SEGREDOS E MENTIRAS
(Secrets and lies) Diretor: Mike Leigh. Timothy Spall, Brenda Belthyn, Marianne Jean
Baptiste.Inglaterra 1996. 141 min.

Prêmio do festival de Cannes 96, e concorrente ao Oscar de melhor filme esta produção inglesa nos lembra algo que é sabido: a vida não é um mar de rosas. E o faz de um modo duro, sem poupar incômodos, embrenhando-se pelas asperezas da existência de cinco criaturas que se repartem o filme. Atuação impecável de todos, credibilidade dos papeis. Seguindo sempre a melhor tradição do cinema inglês, que toma emprestado do teatro a força de interpretação, e com ela a qualidade e a classe.

Cynthia é mãe de Roxana. Relacionamento difícil, engasgo permanente: a mãe ama a filha, que por sua vez não fala com a mãe a quem não perdoa sua própria existência como um acidente de percurso. Cynthia é pura vulnerabilidade, sensibilidade de mulher destratada pelo mundo e pelos homens. Hortence é o outro vértice do triângulo, mais um equívoco da vida à procura de suas raízes, que, naturalmente, conduzem até Cynthia. “Não é possível que eu seja tua mãe. Eu nunca estive com um preto…”. Pausa, vagas lembranças, lágrimas que se misturam com o chá, vergonha que desponta esmagando a mulher. “Não tenho coragem de olhar para você”. O irmão de Cynthia é o fotógrafo que registra cenas de casamento: “As fotos são o mais fácil, querida. O difícil vem depois”. Um lamento saturado de ceticismo, na tentativa de plasmar uma estabilidade em que não se acredita. Não tem filhos; a sua mulher é outra maltratada pela natureza, e, como todos neste filme, com carências enormes de amor.
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