Michael J. Sandel: “Justiça. O que é fazer a coisa certa”. Ed. Civilização Brasileira

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Michael J. Sandel: “Justiça. O que é fazer a coisa certa”. Ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro 2012. 349 pgs.

 Comprei este livro há algum tempo, por sugestão de um amigo. Passou a esperar sua vez na prateleira do meu escritório. Mas numa viagem recente passando por Espanha, minha irmã -que como professora de filosofia está sempre ligada no que diz respeito à sua classe- avisou-me que tinham concedido o Prêmio Princesa de Astúrias em Ciências Sociais a Michael Sandel. O prêmio -antes príncipe, agora princesa porque a herdeira da coroa é uma mulher, Leonor de Borbón – é condecoração de peso. Como sempre, são estes estopins vitais o que te leva a desentocar o livro e mergulhar na leitura.

 Michael Sandel, professor de Filosofia e Ciência Política em Harvard, é um mestre popular entre os alunos. Decola de casos práticos, para avançar na micro ética, através de perguntas -método socrático- que são uma provocação para refletir sobre temas que muitas vezes passam batidos. Sandel pergunta e faz pensar; não dá respostas, apenas mostra as consequências das variáveis da escolha, e suas consequências. O livro apresenta, de modo erudito mas acessível, em leitura amena e fácil de acompanhar, os dilemas éticos que enfrentamos e as possíveis respostas que o ser humano pensante pode dar. Insisto no qualificativo de pensante, porque o que Sandel proporciona não é uma receita de bolo, um manual de escoteiro para comportar-se bem: desnuda as consequências das opções éticas para que ninguém diga que não sabia onde iria chegar, uma vez decididas as posturas assumidas.

 A distribuição de bens e justiça, atende basicamente a três maneiras de abordar a questão: a que considera o máximo bem estar, aquela que prima pela liberdade e a que se rege pela virtude. Esse será o leitmotiv de todo o livro. Maximizar a utilidade ou o bem-estar, a máxima felicidade para o maior número de pessoas. Ou priorizar a liberdade de escolha, nas suas versões variadas, do liberalismo radical, até uma liberdade pautada por uma suposta equanimidade Ou, finalmente, o cultivo da virtude e da preocupação com o bem comum . Anoto textualmente; “Essa mudança no nosso modo de pensar indo e vindo do mundo da ação para o mundo da reflexão, é no que consiste a reflexão moral. Este livro não é uma história das ideias, e sim uma jornada de reflexão moral e política”.Leia mais

Susanna Tamaro: La Tigresa y el acróbata

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Susanna Tamaro: La Tigresa y el acróbata. Seix Barral. Barcelona (2017). 222 págs. 

O Tigre e o Acrobata. Editorial Presença. Queluz de Baixo. (Portugal) 2017. 144 pgs.

Volta Susanna Tamaro com um livro provocador. Como sempre. Ela diz tratar-se de uma fábula para adultos; aliás, não creio que seja ela porque não costuma categorizar seus livros. Escreve, sem mais, do fundo do coração. Um espasmo afetivo de escritura reflexiva. Imagino que deve ser coisa dos editores, e dos que anotam as orelhas dos livros. Os mesmos que comparam esta nova obra com o Pequeno Príncipe. Leio a versão em espanhol, e vejo que razão não lhes falta. Tem algo da personagem de Saint Exupéry, mas tem muitas coisas mais. Antes de rascunhar estas linhas vejo que o livro já foi traduzido ao português. As minhas anotações, em livre tradução, imagino não fiquem muito distantes do texto. Embora, para já, é bom advertir que o tigre original é uma tigresa, quer dizer, fêmea….Isso, que sempre faz a diferença no mundo dos humanos, tratando-se de animais e de Susanna Tamaro no comando, nos coloca em outros registros. Bem adverte logo de início: “Não fosse pelo homem, o mundo seria perfeito. É no ser humano onde radica a discórdia”. Um chamado com toque feminino.

Do que fala este livro? Ou melhor, o que nos faz pensar quando nos deslizamos -como um felino, suavemente- por suas páginas? As variações e interpretações serão, certamente, muitas; ao gosto – e à sensibilidade- do leitor.  Mas, o fundo é claro: cada um tem de traçar o seu destino. Como dizia Fernando Pessoa: a vida é o que fazemos dela. “O Céu marca o destino para cada um. Um Tigre tem de ser sempre tigre. Não deixes espaço para outras naturezas”. O dilema é quando aceitamos o destino como algo “que vem de fábrica”, abrindo mão da liberdade: que significa abrir mão da criatividade, da originalidade, e também da  e do risco de pensar fora da caixa, como se diz hoje nos ambiente pseudointelectuais.Leia mais

O Rei do Show: Sonhos, boa vontade e compromisso embrulhados em música

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The Greatest Showman. Diretor: Michael Gracey. Hugh Jackman, Michelle Williams, Zac Efron, Rebecca Ferguson, Zendaya, Paul Sparks, Keala Settle, Sam Humphrey. USA 2017. 105 min.

Sempre gostei de musicais, embora por motivos diferentes, de acordo com as fases da vida que todos atravessamos. Os musicais de minha infância, aqueles que você não escolhia, mas a família te levava assistir para de algum modo imbuir-se do gosto musical doméstico.  A Noviça Rebelde -tradução infeliz de The Sound of Music– onde o verdadeiro protagonista é mesmo a música, as canções, e não a suposta noviça que, por sinal, nem chegou a ser tal. A madre superiora adverte a Maria, que as paredes do convento não são refúgio para os que têm receio de viver no mundo (Climb every mountain, aquela canção impactante). A tradução do título para o espanhol -idioma da minha infância- sem ser exata, era mais feliz do que a noviça: Sonrisas y Lágrimas, chamava-se. Impactou-me, e também marcou tradição na família: lembro de meu pai dizer que quando as crianças ficavam inquietas e chorosas -já os netos, ainda bebés- nada como colocar a trilha sonora do filme para acalmá-los. Sempre funcionou; e ocorreu-me recomendar a experiência vital com os filhos e netos dos amigos, com sucesso repetido.

Depois veio Oliver, a versão musical do conto de Dickens, e as personagens magníficas embrulhadas em canções : desde a voz infantil do protagonista (Who would by me this wonderful morning), até o chefe da gangue de garotos, Fagin, contando o dinheiro enquanto entoa “I’m revising , the situation”.  Inesquecíveis também aqueles filmes que ficavam mais de um ano em cartaz em elegantes cinemas de Madrid: My Fair Lady, West Side Story. Esses, mesmo lançados na minha infância, assisti depois, já adulto, muitas vezes, apreciando a música e a história que era uma simples desculpa para apresentar melodias inesquecíveis.

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Fabrice Hadjadj: ¿Que es una família?

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La transcendência em paños menores ( y otras consideraciones ultrasexistas). Nuevo Inicio. Granada. 2015. 210 pgs.

 

Tinha anotada esta referência há algum tempo, e finalmente encontrei o livro numa viagem passando por Espanha. Leio a versão em castelhano, comento-a em português com a quase certeza de que dificilmente será traduzido ao nosso idioma. Não porque careça de interesse, mas porque seria questão de compatibilizar o peculiar estilo do autor, com um público disposto a comprar suas obras. Um equilíbrio nem sempre fácil.  O autor recolhe nesta obra uma série de conferencias proferidas diante de público diverso. Ocorre-me pensar que se a leitura não é fácil, mais complicado será acompanhar seu raciocínio ao vivo. Salvo que seja um comunicador nato, que consegue esclarecer com a linguagem corporal a densidade do seu pensamento. Não porque seja conceitualmente árduo, mas porque é essencialmente chocante e direto. As vezes a clareza pode ser tanta que deslumbre o espectador.

Logo no início já nos adverte que sua obra dista muito do que ele gostaria que fosse. “Me perguntam: como faz você para publicar tantos livros tendo uma família numerosa (6 filhos), casado com uma atriz, Siffreine?. Na verdade não o faço como gostaria, deixo que as crianças invadam meus livros, ao tempo que enquanto escrevo gostaria de estar mais disponível para eles. Mas vai ver que isso é a vida: os livros perdem em perfeição, mas ganham em verdade de vida; verdade manca, mas real”.

Os capítulos do livro são as diversas conferências. Em todos eles, como já advertido, prima a clareza impactante, abordando temas tremendamente atuais, com perspectiva diferente, crua. “O que é uma família? Mesmo com as falácias modernas -afirma- o essencial não se pode descontruir. Embora surgem propostas de famílias que não passam pelo sexo normal, o produto final quer se assemelhar à família que arranca da paixão e da cama do casal. São sempre adultos com crianças (adotadas, fabricadas, importadas). Ninguém propõe família com n adultos, ou acasalamento com outra espécie animal ou vegetal, ou variações curiosas (robô e chimpanzé, top model e planta carnívora)…Mantem uma ordem que imita a natural: sua subversão aparente é submissão, e suas ofensivas são no fundo homenagens inconscientes”.Leia mais

12 Heróis: Liderança em versão épica.

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12 Strong. Diretor: Nicolai Fuglsig. Chris Hemsworth, Navid Negahban, Michael Shannon, Michael Peña. USA 2018. 130 min.

Deve ser uma americanada, do começo ao fim. Isso pensei de bate pronto quando me deparei com o título, e li em diagonal o argumento. Mas tropecei com o nome do Diretor, um Dinamarquês de 46 anos, e a dúvida surgiu. Felizmente. O que terá a contar um escandinavo sobre as revanches do 11 de Setembro? O protagonista -americano, mas com os créditos de Thor, em várias versões- também se encaixava no mundo viking. Mas o Afeganistão, talibãs, Al Qaeda, e toda essa série interminável de variações sobre o mesmo tema que rendem espasmos patrióticos ianques, não pareciam sintonizar com uma história de deuses e homens ao gosto nórdico.

Com estas questões em mente acomodei-me para ver a feitura do diretor viking. As torres gêmeas afundando, o militar que volta às pressas para a base, e o recado dos superiores: agora o comando é nosso, nada de brincadeiras, este inimigo é de caráter nacional, e global. O time do jovem capitão Mitch Nelson lhe é retirado, os homens se revoltam, querem ele. “Mas esse sujeito não tem experiência bélica, é um teórico” -gritam os generais. Os seus replicam: “Ele é nosso líder, o único capaz de comandar esta missão que tem sabor suicida”. Hesitação, o alto comando cede ao pedido dos soldados -dos 11 que integrariam a primeira missão contra os terroristas após o desastre. O capitão é chamado de volta. Detalham o objetivo da patrulha e lhe advertem: “Você sabe que as chances de todos voltarem vivos são….”. Nelson interrompe categórico: “Cem por cento. Todos vamos voltar”. Surpresa do general que sorri perante tamanha arrogância, e do espectador que, agora sim, acomoda-se na poltrona. Isto é diferente. Tem eco de narrativa épica.

Um comando de 12 homens -uma história que aconteceu realmente, mas foi levada na surdina, pelo sigilo que implicava- destinados a destruir os ninhos de terroristas numa cidade do Afeganistão.  Logo após o 11 de Setembro, com o sangue ainda sem coagular. Chegam as primeiras lições: entender a cultura, pisar o território, que é muito mais do que conhecer o mapa, mesmo com recursos de satélites precisos. Nem tudo o que vive e se move em solo afegano é Talibã. Há histórias pregressas, brigas quase seculares de tribos e culturas que agora se encontram juntas lutando contra um inimigo terrível e comum. O que não quer dizer que se entendam entre eles; aliás, carregam mágoas e ódios antigos. E no meio dessa mistura, aquele grupo de americanos comandado por um homem sem experiência de guerra tem de navegar para chegar a bom porto.Leia mais

Arturo Pérez-Reverte: “Falcó”.

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Arturo Pérez-Reverte: “Falcó”. Alfaguara. Barcelona (2016). 296 págs.

Antes de leer este libro hay que tener en cuenta dos cosas. La primera es que Lorenzo Falcó -el protagonista- no es un héroe, sino un mercenario y un mujeriego. Sin bandera, sin ideal: liquida a quien se oponga a su objetivo contratado, y se cepilla a todas las mujeres que se pongan a tiro. Un matón, y un copulador insaciable. Más animal que hombre. La segunda es que Pérez-Reverte escribe bien -siempre lo ha hecho- y por tanto la narrativa se inunda de realismo, se palpa la violencia, te molesta, y llega a ser incómoda. Y el personaje, de quien talvez albergásemos la esperanza de que nos podría caer bien por sus habilidades como espía, se deshace al tiempo que mata nuestros sueños. Un poco como Woody Allen que, cuando le da por ser negativo, nos repite hasta la saciedad la misma cantilena: si todavía crees en el ser humano, voy a encargarme de triturar tus ilusiones.

Aclarada esta cuestión -que no es detalle, pues para muchos les bastará esto para no aventurarse en la lectura- siguen algunos comentarios. El ambiente, muy bien conseguido, se sitúa durante la Guerra Civil. Una guerra “como en los viejos tiempos: Un grande de España al mando de una compañía de moros…La España eterna que resucita de nuevo, para barrer toda esa chusma marxista”. Tiempos complicados donde todos quieren sacar tajada, nunca se sabe quién manda y Falcó se protege, porque no entra a los envites: “Los falangistas, los alemanes, el sistema nacional de informaciones, metidos todos en el mismo asunto. No era una buena noticia. Reunión de pastores, decía el antiguo refrán español, oveja muerta. Y no era agradable pensar que la oveja podía ser él”. Aunque no se sabe quien manda, el producto final siempre llegaba a la misma mesa, la del generalísimo. Pérez Reverte lo explica de modo castizo: “Desde el Alzamiento Nacional, por razones patrióticas o simple prudencia por parte de la dirección del establecimiento, el orujo gallego sustituía al vodka como ingrediente (…) gallego, como el Caudillo. De esos que cuando uno se los cruza en la escalera, no sabe si suben o bajan. Aunque con Franco, no sabes si sube, si baja o si está parado”

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Jaques Maritain: “Humanismo Integral”

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Jaques Maritain: “Humanismo Integral”. (Español:  Palabra. Madrid. 1999. 371 pgs). (Português: Cultor de Livros. São Paulo. 2018. 310 pgs)

Leio a versão espanhola desta obra clássica de Maritain. Estava na minha estante há bastante tempo esperando o momento adequado. Pouco depois fico sabendo que acaba de ser publicado recentemente no Brasil: esse é o motivo da dupla referência nos dados do livro anotados acima. Escrevo em português, o que significa tradução livre, com a permissão dos profissionais que devem ter feito uma versão mais adequada da obra do filósofo francês. Mas como se trata de transmitir o recado -o que o livro me ensinou e o que me fez pensar- parece-me que funciona.

Já no prefácio, anota-se uma interessante reflexão de Maritain. “Quem sou eu? Um professor? Penso que não: ensino por necessidade. Um escritor? Talvez. Um filósofo? Isso espero. Mas também sou uma espécie de romântico da justiça que imagina, após cada combate, que ela e a verdade triunfarão entre os homes. E também um zahori (um adivinho, um vedor) com a cabeça grudada na terra para escutar o ruído das fontes ocultas e das germinações invisíveis”. É uma ótima contextualização para as páginas subsequentes, pois é isso que ele se propõe: levantar questões latentes, fazer pensar, empurrar ao compromisso pessoal.

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Alice Munro: “Felicidade Demais”.

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Alice Munro: “Felicidade Demais”. Companhia das Letras. São Paulo. 2010. 341 pgs.

Desta vez a partitura da nossa tertúlia literária foi uma coletânea de contos de uma escritora canadense, que ganha o prêmio Nobel (2013) com 82 anos. Esse contexto já nos oferece motivo para reflexão: a data de validade das pessoas não é aquela imposta pelo mundo corporativo, quando descarta pela idade aqueles que não dão esperança de alta produção. Cervantes escreve a primeira parte de D. Quixote com quase 60 anos, Alice Munro leva o Nobel com mais de oitenta. Não há motivos -na nossa plateia seleta, de terceira idade- para aposentar-se na alma, e ficar de pijama fazendo palavras cruzadas. Trata-se, isso sim, de encontrar novas funções adaptadas às limitações que os anos impõem.

Munro fala de mulheres, todos os contos estão embrulhados em perspectiva feminina. Escreve muito bem – a tradução lhe faz justiça-, e descreve ainda melhor, atenta aos detalhes, desenhando as personagens.  Assim, a postura corporal: “Ela é uma mulher seca de olhar ansioso com um cabelo que parece um esfregão cinza-chumbo e uma discreta inclinação que poder ter nascido de tanto abraçar o seu instrumento (violoncelo), ou simplesmente do costume de ser uma ouvinte prestativa e uma interlocutora solícita”. A figura elegante, sem afetação: “Sua imensa e generosa sobriedade impessoal tirava daquelas roupas toda alegria invasiva, toda ofensa”. E o caráter frívolo e iletrado: “O problema é que ela não tinha onde se agarrar. Não sabia o que era vitoriano, ou romântico, ou pré-colombiano. Tinha estado no Japão, Barbados, vários outros países de Europa, mas jamais poderia localizá-los num mapa. Não saberia dizer se a Revolução Francesa veio antes da Primeira Guerra Mundial”.

Descreve com maestria a sintonia entre as mulheres: “Quando se conhecem e simpatizam particularmente uma com a outra sentem necessidade de estabelecer quais são as informações relevantes os grandes acontecimentos públicos ou secretos, e depois vão preenchendo as lacunas entre eles. Quando sentem esse calor e essa avidez é totalmente impossível ficam entediadas uma da outra. Darão risada de qualquer detalhe ou bobagem que estão contando, ou com a revelação de um egoísmo assombroso, uma frustração, crueldades, puras maldades”. De fato, um panorama pictórico da alma feminina.Leia mais

José Luis Olaizola: “A la conquista de los apaches”

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José Luis Olaizola: “A la conquista de los apaches”. Libroslibres. Madrid. 204 pgs

Olaizola escribe al gusto de la época, es decir, como si fuera un cronista del momento que relata, consiguiendo de ese modo que lo que cuenta -siempre interesante- se haga más verosímil, tenga ecos de narrativa histórica. Por eso el escritor ser encarna en el hijo de Pero Hernandez que fue, a su vez, compañero de Alvar Núñez Cabeza de Vaca en su epopeya americana. Pero Hernandez, nacido en una pequeña villa de la Extremadura, “estaba condenado como todos los de su suerte a labrar unas tierras, que dan más penas que algarrobos” pero consiguió sumarse a una de las expediciones del protagonista.

Describe la vida dura de los conquistadores y la disciplina que imponían a sus soldados: “si algún marinero o soldado metía mano, a escondidas, en el avituallamiento, la pena podía ser de azotes y a uno de ellos, reincidente en más de una ocasión, llegaron a amputarle la mano ladrona. Determinación esta que mucho le costó tomar a don Alvar, pues en medio de tribus de indios hostiles, precisaba que sus hombres estuvieran bien enteros para combatir, y no faltos de una de sus extremidades, pero no lo quedó más remedio para que sirviera de escarmiento y otros no tentaran de hacer lo mismo”. Medidas que pueden parecernos exageradas, pero era el recurso necesario para impedir que un ejército al servicio de un imperio, se transformase en una horda de mercenarios y saqueadores.  Porque “D. Alvar nunca dejó de considerarse vicario de Sus Majestades, a las que debería de dar cuenta de la encomienda que recibieron cuando salieron de España”.

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