Laurent Tirard: “Grandes Diretores de Cinema ».

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Laurent Tirard: “Grandes Diretores de Cinema ». Nova Fronteira. Rio de Janeiro. 2006. 352 pgs.

Um amigo, conhecedor do meu gosto pelo cinema, deixou-me este livro com um sugestivo bilhete…que perdi. São entrevistas com Diretores de Cinema realizadas por Laurent Tirard, jornalista que escrevia para o Studio Magazine, além de roteirista e diretor de Cinema. Os filmes do  Pequeno Nicolau são algumas  das suas produções mais lembradas.

Comenta Tirard que o seu projeto era entrevistar 70 diretores famosos, mas conseguiu conversar com 20 apenas: os primeiros que estiveram à mão. O saldo foi muito positivo, como anota no prefácio do livro: “Aprendi a olhar o cinema de outra maneira, a analisar melhor e a explicar melhor o que me agradava ou me desagradava em tal ou tal filme (…) O aspecto mais fascinante destas entrevistas foi perceber que cada diretor tem uma solução própria para o mesmo problema -e que todos tem razão”.

Tentar resumir nestas linhas essas várias soluções -todas corretas- que os diversos diretores apontam, é tarefa que foge ao nosso propósito. Mas é possível sim, alinhavar algumas linhas mestras -a modo de recados- que todos eles deixam escapar aqui e acolá, e que de modo talvez um pouco simplista conseguimos costurar.

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Star Wars: Uma Guerra nas Galáxias do nosso interior.

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Criação: George Lucas. 1977- 2019.

Foram necessários 42 anos, com esperas atentas e expectativa criada, para contemplar o projeto que George Lucas desenhou, instalando toda uma cultura. Hoje é possível assistir os 9 episódios como se de uma série se tratasse. Mas, impõe-se uma recomendação, ou melhor, duas. Para compreender a concepção desta construção épica, vale assistir na ordem em que foram apresentadas ao longo destas quatro décadas: episódios 4-5-6 primeiro; depois 1, 2, 3; e finalmente 7, 8 e 9. A segunda recomendação, é uma advertência esclarecedora: não se trata de uma série, mas de uma cultura -uma mitologia, a definem alguns- e por tanto torna-se necessário um tempo de assentamento, de digestão dos recados. Quer dizer, o tempo natural que fisiologicamente aconteceu entre os vários filmes. Somente assim, com tempo para decantar, é possível criar uma cultura. Não se impõem padrões culturais em versão fast-food, ou com atalhos de aplicativos, porque mais importante do que os valores apresentados, é o tempo necessário para  assimilar cada um deles, para incorporá-los.

Revi todos os filmes da série nas últimas férias. O desfilar das aventuras e das personagens rodearam-se de inúmeras lembranças, daquelas que cercaram no seu dia a estreia de cada um. Reli também comentários e críticas que, lá atrás, escrevi sobre algum deles. E confesso que agora a minha perspectiva engrandeceu-se: aprendi a olhar com carinho para cada uma das personagens, senti de modo mais puro a compreensão para com o erro, a admiração pela lealdade, a tristeza de quem se perde no meio das turbulências interiores. Porque essa foi para mim a grande revelação desta saga: a guerra nas estrelas, é uma guerra interior, nas luzes e sombras que todos carregamos, atrelada à nossa condição humana. Volto depois sobre o assunto, retornarei como o ex-Jedi converso!

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Roger Scruton: “As Memórias de Underground”.

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Roger Scruton: “As Memórias de Underground”. E Realizações Editora. São Paulo, 2019. 335 págs.

O recente falecimento de Roger Scruton foi o impulso necessário para tirar esta obra do compasso de espera na minha prateleira. Confesso que houve curiosidade na hora de adquiri-la, pois a referência que tinha me chegado apontava-a como o único romance do pensador britânico. Li várias obras de Scruton e me perguntava que tipo de romance ele teria escrito.

As Memórias de Underground, escrita em 2014, é classificada pela editora que traz a versão traduzia ao português, no apartado de ficções filosóficas. E, de fato, tal como imaginava, o argumento é uma desculpa para passar recados que nem sempre são uma sequência lógica, o desenvolver-se de uma trama. O que manda é o fundo, mesmo que a narrativa fique esfiapada pelas reflexões que perpassam capilarmente toda a obra. Scruton é um pensador de vasta cultura, e o romance apenas uma variante para transmitir seu pensamento.

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Amor Towles: “Um Cavalheiro em Moscou”.

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Amor Towles: “Um Cavalheiro em Moscou”. Ed. Intrínseca. Rio de Janeiro 2018. 460 págs.

Inauguramos a Tertúlia Literária deste ano 2020, com um livro fascinante. Elegante, detalhista;  e no centro da magnifica narrativa,  o Conde Aleksandr Ilitch Rostov, um aristocrata dos felizes anos 20 do século passado, se apresentando nestes outros anos 20, que teremos de ver o quão felizes podem ser .  O argumento -que sempre evitamos contar nestes comentários- é um simples detalhe, um prefácio para tudo o que se desenvolve depois, em variações que poderiam ter como tónica dominante a frase estampada a modo de subtítulo provocativo: “Se um homem não dominar suas circunstâncias, ele é dominado por elas”. 

O Conde Rostov tem 23 anos em 1922, quando o expurgo da nobreza iniciado pelos bolcheviques da revolução de Outubro de 1918, continua implacável. Há quem pense que deve ser eliminado no paredão de fuzilamento. Mas….. “alguns altos escalões do Partido  o têm entre os heróis pré-revolucionários da causa. Por conseguinte, é opinião deste conselho que você deve retornar ao hotel de que tanto gosta. Mas não se engane: se voltar a pôr os pés fora do Metropol, será baleado”. Essa é a largada para este romance singular, e o contexto das circunstancias que o Conde terá de dominar ao longo das próximas três décadas……

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Oscar 2020: Lições para a Educação Médica

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Chega no meu e-mail um pedido da assessoria de imprensa da SOBRAMFA para “escrever alguma coisa sobre o Oscar 2020 e as lições que os filmes indicados trazem para a Educação Médica”. O pedido não me surpreende, mas é um desafio e tanto. A culpa é toda minha, por insistir nos últimos 20 anos em que o Cinema traz recados importantes para a formação do médico.

“Mas  -perguntam alguns-  o que você ensina exatamente com os filmes? São filmes médicos? De doenças, epidemias, biografias de cientistas famosos?”. Essa pergunta também faz parte da minha rotina docente, nestas duas décadas. “Não são filmes médicos. As pessoas aprendem muito bem sobre o progresso da medicina nas faculdades e cursos de pós graduação. Nada a acrescentar sobre o conteúdo impecável. O meu foco é apenas lembrar de um detalhe que, com frequência, passa desapercebido no meio desse turbilhão cientifico: a figura do paciente, o ser humano perdido no meio da doença….e dos próprios médicos”. E, quase sempre, acrescento: “Minha irmã que é professora de filosofia, sempre me diz que o que pretendo ensinar é algo que os médicos já faziam 80 anos atrás….e acabaram esquecendo”.

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Michelle Dean: “Afiadas”

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Michelle Dean: “Afiadas”. Todavia. São Paulo. 2018. 413 pgs.

Quando li o comentário numa página literária, pensei tratar-se de um estudo elaborado e profundo sobre estas mulheres escritoras e, sem dúvida, de reconhecida intelectualidade. Enganei-me. O livro é um texto corrido de  caráter jornalístico: comentam-se fatos, polêmicas, variedades e amenidades, mas não segue uma linha de estudo com certa densidade.  Percebe-se que a autora conhece bem as escritoras, mas não deixa entrever a sua opinião pessoal, ou a tese que costura as personagens descritas. Não é um pois um ensaio, mas uma reportagem. Mais do que um filme com roteiro, são uma série de fotos alinhavadas com trilha sonora afiada: o epíteto que dá nome ao livro.

A bibliografia usada é ampla, o que confere seriedade ao trabalho que, mesmo assim, prima pelo anedótico. Nas escritoras que por outros motivos conheço bem -o caso de Hannah Arendt – é notável a abordagem superficial que faz da pensadora alemã. Talvez o estilo de Dean, por querer imitar as retratadas,  é também algo afiado, embora não sabemos exatamente o que quer cortar….embora nos ofereça alguma pista neste parágrafo: “Não significa que estas mulheres tenham estado sempre certas. Mas elas estavam ali. E tal é o ponto principal deste livro. Sua obra, por si só, constitui uma razão para lhes agradecer por sua existência”.

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AS FILHAS DE MARVIN

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(Marvin’s Room) Diretor: Jerry Zacks. Diane Keaton, Meryl Streep, Leonardo DiCaprio, Robert de Niro.   98 min. USA 1996

Marvin é um velho adoentado, prostrado no leito onde gasta os que parecem ser seus últimos dias. Bessie é a filha que toma conta dele, administra os medicamentos, e cuida do pai com doses maciças de carinho e compreensão. Vez por outra Marvin padece crises espasmódicas -mistura de agitação e medo- que Bessie acalma com um fármaco peculiar: um jogo de luzes projetadas no teto, com um espelho, em dança caprichosa. Marvin sorri, e recupera a serenidade enquanto Bessie o abraça, encosta sua cabeça na do pai, e juntos contemplam o espetáculo luminoso. Uma velha tia convive com ambos, e mais atrapalha do que ajuda, na tarefa de cuidar do doente. Bessie sente-se cansada. Procura o médico que lhe comunica o diagnóstico: leucemia. Lee, a outra filha, entra em cena na esperança de conseguir-se um doador. Carrega dois filhos, um deles adolescente, e, como não poderia deixar de ser, problemático e drogado. Este é todo o universo do filme, onde Marvin não fala uma palavra -apenas grunhe- e oferece o palco para um duelo singular de interpretação e de valores de fundo.

         Os contrastes entre irmãos -antagonismo de virtudes e vícios- são antigos, como o próprio homem. Tem sabor bíblico, desde Caim e Abel. E é prato cheio para a arte, na literatura ou no cinema. Leva vantagem em tudo isto quem sabe aprofundar nos caracteres humanos, como Dostoievsky em Os Irmãos Karamazov, ou Steinbeck em Ao Leste do Éden, que também teve sua versão cinematográfica com Elia Kazan. De qualquer forma, se o veículo do contraste é o cinema, e a modalidade é quase teatro filmado, como no filme que nos ocupa, o sucesso será proporcional à capacidade interpretativa dos atores. Neste caso, o resultado é simplesmente magnífico.

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Jean-Noel Fabiani: “A Fabulosa História do Hospital. Da Idade Média aos dias de hoje”

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Jean-Noel Fabiani: “A Fabulosa  História do Hospital. Da Idade Média aos dias de hoje”. L&PM Editores. Porto Alegre. 2019. 207 pgs.

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Ganhei este livro de presente, de uma família querida que há anos confia a mim os seus cuidados médicos. Desconheço se eles leram o livro, embora  imagino que não, porque fora o aspecto cultural,  pouco acrescenta, ou melhor, pouco significa para quem não é do ramo. Mas quero entender o recado, talvez o reconhecimento de quem, de algum modo, quer colaborar com esta construção humanista da medicina através de um recurso clássico, que infelizmente tem caído no esquecimento: a história de Medicina.

O homem -no dizer de Ortega- nasce sobre uma história, aproveita-se dos conhecimentos dos seus antecessores, e por isso consegue progredir e salvar as tais circunstâncias que lhe acompanham, para salvar-se ele mesmo. Quer dizer, saber adaptar-se ao presente dirigindo um olhar prudente para o passado. Os animais -o tigre, diz em concreto o filósofo espanhol- nasce com o taxímetro zerado; é o mesmo tigre de milhares de anos atrás, não decola sobre um patamar histórico e por isso sua experiencia vital começa e acaba com ele mesmo. O ensino da História da Medicina está praticamente extinto nas nossas faculdades de hoje, com o que corremos o risco de formar magníficos tigres tecnológicos…..aos que confiamos os nossos cuidados. Uma loucura educativa!

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