Svetlana Aleksiévitch: O fim do homem soviético
Companhia das Letras. São Paulo. 2016. 600 págs
Após alguns anos de pausa, volto sobre os escritos da prêmio Nobel bielorrussa, sabendo o que vou encontrar: narrativas jornalísticas que chegam na intimidade, conversas na cozinha. Assim foi com aquele magnífico livro, onde tomei contato com a sua prosa surpreendente, A Guerra não tem rosto de Mulher. E também em Vozes de Tchernobil, história oral, no melhor estilo.
Agora, chega o momento de se debruçar sobre o fim do homem soviético. Alguns amigos já tinham lido, elogiado, e por conta das recomendações acabamos escalando para a nossa tertúlia literária mensal. E vale advertir que se os livros de Svetlana são uma colcha de retalhos, qualquer tentativa de resumo está destinada ao fracasso. Melhor encarar como pinceladas avulsas de um quadro impressionista, manchas que na distância ajudam a entrever figuras e paisagem, sem atentar ao detalhe.
Logo no início, Svetlana adverte que o que lá vai contar são “observações de uma cúmplice”. Assim introduz o assunto -na verdade, as conversas que tecem a modo de mosaico- um tema que é complexo, e nada uniforme. “Eu escrevo, procuro nos grãozinhos e nas migalhas a história do socialismo “doméstico”… do socialismo “interior”. De como ele vivia na alma humana. Sempre sinto atração por esse pequeno espaço: o ser humano… um ser humano. Na verdade, é lá que tudo acontece (…) Não canso de me surpreender com o quão interessante é a vida humana comum. A infinita quantidade de verdades humanas… A história se interessa apenas pelos fatos, mas as emoções ficam à margem. Não é costume admiti-las na história. Eu, porém, olho para o mundo com os olhos de uma pessoa de humanas, não de historiadora. E me surpreendo com o ser humano”.
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