Cinema, humanização e educação em saúde

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O núcleo do processo de Humanização em Saúde consiste em promover a reflexão do profissional, o exercício filosófico da profissão. No contexto desta reflexão humanizante, é preciso considerar o que deve ser humanizado, como fazê-lo, e os custos que a humanização implica. A educação da afetividade e das emoções é condição necessária para promover atitudes duradouras e eficazes. Assim sendo, o Cinema, que ajuda a refletir sobre aspectos essências da vida, tem se mostrado um recurso metodológico eficaz para promover a reflexão. O uso do cinema, com destaque para o conjunto de cenas variadas (clips) pode incorporar-se nos projetos pedagógicos de educação em saúde, como é ilustrado neste artigo. A formação humanista do profissional de saúde é potencializada com a metodologia do cinema, buscando-se deste modo um modelo de humanismo e humanização sustentável.

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Cinema, humanização e educação em saúde

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O núcleo do processo de Humanização em Saúde consiste em promover a reflexão do profissional, o exercício filosófico da profissão. No contexto desta reflexão humanizante, é preciso considerar o que deve ser humanizado, como fazê-lo, e os custos que a humanização implica. A educação da afetividade e das emoções é condição necessária para promover atitudes duradouras e eficazes. Assim sendo, o Cinema, que ajuda a refletir sobre aspectos essências da vida, tem se mostrado um recurso metodológico eficaz para promover a reflexão. O uso do cinema, com destaque para o conjunto de cenas variadas (clips) pode incorporar-se nos projetos pedagógicos de educação em saúde, como é ilustrado neste artigo. A formação humanista do profissional de saúde é potencializada com a metodologia do cinema, buscando-se deste modo um modelo de humanismo e humanização sustentável.

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Roger Scruton: “As Vantagens do Pessimismo” (E o perigo da falsa esperança)

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Roger Scruton: “As Vantagens do Pessimismo” (E o perigo da falsa esperança). É Realizações. São Paulo. 2015. 207 pgs.

as vantagens do pessimismoDe que pessimismo nos fala Scruton? Na verdade, trata-se de um discernimento da realidade, de visualizar que vivemos entre seres humanos falíveis, e não num universo de sistemas e ideias que são facilmente modificáveis. Os problemas da humanidade não são questões de ordem técnica, como pensam os que ele denomina otimistas inescrupulosos. Estes são aqueles que acreditam que as dificuldades e desordens da humanidade podem ser superadas por algum tipo de ajuste em larga escala: é suficiente desenvolver um novo arranjo, e as pessoas caminharão para o sucesso. Desse modo, todos os esforços são colocados num plano abstrato e nenhum sequer é situado no campo da virtude pessoal. Essas são as falsas esperanças dos otimistas teóricos que devem ser temperadas com a dose certa de pessimismo, que não é outra coisa mais do que conhecimento real e prático da condição humana. O raciocínio de Scruton é claro, o que associado a uma tradução magnífica, permite acompanhar a lógica do seu discurso sem necessidade de comentários explicativos.

Esses otimistas perigosos e criticados são os que eliminam velhas rotinas, e querem mudar as coisas em proveito próprio. Estão tão propensos a consultar o passado como um batalhão que luta pela sobrevivência está propenso a proteger seus monumentos. O que eles querem é estar do lado vitorioso. Com o menor esforço pessoal possível. O pessimista sensato, não se deixa levar pelas correntes, enfatiza as restrições e os limites, lembra-se da imperfeição e da fragilidade da condição humana. Nas suas deliberações, os mortos e os não nascidos tem a mesma voz, porque sente-se inserido nas tradições e na história. E saber utilizar a dose de pessimismo para temperar as esperanças que, de outra forma, podem nos arruinar.

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Graeme Simsion: “O Projeto Rosie”

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Graeme Simsion: “O Projeto Rosie”. Record. Rio de Janeiro, 2013. 319 pgs.

O projeto RosieO livro estava entre as minhas pendências. Compõem-se estas de anotações a modo de lista, de comentários que vamos lendo aqui e acolá, em jornais e críticas de literatura especializada. Lembro até de ter recebido um e-mail circular de um colega médico americano elogiando o livro. A tertúlia literária mensal estava chegando, e bati o martelo. É uma das poucas prerrogativas que me cabem nessa atividade: decidir o livro do próximo mês. O resto do que por lá acontece -que é de longe o mais interessante- corre por conta dos seletos participantes.

Mas fui com muita sede ao pote. Esperava algo num registro emotivo em sintonia com os romances dos anos 40, aqueles que Hollywood nos fazia viver com James Stewart, Gary Cooper, e uma infinidade de atrizes maravilhosas comandadas por grandes diretores: Frank Capra, George Cukor e tantos outros.  Mas a leitura do livro não acabava de decolar. Senti falta de tempero no início, às vezes chegando a ser maçante; uma personagem fora da realidade, ou pelo menos da realidade da maioria dos leitores. Raia o cômico, o grotesco, mas faz pensar que existe gente assim e, mais importante, nos leva a refletir no amplo espectro dos temperamentos. Foi aqui onde experimentei a virada. Tive de lembrar das aulas que dei inúmeras vezes -faculdade de medicina incluída- sobre os temperamentos. E de como um não é melhor do que o outro, porque são simplesmente diferentes.

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Sully: O Herói do Rio Hudson. A Criatividade do Fator Humano

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Sully. USA 2016. Diretor: Clint Eastwood. Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney, Autumn Reeser, Anna Gunn, Jerry Ferrara, Sam Huntington. 96 min.

sully-movie-posterO evento foi manchete dos jornais. Um piloto pousa o avião sobre o Rio Hudson, após decolar do aeroporto de La Guardia – Nova Iorque e sofrer uma pane inesperada nos motores. Lembro perfeitamente das fotos que acompanhavam a matéria: o piloto sorridente, ostentando um cuidado bigode, com ar paternalista. Isso é capaz de dar filme -pensei. Clint Eastwood certamente ficou sabendo, mas, pelo que ele comentou depois, aquilo não lhe despertou a inspiração cinematográfica. Foi só posteriormente, quando soube que o piloto herói -que tinha salvado todos os passageiros e a tripulação com uma aterrisagem inédita e arriscada- teve de responder um processo para justificar a proeza e o seu sucesso. Daí o velho Clint acordou, e partiu para montar este filme imperdível.

O filme é fruto de um diretor maduro. Não se limita a contar uma história -o fato em si, foi um voo de poucos minutos- nem se dispersa perifericamente, com as histórias dos passageiros, porque na verdade também conviveram pouquíssimo tempo e não há espaço para relatos paralelos. Nada a ver com aqueles filmes de desastres-bem-sucedidos, aeroportos dos anos 70, incêndios, e variações sobre o mesmo tema. Aqui temos hora e meia longa de celuloide, onde um acontecimento encaixa-se perfeitamente no meio da produção -como o recheio de um sanduiche- e rodeia-se do antes e depois, das vicissitudes que abraçam o episódio, e que o tornam apetitoso. Uma perfeita unidade; mais do que um sanduiche nos é servido um suculento rocambole, onde é impossível separar o preenchimento da cobertura. E o paladar viaja de um ao outro, degustando-o, e sem saber ao certo, o que é futuro ou passado -recheio ou cobertura- como o próprio Comandante Sully, com quem se identifica completamente. Mérito de Clint, que deve ter desfrutado fazendo o filme, porque aos seus 86 anos, certamente ele faz estas coisas para divertir-se. E, também da interpretação única, entranhável e humana, de Tom Hanks. Uma dupla impagável.

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Svetlana Alexiévich: “A Guerra não tem rosto de Mulher”

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Svetlana Alexiévich: “A Guerra não tem rotos de Mulher”. Companhia das Letras. São Paulo. (2016). 390 págs.

A guerra não tem rosto de mulherA partir do momento em que esta escritora recebeu o prêmio Nobel em 2015 -ela diz ser uma jornalista que transcreve a História nas vozes daqueles que nunca tiveram protagonismo-, fiquei atento ao lançamento dos seus livros, e comprei alguns deles na primeira oportunidade. Comecei a leitura por este, espicaçado pela originalidade do tema: mulheres russas na segunda guerra mundial. Uma guerra que não era a praia delas ou que, de um modo ou outro, eram episódios que tinham sido silenciados. “Nos roubaram a Vitória. Não a compartilharam conosco. Na fronte os homens nos tinham dado um trato formidável, nos protegiam. Mas na vida normal tudo isso caiu no esquecimento”. O que não deixa de ser curioso, porque todas elas tinham sido formadas no amor à pátria, de maneira incondicional: “Sempre tínhamos estado combatendo ou nos preparando para a guerra. Nunca vivemos de outra maneira, deve ser que não sabemos como viver sem isso. Na escola ensinavam-nos a amar a morte”. Um patriotismo que se mistura com a mística da alma russa que rende, por exemplo, este testemunho paradoxal e surpreendente: “Minha mãe era uma camponesa sem estudos, acreditava em Deus. Passou toda a guerra rezando-lhe a Deus, de joelhos diante de um ícone: Salva o povo, Salva a Stalin, salva o partido comunista desse monstro que é Hitler”.

Svetlana é uma escritora que dá voz ao povo. Esta obra -parece-me que as outras também- está composta com os testemunhos, magnificamente alinhavados, de multidão de pessoas; neste caso mulheres, que participaram da Segunda grande Guerra. Uma obra polifónica -como reconheceu o comitê do Nobel- fruto de um trabalho de décadas, uma investigação arqueológica, como se comentou na nossa tertúlia literária mensal.

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Petros Markaris: “Os amantes da noite”

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Petros Markaris: “Os amantes da noite”. Record. Rio de Janeiro. 2010. 477 pgs.

Os amantes da noiteNão costumo ler dois livros de um mesmo autor em curto espaço de tempo. Preciso de um repouso, deixar decantar as ideias e o estilo, arejar a mente, para, se for o caso, voltar depois, aberto às surpresas, com a esponja bem enxugada e o taxímetro zerado.

Como tinha transcorrido um tempo prudente desde a última leitura de Markaris, e estava buscando um romance para desanuviar, desentoquei esta aventura policial do Inspetor Kostas Xaritos que repousava na minha prateleira; na seção de pendentes, área que, por mais que leia, nunca consigo vencer, sempre cresce em ritmo desproporcionado. O que não deixa de ser um bom sinal: certamente acabará o nosso tempo nesta vida antes de darmos contas dos livros que gostaríamos de ler; mas, ninguém poderá dizer, que improvisamos as leituras ou que carecemos de um projeto de enriquecimento cultural.

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Dino Buzzati: “O Deserto dos Tártaros”

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Dino Buzzati: “O Deserto dos Tártaros”. Ed Nova Fronteira. São Paulo, 1984. 190 pgs.

O deserto dos tártarosComo fui aventurar-me neste deserto dos tártaros? Foram os comentários de alguns colegas na nossa reunião mensal da Comissão de Humanidades Médicas, no Conselho Federal de Medicina. E também uma referência a Buzzati que apareceu numa das minhas leituras anteriores.  Adquiro o livro na estante virtual (recurso rápido e barato) e antes de partir para a leitura pesquiso sobre o autor. Comenta-se algo sobre literatura fantástica, houve quem comparou Buzzati com Kafka, mas, eu sempre digo que com o máximo respeito pelas opiniões e críticas dos outros, o único modo de conhecer um autor é lê-lo diretamente. Se possível na linguagem original. Ou numa tradução fidedigna.

De fato, é uma experiência única e memorável, a leitura deste livro inquietante. O argumento é simples, quase ausente. Um jovem oficial dirige-se ao seu destino militar com o entusiasmo próprio dos começos. E, quem pretendia ficar por lá um tempo curto, vai consumindo a vida no destino que toma conta dele mesmo. Mas algo tão simples de enunciar, é relatado com mestria por Buzzati. O leitor envolve-se até fazer parte do cenário.

O cenário é o Forte Bastiani, que se “antigamente parecia uma honra, agora parece quase uma punição. Tudo ali dentro era uma renúncia, mas para quem, para que misterioso bem? O formalismo militar, naquele forte, parecia ter criado uma insana obra de arte. Centenas de homens guardando um desfiladeiro por onde ninguém passaria”.

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O Esgrimista: A Paixão por Ensinar

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(Miekkailija). Finlandia, Alemanha, 2015. Diretor: Klaus Härö. Intérpretes: Märt Avandi, Liisa Koppel, Ursula Ratasepp, Lembit Ulfsak, Joonas Koff, Marvel Leesment, Kirill Käro. Duração: 93 min.

The fencerEis um pequeno grande filme nórdico. Dirigido por um Finlandês, e situado na Estônia, o pais que fica bem em frente no mar báltico. Existe uma cultura comum entre ambos povos e algo que também lhes une: a repulsa pelo colonialismo russo-soviético. Estive este ano em Helsinque por conta de umas conferencias que me solicitaram. Encontrei-me lá com uma velha amiga, uma professora da faculdade de medicina da Universidade de Helsinque, que também dirige um grupo de humanidades médicas: Lux Humana, lhe chamam, em latim, o que se agradece porque o finlandês é absolutamente incompreensível para os mortais comuns. Mostrou-me a Igreja Russa, símbolo do colonialismo imposto ao povo finlandês. E também muitas outras coisas. Agradou-me a hospitalidade da Finlândia, e pude palpar a cordialidade deste povo. E, quando de regresso ao Brasil, tropecei com este filme, mergulhei de cabeça, e desfrutei. Escrevi para Martina (assim se chama a médica finlandesa) recomendando-o: “Lembrei de você, pela linguagem que falam, pelos russos…e pela paixão por ensinar”. Mas ela já estava de sobre aviso….

Um filme, dizia uma crítica do informativo que assino, feito com gelo, madeira, aço e alma. Os ingredientes pareceram-me perfeitos, pois são de fato a guarnição que rodeia o fator humano, que é o ponto alto do filme, o que te conquista. O argumento nos situa na Estônia em 1945, recém acabada a segunda guerra mundial, quando o terror de Stalin propõe-se purificar todos os países que caíram sob a bota soviética. A Estônia, um dos países bálticos é alvo de estreito controle. Lá chega nosso protagonista, até uma pequena aldeia, vindo de Leningrado (hoje e antes, S. Petersburgo) com um passado às costas. A escola local admite-o, com receio, como professor de educação física. Mas não existe material para treinar, a aldeia é paupérrima, e o nosso professor tem como único capital um florete de esgrima. Aí decola este filme atraente.

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Milan Kundera: “A Identidade”

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Milan Kundera: “A Identidade”. Companhia das Letras. São Paulo. 2009. 115 pgs. 

a-identidadeAlguém já afirmou, a julgar pelos comentários que coloco neste espaço, que somente leio livros bons. É verdade que procuro assessorar-me antes de adquirir um livro, e de investir tempo na sua leitura. Mas o sucesso nem sempre garantido. Este é um dos casos.

Embora raramente presto atenção às frases pré-fabricadas que gotejam ininterruptamente na nossa caixa de e-mails, e no WhatsApp, desta vez me deixei seduzir por um breve texto sobre a amizade proveniente de um livro de Milan Kundera. Quis saber mais -a amizade é tema que me apaixona, na teoria e, muito mais, na prática- entrei na estante virtual, e com um click adquiri o livro.

Enganei-me. Sim, é verdade que Kundera fala em certa altura da amizade, mas o texto que me tinha chegado não era original, e sim devaneios de alguém a partir do pensamento do escritor Tcheco. Fala dos amigos, parece que dá importância, mas no fundo usa os amigos para promover o próprio ego. Diz assim, textualmente: “A amizade é indispensável ao homem para o bom funcionamento da sua memória. Lembrar-se do passado, carregá-lo sempre consigo, é talvez a condição necessária para conservar, como se diz, a integridade do seu eu. Para que o eu não se encolha, para que guarde seu volume, é preciso regar as lembranças como flores num vaso e essa rega exige um contato regular com as testemunhas do passado, quer dizer, com os amigos. Eles são nosso espelho; nossa memória; não exigimos nada deles, a não ser que de vez em quando lustrem esse espelho para que possamos olhar-nos nele”.

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