Medicina de Família: Ciência e Arte com Metodologia Acadêmica

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Uma simples pergunta

O que faz um médico de família? Ao que se dedica? Qual é o seu papel? Esta pergunta é a seqüência quase obrigatória quando o interlocutor responde a primeira e aparentemente inocente questão: Você é médico! Qual a sua especialidade? A resposta –sou médico de família- dispara a segunda pergunta, acima enunciada, e com ela inicia-se todo um processo que pode levar horas de explicações, surpresas, desentendimentos, fascinação ou desprezo. A personagem interrogada neste diálogo, pode ser um médico, geralmente jovem, no início da vida profissional;.ou, cada vez com mais freqüência, um estudante que também deverá explicar ao seu curioso inquiridor os motivos pelos quais decidiu enveredar por estes caminhos da medicina de família durante a sua formação acadêmica universitária.

Em artigo publicado na Revista Médica da Universidade de Kansas1, o Dr. Joshua Freeman, Professor Titular do Departamento de Medicina de Família explica o que ele, como médico de família, costuma fazer: “Vejo as pessoas, escuto-as, falo com elas, tento descobrir quais são os seus problemas de saúde, procuro auxiliar com todo e qualquer conhecimento que possuo para, junto com eles, estabelecermos objetivos conjuntos a conseguir e depois tento ajudá-los a alcançar estas metas”. O artigo-reportagem leva por título a sugestiva manchete: “A essência da medicina de família não muda. Após três décadas esta disciplina continua definindo sua identidade por meio do vínculo entre médicos e pacientes”. Dificilmente se pode expressar o papel do médico de família de modo tão amplo e abrangente, sendo ao mesmo tempo extremamente metodológico e objetivo, como o faz o Dr. Freeman.

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AS CONFISSÕES DE SCHMIDT

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AS CONFISSÕES DE SCHMIDT (About Schmidt). Diretor: Alexander Payne. Jack Nicholson, Hope Davis, Katy Bathes. 124 min.

Cada filme tem o seu público. Alguns, propositadamete ou não, tem um alvo claro. Já dizia Kant que não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos. Cada um ve a realidade do seu jeito, e lhe atinge de acordo com o local onde lhe aperta o sapato. Quando cito esse pensamento de Kant nas minhas aulas, costumo complementar o raciocíonio com uma breve poesia de Fernando  Pessoa que surpreendi na escrita na parede do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, junto do restaurante do segundo andar. Diz: “A vida é o que fazemos dela/ As viagens são os viajantes/ O que vemos não é o que vemos/ Senão o  que somos” É o mesmo que afirmava o filósofo alemão, de modo mais poético. Vemos o que somos, digerimos a realidade de acordo com a nossa sensibilidade que governa a percepção.

            Se dizer que as viagens são os viajantes –dependendo com quem se viaja, o resultado é completamente diferente- , é algo sobre o que estamos todos de acordo, e não merece maiores comentários, já o pensamento de que a vida é o que fazemos dela encaixa perfeitamente com o filme sobre Schmidt e, esse sim, tem provocado crises. O público do filme, quando beira a idade do protagonista, soberbamente interpretado por Jack Nicholson, entra em resonância com as reflexões colocadas em cima do tapete. E quando a audiência é jóvem, bastam alguns comentários simultâneos para obrigar a todos a pensar.

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A Medicina de Família: um Caminho para Humanizar a Medicina

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O Humanismo volta a estar na moda, ou pelo menos na boca de muitos. E se os que falam estão de algum modo congregados na área da assistência à saúde, o comum denominador das queixas, e dos desejos de melhora, acaba sendo a humanização, quer dizer, a falta da mesma. Reclama-se maior humanização na saúde, na medicina. Uma reclamação que se assemelha ao desejo imperioso de respirar ar puro após estar encerrado num ambiente enrarecido. Ou como a curiosa sensação, metade dor, metade vazio, com que o estômago clama por alimento. Algo semelhante ao que dizia o filósofo Ortega y Gasset, referindo-se à invocação pela ética ausente, que é outra reivindicação atual: é como a dor que sente o membro fantasma, aquele que foi amputado e não existe mais. Reclamação e desejo comum, de algo que falta sem se saber exatamente o que é, ou como se adquire. São sinais do nosso tempo, órfão de conceitos, saturado de emoções difusas, parestésicas, de difícil localização. Sente-se a ausência de algo, não se sabe exatamente o que falta, e muito menos se conhece o caminho que nos pode levar a sarar essa deficiência. Por isso, se pretendemos aprofundar no tema, não teremos mais remédio que iniciar-nos numa série de reflexões, aparentemente simples, mas de vital importância para delimitar o tema de que estamos falando.

Devemos nos perguntar, em primeiro lugar, o que é seja humanismo, e qual a relação que, nós médicos, temos com semelhante conceito. A seguir, se de verdade comprovamos que o humanismo é necessário para o bom andamento da medicina, teríamos que nos interrogar sobre como isto se encaixa dentro do nosso universo; em outras palavras, o que teria de ser humanizado, ou pelo menos, reconstruído e repensado desde a perspectiva do humanismo. Finalmente, qual o papel que a Medicina de Família tem em todo este processo de humanização.

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UMA LIÇÃO DE AMOR

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 (I am Sam) Diretor:  Jessie Nelson. Sean Penn, Michelle Pfeiffer, Laura Dern. 132 min. USA 2001.

É mesmo de amor a lição que Sam, um oligofrênico com idade mental de sete anos nos transmite nas duas horas de filme. Uma feliz tradução do título original já que Sam entende apenas de Beatles e de amor. Um amor sólido, comprometido e forte que educa, e faz crescer a filha que, provavelmente por acidente, acabou tendo de uma mãe que com rápido egoísmo se desentende de ambas as criaturas. A menina alcança em idade o limite de compreensão mental que o pai possui e o Estado, ciumento aplicador de leis, entende que Sam não terá capacidade para educar a filha que vai cumprir os 8 anos. Tudo muito lógico, faz sentido, se pensamos nos problemas ordinários que a educação traz para os pais, e os desafios que deverão enfrentar.  Afinal, como alguém que não vai além de um raciocínio próprio de uma criança de sete anos será capaz de educar uma adolescente?

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A HISTORIA DE NÓS DOIS: CONSTRUINDO UMA FAMÍLIA

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(The history of us). Diretor: Rob Reiner. Bruce Willis, Michelle Pfeiffer. 98 min.

A vida é cheia de problemas e eventualidades. Ou melhor, os problemas e dificuldades são parte da vida. Demoramos em entender –não na teoria, mas vitalmente- esta simples questão. E do modo como nos situamos defronte às contrariedades, nos construímos ou nos esfacelamos. “A vida é terra/ e vive-la é lodo” – diz Fernando Pessoa. O que em livre interpretação significa que a teoria –a terra- nos suja, nos meleca, quando a colocamos em prática. Mas o poeta nos dá pistas para navegar no meio desse lodo vital, e continua: “Tudo é maneira, diferença ou modo. Em tudo quanto faças se só tu. Em tudo quanto faças se tu todo”.  A solução está em como se encara a vida, e não em almejar uma vida sem problemas, que é como um círculo quadrado: uma miragem.

            Os atritos familiares e as discussões são pedaços da vida. Pretender construir uma família sem problemas levaria ao campo da ilusão, fugiria da realidade. Com seu monumental bom senso, Chesterton dizia que “querer liberar o camelo da sua corcova, seria liberá-lo de ser camelo”. As dificuldades de entendimento de uma família são uma realidade necessária do convívio entre pessoas limitadas, que possuem virtudes e defeitos, e que na superação dos desentendimentos com o amor –com a diferença, a maneira e o modo como se encaram- se constroem solidamente.

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O OITAVO DIA

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(Le huitième jour) Diretor: Jaco Van Dormael.  Daniel Autauil, Pasqual Duquemne, Miou-Miou, Henri Garcin. França 1996 114 min.

A imprensa noticiou que um ator com Síndrome de Down tinha ganhado a palma de ouro de Cannes. O seu parceiro no filme atreveu-se a dizer que Pasqual Duquemne era uma espécie de Marlon Brando dos mongoloides. Não era necessário mais nada para criar uma expectativa singular diante de um filme que demorou em chegar ao mercado do vídeo.

            Assisti “O oitavo dia” na volta das férias. Gostei. Desfrutei, pois gostar é pouco -quase vulgar- para definir a sensação de algo que nos carrega, e se adianta aos nossos desejos, envolvendo-nos em clima de perfeita sintonia. É como essas músicas cativantes que, de início, mexem com nossos pés, convidando-os a acompanhar o ritmo timidamente; dos pés se passa para o balanço da cabeça, das mãos, do corpo, que, já sem vergonha,  entra no embalo fundindo-se com a melodia. Uma sensação de bom sabor de boca -no paladar da alma- permanece quando o filme acaba; e perdura, em serena quietude. Imagino que deve ser como quando Deus criou Georges, no oitavo dia, e viu que era bom.

            A inércia das férias e a avalanche de emoções me fizeram demorar em escrever. Noto como uma resistência a trazer para o papel -em expressões insuficientes, sempre desbotadas- aquilo que simplesmente é bom. Assim mesmo: bom; nada mais, e também nada menos. Não sem motivo os clássicos incluíam a bondade entre os atributos do ser; os transcendentais, diziam. E, falar do bem, que é falar do ser, é sempre complicado para nós pobres mortais que somente conseguimos enxergá-lo por partes, fruto da miopia da nossa limitação. Mas o bem é difusivo, expande-se aos que temos à nossa volta, reclama seu poder transitivo. Por isso não resta se não vencer a preguiça, subtilmente encoberta em inquisições filosóficas, e passar o recado.  Abrir o coração e deixar fluir a bondade para que os outros possam também beneficiar-se dela.

            Vem à memória o comentário, trazido e levado com os amigos que amam a vida, e a arte fílmica -que é a vida concentrada no celuloide- que o cinema recorre, nestes tempos de paquiderme espiritual, a crianças, loucos, e pessoas peculiares para transmitir os valores de modo politicamente correto. Assim ninguém se ofende, pois a criança, o louco, o excepcional são seres “de outro mundo”. Um mundo, por sinal, fantástico, que causa inveja e desperta em nós vontades de melhora. Mas andamos muito ocupados com as formas, as sistemáticas, a produtividade – o sucesso!- para termos coragem de comprar uma briga de ideais, briga conosco mesmos e não com as estruturas. Respiramos um tédio que nos enjoa, como as torradas que pulam, pontualmente, as 07h30min AM prontas para um café fast-food, largada para uma jornada saturada de vazios. É preciso mostrar as realidades em versão caricaturesca para chamar a atenção do espectador médio, condicionado com estímulos fortes, insensível ao sugestivo, ao delicado, à borboleta que é flor que aprendeu a voar. Tragamos, pois, os mongoloides para que nos ensinem sobre a vida; ou, pelo menos, nos ajudem a repensá-la.

            Isto se é que podemos chamar vida ao desenrolar biológico que muitos vivem, em permanente passividade. Ortega já advertia sobre este equívoco elementar quando aponta que costumamos chamar viver a sentir-se empurrados pelas coisas ao invés de conduzir-se pela própria mão, com o uso da liberdade, num querer decisivo e vital. Mas o problema é que muitos homens querem em sentido econômico, resvalando de um objeto para outro sem ter o valor de exigir-se uma meta. Uma vontade enferrujada pela falta de uso, que cedeu ao sentimento e ao prazer toda hegemonia de governo. “Quando todo o nosso ser -diz Ortega- quer algo, sem reservas, sem temor, integralmente, cumprimos com o nosso dever, porque é o maior dever a fidelidade a nós mesmos”. Fidelidade a ideais que a vontade estabeleceu em desafio de perfeição, de projeto de vida. A vontade enfraquecida não consegue penetrar as porosidades do egoísmo que torna o homem impermeável ao amor, que é sempre alegria com dor, benefício e doação, aventura de gozos, de sangue e lágrimas.

            As canções mexicanas de Luis Mariano emolduram os gestos de Georges, que acompanha a melodia com alma delicada enquanto desafina ostensivamente na música. É como um grito que clama pelo profundo do ser humano, que faz troça das formas – essas que a sociedade julga perfeitas, na epidemia de frivolidade que nos rodeia. Cultuamos os exteriores, fabricados com um visual de grifes, melecados em perfume de marca, que nos impõem meia dúzia de “prima-donas” da superficialidade. São os heróis da moda, os modelos que cantam afinadamente, com sorriso de plástico, mas que carecem da virtude que faz vibrar as cordas do espírito. Uma autêntica afonia da alma.

            Georges é um canto ao amor, à compreensão, ao resgate do ser humano das violências e egoísmos. Um desajustado que encanta e semeia carinho com a naturalidade de quem vive para os outros, e dos outros mendiga um amor que não sabem dar… porque nunca deram nada. “Você é o maior presente que tive na vida”: é a mãe de Georges, âncora dos seus sonhos e dos nossos anseios, que em aparições precisas esbofeteia com seu amor maciço nossa sociedade que, egoísta e superficial teima em querer ser eugênica, seletiva, sim, elitista. E isso quando precisamos mais do que nunca dos deficientes, dos carentes, dos necessitados para desentocar-nos do conforto repugnante do individualismo. Precisamos deles de modo permanente, junto de nós, como marca passo que faça bater nosso coração em sintonia com as indigências alheias.

            Não basta o tilintar de moedas no farol, as campanhas institucionais, a esmola que nos livra da visão incômoda que bate na nossa porta. A miséria nos molesta, aperta nossa consciência e até nos pode lembrar do pouco que fizemos para desempenhar um papel mais confortável neste cenário que é o mundo. Mas a memória da filantropia é curta, e facilmente abafamos os apelos que nos dirige a penúria alheia. Duradouras são as solicitações constantes de carinho, de cuidado e desvelo que nos dirigem os seres que nos rodeiam. Reclamam de nós tempo, paciência, compreensão. Um olhar, um sorriso, um interlocutor que escute, um ombro para chorar. Fazer que os que vivem à nossa volta se sintam amados é tarefa que ocupa a vida toda, que sangra nossas energias depurando-as do amor próprio. Um desafio no qual se empenha a vida, acessível a qualquer um, muito mais comprometedor que a gorjeta ou o cheque polpudo, onde toda a dedicação se esgota no débito na conta corrente.

Esse é o ensinamento, necessário, que nos traz a doença, a limitação, a deficiência que se encarna naquele que partilha conosco a sua existência, corporalmente mutilada, mas em plenitude de alma. Por que essa vontade doentia de se livrar dos deficientes, advogando hipocritamente pela pouca qualidade da sua vida? Não será que é a nossa vida a que queremos defender, em qualidade total, livrando-nos do incômodo lembrete das reclamações permanentes de carinho?

            “Mãe, este mundo não é para mim. Ninguém me entende. Não há amor. Eu sou diferente”. “Você é diferente, Georges; você é melhor”. Assistimos os diálogos -sonhos, realidades, toadas mexicanas em francês- com um nó na garganta, que os toques cômicos do protagonista afrouxa, mas não desfaz, pronto a se esticar de novo, mal pensemos no dilema que se debate. E constatamos já convencidos de que o mundo não está preparado -triste despreparo fabricado pela avareza do espírito- para as lições de Georges, que transbordam sabedoria. Consola a irmã, injeta vontade de viver no executivo frustrado, arranca o sorriso das crianças, e nos faz acreditar na bondade humana; lições que ministra com sua única arma, o amor, que supre amplamente as deficiências da doença. Quantos, com os cromossomos certos e bem colocados, são incapazes de chegar perto desta epopeia

de carinho? O cuidador acaba sendo cuidado, o complicado se simplifica, o sorriso conquista e desmonta a mesquinhez.

            “O oitavo dia” é tudo isto, e mais, muito mais, pois as lições não acabam nunca e se desdobram ao compasso das próprias vivências; a arte se mistura com a vida, dando-lhe novas perspectivas. E nessas considerações, íntimas já, pois houve tempo de fazer uma boa amizade com Georges, temos a coragem de lhe perguntar: “É assim também quando nos sentimos incompreendidos, quando percebemos que o mundo -este mundo louco e definitivamente egoísta- não é o nosso? E quando nossos ideais, nossas brigas, nossos sonhos parecem ser carta fora do baralho, e nos olham como seres de outro planeta? O que fazer então, Georges?” Georges não responde; sobe no seu cavalo e lidera a cavalgada pelas estepes da Mongólia, à frente dos seus homens. Para, olha para nós e sorri como dizendo: “Vem conosco descobrir a aventura da vida”. Uma vida que tem o sabor épico de grandeza quando a alma tem como única fronteira o horizonte do amor.

FAMILIA E VOCAÇÃO PROFISSIONAL: VARIAÇÕES PROCURANDO CAMINHOS DE COMPREENSÃO

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CEU DE OUTUBRO

(October Sky) Dir: Joe Jonhston. Jake Gyllenhall, Chris Cooper, Laura Dern, Chris Owen. 128 min. 1999.


BILLY ELLIOT – QUERO DANÇAR

(Billy Elliot) Dir: Stephen Daldry. Julie Walters, Jamie Bell, Jamie Droven, Gary Lewis. 110 min.

    “Não faz mal que dediques o teu tempo livre a montar foguetes, se isso te faz feliz… sempre que tomes cuidado. Afinal, há hobbies bem piores. Mas, faltar ao trabalho isso é outra questão. Já sabes quanto me orgulha que trabalhes comigo. Você vai ser mineiro como seu pai”. Veredicto final, silêncio, entra a música, e o garoto responde: “A mina de carvão é a tua vida, não a minha. Nunca mais entrarei nesse buraco. Eu quero viajar no espaço”.

            Está situado o núcleo do filme e, mais importante, da questão. De quem é a vida dos filhos? Deles ou dos pais? Problemática antiga, de sempre, com variações acordes com os tempos e as oportunidades profissionais, mas que permanece idêntica na sua essência. É condição humana que os formadores –pais, professores, preceptores- pensemos que sabemos o que realmente convém aos jovens que nos foram confiados. Afinal, o esforço por criá-los, as dificuldades que enfrentamos de contínuo, nos fazem amadurecer e ponderar, com imensa sensatez, os prós e contras das opções que a vida coloca como desafios. Conhecemos muito bem o que fazemos, temos experiência. Nada mais lógico que pretender que aqueles que formamos e amamos aproveitem dela, ganhem tempo, sejam poupados de incômodos que nós tivemos de enfrentar. “Não quero que meu filho passe pelo que eu passei…”. Quem não ouviu –e ouve, a toda hora- essa exclamação como símbolo do amor paterno?

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LADO A LADO: A mãe nos alicerces da família.

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(Stepmon) Diretor: Chris Columbus. Susan Sarandon, Julia Roberts, Ed Harris, Liam Aiken, Jena Malone.  124 min.

Em certa ocasião, um amigo me confidenciou que estava preocupado com os filhos. Nada de especial, uma preocupação “preventiva”, mas sentia que tinha de fazer algo. “Veja bem… Meus filhos comentaram estes dias com a mãe, não sem certa perplexidade, acerca do ambiente do colégio. Parece que os colegas da escola –bastantes deles- falam do ‘namorado da minha mãe’ ou da ‘namorada do meu pai’ com a mesma naturalidade com que a gente pede batatas fritas para acompanhar o hambúrguer do McDonald.” Silêncio. “E o que você pretende fazer? Explicar a diferença entre namorada e amante? Ler a cartilha da família bem constituída?” Meu amigo balanço  negativamente a cabeça: “Isso eles já sabem…,Mas tenho que fazer alguma coisa, ouvi-los talvez, entender suas dúvidas. Será que eles pensam que uma família normal, como a nossa, é algo em extinção?”. Recomendei-lhe algo pouco convencional, ou pelo menos assim me pareceu no momento, mas confesso que foi a melhor ideia que me veio à cabeça: “Peça uma pizza, alugue um filme….e depois de assistir todos em família, escute-os”. “Mas,  que filme? ” –perguntou o meu amigo. “ Lado a lado acho que pode funcionar”.  E, pelo que dias depois me comentou, funcionou mesmo. Já passaram alguns anos desde essa conversa, mas sempre que penso neste filme revivo o diálogo com sensação de atualidade.

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O Patriota

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(The Patriot) 2000. Diretor: Roland Emmerich. Mel Gibson, Heath Ledger, Joely Richardson. 160 min. http://www.imdb.com/title/tt0187393/

Lembro muito bem do lançamento do filme. Foi na virada do milênio, na real e não na fictícia comemorada um ano antes. Isso por aquilo de que o ano zero nunca existiu, e o milênio virou no final de 2000. Um aluno –hoje médico e colaborador nas empreitadas educacionais, que muito tem de aventura e de sonho- comentou-me: “precisamos ver esse filme, todos juntos”. Á minha cara de interrogação, seguiu-se a explicação imediata: “Sim, é para que as pessoas aprendam como se carrega uma bandeira”. Confesso que fui assistir ao filme com esse comentário girando na minha cabeça e querendo descobrir o que seria esse “carregar a bandeira”.

São quase três horas de aventuras bélicas, dúvidas e decisões, batalhas e gritos rasgados de independência que se misturam com o sangue, as tragédias familiares, os apelos ao heroísmo, enfim, um verdadeiro épico, como os de antigamente. “Onde está a bandeira, a que temos que aprender a carregar?” – perguntava-me eu enquanto desfrutava do filme.

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