Dietrich von Hildebrand: O Coração
Cultor de Livros, S. Paulo, 2024. 199 págs.

Algum tempo atras anotei que a recente Encíclica do Papa Francisco, Dilexit-nos, dedica uma primeira parte para falar do coração humano, o que me levou a comentar um livro também lá citado, O universo religioso de Dostoievsky. Mas o tema do coração dá para muito, e revela-se particularmente importante nos dias de hoje. Dai prosseguir o estudo com esta obra clássica do pensador alemão, que enfrenta o assunto com audácia. Vale lembrar que se trata de um pensador católico, e escreve, em primeiro lugar para os que professam sua fé. Dai a defesa aberta e valente da importância do coração e da afetividade, tema que nem sempre foi contemplado pelos teólogos e filósofos católicos. Um belo complemento, no vácuo dos pensamentos do Papa Francisco.
Logo no início, Von Hildebrand adverte: “Por muitos anos, o tema das emoções, e o lado afetivo da natureza humana em geral, foi ou negligenciado pelos filósofos ou tratado superficialmente dentro do espectro de uma psicologia moral empirista que colocava os sentimentos na esfera do desejo subjetivo. Nem sempre foi assim. Se na Antiguidade razão e paixão eram contrapostas, já em Tomás de Aquino passa a existir um grau de reconhecimento e normatividade das respostas emocionais. Mesmo na filosofia de Aristóteles onde se diz na Ética a Nicómaco que ‘o homem bom não só quer o bem, mas também se regozija quando o realiza’, o coração tem um lugar rebaixado e desvalorizado”.
E continua destacando a importância da afetividade: “Uma felicidade somente pensada ou desejada (razão e vontade em ação) não é felicidade. A felicidade se torna uma palavra sem significado se a separamos do sentimento, única forma de experiência na qual pode ser vivida conscientemente”. E a seguir esclarece que “uma das razões para desvalorizar o âmbito afeito -para recusar em reconhecer ao coração uma posição análoga ao intelecto e à vontade- é identificar a afetividade com os tipos mais baixos de experiência afetiva. Consequentemente, o que se nega aos sentimentos corporais, estados emocionais ou paixões , acaba se negando também, de modo errado e injusto, a experiências afetivas como a alegria , o amor profundo, o entusiasmo nobre (….) A variedade de experiências dentro do âmbito afetivo é tão grande que seria desastroso encará-lo como algo homogêneo”.
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