William Deresiewicz: Excellent Sheep: The Miseducation of the American Elite and the Way to a Meaningful Life
El rebaño excelente. Cómo superar las carencia de la educación universitaria de Elite. Ed. Rialp. Madrid. 2019. 273 págs.
Chega às minhas mãos -quer dizer, à tela do meu tablet- a versão espanhola deste livro magnífico. Não encontro a tradução para o português, e fica aqui a sugestão para os editores porque o livro não tem desperdício. Enquanto isso, me limitarei a traduzir livremente do espanhol algumas das passagens mais significativas, embora é difícil escolher, porque são muitas as notáveis. Salpicarei com poucos comentários, porque, insisto, o livro é todo ele auto explicativo e…..provocativo!
A crítica, toda ela, é dirigida à academia, e ao sistema vigente e o que este sistema faz com os estudantes, as consequências com a sociedade e como é possível livrar-se desta ameaça. Algo análogo já tínhamos comentado neste espaço, com motivo de outro livro contundente de um professor do nosso meio.
Anota o autor: “ O sistema fabrica estudantes talentosos e motivados, mas também ansiosos, tímidos, perdidos; sem inquietude intelectual, com um sentido do propósito atrofiado. Enclausurados numa bolha de privilégios, todos caminham na mesma direção, são bons naquilo que fazem, mas não têm a menor ideia de por que o fazem”. E acrescenta assumindo a parte de culpa que nos cabe aos professores: “Publicam-se muito livros sobre educação, mas quase nenhum sobre os próprios estudantes aos que nem sequer escutamos. A educação é a via através da qual a sociedade articula seus valores e os transmite. Quando sou critico com o tipo de estudante que inunda as escolas mais seletas, na verdade estou criticando os adultos que lhes fizeram ser o que são; quer dizer, nós mesmos”.
Os resultados deste sistema são relatados com fatos -mais trágicos do que cômicos- que espelham o perfil dos estudantes. Relata um estudante: “Não lhe podes dizer a um estudante de Yale, ‘encontra o que te apaixona’, porque a maioria de nós não sabe o que é isso; aliás este é o motivo de permanecer em Yale, porque nossa única paixão é o êxito”. E outro: “sou incapaz de ter uma relação amorosa significativa porque sempre estou muito ocupado e as pessoas que me interessam também estão”….Mais um: “É difícil construir tua alma quando todo o mundo em volta tua está vendendo a deles (…) Quando uma estudante me disse que gostaria de ter a oportunidade de pensar sobre o que estava estudando, mas que não tinha tempo para fazê-lo, perguntei se tinha se interrogado sobre a possibilidade de não tirar a máxima nota em todas as matérias. Olhou-me como se lhe tivesse feito uma proposta indecente”.
No vácuo destes fatos, o autor vai tirando suas conclusões: “Aprendem a ser estudantes mas não a utilizar a cabeça. Não porque lhes falte curiosidade, mas porque o prêmio social é maior para aquele que é capaz de falar de livros, ao invés de lê-los (..) As universidades estão graduando gente muito inteligente….mas completamente perdidos. Jovens com grande potencial intelectual, com ética do trabalho impecável, que não tem a menor ideia do que fazer quando acabam a carreira (…) Levam toda a vida temendo o fracasso, muitas vezes por receio dos próprios pais ao fracasso. O custo de não estar à altura tem consequências não somente práticas, mas existenciais”.
E também revela quem ele é, e por que aborda comodamente estas questões espinhosas, politicamente incorretas. “Uma antiga estudante me dizia que passou e metade do tempo em Yale sentindo-se o máximo porque era mais inteligente do que o resto, e a outra metade sentindo-me lixo, porque os outros eram mais inteligente do que eu”. E conclui: “Tudo isto me toca fundo. Se o que estou contando parece muito pessoal….é porque eu fui um desses alunos!!”.
Mais conclusões, sempre contundentes: “Construímos um sistema educacional que produz gente competente, de grande inteligência, de 22 anos, que não tem a menor ideia do que vão fazer com suas vidas. São capazes de seguir um caminho, mas falta-lhes imaginação -talvez coragem e liberdade interior- para inventar uma trajetória própria”.
As famílias, os pais tem, evidentemente, grande parte da culpa nesse cartório acadêmico. Anota o autor: “Quando se vive numa sociedade onde o ganhador leva tudo, queres que teu filho esteja no meio desses ganhadores. Conhecemos os pais ‘helicópteros’, sempre sobrevoando, supervisionando, criticando desde a infância…..E os pais super indulgentes que permitem os filhos perderem o controle e amarram os sapatos deles quando tem oito anos, e lhes dizem como são maravilhosos. Ambas posturas nascem da mesma raiz: mimar e pressionar, baseados na postura equivocada de que é possível criar um mundo seguro para eles. Os pais helicóptero convertem o jovem em instrumento da vontade deles, os indulgentes projetam sua própria necessidade de liberdade e segurança sem limites. Em ambos casos, passam a funcionar como uma extensão dos pais. Quando o filho entre numa universidade de prestígio é como se os pais ganhassem uma nota máxima. Na mentalidade chinesa, ‘o filho é uma extensão de você mesmo’…Eis uma definição claríssima do narcisismo parental”.
Enquanto lia o livro vieram à minha memória as cenas de Sociedade dos Poetas Mortos. Relata-se o caso de um aluno que começou a chorar durante um debate sobre O apanhador no campo de centeio, disse que não queria trabalhar na Bolsa como os pais dele recomendaram….Aquela noite, um chamado do pai do rapaz: “pare de meter ideias estranhas na cabeça do meu filho”. Parece que é necessário dar aos pais -o cliente- o que eles querem, sem perguntar-se se, de fato, é o melhor para os filhos. Todos querem que os filhos obtenham uma formação, mas ninguém quer que essa formação lhes forme de fato.
Naturalmente o processo não é inócuo, e surge a depressão e o sentido existencial de fracasso, inversamente proporcional aos recursos financeiros familiares. Deresiewicz afirma que até o 22 % das meninas adolescentes de famílias acomodadas chegam a padecer depressão clínica. E inunda o livro com testemunhos que chegam a estremecer: “Às vezes passo dois ou três dias em que não consigo dormir mais do que um par de horas….Temo o fracasso….Sou uma espécie de máquina sem vida, um robô que passa de uma página para outra, faz o trabalho, sobrevivo à base de cereais, estou estressada demais para ter fome….embora chego a falar com algumas amigas de acabar com minha vida (….) O presidente de uma universidade me dizia que há uma espécie de epidemia depressiva entre os jovens, para muitos estudantes chegar ao cume é ser consumido pelo sistema. Não estamos ensinando para os exames; vivemos apenas para isso”.
Como enfrentar o fracasso e a frustração? Tema abordado amplamente, e de perspectivas estarrecedoras. Gente que pensa em suicidar-se por baixas notas, ou que não consegue regressar a casa e enfrentar a decepção do pai. O autor denomina isto ‘ o Frankenstein da ambição’, a insaciável necessidade de ser o melhor. Muitos jovens que não conhecem outro resultado do que o sucesso são obrigados a enfrentar-se com o fracasso. E se machucam, muito.
O que faz a Universidade perante este desafio cada vez maior? Aparentemente nada, custa-lhes reconhecer que não estão educando, nem enfrentando o problema. Anota: “. Falta congruência nos professores, preocupados em realizar suas pesquisas, sem pensar nos alunos; ensinam o que lhes apetece, não o que os alunos precisam. Por exemplo, Harvard já não sabe em que consiste uma boa educação. A educação superior cada vez se parece a um negócio: quem paga entra e passa; os estudantes são clientes, gente que é preciso mimar e agradar, ao invés de desafiar. Das aos teus cliente o que pedem, mas não o que precisam; afinal não existe preocupação com o seu futuro”. Tudo isto é tão arrepiante como verdadeiro, basta dar uma olhada ao cenário universitário que nos cerca….Nem é preciso ir a Yale ou Harvard, aqui mesmo, no nosso bairro paulistano.
Sócrates -sempre uma referência que se agradece- dizia que ensinar consiste em educar os desejos. Os professores tem de ser mentores, não operários de uma cadeia de produção. A educação não é um produto a ser consumido, mas uma experiencia oferecida que muda a vida. Mas as universidades deixaram de pensar em tudo isto. E o conteúdo carece de profundidade: ao invés de humanidades, se lhes oferece amenidades”.
As críticas de Deresiewicz são azedas, mas reais. “Se queres ser educado, provavelmente terás de lutar contra a instituição em que te encontras, sem importar o prestigio que ela tenha; aliás, quanto mais prestigiosa, mais luta pela frente. Conforme a minha experiencia, os estudantes sérios e realizados são aqueles que sentem-se enganados, perguntando-se que tinha acontecido com o sabor de aventura com o qual ingressaram na universidade. Durante os meus anos em Yale, foram estes os que se aproximaram com curiosidade, com pensamento independente, ansiosos por encontrar na universidade um sentido vital -não somente habilidades, buscando possibilidades e não segurança. A Universidade não faz nada para desafiar os valores de uma sociedade que iguala a virtude, a dignidade, a felicidade com o sucesso material. Perguntar-se para que serve a universidade teria de ser perguntar-se para que serve a vida e a sociedade, para o que servem as pessoas. A universidade serve, em primeiro lugar, para nos ensinar a pensar; para desenvolver o habito da dúvida, e tirar as próprias conclusões. Para gerar perguntas e não despejar um curriculum. Como dizia um professor de Columbia, ‘ vocês estão aqui por um motivo egoísta: para construir um eu”
A Universidade anêmica é também um reflexo da sociedade doente, que “conspira para se fazer imune à verdade. Passamos a vida mergulhados em propaganda: mensagens publicitários, retórica política, o status quo, os lugares comuns, axiomas de partidos, trivialidades no Facebook, as reconfortantes mentiras que nossos pais nos contam, as socias que chegam dos amigos, e as falsidades que todos contamos a nós mesmos para evitar o risco de ter de se olhar no espelho. A universidade deveria ser um intervalo de liberdade no início da vida adulta. Uma educação, como disse um clássico, deveria ser ‘uma ferida que nós memos nos infligimos’. Se diz que as pessoas vão aos mosteiros para averiguar por que foram lá; a universidade teria de ser a mesma coisa”.
Mitos e lugares comuns, temas também desenvolvidos: “Certa vez escutei sobre uma entrevista em Harvard….’Harvard é para os líderes’….E o que você quer liderar? …Não sei. Isso resume bem os valores que estão por trás deste assunto. Ao invés de preparar os alunos para serem líderes, poderíamos prepara-los para ser cidadãos….Ou talvez pensadores -afinal é educação superior- indivíduos questionadores, capazes de refletir sobre as organizações e sobre a sociedade”. Mais mitos: “Por que as pessoas sentem necessidade de ir a Guatemala para realizar projetos, ao invés de ir a Milwaukee ou Arkansas? Será porque é divertido visitar pobres de outros países mas não os da tua própria casa? Enfrentar a injustiça no teu pais é mais espinhoso, porque te obriga a reconhece tua parte de culpa em tudo isso. Para que serve chegar muito alto se, quando chegas lá, não es mais do que um líder a mais, outro oportunista, outro conformista genial, outro medíocre?”
E chega a temas existenciais: “Responder qual é o sentido da minha vida, não é assunto para deixar até os quarenta anos (…) Vocação, do latim vocare, chamado, refere-se ao que nos sentimos chamados a fazer. Não é algo que eu escolho, mas que me escolhe a mim. Algo que não posso deixar de fazer; aliás, não tanto o que faço mas o que sou (….) As qualificações que obtemos na academia não definem o valor que tenho como ser humano. Preciso decidir por mim mesmo em que consiste o sucesso. A imaginação moral se refere à capacidade de vislumbrar novas alternativas na vida. Quando entro em Starbucks, posso optar por um Latte ou por um Frappuccino….ou posso ir embora porque não servem lá o que eu quero (…) A felicidade consiste em duas coisas: estar conectado com os outros, e realizar uma missão significativa. Aristóteles disse que o homem é um animal social, mas também que a felicidade vem do exercício das nossas capacidades particulares”.
E, novamente, o autor revela quem ele é, sua história que é o motor de arranque deste magnífico tratado sobre a educação: “Custou-me muito tempo reconhecer minha vocação, mais do que deveria. Não havia lá ninguém que me fizera parar e refletir, ninguém que me salvasse de mim mesmo (…) Para poder inventar tua vida tens de superar aquilo que o sistema te inoculou profundamente: o medo ao fracasso. Não se trata de evita-lo, mas de leva-lo como uma parte normal e valiosa do desenvolvimento. O melhor motivo para fracassar é comprovar que não é o fim do mundo. Não fracassar nunca não é sinal de mérito, mas de fragilidade: os medos te impediram de ser ou fazer aquilo que deveria ser feito.”
Na parte final do livro, Escolas, aparece um capítulo que merece ser comentado aparte, e também lido até isoladamente: Grandes livros, motivo e razão das humanidades. Um tema essencial quando nos debruçamos sobre a educação que se supõe a Universidade deveria providenciar. Por isso, o autor pergunta: “Como a Universidade pode contribuir para melhorar a sociedade? Utilizando a mais poderosa tecnologia que existe para ensinar: uma educação em artes liberais -assim chamadas porque o conhecimento é buscado por si mesmo- centrada nas humanidades(…) A universidade é o lugar onde aprendemos que a maioria daquilo que reputamos como certo, é muito mais provisório e complicado do que gostamos de admitir”.
Continua sua apologia da educação humanística: “As humanidades são centrais na educação universitária séria. Não se constrói um ‘eu’ desde a fumaça, olhando o próprio umbigo. Constrói-se em parte frequentando os caminhos que outros frequentaram, com a ajuda do passado. O científico trata de ser objetivo e olha para os números. O artista fala da experiência individual e apela para a nossa. O conhecimento humanístico não é verificável nem quantificável; não pode ser exprimido numa equação”. Dai a importância das ‘fontes’, para educar: “Guerra e paz não conta o mesmo tipo de coisas que se pode aprender num Blog ou em Wikipédia, nem mesmo em quatorze mil páginas desse tipo. O romance é extenso porque conta algo extenso e complexo. Não proporciona informação, mas proporciona vida (..) Dai surge o encontro: ‘esse sou eu’. A experiência essencial da arte, onde nos vemos no outro e vemos o outro em nós(…) A informação é hoje acessível gratuitamente em todo lugar; a questão é o que fazer com ela (…) Como disse Kafka, ‘um livro deve ser o machado que rompe o mar gelado que habita no nosso interior’ (…) Um leitor constrói o seu próprio cânon, porque este consiste precisamente nos livros que utilizou par criar-se a si mesmo”.
Não será elitista fomentar uma educação humanista? Responde o autor: “O elitismo não é propor uma educação humanista, mas reserva-la para uma minoria. É falso o argumento de que humanidades é para os filhos dos privilegiados que não tem de se ganhar a vida. Até porque é conhecido no mercado aquela frase: se queres promover o pensamento criativo, contrata a quem tenha estudado humanidades. Isto é assim porque as perspectivas que se obtém quando estudamos o geral – a sabedoria, por dizê-lo claramente- acabam se introduzindo na prática da nossa especialidade” E continua: “quem vai ser médico conseguirá tratar pessoas, não apenas doenças; o professor saberá distinguir entre o pedante que da cursos e o mentor que de fato ensina seus estudantes”.
A arte de ensinar, tema que perpassa todo o livro, aparece neste capitulo com clareza enorme: “Ensinar não é um problema de engenharia, como transferir quantidade de informação de um cérebro para outro. Educar significa conduzir os poderes latentes nos estudantes. Um professor desperta inspira. Não adianta descarregar dados -por usar linguagem informática- se falta o software que consegue utilizá-lo. Essa seria a função da Universidade: criar o software de cada aluno para trabalhar o conhecimento”
Mais umas amostras densas e suculentas: “Uma parte significativa das aulas deveria funcionar como um seminário. Isso permite ao professor dar forma as habilidades mentais dos alunos, conduz um debate, mas não se limita a que a audiência assista passivamente. Desafia os alunos, coloca perguntas, obriga o aluno a pensar e responder. Estimula ao tempo que guia e aperta. Não está lá para responder perguntas, mas para fazê-las. Meus anos de professor me ensinaram que os estudantes querem que o professor lhes desafie e se preocupe deles. Não querem diversão, mas autenticidade. Mais do que falar , é preciso escutar; não dizer o que tem de fazer, mas ajudar a que se escutem a eles mesmos (…)Os alunos sempre dizem que os bons professores ‘ensinam de tudo’. Não se sentem obrigados a respeitar barreiras estritas sobre o que devem ensinar. Conectam a matéria com qualquer coisa da vida que seja relevante, com a experiência. Igual que a grande arte que te mostra ‘ a vida’ acontece com a educação de excelência: ajuda a pensar sobre o mundo, ver as coisas conectadas, contemplá-las na totalidade. E isso independente da matéria que teoricamente se está lecionando (…) A outra coisa que dizem dos professores favoritos é que lhes mudaram a vida. Tudo isso é cada vez mais difícil encontrar na Universidade”.
Os riscos da educação a distância -hoje a bola da vez no nosso meio- também são abordados. Lembrei de ter comentado com um amigo, professor de literatura, que é muito difícil -impossível- ensinar poesia com a metodologia usada pelo professor em Sociedade de Poetas Mortos……por internet! Confunde-se, na opinião de Deresiewicz, informação com conhecimento. “A educação a distância parece ignorar esse diferença. Podes inscrever os alunos no canal de esportes ou em Netflix, mas a universidade é uma experiência holística, uma imersão de verdade. E oferecem um produto que ninguém pode copiar ou automatizar, justamente as artes liberais. Substituir o ensino tradicional por EAD, -para falsamente garantir melhor qualidade de conteúdo diante da mediocridade acadêmica vigente- , é como retirar a guarda da criança de uma mãe negligente para entrega-la a um macaco”
E finalmente, o impacto social, ou a falta dele. “As famílias com recursos começam a comprar a passagem dos filhos para embarcar nas universidades de elite desde o nascimento: lições de música, instalações esportivas, viagens de intercambio…..De fato, o pobre e inteligente tem menos possibilidades de conseguir um título, que o rico e burro….porque são demasiado ricos para fracassar. As universidades de elite não promovem o movimento em direção a uma sociedade mais justa, mas ao contrário. Sabemos que Harvard é um reduto de privilégios, onde os ricos enviam seus filhos para continuar sendo ricos. Mas fingem que fazem algo distinto…Por exemplo, em Stanford pensam que seu ambiente é diverso porque vem gente do Pakistan ou da Índia….cujos pais, são também banqueiros. De fato, não se misturam -como eles dizem- com todo tipo de gente; se juntam com o mesmo tipo de gente, que vem de distintos lugares do planeta (…) O processo de admissão -complicado de cara à plateia- é um meio de “lavar privilégios” da sociedade americana contemporânea. A função do escassíssimo número de pobres que há em Harvard é para tranquilizar os muitos ricos dizendo que não se pode comprar o acesso a Harvard….Também é verdade que contratar gente saída de Harvard ou Princeton é seguro, porque se depois resultam ruins e incompetentes ninguém vai te culpar por tê-los contratado”.
Acabo estas traduções-anotações nocauteado. Impactou-me quando li, mas agora na câmara lenta que requer esta empreitada, o golpe chegou mais fundo. Não doeu, até me confortou nos meus devaneios das últimas décadas como um assumido outsider da academia, nas minhas trajetórias quixotescas nas humanidades médicas. Senti-me acompanhado, o que não é pouco. E pareceu-me ver também nas entrelinhas um outro interlocutor muito querido e lembrado: Al Pacino, o militar cego em Perfume de Mulher, batendo com a bengala na frente de uma universidade de elite estonteada, condenando a hipocrisia: não existem próteses para o espirito, a alma amputada é um aleijamento definitivo. Por mais títulos que acumule. De fato, foi um prazer imenso este diálogo com os outsiders!
Comments 1
Reflexões como essas são essenciais para pensarmos em novos valores . A vida simplesmente produtiva, considerada de sucesso nos parâmetros vigentes, pode ser extremamente vazia.
A vida precisa de embasamento mais sólido e sensível para ser completa.
Parabéns ao autor e ao Pablo e equipe pela seleção e comentários fomentadores da boa reflexão.