Merce Rodoreda: La plaza del Diamante

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Merce Rodoreda: La plaza del Diamante Edhasa. Barcelona. 2008.254 págs.

Uma das melhores novelas de pós guerra espanhola. Escrita em linguagem ágil, com descrições muito femininas e detalhistas, com prosa elegante, narra a vida de uma jovem que vem a tornar-se viúva por causa da guerra civil. Intimista, reflexiva, nos faz saborear a boa prosa. Lida em castelhano; certamente o original em catalão deve ser melhor. Para quem aprecia a prosa narrativa e retrato de época e personagens.

Guillermo Martínez: La muerte lenta de Luciana B

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Guillermo Martínez: La muerte lenta de Luciana B. Destino. Barcelona. 2007. 230 págs.

O escritor argentino Guillermo Martínez apresenta aqui um romance que não passa de regular. Um romance de crimes e mistério, com argumento muito pouco verossímil, onde o psicológico e o real se confundem, e as personagens são complicadas, difíceis, distantes da vida real. A formação do autor em lógica matemática talvez explique este cenário complexo, que requereria do leitor maior capacidade de abstração para interagir com o romance. De fato, não prende, nem cativa e, embora isso não seja a única qualidade que podemos pedir a um bom livro, já é meio caminho andado. Mesmo assim, o autor parece ser um fenômeno de vendas, e o livro está sendo traduzido a vários idiomas. Sobre gostos, nada é definitivo. Por isso pode-se afirmar que para o gosto comum, é um livro dispensável.

Paloma Diaz- Mas. “Como un libro cerrado”

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Paloma Diaz- Mas. “Como un libro cerrado” Anagrama. Barcelona 2005.218 págs.

Coleção de relatos, distribuídos em curtos capítulos, onde a autora – nascida em Madrid em 1954- evoca lembranças da sua infância e adolescência. Existe um fio comum em toda a narração: a educação recebida. Família, colegas e, sobretudo, professores que marcaram esses anos de formação. É uma interpretação de como ocorre a gênese de uma vocação literária desde os primeiros momentos da vida, incluso quando ainda não se sabe ler, e tudo é “como um livro cerrado”.

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José Jiménez Lozano: Los Cuadernos de Letra Pequeña.

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José Jiménez Lozano: Los Cuadernos de Letra Pequeña. Ed. Pre-Textos. Valencia. 2003. 248 págs.


O autor publica seus diários, de 1993 a 1998. Não são propriamente diários, mas notas que vá tomando, curtas reflexões ou considerações do que ele mesmo lê em outros autores. Mostra uma cultura vastíssima, move-se com facilidade em vários campos, tendo sempre como pano de fundo alguns acontecimentos e, sobretudo, os escritos de autores variados que conhece com profundidade. Mesmo possuindo esta ampla cultura, não é tedioso nem petulante; lê-se com agrado. Lembra, em muitos momentos Steiner, mas está aberto à esperança e à transcendência. Uma obra que agradará aos que tem conhecimento da cultura espanhola, embora os temas tocados vão além das fronteiras hispânicas. Mas o modo de escrever é,  sim, muito espanhol. Um livro para ler aos poucos, no mesmo ritmo que foram confeccionados esses diários que o autor recolhia num caderno escrito com letra estreita, pequena. Daí o nome do livro.

Parker J. Palmer: The Courage to Teach: Guide for Reflection and Renewal

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Jossey-Bass. Wiley and sons Inc. S. Francisco, 2007. 180 pgs/ DVD 70 min.

     De tanto promover e falar, em aulas e congressos, de um livro que muito agregou à minha tarefa de professor e já comentado neste espaço, vim recolher um importante fruto. Um colega, amigo e assistente às minhas reuniões de formação de professores, apareceu numa delas com este livro. É a continuidade do anterior; ou melhor, uma lente amplificadora das importantíssimas questões colocadas pelo autor em obras precedentes, e também de modo sistemático no Centro de educação que ele fundou e dirige (http://www.couragerenewal.org/).

Esta guia –assim denomina o autor a sua obra- é o mapa para a viagem que conduz à intimidade do professor. Uma viagem que mergulha no silêncio e na reflexão dos que se sabem chamados vocacionalmente a ensinar. Não é um livro de pedagogia, nem sobre processos educacionais. É uma análise profunda –uma verdadeira dissecção- do sujeito docente, do professor. Este é o principal recado que o autor repete –por escrito, e nas entrevistas recolhidas no DVD que acompanha o livro-, e que se poderia sintetizar no seguinte pensamento: “Quase todos se perguntam o que têm de ensinar (conteúdos); alguns pensam em como fazê-lo (técnicas) e a quem devem ensinar (público); mas poucos alcançam a questão chave: quem está ensinando? Porque, afinal, ensinamos o que somos”. Educar vai muito além dos conteúdos, ou das técnicas, depende radicalmente de quem está ensinando, e de como cuidamos dele – quer dizer, de nós mesmos professores. “A técnica é o que se utiliza até que aparece o verdadeiro professor: um simples esquentamento”. Essa questão primordial está reforçada na primeira parte do livro, resumindo e enfatizando os temas abordados no livro mãe, publicado dez anos antes.

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Terra das sombras

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(Shadowlands) Diretor: Richard Attenborough. Anthony Hopkins, Debra Winger. Inglaterra 1994. 130 min.

O relacionamento de C.S. Lewis, professor de Oxford, solteirão intelectual, com a poetisa americana, Joy Gresham, de origem judia e convertida ao cristianismo, em parte pelas obras de Lewis, nos brinda um filme encantador, uma jóia cinematográfica apresentada com excelente bom gosto. Os l30 minutos da produção transcorrem sem cansar, como delicada melodia onde a plasticidade das imagens, belíssimas, se continua com a poesia de fundo e com o realismo das personagens, humanas, próximas do espectador.

“Terra das sombras” é a nossa terra, a nossa vida: sombras e luz, em contraste vital, de sofrimento, alegrias e amor. Tudo é compatível como também o são as luzes e sombras de uma pintura ou da fotografia artística. “Deus nos fala baixinho nos prazeres, conversa na nossa consciência, mas nos grita nas nossas dores; o sofrimento é o megafone de Deus para despertar um mundo adormecido”. Uma história de solidariedade humana, de compaixão -padecer com alguém- de amor, temperada pelo sofrimento, ingrediente necessário na vida. “Querer excluir a possibilidade do sofrimento que a ordem da natureza e a existência do livre arbítrio envolvem, é excluir a própria vida”, nos diz Lewis em “O problema do sofrimento”.

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Juan Manuel de Prada: La Nueva Tiranía.

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Juan Manuel de Prada: La Nueva Tiranía. Libroslibres. Madrid. 2009.  350 págs.

Coleção de artigos publicados principalmente em ABC e em XL Semanal, onde o autor exprime-se à vontade, sem nenhuma classe de eufemismo. O estilo é direto, jornalístico, às vezes excessivamente saturado de epítetos –o que mostra o caráter apaixonado de Prada- e permeado de divertidos traços  de casticismo hispânico.  Vai direto ao ponto que lhe interessa e dá o recado de modo claro.

As críticas mordazes e destruidoras à esquerda espanhola de hoje (PSOE e todos os sucedâneos), sem poupar a direita medíocre e sem propostas. As raízes cristãs e católicas colocadas sem tapumes, com interessantes crônicas dos dias Romanos que rodearam a morte de João Paulo II, onde o autor desempenhava a função de correspondente no Vaticano. Suas raízes familiares, as saudades do cinema de sempre, os autores e personagens que marcaram sua formação, e as considerações que ele mesmo faz do Evangelho e da Doutrina Cristã, tudo escrito num estilo desenfadado, claro, contundente e ameno.

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Mercedes Salisachs. Desde la dimensión intermedia.

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Mercedes Salisachs. Desde la dimensión intermedia. Ed. BSA. Barcelona. 2006. 453 págs.

Excelente romance da veterana MS, com força narrativa, prende a atenção. Um verdadeiro exame de consciência, desde a dimensão intermédia, das coisas que valem a pena na vida, e das que são simples miragens. Sem medo de mostrar a condição humana, sem camuflagem, mas com elegância e estilo. Um bom investimento do tempo

Jonathan Littell: “As Benevolentes”.

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Jonathan Littell: “As Benevolentes”.Alfaguara. Objetiva. Rio de Janeiro. 2006.

Memórias de Maxiliam Aue, oficial da SS, narradas pelo autor que é judeu. Ele mesmo declara que teria sido incapaz de descrever os horrores atribuídos aos nazistas desde uma perspectiva neutra; era necessário colocar-se no papel do carrasco, e assim o faz.

Os dados são abundantes e fruto de uma longa pesquisa do autor. As personagens –provavelmente muitas delas- são reais. O cerco de Stalingrado, as matanças de bolcheviques e alemães, os campos de concentração com a eliminação de milhões de judeus, o bombardeio de Berlim são narrados de modo exaustivo, sem poupar dados, nomes, números.

O protagonista é um homem culto, educado na França, que está identificado com o ideal do nacional socialismo. E chama a atenção, como um homem com essa cultura, e que alberga sentimentos para com o próximo, tem uma vida pessoal completamente desequilibrada. O comedimento que apresenta diante dos excessos contínuos de violência dos seus colegas, é apenas um modo de resguardar-se. Os impulsos –e ações- homossexuais, os desejos reiterados de incesto, o desequilíbrio emotivo que lhe faz sofrer contrastam com o perfil de um homem educado, de ampla cultura. As descrições de mau gosto –incluídos os sonhos patéticos do protagonista- não são poupadas ao longo das quase 900 páginas. 

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AS PONTES DE MADISON

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(The Bridges of Madison County). Diretor: Clint Eastwood. Clint Eastwood, Meryl Streep, Annie Carley. USA 1995. 131 min

Hoje, finalmente, vi “As pontes de Madison”. Pairavam dúvidas nos comentários desencontrados que foram chegando nos últimos dias. Uma indicação precisa, mas com fios soltos. Uma aprovação desbotada, com certo ar de mistério. Havia que encontrar um espaço, no fim da tarde, para assistir.

            Começo sóbrio, até trivial. Por enquanto um baú, cadernos de memórias. Parece filme feito para televisão. Que alívio: um flashback, ainda bem. Como serão essas pontes? Mas as pontes não aparecem; apenas uma cozinha, uma fazenda no interior do Iowa, e uma quarentona de andar maduro, e -assim me parece- até um pouco torto. Uma rádio de válvulas sintoniza a emissora – talvez a única-, que transmite ópera. Ouve-se “Casta Diva”. É a ária de Norma, sacerdotisa dos druidas, que, infiel ao seu voto de virgindade aos deuses, teve um caso com um romano invasor. Dois filhos. Agora canta a pureza da lua. A música de Bellini emociona. O clímax está armado.

            As pontes cobertas de Madison County são simples pontes. Com todo o respeito da National Geographic, nada fora do comum. A fotografia do filme é adequada, e o cenário não possui nenhum encanto peculiar. Uma armação mínima para a entrada em cena das personagens: a quarentona e o fotógrafo, que já passou, folgado, dos cinquenta. O filme bem poderia chamar-se “Francesca” porque ela é tudo. Tudo com maiúscula. A mulher que cozinha molho de macarrão, anda sem cadência, e ouve ópera. Meryl Streep é Francesca. No mano a mano, Clint Eastwood, que fotografa pontes e dirige o filme, contracena sobriamente, faz de espelho, emoldura talvez, o desempenho fabuloso da atriz que supera qualquer crítica. Os dois, e, principalmente ela, Francesca, fazem nos sentir na cozinha de Iowa, com cenoura ralada, como num restaurante de Paris.

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