Alexandre Dumas: Os Três Mosqueteiros

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Alexandre Dumas: Os Três Mosqueteiros. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 2018. 732 págs.

Comentaram as críticas que, finalmente, os franceses decidiram reclamar para si o famoso romance de Alexandre Dumas e colocá-lo na tela . É verdade: não são poucas as versões cinematográficas de Os 3 Mosqueteiros, mas sempre com o sabor de Hollywood, e até com as variações musicais por conta de Gene Kelly. Afinal, Kelly era um atleta dançando -a diferença de Fred Astaire, mais gentleman do que performer- e a personagem de D’Artagnan lhe encaixava bem. O jovem gascão que se bate e duela com todo aquele que se cruza com ele, se alinhava bem com o acrobata, agora com espada em mão.

Os franceses resgatam o romance, e produzem duas fitas que são fieis ao original de Dumas: Os 3 Mosqueteiros- D’Artagnan, Os 3 Mosqueteiros- Milady.  É possível que venha uma terceira, porque a saga não acabou. E paro por aqui, para não correr o risco de ser spoiler.

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Fabio Rosini: A arte de Recomeçar.

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Fabio Rosini: A arte de Recomeçar. Ed. Vozes. São Paulo. 2021. 224 págs.

Não é costume neste espaço, comentar livros,  -como diríamos?-  confessionais, publicações de caráter espiritual formativas. Mas abro aqui uma exceção, que se justifica não apenas pela qualidade da obra, mas também espicaçado pelo comentário inicial do autor. Diz ele que escreve este livro para todos aqueles que, como ele próprio no passado, pensam que é impossível recomeçar depois de uma certa idade, e de um acúmulo de experiências.

E se tivesse que fazer um resumo, talvez um pouco tosco, da obra em uma frase, diria que o livro lembrou-me Nelson Rodrigues, em A vida como ela é. Quer dizer, um apelo formidável ao realismo, ao que temos para hoje, que é a condição essencial para qualquer retomada dos projetos nos quais estamos envolvidos. Rosini é categórico neste ponto, tanto quanto Nelson. Escreve: “Para começar de novo, este é o primeiro obstáculo contra o qual é saudável tropeçar: você parte das coisas como elas são, e não como ‘deveriam ser’. A sabedoria não é uma teoria que força situações com golpes de martelo. Estamos diante da realidade e o único caminho inteligente é aceitá-la (…) O problema é que existem dois criadores: Deus Pai e nossa cabeça. Um cria a realidade, o outro a interpreta. Mas se partimos de um erro, devemos sabê-lo: todos os erros da nossa vida – e repito esta afirmação apodítica: todos – provêm, pelo menos em parte, deste erro: não ter respeitado as coisas como elas são. Não ter os pés firmemente plantados na realidade”. Está servido o cenário no qual o livro se desenvolve.

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Thomas Mann: Os Buddenbrooks

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Thomas Mann: Os Buddenbrooks. Círculo do Livro. Abril. São Paulo.   1975. 743 págs.

A Tertúlia Literária mensal, leva-nos até a obra magna de Thomas Mann. E digo magna, não porque esqueça de outros romances seus magníficos, como A Montanha Mágica, mas porque foi assim que em 1929 a Academia Sueca justificou o prêmio Nobel de Literatura. Mann escreve Os Buddenbrooks com 26 anos. Algo notável que, nos dias de hoje, onde a leitura está em baixa – a escrita, então, nem se fale- causa certa vertigem.

Não é possível resumir a saga desta família, distribuída em mais de 700 páginas, nem também é o propósito neste espaço. Uma saga de 4 gerações, ao longo de quase 50 anos (no meio do século XIX), que, pensei, poderia servir para uma boa série de TV; aliás acabo de ver que existe a tal série, mas de difícil acesso. O local é o norte de Alemanha, próximo do mar Báltico. Uma saga telúrica, pois Mann se inspira na sua cidade natal (Lubeck), cidade imperial e livre, próxima de Hamburgo.

A leitura, longa, corrida de fundo, compensa pela qualidade das descrições que o escritor alemão faz: tanto dos cenários externos, das liturgias aristocráticas, como também do mundo interior -pensamentos, receios, suspeitas- das personagens. Todo um mundo a ser revelado, onde o argumento é meio século da história de uma família de comerciantes que vai mantendo o negócio, a projeção social, e o respeito que se lhe deve. E, sempre, a preocupação da sucessão, onde nada pode se perder.

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D. Quixote em Unamuno:

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Idealismo realista e coragem para enfrentar a vida.

Há livros que marcam, para toda uma vida. Podem ser duas ou três ideias, que repousam no fundo da memória,  nos cantos recônditos da alma, e que, com irregular ritmo -quando lhes apetece- surgem, põem a cabeça para fora, nos dizem: estou aqui, lembras? Este é um desses livros. Uma recomendação que devo creditar -e agradecer- a um professor de literatura que tive há mais de meio século. A vida de D. Quixote e Sancho, sonhada e assimilada, com vitalismo singular, por Miguel de Unamuno, publicado em 1905. Fiz um longo resumo da obra, naturalmente em castelhano, porque muita audácia me parece, oferecer uma tradução livre da prosa do Reitor da Universidade de Salamanca.

Mas, sabendo da compreensão de D. Miguel, atrevo-me, sim, a traduzir um par de parágrafos -plasmar as ideias que surgem, vez e outra- pois essas estão lá, datilografadas, no meu fichário há mais de 30 anos. Encontro um que me comove, porque há muitos anos copiei-o, com devoção e cuidado, num pedaço de papel, e usei-o inúmeras vezes, como alavanca para as minhas tentativas de humanização e para empurrar a sonhar sem medo. Diz assim: “Tudo neles é sensualidade, e mesmo com ideias, grandes ideias, eles se apaixonam sensualmente. Eles são incapazes de casar com uma ideia grande e pura e constituir uma família a partir dela; apenas acumulam ideias, as consideram como amantes, menos ainda, talvez como companheiras de uma noite.” Um grito de gelar o sangue – mais ainda hoje– quando os ideais e os projetos não duram, não passam da terceira página… como diz um amigo meu.

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Dante Gallian: É Próprio do Humano. Uma odisseia do autoconhecimento e da autorrealização em 12 lições.

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Editora Record. Rio de Janeiro, 2022. 306 págs.

Aconteceu novamente. São os amigos escritores que chegam com o exemplar já dedicado, sob medida. Dedicatória cálida, provocante; não há como evitar debruçar-se sobre a obra, tomar algumas notas e atrever-se a rascunhar uma opinião. Não uma crítica ao livro -nem me atreveria- mas, como sempre neste espaço, o que o livro provocou em mim, como me afetou. O relato fenomenológico da leitura, por dizer de algum modo. Cada um terá o seu, obviamente.

O professor Dante adverte que para aproveitar esta sua nova obra, não é imprescindível ter lido a Odisseia de Homero antes. Bela advertência que abre portas e possibilidades a um público amplo. E não e preciso, porque ele, Dante, levará da mão o leitor nesta aventura. Anota: “A experiência de Ulisses nos permite refletir sobre uma das verdades mais centrais e profundas daquilo que é próprio do humano. Por mais que acreditemos e propalemos que o ideal da felicidade humana está na posse inalienável de todos os bens que nos asseguram o bem-estar, incluindo aí a juventude eterna e a imortalidade, a vivência real dessa possibilidade não satisfaz o coração, não corresponde àquilo que é próprio do humano (…) Como é difícil para nós, imersos nesta cultura e nesta mentalidade tão “desenvolvida” e “civilizada” em que vivemos, aceitar que a jornada da vida não é prolongar o máximo possível os confortos e prazeres; nem a cultura do ter,  do possuir, mas de aceitar que depois da subida vem a descida, depois do auge vem a decadência, que não é necessariamente má, mas natural e necessária.

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Vidas passadas: Um Casablanca Coreano.

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Past Lives. Direção: Celine Song. Greta LeeYoo Teo. John Magaro, USA 2023. 106 min.

“Quem são esses três?” Uma voz em off, se pergunta, ou melhor, nos pergunta.  E vai tecendo hipóteses: “Um casal da oriental com o americano, e o outro é irmão dela? Estranho, o americano está fora da conversa….Talvez um casal de orientais e o americano é o amigo? Ou o guia deles em New York? Mas, tudo isto às 4 horas da manhã, conversando? Não, nada disso”. Essa é a largada deste filme singular, que, imediatamente nos transporta em flashback duas décadas antes. Coreia, dois adolescentes na escola. Brincadeiras, competição nas notas, empatia que pode virar namorico…..E a despedida, ao pé de uma escada, o rapaz segue caminho, a menina sobe….primeiro a escada, depois num avião.

Passam 12 anos, e o Facebook primeiro, logo a  Internet aproxima os amigos, não mais adolescentes. Cada um cuidando da sua vida, Coreia, China, Canadá, USA. Conexões rápidas, sorrisos demorados, longos silêncios, timidez e encabulamento. Uma visita possível? Não parece, todos muito ocupados. Sentimos certa eletricidade nas conversas, torcemos para que aconteça o que não vai acontecer.

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Resistência: As razões do coração, que a razão (e a Inteligência Artificial) não entendem.

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The Creator. Diretor: Gareth Edwards. John David Washington. Gemma Chan,  Ken Watanabe, Madeleine Yuna Voyles, Allison Janney,   133 min. USA. 2023.

Tinha lido alguma crítica sobre este filme, destacando-o como um dos melhores do ano. Confesso que em se tratando de ficção -e aqui, de ficção digital, 5G, e todos os derivativos- meu entusiasmo não era dos melhores. Mas com a idade aprendemos a desconfiar das próprias opiniões para abrir-nos a novas perspectivas. Nem sempre, tudo seja dito. E ai está a diferença entre o velho que reclama e desconfia -este filme eu já vi, obviamente entendendo por “filme” situações da vida- e quem procura conservar a alma jovem, e se desarma de preconceitos para ser surpreendido. Essa é a raiz da contemplação, de permitir ser tocado, uma vez e outra, pela beleza, pela estética, pelo bom gosto.

Assisti o filme acompanhando do jeito que foi possível, porque o argumento não é linear, mas repleto de meandros. Humanos combatendo máquinas, que parecem humanos, criados pelo próprio homem, e agora revelando-se. Não alcanço a saber se é rebelião ou grito de independência, porque o seu criador -o homem- deixou de ser quem se supunha tinha de ser. Uma troca de papeis que no início aparece confusa, depois se ilumina, faz pensar. Muito. Apesar do protagonismo da Inteligência Artificial -responsável pelas catástrofes que desfilam pelos fotogramas- fui entendendo, aos poucos, que tudo isto não era simples ficção, mas algo mais denso, um recado de liberação prolongada, uma carga de profundidade.

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Byung-Chul Han : No enxame- Perspectivas do digital

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Byung-Chul Han : No enxame- Perspectivas do digital. Petrópolis, RJ : Vozes, 2018. 85 págs.

Petrópolis, RJ : Vozes, 2018. 85 págs.

Após ter lido várias obras deste engenheiro-filósofo, sul coreano-alemão, cai nas minhas mãos mais um dos seus livros. E mantém as caraterísticas dos anteriores: curto, mais um ensaio -aula do que um livro, e repetição de ideias anteriormente abordadas ( o que não é nenhum demérito, mas sim foco: água mole em pedra dura…..). A variante desta obra é o mundo digital…e as suas consequências para o ser humano, se for capaz de conviver sadiamente com ele, no fim, de sobreviver aos desafios que lhe apresenta. E assim o apresenta no prefácio: “Embriagamo-nos hoje em dia da mídia digital, sem que possamos avaliar inteiramente as consequências dessa embriaguez. Essa cegueira e a estupidez simultânea a ela constituem a crise atual”.

O mundo digital que devassa a intimidade é consequência da falta de respeito. Assim explica Han: “O respeito pressupõe um olhar distanciado, um pathos da distância . Hoje, ele dá lugar a um ver sem distância, caraterístico do espetáculo . O verbo latino spectare , ao qual espetáculo remonta, é um olhar voyeurístico, ao qual falta a consideração distanciada, o respeito ( respectare ). A distância distingue o respectare do spectare . Uma sociedade sem respeito, sem o pathos da distância, leva à sociedade do escândalo. A falta de distância leva a que o privado e o público se misturem. A comunicação digital fornece essa exposição pornográfica da intimidade e da esfera privada. Também as redes sociais se mostram como espaços de exposição do privado”. Lembrei do comentário de Ortega quando diz que é preciso essa distância sentimental que se denomina respeito, “porque cada coisa no impõe uma distância peculiar e uma determinada perspectiva; quem quiser ver o universo como ele é, tem de aceitar essa lei de cósmica cortesia”.

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Ferenc Molnár: “Os meninos da Rua Paulo”.

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Ferenc Molnár: “Os meninos da Rua Paulo”. Companhia das Letras. São Paulo. 2016. 183 págs.

Por conta da nossa Tertúlia Literária mensal , volto sobre este livro após mais de quinze anos da primeira leitura. Mas, agora, meus olhos -e o meu coração- são outros, em maior sintonia com o povo húngaro (não com a língua, obviamente) após ter lido Sándor Márai, Magda Szabo e, principalmente, a magnífica biografia de Paulo Rónai. Ele é o último responsável por termos hoje este livro entre as mãos, traduzido num português magnífico, que agrada crianças e adultos.

Dele é também o prefácio desta edição, onde se pode ler o seguinte comentário, contrapondo que embora os livros para adultos possam tornar-se simbólicos para os jovens, “ainda mais raro o caso contrário: livros destinados originariamente a um público de jovens e que passaram a interessar pessoas de todas as idades. Um deles é, sem dúvida, Os meninos da rua Paulo , do húngaro Ferenc Molnár. Como é que um livrinho especialmente escrito para os adolescentes de Budapeste se metamorfoseia numa obra-prima clássica, lida com encanto por pessoas de todas as idades, de todos os países?”. E adverte sobre o escritor: “Foi relatada por um de seus participantes, ainda bastante perto da mocidade para levá-la a sério, já bastante longe para dela sentir saudades (…) Os meninos da rua Paulo é dessas leituras que nos acompanham pela vida afora, livro de aventuras que vale por um estudo de psicologia, livro de memórias em que não se percebe a presença do autor, livro de guerra que nos reconcilia com a humanidade.”

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Alexandr Pushkin: A Filha do Capitão.

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Alexandr Pushkin: A Filha do Capitão. Lebooks Editora.2020. 124 páginas.

Foi a leitura de um livro sobre escritores russos, o que despertou minha atenção acerca de Pushkin, de quem nunca tinha lido nada, a diferença dos outros lá elencados. Anotei o nome desta obra principal, e a escalei para a Tertúlia Literária mensal.

Agora, lido, comentado, discutido e sonhado, volto sobre o meu resumo daquele livro, antes de rascunhar estas linhas. O que têm os russos de peculiar quando escrevem? A resposta já estava lá anotada, deste modo: A literatura russa tem características próprias. As histórias geralmente se passam no vasto império do czar; predomina uma análise crítica da situação social, política e económica; os autores tendem a ser muito descritivos tanto das paisagens como dos costumes da cidade e do campo (..)Mas o que os apaixona é a busca pelo ser nacional. O tema comum de todas estas obras é a Rússia: a sua personalidade, a sua história, os seus costumes, as suas tradições, a sua essência espiritual e o seu destino (…) Se é algo tão peculiar, tão russo, porquê a enorme importância desta literatura? O escritor imortal é normalmente aquele que realiza algo universal numa forma particular;  apresenta o que pode interessar a todos os homens numa forma característica de um único homem ou de um único país. São clássicos, universais, mas atentos à sua missão: estabelecer a identidade nacional russa, que sempre foi um desafio. O império do czar começou a desempenhar um papel importante na Europa  no início do século XVIII.

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