Gregorio Luri: “Mejor Educados”. El arte de educar con sentido común

Pablo González Blasco Livros 1 Comments

Gregorio Luri: “Mejor Educados”. El arte de educar con sentido común. Ariel. Barcelona. 2014. 232 págs..

Eis outro dos livros que estava há tempo na minha estante, e saiu dela por conta de um curso de formação de professores que tive que dar recentemente. Na realidade, é mais um manual ou guia, do que um livro discursivo. Pareceu-me que desmonta muitos tópicos (que ele considera equívocos educacionais), vai direto ao ponto, mas falta-lhe construção e sedução para ir montando essa pedagogia que propõe. Um manual, com dicas práticas, mais do que um tratado elaborado.  Mas nem por isso deixa de dar recados úteis. Elenco os que mais me chamaram a atenção.

O primeiro é uma afirmação clássica, que desconstrói complexos: o de aqueles que vivem presos numa miragem e pensam que o moderno tem mais valor por ser moderno do que por ser bom. A seguir, uma advertência: quando se programam os filhos é preciso assumir as consequências e liberar-se do temor de que uma decisão equivocada condicione fatalmente o desenvolvimento da criança e da sua vida futura. Fala das condições para encarar a paternidade com sucesso: tranquilidade, sensatez e o amor familiar. Ninguém está em melhores condições de educar um filho do que os próprios pais, que devem gerenciar com amor mais do que com recursos técnicos.

E aqui entra o tema da disciplina: “Disciplinar é incorporar algum ensinamento valioso à nossa conduta para poder nos sentir parte de uma comunidade, onde há algo valioso para compartilhar e normas para respeitar. Caráter -objetivo principal da educação- é capacidade de saber estar, de posicionar-se. O castigo mais efetivo é sentir vergonha de ter decepcionado àqueles que te amam”. Educar no caráter e não na fachada: “Reputação é o que os outros pensam de nós, o caráter é o que manifestamos quando ninguém nos está olhando”.

Dicas sobre a relação dos pais com as escolas: “A desconfiança e a deslealdade entre as famílias e a escola põem de manifesto a distância entre seus valores respectivos”. E os pais que cobram boas notas do professor, defendem a autoestima do aluno por cima de qualquer coisa. Os professores têm que justificar as más notas do aluno diante do tribunal inquisitorial dos pais. Como exemplo, um par de diálogos:

-Minha mãe quer saber porque me reprovou

-Eu não te reprovei, foi você mesmo

-Mas eu tenho muito interesse

-Sem dúvida, mas além do interesse eu ponho nota aos teus resultados.

Um professor com o aluno, definindo o seu papel:

-“Quem é você para me dizer o que tenho de fazer?

– Sou alguém que sabe o que você não sabe. Você não sabe o que não sabe. Se soubesses, não precisarias de mim. Mas tua pergunta mostra que por enquanto me necessitas.

Quando de educar se trata, os recados não são apenas para os pais, mas também estão dirigidos aos professores, e a relação entre pais e professores: “O professor não vê no nosso filho um filho, mas um aluno. E por isso vê coisas dele que nós ignoramos. Os pais são bons avaliando o estado emocional do aluno, o professor é objetivo avaliando seu comportamento. É preciso autonomia e colaboração para cada um no seu terreno, ajudar na educação. Respeitar a autonomia do outro”. 

Neste ponto não falta a crítica às escolas que gostam de “fazer média”: Há escolas que colocam muito empenho em mostrar que não são “tradicionais” do que em mostrar o que realmente são. Porque as escolas também têm complexos, ficam em cima do muro (para não perder clientes, tudo seja dito), não querem aparecer como tradicionais, mas sim como modernas….sem saber exatamente o que isso significa.

Neste ponto, não posso omitir a lembrança de um dos meus irmãos, professor há mais de 30 anos, num colégio de prestígio: “Quando vem famílias que dizem que nós teríamos de inovar, mudar, experimentar novas pedagogias eu costumo dizer que o nosso é café, do bom. Se a pessoa quer café com leite, capuccino, descafeinado, ou qualquer outra variante, tem muito lugar que oferece. É só procurar. O nosso, aqui, é fazer bom café”. Contundente e irrefutável. Querer transformar um local de café superior, em Starbucks, pode ser projeto das famílias, mas não do dono do estabelecimento, que aliás, está funcionando e vendendo muito café, com sucesso.

Na verdade, a questão é ajudar os pais a trabalhar seus medos e possíveis frustrações, e mostrar o impacto pedagógico do seu exemplo. Diz Luri: “É mais sensato ajudar a superara as frustrações inevitáveis, do que fazer crer que existe um mundo sem frustrações. As pesquisa mostram que o que determina o mal uso das novas tecnologias nas crianças e ver o uso que os pais fazem delas….As crianças não são boas para escutar os pais, mas nunca erram na hora de imitá-los”.

E caso houver dúvidas, traz algumas citações interessantes como a de Steve Jobs: “Ninguém está mais convencido do que eu da importância dos computadores nas escolas. Mas os computadores não são o mais importante num colégio. O mais importante são os professores”. Comenta sobre um livro que fala da solidão digital: Alone Together, de Sherry Turkle. E conclui: “O melhor antídoto contra os perigos da realidade virtual são os amigos de carne e osso”.

Tarefa difícil esta de educar. Difícil e apaixonante. E um par de citações a mais para ilustrar essa tarefa necessária, onde professores, pais, família, devem estar envolvidos, com exigência. “A inspiração existe, mas para ser útil tem de te pegar enquanto estás trabalhando” -dizia Picasso. E com ânimo, sem desistir: “O sucesso -dizia Churchill- e ir de um fracasso a outro, sem perder o entusiasmo”. Um livro simples para acordar os educadores….e os pais.

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