AS FILHAS DE MARVIN
(Marvin’s Room) Diretor: Jerry Zacks. Diane Keaton, Meryl Streep, Leonardo DiCaprio, Robert de Niro. 98 min. USA 1996
Marvin é um velho adoentado, prostrado no leito onde gasta os que parecem ser seus últimos dias. Bessie é a filha que toma conta dele, administra os medicamentos, e cuida do pai com doses maciças de carinho e compreensão. Vez por outra Marvin padece crises espasmódicas -mistura de agitação e medo- que Bessie acalma com um fármaco peculiar: um jogo de luzes projetadas no teto, com um espelho, em dança caprichosa. Marvin sorri, e recupera a serenidade enquanto Bessie o abraça, encosta sua cabeça na do pai, e juntos contemplam o espetáculo luminoso. Uma velha tia convive com ambos, e mais atrapalha do que ajuda, na tarefa de cuidar do doente. Bessie sente-se cansada. Procura o médico que lhe comunica o diagnóstico: leucemia. Lee, a outra filha, entra em cena na esperança de conseguir-se um doador. Carrega dois filhos, um deles adolescente, e, como não poderia deixar de ser, problemático e drogado. Este é todo o universo do filme, onde Marvin não fala uma palavra -apenas grunhe- e oferece o palco para um duelo singular de interpretação e de valores de fundo.
Os contrastes entre irmãos -antagonismo de virtudes e vícios- são antigos, como o próprio homem. Tem sabor bíblico, desde Caim e Abel. E é prato cheio para a arte, na literatura ou no cinema. Leva vantagem em tudo isto quem sabe aprofundar nos caracteres humanos, como Dostoievsky em Os Irmãos Karamazov, ou Steinbeck em Ao Leste do Éden, que também teve sua versão cinematográfica com Elia Kazan. De qualquer forma, se o veículo do contraste é o cinema, e a modalidade é quase teatro filmado, como no filme que nos ocupa, o sucesso será proporcional à capacidade interpretativa dos atores. Neste caso, o resultado é simplesmente magnífico.
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