Parker J. Palmer: The Courage to Teach: Guide for Reflection and Renewal

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Jossey-Bass. Wiley and sons Inc. S. Francisco, 2007. 180 pgs/ DVD 70 min.

     De tanto promover e falar, em aulas e congressos, de um livro que muito agregou à minha tarefa de professor e já comentado neste espaço, vim recolher um importante fruto. Um colega, amigo e assistente às minhas reuniões de formação de professores, apareceu numa delas com este livro. É a continuidade do anterior; ou melhor, uma lente amplificadora das importantíssimas questões colocadas pelo autor em obras precedentes, e também de modo sistemático no Centro de educação que ele fundou e dirige (http://www.couragerenewal.org/).

Esta guia –assim denomina o autor a sua obra- é o mapa para a viagem que conduz à intimidade do professor. Uma viagem que mergulha no silêncio e na reflexão dos que se sabem chamados vocacionalmente a ensinar. Não é um livro de pedagogia, nem sobre processos educacionais. É uma análise profunda –uma verdadeira dissecção- do sujeito docente, do professor. Este é o principal recado que o autor repete –por escrito, e nas entrevistas recolhidas no DVD que acompanha o livro-, e que se poderia sintetizar no seguinte pensamento: “Quase todos se perguntam o que têm de ensinar (conteúdos); alguns pensam em como fazê-lo (técnicas) e a quem devem ensinar (público); mas poucos alcançam a questão chave: quem está ensinando? Porque, afinal, ensinamos o que somos”. Educar vai muito além dos conteúdos, ou das técnicas, depende radicalmente de quem está ensinando, e de como cuidamos dele – quer dizer, de nós mesmos professores. “A técnica é o que se utiliza até que aparece o verdadeiro professor: um simples esquentamento”. Essa questão primordial está reforçada na primeira parte do livro, resumindo e enfatizando os temas abordados no livro mãe, publicado dez anos antes.

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Terra das sombras

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(Shadowlands) Diretor: Richard Attenborough. Anthony Hopkins, Debra Winger. Inglaterra 1994. 130 min.

O relacionamento de C.S. Lewis, professor de Oxford, solteirão intelectual, com a poetisa americana, Joy Gresham, de origem judia e convertida ao cristianismo, em parte pelas obras de Lewis, nos brinda um filme encantador, uma jóia cinematográfica apresentada com excelente bom gosto. Os l30 minutos da produção transcorrem sem cansar, como delicada melodia onde a plasticidade das imagens, belíssimas, se continua com a poesia de fundo e com o realismo das personagens, humanas, próximas do espectador.

“Terra das sombras” é a nossa terra, a nossa vida: sombras e luz, em contraste vital, de sofrimento, alegrias e amor. Tudo é compatível como também o são as luzes e sombras de uma pintura ou da fotografia artística. “Deus nos fala baixinho nos prazeres, conversa na nossa consciência, mas nos grita nas nossas dores; o sofrimento é o megafone de Deus para despertar um mundo adormecido”. Uma história de solidariedade humana, de compaixão -padecer com alguém- de amor, temperada pelo sofrimento, ingrediente necessário na vida. “Querer excluir a possibilidade do sofrimento que a ordem da natureza e a existência do livre arbítrio envolvem, é excluir a própria vida”, nos diz Lewis em “O problema do sofrimento”.

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Juan Manuel de Prada: La Nueva Tiranía.

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Juan Manuel de Prada: La Nueva Tiranía. Libroslibres. Madrid. 2009.  350 págs.

Coleção de artigos publicados principalmente em ABC e em XL Semanal, onde o autor exprime-se à vontade, sem nenhuma classe de eufemismo. O estilo é direto, jornalístico, às vezes excessivamente saturado de epítetos –o que mostra o caráter apaixonado de Prada- e permeado de divertidos traços  de casticismo hispânico.  Vai direto ao ponto que lhe interessa e dá o recado de modo claro.

As críticas mordazes e destruidoras à esquerda espanhola de hoje (PSOE e todos os sucedâneos), sem poupar a direita medíocre e sem propostas. As raízes cristãs e católicas colocadas sem tapumes, com interessantes crônicas dos dias Romanos que rodearam a morte de João Paulo II, onde o autor desempenhava a função de correspondente no Vaticano. Suas raízes familiares, as saudades do cinema de sempre, os autores e personagens que marcaram sua formação, e as considerações que ele mesmo faz do Evangelho e da Doutrina Cristã, tudo escrito num estilo desenfadado, claro, contundente e ameno.

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Mercedes Salisachs. Desde la dimensión intermedia.

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Mercedes Salisachs. Desde la dimensión intermedia. Ed. BSA. Barcelona. 2006. 453 págs.

Excelente romance da veterana MS, com força narrativa, prende a atenção. Um verdadeiro exame de consciência, desde a dimensão intermédia, das coisas que valem a pena na vida, e das que são simples miragens. Sem medo de mostrar a condição humana, sem camuflagem, mas com elegância e estilo. Um bom investimento do tempo

Jonathan Littell: “As Benevolentes”.

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Jonathan Littell: “As Benevolentes”.Alfaguara. Objetiva. Rio de Janeiro. 2006.

Memórias de Maxiliam Aue, oficial da SS, narradas pelo autor que é judeu. Ele mesmo declara que teria sido incapaz de descrever os horrores atribuídos aos nazistas desde uma perspectiva neutra; era necessário colocar-se no papel do carrasco, e assim o faz.

Os dados são abundantes e fruto de uma longa pesquisa do autor. As personagens –provavelmente muitas delas- são reais. O cerco de Stalingrado, as matanças de bolcheviques e alemães, os campos de concentração com a eliminação de milhões de judeus, o bombardeio de Berlim são narrados de modo exaustivo, sem poupar dados, nomes, números.

O protagonista é um homem culto, educado na França, que está identificado com o ideal do nacional socialismo. E chama a atenção, como um homem com essa cultura, e que alberga sentimentos para com o próximo, tem uma vida pessoal completamente desequilibrada. O comedimento que apresenta diante dos excessos contínuos de violência dos seus colegas, é apenas um modo de resguardar-se. Os impulsos –e ações- homossexuais, os desejos reiterados de incesto, o desequilíbrio emotivo que lhe faz sofrer contrastam com o perfil de um homem educado, de ampla cultura. As descrições de mau gosto –incluídos os sonhos patéticos do protagonista- não são poupadas ao longo das quase 900 páginas. 

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AS PONTES DE MADISON

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(The Bridges of Madison County). Diretor: Clint Eastwood. Clint Eastwood, Meryl Streep, Annie Carley. USA 1995. 131 min

Hoje, finalmente, vi “As pontes de Madison”. Pairavam dúvidas nos comentários desencontrados que foram chegando nos últimos dias. Uma indicação precisa, mas com fios soltos. Uma aprovação desbotada, com certo ar de mistério. Havia que encontrar um espaço, no fim da tarde, para assistir.

            Começo sóbrio, até trivial. Por enquanto um baú, cadernos de memórias. Parece filme feito para televisão. Que alívio: um flashback, ainda bem. Como serão essas pontes? Mas as pontes não aparecem; apenas uma cozinha, uma fazenda no interior do Iowa, e uma quarentona de andar maduro, e -assim me parece- até um pouco torto. Uma rádio de válvulas sintoniza a emissora – talvez a única-, que transmite ópera. Ouve-se “Casta Diva”. É a ária de Norma, sacerdotisa dos druidas, que, infiel ao seu voto de virgindade aos deuses, teve um caso com um romano invasor. Dois filhos. Agora canta a pureza da lua. A música de Bellini emociona. O clímax está armado.

            As pontes cobertas de Madison County são simples pontes. Com todo o respeito da National Geographic, nada fora do comum. A fotografia do filme é adequada, e o cenário não possui nenhum encanto peculiar. Uma armação mínima para a entrada em cena das personagens: a quarentona e o fotógrafo, que já passou, folgado, dos cinquenta. O filme bem poderia chamar-se “Francesca” porque ela é tudo. Tudo com maiúscula. A mulher que cozinha molho de macarrão, anda sem cadência, e ouve ópera. Meryl Streep é Francesca. No mano a mano, Clint Eastwood, que fotografa pontes e dirige o filme, contracena sobriamente, faz de espelho, emoldura talvez, o desempenho fabuloso da atriz que supera qualquer crítica. Os dois, e, principalmente ela, Francesca, fazem nos sentir na cozinha de Iowa, com cenoura ralada, como num restaurante de Paris.

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King Kong: Seus amores a modo de epílogo temporão

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King- Kong. Dir: Peter Jackson. Naomi Watts, Adrien Brody, Jack Black, Andy Serkis. 187m. 2005.

Fui assistir King Kong. Gostei imenso. Na hora não soube dizer por que mas havia algo diferente no olhar do gorila. Algo muito humano, delicado; nestes tempos em que nos empenhamos em “humanizar tudo, inclusive os homens”. Paradoxo curioso. Como diriam os antigos: O tempora, O moris!.

            O livro -um dos vários que escrevi sobre cinema- já estava pronto. Agora nas revisões finais, diagramação, tipografia. Por conta dos artistas gráficos. Mas as idéias não param, nem pedem licença. E o cinema provoca reflexão, nos faz pensar; o tempo todo, e quando menos esperamos lá está ela, nos surpreendendo, a idéia inesperada, que como filho temporão vem alegrar os pais que já aposentavam a paternidade, pensando em ser avós.

            Abro o computador e encontro um email da minha irmã, a professora de filosofia, mãe de família, que educa filhos e alunos com cinema também. Comentários contundentes, que escrevo de cor, ao sabor da lembrança. Dizia algo assim como: “Não vi a primeira versão, a dos anos 30. Mas esta me parece simbólica. Uma tentativa de resgate do verdadeiro feminismo e da masculinidade real, do homem que toda mulher gostaria de ter por perto”. Do homem? –pensei, eu. Mas estamos falando de um gorila. Que homem é esse que se disfarça de gorila e seduz as mulheres? Continuava o email: “Um homem que se bate por ela, defende ela até o final, sonha e vive para ela, e aprende com ela, o tempo todo”. Isto vindo de uma mulher que pensa e ensina sobre feminismo é completamente livre de suspeita. O que veem as mulheres em King Kong, perguntei-me? Vai ver que é o mesmo que eu vi, e senti, e por isso gostei! E, desta surpresa nasceu o presente texto, a modo de um epílogo temporão do livro….que, agora sim, estava terminado.

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Uma segunda chance

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(Regarding Henry) Diretor: Mike Nichols. Harrison Ford, Annette Bening. USA 1991. 107 min.

Regarding henryMergulhados, como vivemos, num cinema de paixões e violência, respiramos aliviados quando a imprensa notifica o aparecimento de um filme “romântico, como os de antigamente”. E sem ligar para toda essa “água com açúcar” que a crítica – intelectual, adulta, etc.- nos despeja, vamos à procura do filme.

Lá deve estar perdido, empoeirado, nas prateleiras da locadora mais próxima. Esse era o meu ingênuo pensar quando fui atrás de “Uma segunda chance”. Não está? Mas, como é possível? Nenhuma das cinco cópias? E não estava mesmo. Foi preciso cinco semanas e várias tentativas -sem êxito- de reserva para, finalmente ontem, pegar da mão de um usuário, a fita que estava devolvendo. Por que tanta dificuldade tratando-se de um filme doce, sem pretensões? Água, açúcar…… A turma gosta mesmo é de bala, pensei. E me instalei na frente do vídeo, disposto a desvendar o mistério.

Harrison Ford, o ator de moda. Lá está ele. Uma bala no cérebro. Beirando a morte, a lenta recuperação. E as surpresas. Não vou contá-las, perderia força. Toda uma filosofia da conversão, envolvida em celuloide: a metodologia da mudança. Um reflexo oculto daquilo que muitos desejariam, nem que fosse às custas de uma bala no lobo frontal. Isso é o que atrai neste filme de Mike Nichols.

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Dr. Pablo González Blasco entrevistado pela revista Médico Reporter

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Dr Pablo2Apesar da implantação do programa “Saúde da família”, a formação de profissionais especializados na área de medicina da família ainda não é representativa nas universidades brasileiras. Atuando nesse vácuo, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa) procura desenvolver um trabalho de capacitação de profissionais para atender a essa demanda da população, através de cursos e programas de residência médica para recém-formados.

Entrevistado pela revista Médico Repórter, o Dr. Pablo González Blasco, diretor científico da entidade, fala das dificuldades enfrentadas por um médico de família no País e também da relação desse profissional com a população, com a área acadêmica e com as autoridades governamentais. Apesar da implantação do programa “Saúde da família”, a formação de profissionais especializados na área de medicina da família ainda não é representativa nas universidades brasileiras. Atuando nesse vácuo, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa) procura desenvolver um trabalho de capacitação de profissionais para atender a essa demanda da população, através de cursos e programas de residência médica para recém-formados.

Entrevistado pela revista Médico Repórter, o Dr. Pablo González Blasco, diretor científico da entidade, fala das dificuldades enfrentadas por um médico de família no País e também da relação desse profissional com a população, com a área acadêmica e com as autoridades governamentais.

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De los principios científicos para la acción: el idealismo práctico de la medicina de familia

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Medicina de familia es la práctica médica centrada en la persona, no en la enfermedad. El médico de familia es el médico personal, médico de cabecera, como se le llamaba en otras épocas. Tiempos pasados cuando la medicina tenía que ser así o no era medicina. No había entonces otros recursos para atender al paciente, ni tecnología que nos pudiera distraer del enfermo para centrarnos en la molestia. Los tiempos mudan, el progreso técnico evoluciona, pero el espíritu de la medicina de familia permanece. No obstante, ahora se hace necesario explicar —para enseñar y aprender— lo que antes se intuía y se practicaba espontáneamente. La medicina de familia tiene ahora la obligación de volverse explícita, de presentarse como ciencia con las credenciales que le confieren su cuerpo propio de conocimientos, sus métodos y sus líneas de investigación. No basta la intuición o el sentido común. Hay que abrir- se camino para, en versión moderna y actual, promover el protagonismo del paciente frente a la enfermedad. Y en esta misión, sublime, la medicina familiar se engrandece y define su identidad, que es, hoy como siempre, estar al servicio del enfermo, de la persona.

“El médico de familia no es el médico de su estómago, ni de su depresión, ni de su diabetes, ni de su artrosis. Cuida de todas estas cosas, pero es algo más. Es… su médico.” Esta sencilla frase con la que nos colocamos a disposición de nuestros pacientes es tal vez la definición más clara de lo que somos y de lo que hacemos. Algo que el paciente entiende a la primera, que busca con más o menos conciencia, que necesita y de lo que se resiente cuando le falta, sin que le sirva de consuelo la técnica más moderna o el creciente progreso médico.

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