Gregorio Luri: “Mejor Educados”. El arte de educar con sentido común

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Gregorio Luri: “Mejor Educados”. El arte de educar con sentido común. Ariel. Barcelona. 2014. 232 págs..

Eis outro dos livros que estava há tempo na minha estante, e saiu dela por conta de um curso de formação de professores que tive que dar recentemente. Na realidade, é mais um manual ou guia, do que um livro discursivo. Pareceu-me que desmonta muitos tópicos (que ele considera equívocos educacionais), vai direto ao ponto, mas falta-lhe construção e sedução para ir montando essa pedagogia que propõe. Um manual, com dicas práticas, mais do que um tratado elaborado.  Mas nem por isso deixa de dar recados úteis. Elenco os que mais me chamaram a atenção.

O primeiro é uma afirmação clássica, que desconstrói complexos: o de aqueles que vivem presos numa miragem e pensam que o moderno tem mais valor por ser moderno do que por ser bom. A seguir, uma advertência: quando se programam os filhos é preciso assumir as consequências e liberar-se do temor de que uma decisão equivocada condicione fatalmente o desenvolvimento da criança e da sua vida futura. Fala das condições para encarar a paternidade com sucesso: tranquilidade, sensatez e o amor familiar. Ninguém está em melhores condições de educar um filho do que os próprios pais, que devem gerenciar com amor mais do que com recursos técnicos.

E aqui entra o tema da disciplina: “Disciplinar é incorporar algum ensinamento valioso à nossa conduta para poder nos sentir parte de uma comunidade, onde há algo valioso para compartilhar e normas para respeitar. Caráter -objetivo principal da educação- é capacidade de saber estar, de posicionar-se. O castigo mais efetivo é sentir vergonha de ter decepcionado àqueles que te amam”. Educar no caráter e não na fachada: “Reputação é o que os outros pensam de nós, o caráter é o que manifestamos quando ninguém nos está olhando”.

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A Pura Verdade: Estética e cultura, recursos que o nosso tempo necessita

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Diretor: Kenneth Branagh. Kenneth Branagh. Judi Dench. Ian McKellen. All Is True. 2018. 1 h 41 min.

Eis um filme diferente. Ou melhor dizendo, um filme superior, onde o diferente é o comentário com o qual me aproximo dele. Explico.

Os filmes comentados neste espaço são o resultado de uma interação pessoal com a produção cinematográfica, o que eu costumo chamar de uma conversa com o filme. As atitudes, as virtudes, e todo o universo plasmado no cenário, provocam a reflexão que se verte em palavras, nem sempre claras, porque a mente -e o coração- trabalham com maior rapidez do que a lógica da escrita é capaz de acompanhar. Muitas vezes sublinhei que educar com o cinema não é usar dele como fábulas de Esopo o de La Fontaine, onde a pretensão é indicar um modo de conduta, o caminho para adquirir uma atitude virtuosa, ou eliminar um vício. Isso também acontece, mas o primordial é disparar a reflexão. E nessa reflexão é que se gesta o nascimento de uma atitude louvável, de uma postura exemplar.

Recentemente, durante a leitura de um livro de Jane Austen por conta das nossas tertúlias literárias mensais, revi o comentário que fiz anos atrás de uma excelente biografia da escritora, considerara uma das maiores expoentes em língua inglesa depois de Shakespeare. Um parágrafo dessa obra adverte: “Os romances de Austen são romances de cortejo centrados em heroínas, e não manuais de conduta disfarçados de romances”. Algo análogo se me assemelha no cinema: histórias onde as personagens apresentam grandezas e misérias, que nos levam a refletir. Nunca um manual de boas maneiras (ou das más, para evitá-las).

Voltando ao nosso filme, do qual me aproximo desta vez, não em atitude de diálogo, nem mesmo de reflexão. Olho para ele com simples respeito, essa atitude que Ortega definia como a distância afetiva que nos permite ver o conjunto -e a grandeza- das coisas. O respeito –reverence, diz a tradução para o inglês- que Von Hildebrand indica como a primeira das virtudes na sua Art of Living, para reconhecer o Outro! Respeito pela arte, em si, pelo gosto estético que desperta, pelo prazer de, simplesmente assistir. O gatilho que me aproximou da fita foi o comentário de um amigo que apenas sugeriu: veja e me dizes. Nada a mais, nem a menos. Sem recados implícitos, sem subtítulos e aprendizados. Veja, sem mais. Essa é a minha recomendação aos que se aventurem a ler estas linhas. Veja e desfrute.

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Meg Meeker: 100% chicos. 7 claves para que crezcan sanos y felices

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Meg Meeker: 100% chicos. 7 claves para que crezcan sanos y felices Ciudadela. Madrid (2011). 244 págs. (Boys Should Be Boys: 7 Secrets to Raising Healthy Sons).

Este livro estava na minha estante há tempo. Agora, empurrado por um compromisso ineludível -um curso de formação de professores- decidi que era o momento de ler. Já tinha notícia e admiração pela autora, colega médica, com base num livro anterior do qual gostei, e recomendei: Padres fuertes, hijas felices. Li em espanhol,  mas chegou-me a notícia de que houve uma tradução recente (não sei se daquele livro, ou de outro, embora o tema é o mesmo. O livro que aqui comento, é também em espanhol, e agora a vez é dos meninos. 

Trata-se, mais uma vez, de uma obra de assessoramento prático baseado na experiência clínica da autora como pediatra, e também como mãe. Não liga para o politicamente correto, porque na hora da verdade, isso não funciona. As tais 7 chaves de que fala,  mais do que um protocolo ou checklist é um índice dos capítulos que vai desenvolver. Resumir as ideias, a modo de passos para o sucesso, é um perigo: o leitor deve ler com calma, porque nos exemplos e comentários tropeçará com situações que se encaixam no seu quotidiano. Isso é o que de verdade ajuda neste livro: usá-lo como um possível espelho, mais do que como um guia de conselhos a seguir. Isto esclarecido, passamos a resumir algumas das sugestões, apenas como um trailer do que o leitor poderá visualizar na hora de ler o livro. 

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Stefan Zweig: Fernão de Magalhães      

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Stefan Zweig: Fernão de Magalhães ASSIRIO & ALVIM. Portugal,  2017. 320 págs.

Sem Limites


6 episódios, de 40 minutos. 2022 .Criação: Miguel Menéndez de Zubillaga Rodrigo Santoro, Álvaro Morte

Chegou-me a notícia do lançamento de uma nova série, Sem Limites, e faltou-me tempo para assisti-la de bate pronto. A grande façanha de Fernão de Magalhães: a primeira navegação em volta do planeta, no século XVI (1519-1522). O navegador português acabou trocando o nome para a versão espanhola -Fernando de Magallanes- por que o rei de Portugal negou-lhe apoio, e acabou obtendo financiamento e a bandeira da expedição da coroa espanhola, do Imperador Carlos I.

A série -no fundo, era isso o que queria comprovar – apresenta um Magalhães perfeitamente encarnado por Rodrigo Santoro, enquanto Alvaro Morte -o professor de La Casa de Papel–  da vida ao espanhol  Juan Sebastián Elcano, que completou a volta ao mundo, após a morte de almirante  numa ilha do Pacífico.

A série me trouxe à memória a biografia de Magalhães, escrita por Stefan Zweig, que eu tinha lido há mais de três décadas. E, como as cenas estão muito bem construídas, a evocação constante do livro, me fez lê-lo de novo. Tive que apelar para a versão em espanhol, porque, curiosamente, o que eu li em português, está em falta no mercado. O exemplar  que eu li, deve estar perdido em algum lugar, como a maioria dos homens que integraram esta aventura singular.

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William Melvin Kelley: Um Tambor Diferente.

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William Melvin Kelley: Um Tambor Diferente. Ed. Todavia. São Paulo, 2022, 256 págs.


Eis um livro desconcertante e sedutor. Tinham chegado referências comparando-o ao clássico de Harper Lee, O Sol é para Todos, também centrado no eterno tema do racismo americano. Escalamos o livro para a Tertúlia Literária mensal, e aguardamos os acontecimentos que foram, muitos e variados.

Inicialmente opiniões diversas manifestaram não ter entendido bem a mensagem do livro. Esperava-se, talvez, um romance, e nos encontramos com um manifesto, um statement, diriam os americanos. E a tônica do manifesto, assim como o título do livro, está representado na frase de H.D Thoreau, a modo de epígrafe inicial: “Se um homem não desfila ao mesmo passo que os seus companheiros, é talvez porque escuta o ritmo de um tambor diferente. E vá ao compasso dessa música que ouve, mesmo de longe, seja qual for seu ritmo”.

O final do livro, o impacto, está contado no começo. O resto é um flashback revisitando as personagens, numa tentativa de entender o proceder do protagonista, Tucker Caliban, um homem focado, que sabe o que quer, mesmo que os outros -incluído o leitor- não alcancem a perceber os motivos que o levam a agir desse modo.

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Magda Szabó: A Porta

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Magda Szabó: A Porta Editora Intrínseca Ltda. Rio de Janeiro , 2021. 264 págs.

Como tinha comentado neste espaço, o “aquecimento prévio” com outra obra desta escritora húngara, La Balada de Iza, colocou-me em sintonia com a prosa afiada e instigante de Magda Szabó. E, tal como já suspeitava e comentei quando enfrentei um par de obras de Sandor Márai, seu conterrâneo, não poderiam faltar as empregadas, aquelas figuras quase míticas que alguém me disse eram parte da tradição do império austro-húngaro. A presente obra tem por verdadeira protagonista uma empregada. As outras personagens são coadjuvantes.

Adverte a escritora, que escreve em primeira pessoa, a modo de relato pessoal (que, aliás, é verdadeiro, como aponta a edição que consultei em espanhol) que “este livro não foi escrito para Deus, que conhece minhas entranhas, nem para as sombras, que são testemunhas de tudo e me observam a todo instante, nas horas de vigília ou de sono, mas sim para os homens. Vivi com coragem, espero morrer da mesma forma, com coragem e sem mentir, mas, para isso, é preciso que eu diga: fui eu que matei Emerenc. Eu queria salvá-la, e não matá-la, mas não faz a menor diferença”

Com semelhante overture, está servido o clímax do romance. Emerenc, a empregada que o casal de intelectuais contrata, “esperando que nos aceitasse, porque se não agradássemos a ela, não haveria dinheiro que a fizesse aceitar o trabalho (…) Eu não lavo a roupa suja de qualquer um – disse Emerenc (…) Se havia alguém no mundo parecido com meu marido no que diz respeito a certas normas, era Emerenc, e esse foi o provável motivo pelo qual, durante muito tempo, não conseguiram se aproximar”

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Sin Miedo. Cómo afrontar la enfermedad y el final de la vida.

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Sin Miedo. Cómo afrontar la enfermedad y el final de la vida. Miguel Angel Monge. EUNSA. Pamplona, 2007. 178 págs.

Faz mais de dez anos que este livro estava aguardando o seu momento, repousando na estante do meu consultório. Todo livro tem o seu momento, independentemente de quem seja o autor, ou mesmo da ligação afetiva com a obra em si. Neste caso, o livro está com dedicatória personalizada: “Ao Pablo, médico humanista, com todo carinho de Miguel Angel, capelão hospitalar e também médico humanista”. A data é de 2011, e o motivo foi um encontro com o autor, durante um curso na Universidade de Navarra, onde na época ele era o capelão da Clínica Universitária.

Algumas semanas atrás, preparando uma reunião científica, tropecei com um artigo escrito por médicos intensivistas, solicitando formação em cuidados paliativos. Falar de paliativos para um médico da UTI é como dizer que já não se pode fazer nada. Quer dizer, nada do que eles estão acostumados a fazer: uma luta terapêutica -daí o nome, terapia intensiva- contra a morte. Mas se pode fazer muito, e por isso alguns preferem o nome UCI , como os americanos: cuidados intensivos, que não são necessariamente arsenal terapêutico, mas de outra ordem.

Lembrei do livro de Miguel Angel, e o li de corrido, sabendo que tinha nas mãos as reflexões de um médico de formação, que também foi depois capelão de um renomado hospital, por quase 30 anos. Como sempre acontece com estas demoras, pensei: poderia ter lido isto antes. Mas, como apontado, cada livro tem o seu momento; o meu foi ser acordado por um artigo de intensivistas implorando que lhes explicassem o que é a tal abordagem paliativas. Quer dizer: mostrem-me o que podemos fazer para não me sentir inútil, nem omisso; para colaborar num processo natural que é a morte do ser humano.

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Byung-Chul Han: Um filósofo sul coreano-alemão

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Byung-Chul Han: Um filósofo sul coreano-alemão. “Sociedade do Cansaço”, “Agonia do Eros”, “Sociedade Paliativa”. Editora Vozes

Após ter lido e desfrutado com No Cosas, fui checar algumas das obras deste  autor, traduzidas ao português. Encontrei muitas, e acabei lendo estas três que aqui comento. Na verdade, mais do que livros são aulas que giram sobre o tema do título; nenhum deles chega às 100 páginas e, por motivos óbvios, se repete nas ideias de fundo. Afinal isso não tem nenhum demérito: já disse alguém que o importante na vida é ter três ou quatro ideias, e não se cansar de repeti-las sempre, com variações no papel de embrulho. Não é pouco mérito, porque ter essas poucas ideias de colheita própria, é atributo de muito poucos. Isto dito, partimos para um comentário também global, das ideias, poucas, mas provocativas, do filósofo sul-coreano, convertido por Heidegger aos conceitos alemães.

Na Sociedade do Cansaço adverte: “Hoje a sociedade está entrando cada vez mais numa constelação que se afasta totalmente do esquema de organização e de defesa imunológicas. Caracteriza-se pelo desaparecimento da alteridade e da estranheza . A alteridade é a categoria fundamental da imunologia. Toda e qualquer reação imunológica é uma reação à alteridade. Mas hoje em dia, em lugar da alteridade entra em cena a diferença , que não provoca nenhuma reação imunológica. Falta à diferença, de certo modo, o aguilhão da estranheza, que provocaria uma violenta reação imunológica. Também a estranheza se neutraliza numa fórmula de consumo. O estranho cede lugar ao exótico”. Quer dizer, tudo muito soft, suave, sem nenhuma oposição e sem nenhuma construção possível.

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Giovanni Guareschi: “D. Camilo e os cabeludos”.

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Giovanni Guareschi: “D. Camilo e os cabeludos”. Record. São Paulo, 1969. 153 págs.

Confesso que tinha certa expectativa à resposta dos pensadores da nossa tertúlia literária, diante deste livro que li quando criança. Aliás, leram para mim: no colégio, lá pelos 12 anos, tínhamos uma classe peculiar que se chamava Hora Literária. Um professor, em pé diante da turma sentada, e apoiando o livro num atril de pé, com música de fundo, lia durante 45 minutos. E o fazia de um jeito, que ninguém se mexia, todos atentíssimos, desfrutando. Lembro que a figura de D. Camilo e de Peppone, o prefeito comunista/católico, circulava no ambiente e na nossa imaginação. Inesquecível e inspirador recordar como um bom leitor é capaz de cativar uma plateia de garotos inquietos, e além do mais, no período da tarde, após um breve almoço e quase 60 minutos de futebol no intervalo das aulas. Com essas lembranças na memória nos aventuramos na leitura e na Tertúlia.

Um livro divertido e atual -seria a frase que resumiria os comentários, todos animados e apetitosos. Atual, penso, porque sempre que surge uma novidade -que todos acusamos e da qual reclamamos invocando os velhos tempos- estamos como D. Camilo, a quem “ os novos sistemas encontram-no despreparado”.

Salpicado de humor, a obra de Guareschi, serve-nos diálogos e situações curiosas. O prefeito Peppone, que “não consegue deixar de falar em revolução: agora, porém, as suas ideias truculentas são transportadas num carro esporte que, fiel ao sentimento das cores, quis que fosse vermelho”. E as brigas no próprio partido, com suas divisões, porque sempre há os ortodoxos e aqueles que tentam fugir pela tangente:

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