LANCES INOCENTES- EM BUSCA DE BOBBY FISCHER
(Innocent moves – Searching for Bobby Fischer). Diretor: Steven Zaillian. Max Pomerance, Joe Mantegna, Ben Kingsley. USA 1993. 110 min.
A vida é uma sequência de eventos maravilhosos, autêntica aventura, e não apenas sucessão de coincidências. Embora não passe disso para quem carece, no seu íntimo, do líquido revelador que decodifica os acontecimentos, extraindo dos negativos a beleza das imagens e a lógica que as une. Sucede como com as enzimas digestivas, e valha o prosaico do exemplo. De nada adianta ingerir aquela substância se não se possuem as enzimas que permitem absorvê-la. À sensação de plenitude, enchimento físico segue-se o desconforto que precede o esvaziamento violento e incômodo dos alimentos ingeridos.
Assim passam muitos pela vida, sem nada aproveitar, sem nutrir-se das riquezas que as vivências trazem consigo, por serem incapazes de digeri-las. E assim passam muitos filmes, saturados de nutrientes, de valores, pela existência dos espectadores: entram pelos olhos, preenchem o tempo, e vão-se embora sem tocar o coração e a alma, deixando apenas uma camada epidérmica de tênue sensibilidade, fruto da visão superficial que se tem da própria vida. Quando muito, um par de lágrimas que secam com o primeiro vento da rotina diária.
Com espírito de aventura, não de coincidências, assisti Lances Inocentes. E logo de cara notei que qualquer elemento se converte em ótima ocasião para transmitir valores. A trajetória do pequeno Josh, portento do xadrez com 7 anos, nos campeonatos e no ranking são uma desculpa elegante para nos transmitir recados de virtudes, das quais o mundo de hoje está tão carente. E o faz de modo arrojado, embrenhando-se em terreno peculiar como é o mundo do xadrez, universo mágico e fechado a todos aqueles que não cultivam esta arte, às vezes até doentiamente. Porque o xadrez é arte, em palavras de uma das personagens, não é simples jogo nem ciência. Arte como a de Bobby Fischer, que é o paradigma de todo o filme, o vácuo no qual caminha o pequeno protagonista.
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