100% chicos. 7 claves para que crezcan sanos y felices

Pablo González Blasco Livros 1 Comments

Meg Meeker: 100% chicos. 7 claves para que crezcan sanos y felices Ciudadela. Madrid (2011). 244 págs. (Boys Should Be Boys: 7 Secrets to Raising Healthy Sons).

Este livro estava na minha estante há tempo. Agora, empurrado por um compromisso ineludível -um curso de formação de professores- decidi que era o momento de ler. Já tinha notícia e admiração pela autora, colega médica, com base num livro anterior do qual gostei, e recomendei: Padres fuertes, hijas felices. Li em espanhol,  mas chegou-me a notícia de que houve uma tradução recente (não sei se daquele livro, ou de outro, embora o tema é o mesmo. O livro que aqui comento, é também em espanhol, e agora a vez é dos meninos. 

Trata-se, mais uma vez, de uma obra de assessoramento prático baseado na experiência clínica da autora como pediatra, e também como mãe. Não liga para o politicamente correto, porque na hora da verdade, isso não funciona. As tais 7 chaves de que fala,  mais do que um protocolo ou checklist é um índice dos capítulos que vai desenvolver. Resumir as ideias, a modo de passos para o sucesso, é um perigo: o leitor deve ler com calma, porque nos exemplos e comentários tropeçará com situações que se encaixam no seu quotidiano. Isso é o que de verdade ajuda neste livro: usá-lo como um possível espelho, mais do que como um guia de conselhos a seguir. Isto esclarecido, passamos a resumir algumas das sugestões, apenas como um trailer do que o leitor poderá visualizar na hora de ler o livro. 

Comenta, logo de cara, as saudades que hoje temos os adultos e veteranos maduros, da diversão sadia e arriscada que os garotos enfrentavam em outros tempos. Agora o que requer atenção -e cuidado- é o isolamento, a internet, e o universo à sua disposição. Riscos que não são aparentemente físicos, mas de imensa transcendência. E neste sentido aponta três fontes de problemas na formação de um rapaz: perda de relação com homens adultos (pais), perda do sentido religioso, exposição continua e indigesta a meios de comunicação perigosos (sexo, violência, drogas) além da falsa sedução do dinheiro e da fama. 

“O que mais eles precisam é de nós, dos pais”: eis uma ideia repetida muitas vezes ao longo do livro.  “Ninguém é mais importante para seu filho do que você. Não precisam coisas, precisam de nós. Ver-nos para imitar-nos, nas virtudes e nos defeitos que confessamos abertamente e retificamos.  Boa relação com os pais, ouvir falar de Deus, paz familiar sólida (…) Intuitivamente sabemos o que é bom para eles. Mas não escutamos essa intuição. Escutar é melhor do que dar sermões. O adolescente gosta de ser escutado. Melhor escutar do que falar. Eles gostam de agradar os pais. Não adianta “ser moderno e colocar-se à sua altura”. Eles distinguem perfeitamente entre os pais e os amigos, não os colocam no mesmo registro. Os rapazes gostam da natureza, lhes fascina. Não adianta criticar o gosto pelo risco, melhor conduzir esse risco do que tentar aboli-lo”. 

A experiência de pediatra com muitas horas de voo aparece repetidamente no livro: “limitar o acesso aos meios eletrônicos é algo muito saudável. Não pretenda que entenda todo o processo, mas não deixe de explicar. Omitir-se (porque estamos sempre muito ocupados) traz consequências funestas depois. Todos temos muito o que fazer, mas temos de priorizar as coisas, e não delegar nos meios eletrônicos a educação dos filhos (…) Não é a pressão dos amigos o que leva eles até as drogas, álcool, depressão. É ter rebaixado as expectativas com eles, da nossa parte. Tornar patológico e com explicações neurológicas é sempre um conforto para explicar os problemas que não conseguimos atender”

Volta-se, como no livro anterior, para sua própria história: “As cartas de antigamente, não existem mais, ninguém escreve agora, o que é uma perda. Meu pai me escrevia e ninguém colocava a palavra Pai, como ele o fazia. Sinto-me feliz de que ele não tinha computador para enviar essas cartas, a caligrafia dele me forma até hoje (…) As crianças adivinham o ânimo dos pais. Sabem, até melhor do que o conjugue, se os pais estão dizendo a verdade. Avaliam a sinceridade porque precisam saber o que os pais pensam deles. Se a criança é incapaz de visualizar seu futuro de modo otimista, terá um retraso no seu desenvolvimento”

Amor de Mãe é o título de um capítulo excelente que merece uma leitura pausada das mulheres-mãe (outro resultado do duplo ofício da autora, como médica e mãe). “Interiorizar o amor maternal é fundamental, porque essa experiência será um modelo para querer no futuro a qualquer mulher. Existe uma conexão materna entre os cuidados maternais e o sistema digestivo (alimentar a qualquer custo). Não trivializar as traquinagens. Algumas sim, mas quando tem uma vertente violenta ou sexual é preciso intervir. Todos devem aprender a controlar suas emoções, educá-las, conhecê-las. Nunca ignorá-las ou amputá-las. Dominar os sentimentos, não enterrá-los. Uma saudável vinculação com a mãe, os torna melhores, e permite melhores relacionamentos com outras pessoas”. Neste ponto, lembrei do verso de um poeta espanhol, que um dos meus irmãos costumava dizer à minha mãe e que em livre tradução diria: “Eu te levo sempre comigo, porque o homem, como o vinho, se conhece pela mãe (pelo lugar onde foi confeccionado)”

E advertências importantes para os pais, aspectos aos que nem sempre prestam atenção: “O que os pais experimentam de outros pais afeta muito mais o filho do que aquilo que ele recebe dos próprios colegas”. No fundo, os pais são influenciados por aquilo que outros falam (sobre a educação dos próprios filhos, como se tivessem que explicar para todo o mundo) e isso transparece na relação com os filhos. Cuidado com essa cilada: o filho é teu, não pretenda que todos entendam. O todos, vai da vizinha e colega até a sogra da tua irmã. Dar palpite na educação dos outros é um esporte curioso, isento de qualquer risco. 

E mais advertências: “Cuidado com agenda cheia: eles não precisam de muitas atividades, mas do seu tempo, de estar do lado dele. Não se compare com os vizinhos, só piora. Menos coisas, mas mãe e pai. Os desentendimentos do casal,  a mãe desconta nos filhos (já que não o faz no marido com quem não se entende)”. Fala-se da benção paterna,  um ritual em algumas cultura, que significa aprovação explícita, e estímulo do pai. Tem que dizer a ele o muito que o valoriza e respeita. Eles equiparam o tempo que passam com eles, com o carinho que demostram, o que afinal é um bom indicador”. 

Da adolescência à maturidade é outro capítulo ótimo, repleto de histórias sugestivas e inspiradoras. “Os rapazes configuram sua passagem para a maturidade espelhando-se em outro homem- pai, professor, mentor. Um homem mostra sua maturidade quando reconhece as emoções intensas que lhe afetam e sabe como reagir diante delas. Aprende a separar os sentimentos das suas ações (…) Os adolescentes culpam os outros porque carecem de maturidade cognitiva e emocional. Resistem a assumir a responsabilidade pelos seus atos. Temos que ajudar eles a crescer nessa responsabilidade, e não ‘facilitar as coisas’ no sentido errado. A vida é fonte de felicidade quando nos responsabilizamos por ela; quando reparamos o que fazemos bem, e o que fazemos mal. Ensinar a respeitar seus compromissos, não dispensar deles”. 

Dicas de pediatra com experiência: “Aproveitar a receptividade quando ainda é criança . Ensine suas crenças, explique os motivos. Isso senta as bases para o momento posterior da adolescência. E quando chega lá, na adolescência, não se assuste pelas perguntas que lhe faz: no fundo está se questionando a ele mesmo! (…) A marca da transição da adolescência para a maturidade é a perseverança.  Os adolescentes não têm recursos para centrar-se durante um tempo prolongado. Querem resultado imediatos”. Lendo isto confirmei o que já suspeitava:  a adolescência se prolonga hoje em dia muito mais do que suspeitávamos, atendendo às categorias de inconstância e imediatismo. 

Ensinar a conhecer a Deus, é o título do capítulo  sobre educar na transcendência. “Deus faz sentido para as crianças Uma ofensa terrível de um adulto é gozar da confiança natural das crianças em Deus. Querer que decidam depois, é amputar um desejo natural do ser humano (…) É possível que Deus fale mais com as crianças porque eles tem os ouvidos mais despertos. Não se pode ignorar o fator religioso Os estudos apoiam isto”- diz ela como pediatra. 

Se no livro anterior  Padres fuertes, hijas felices, destacava-se a importância do fator masculino na educação das mulheres, agora o foco é esse mesmo fator na formação dos rapazes.  “O pai pode formar o filho porque a virtude encontra-se no centro mesmo da intuição masculina. O problema não é tanto estudar essas virtudes, mas encontrar tempo para exercitar essa pedagogia.  Para refletir sobre os grande temas, é preciso tempo, espaço de ócio. Nunca minta nem acostume a dizer mentiras: isso semeia desconcerto e lhes faz sentir-se mal aos garotos. Os rapazes que têm boa percepção da vida, passam pouco tempo se auto lamentando. A influência dos pais é essencial na vida de um rapaz. Não é o que eles dizem, ou a disciplina. É sentir-se unido a eles, o sentido de pertença, o que lhe faz afirmar-se como a pessoa que é. Preferem que os pais lhes admirem pelo caráter do que pelos sucessos que possam atingir. Sabem que é o caráter o que conta”. Afirmações contundentes que fazem pensar.  

E, já no final, mais uma advertência que leva à reflexão: “Não é possível controlar todas as influências sobre o seu filho. Mas pode sim controlar as suas, que são as mais importante. Ele sabe avaliar quais são as suas expectativas sobre ele. Uma boa reflexão: afinal o que espero dele? . Quando os levam à sério -coisas que também sabem avaliar- se convertem em homens maduros, é um catalisador de maturidade”. E por se houvesse dúvidas, eis o golpe final no papel do pai: “Seja o herói dele. O herói de um garoto tem de ser um adulto, não um dos seus pares, porque estabelecerá comparações, e competitividade nem sempre é saudável!”. Um bom livro para ler, refletir, e encontrar nas suas páginas um belo espelho para as situação do quotidiano, na educação dos filhos. 

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