Fúria em Alto Mar: Liderança desde a trincheira.

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Hunter killer. Diretor: Donovan Marsh. Gerard Butler. Gary Oldman. Adam James. Michael Gor. 121 min. USA, 2018.

Assisti este filme há quase um ano, por indicação de um colega, em conversa informal. Sinto-me em falta porque, embora o tenha lembrado e até invocado como modelo nas tarefas do dia a dia, não sentei para alinhavar os pensamentos e as reflexões que me tem inspirado. Vale dizer, que não me sinto em débito -com todo o respeito- pelos possíveis leitores destas linhas, mas comigo mesmo. 

Porque quando escrevemos, ordenamos as ideias, ponderamos as reflexões na sua proporção adequada, as digerimos e assimilamos. As inspirações que nos chegam dos filmes -ou dos livros, da arte em geral- deixam de ser espasmos passageiros, emoções fugazes, para converter-se em matéria própria; incorporam-se à nossa estrutura de pensamento e de visão do mundo e da vida: nisso consiste a cultura, aquela que -no dizer de Ortega- nos salva do naufrágio vital. Como ouvi há muito tempo de um colega, quando temos uma página web ou um BLOG, o primeiro é principal destinatário somos nós mesmos, para lembrar-nos de quem somos, e do que temos de fazer. 

O submarino americano -um Hunter Killer- acomete uma tarefa peculiar em aguas soviética, e sua aventura desenha um filme atrativo, de ação e suspense, cujo argumento obviamente omitirei, como é do meu costume. Relatar a história é empobrece-la e, mais ainda, amputar as vivencias que cada um terá ao assisti-lo. Dessas vivencias e das reflexões que se decorrem tratam estas linhas que, atrasado com meu próprio compromisso, esboço rapidamente. 

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Anton Tchekov “As Três Irmãs”

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Anton Tchekov “As Três Irmãs”

https://oficinadeteatro.com/conteudotextos-pecas-etc/pecas-de-teatro/viewdownload/5-pecas-diversas/109-as-tres-irmas

Um livro, para quem tem enraizado o hábito de ler, leva geralmente até outro. Essa quase compulsão de que falava Borges que, mesmo cego, continuava comprando e rodeando-se de livros, da sua amável presença. Foi assim como cheguei até esta pequena obra de Tchekov, decolando da leitura de um livro de memórias de um autor que ama o teatro e exerce como crítico. Chamou-me a atenção o que Marcos Ordóñez comentava a propósito da idade que avança inexoravelmente, e que sentia-se, por vezes, como o médico Tchebutikin, da obra que nos ocupa: “Se vocês não gostassem de mim, já há muito estaria morto”. O fato de ser velho foi o que tocou o autor das memórias;  e o de ser médico, certamente o emparelha com Tchekov que, embora conhecido mundialmente como escritor e contista, era também médico e fazia questão de afirma-lo:  “A medicina é a minha legítima esposa; a literatura é apenas minha amante.”

Difícil narrar um argumento que está escrito para ser interpretado. Como diz Ordóñez um bom ator é capaz de reescrever uma peça de teatro sem mudar uma vírgula. Tudo está na intepretação.  Por que então estes comentários? Apenas a modo de aperitivo, para despertar o gosto, o que parece ser importante. Eu, pessoalmente, que não sou muito propenso ao teatro -falta de costume e, certamente, uma carência cultural- acompanho colegas meus de colégio que estão envolvidos em escrever, adaptar, dirigir peças. E todos coincidem que é preciso ler teatro, não só assistir. Suponho que se trata de uma educação do paladar dramático.

A peça de Tchekov, nos leva até o interior da Rússia no cenário, e até a intimidade dos sonhos e anseios de três irmãs. Uma vida monótona, que se consome em expectativas -que nunca se cumprem- e descuida o quotidiano. Falta do que fazer, poderíamos concluir. Mas o escritor russo diz o mesmo de um modo elegante, sugestivo: “Tem muito mais valor não apenas o homem que trabalha, mas o boi também, e o cavalo de carga, do que uma jovem casada que acorda ao meio-dia, tem seu café da manhã servido na cama, demora duas horas para se aprontar… Ai, como isso é terrível!”. Irina, a mais jovem, insiste no tema: “Estamos tristes e temos uma visão tão sombria da vida porque não conhecemos o trabalho. Descendemos de pessoas que desprezavam o trabalho”.

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Milagre na Cela 7 : Um amor forte como a morte

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Koğuştaki Mucize. Diretor:  Mehmet Ada Öztekin. Aras Bulut IynemliCelile Toyon UysalDeniz Baysalİlker AksumMesut AkustaNisa Sofiya Aksongur. Turquia 2019. 132 min.

Quando chegam  pisando firme produções de países, vamos dizer, não convencionais é preciso estar de olho aberto. Assim foi com libanês  O Insulto uma magnífica apologia do perdão; ou com o finlandês- estoniano O Esgrimista que nos fez vibrar com a paixão por ensinar. Agora surge sem fazer barulho, através de Netflix, este filme turco singular. Justamente em momentos de confinamento e pandemia, onde o desespero corre solto e a busca por respostas se faz esperar, um homem oligofrênico, injustamente encarcerado, nos oferece um exemplo resumível numa palavra: amor!

“Teu pai tem a mesma idade que você” -explica a avó matriarca para a menina que se perguntava o que havia de errado com o pai dela. A história remete, como arco voltaico, para aquela interpretação sublime de Sean Penn em Uma Lição de Amor. Se naquele filme o duelo era entre a legalidade da custodia da criança e o amor insubstituível de um pai,  neste caso é a vida a que está em jogo. Mesmo assim, as armas do homem diminuído -do retrasado mental- são as mesmas. “Ele tem o cérebro do tamanho de uma ervilha” -diz o companheiro de cela, o durão que controle os  presos. Mas, em palavras bíblicas, o amor é forte como a morte, e no caso que nos ocupa nunca a sentença foi tão apropriada.

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Jordan Peterson: “Mapas do Significado. A Arquitetura da Crença”.

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Jordan Peterson: “Mapas do Significado. A Arquitetura da crença”. É Realizações. São Paulo. 2018. 696 págs.

Animado por alguns comentários que tinha escutado sobre este autor, e talvez por manifestá-los em voz alta -devo ter dito que nunca tinha lido nada dele- eis que caiu no meu colo este livro no último Natal. Toca enfrentar as quase 700 páginas. E com alguns dias de relativa folga pela frente, dediquei-me à tarefa.

Um verdadeiro tour de force, que me deixou esgotado, ou melhor, desnorteado. Tinha tanta árvore por lá que não conseguia enxergar o bosque. Lembro que alguém me perguntou: “Afinal, qual é a tese dele?”. Eu tinha lido 150 páginas e confesso que não consegui me situar.  A tentativa de centrar  o tema -nessas 150 páginas – ficava embaçado por ser repetitivo. Também me surpreendeu o excesso de “aspas”. Sempre pensei que quando se colocam muitas aspas é que falta solidez ao conceito, ou pobreza de vocabulário; ou, neste caso, a carência pode correr por conta da tradução.

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