Educar as emoções

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Educar com o Cinema é tema que me tem acompanhado nos últimos anos. Tive ocasião de escrever artigos, publicar livros, dar conferências em congressos internacionais, apresentar-me em programas de TV. E, em quase todos os cenários, a pergunta que surge é similar: “Você não é médico? E isto do cinema, como se encaixa na sua vida?”. A pergunta procede e, até tal ponto, que mesmo quando não a fazem eu mesmo a coloco e respondo. Afinal, é necessário justificar o tempo que se dedica a um trabalho que já ultrapassou de longe as proporções de um simples hobby.Dizer que os médicos de hoje estão munidos de excelente preparação técnica, não é novidade. Como, infelizmente, também não o é afirmar que carecem, na maioria, da sensibilidade suficiente para lidar com o ser humano doente, que sofre e se confia aos seus cuidados. Fala-se em humanizar a medicina, quando na verdade o que se gostaria é de injetar doses de humanidade nos médicos para ver se o paciente consegue, de algum modo, se fazer entender pelo profissional que está destinado a cuidá-lo e, muito absorvido pela técnica moderna –e necessária- parece esquecer o paciente, ocupando-se apenas com a doença. Leia mais

DESENCANTO

Pablo González Blasco Filmes 1 Comments

(Brief Encounter) Diretor: David Lean. Trevor Howard, Celia Johnson.
Inglaterra, 1946. 85 minutos.

O tempo faz envelhecer os filmes. A passagem dos anos vai desgastando-os como faz com as pessoas, no que tem de material, de orgânico. Somente não envelhece o espírito. Por isso os valores, ancorados no espírito, não envelhecem nunca; ficam, persistem, são eternos. A maioria dos filmes envelhece porque oferece ao tempo uma ampla superfície de erosão. São como a realidade orgânica de uma técnica que logo será obsoleta; as personagens são pouco reais, como de plástico, epidérmicas. O tempo não poupa o material e vai mumificando os filmes carentes de alma enquanto espalha cabelos brancos e rugas na face dos espectadores.

            Existem filmes em que a densidade do espírito é tanta que o tempo atinge-os apenas na periferia, sem chegar perto do núcleo. Possuem intimidade, são filmes atemporais, fora do tempo, que é muito mais que dizer atuais. Filmes que contém um amontoado de vivências humanas, de paixões e instintos. Personagens que são encarnação de toda a gama psicológica de temperamentos, com defeitos e virtudes. Momentos de dúvida vital, de hesitação, de conflito interior. Existirá algo mais humano -animicamente humano- do que o conflito e a dúvida?

            “Desencanto” é um destes filmes. Uma sequência de situações que, sendo corriqueira, entranha um profundo envolvimento psicológico, ao qual o espectador não é poupado. Lembranças envolvidas em fumaça de estação ferroviária e nos acordes -sempre atemporais- do segundo concerto para piano de Rachmaninoff. “Um encontro acidental na quinta feira; outro encontro e um almoço na semana seguinte. Depois o cinema. O que há de mais comum em tudo isto” -diz Alec (Trevor Howard). E, no entanto, “sabes o que aconteceu, não?” pergunta a Laura (Celia Johnson) que, confusa, abaixa o olhar.

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Merce Rodoreda: La plaza del Diamante

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Merce Rodoreda: La plaza del Diamante Edhasa. Barcelona. 2008.254 págs.

Uma das melhores novelas de pós guerra espanhola. Escrita em linguagem ágil, com descrições muito femininas e detalhistas, com prosa elegante, narra a vida de uma jovem que vem a tornar-se viúva por causa da guerra civil. Intimista, reflexiva, nos faz saborear a boa prosa. Lida em castelhano; certamente o original em catalão deve ser melhor. Para quem aprecia a prosa narrativa e retrato de época e personagens.

Guillermo Martínez: La muerte lenta de Luciana B

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Guillermo Martínez: La muerte lenta de Luciana B. Destino. Barcelona. 2007. 230 págs.

O escritor argentino Guillermo Martínez apresenta aqui um romance que não passa de regular. Um romance de crimes e mistério, com argumento muito pouco verossímil, onde o psicológico e o real se confundem, e as personagens são complicadas, difíceis, distantes da vida real. A formação do autor em lógica matemática talvez explique este cenário complexo, que requereria do leitor maior capacidade de abstração para interagir com o romance. De fato, não prende, nem cativa e, embora isso não seja a única qualidade que podemos pedir a um bom livro, já é meio caminho andado. Mesmo assim, o autor parece ser um fenômeno de vendas, e o livro está sendo traduzido a vários idiomas. Sobre gostos, nada é definitivo. Por isso pode-se afirmar que para o gosto comum, é um livro dispensável.

Paloma Diaz- Mas. “Como un libro cerrado”

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Paloma Diaz- Mas. “Como un libro cerrado” Anagrama. Barcelona 2005.218 págs.

Coleção de relatos, distribuídos em curtos capítulos, onde a autora – nascida em Madrid em 1954- evoca lembranças da sua infância e adolescência. Existe um fio comum em toda a narração: a educação recebida. Família, colegas e, sobretudo, professores que marcaram esses anos de formação. É uma interpretação de como ocorre a gênese de uma vocação literária desde os primeiros momentos da vida, incluso quando ainda não se sabe ler, e tudo é “como um livro cerrado”.

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José Jiménez Lozano: Los Cuadernos de Letra Pequeña.

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José Jiménez Lozano: Los Cuadernos de Letra Pequeña. Ed. Pre-Textos. Valencia. 2003. 248 págs.


O autor publica seus diários, de 1993 a 1998. Não são propriamente diários, mas notas que vá tomando, curtas reflexões ou considerações do que ele mesmo lê em outros autores. Mostra uma cultura vastíssima, move-se com facilidade em vários campos, tendo sempre como pano de fundo alguns acontecimentos e, sobretudo, os escritos de autores variados que conhece com profundidade. Mesmo possuindo esta ampla cultura, não é tedioso nem petulante; lê-se com agrado. Lembra, em muitos momentos Steiner, mas está aberto à esperança e à transcendência. Uma obra que agradará aos que tem conhecimento da cultura espanhola, embora os temas tocados vão além das fronteiras hispânicas. Mas o modo de escrever é,  sim, muito espanhol. Um livro para ler aos poucos, no mesmo ritmo que foram confeccionados esses diários que o autor recolhia num caderno escrito com letra estreita, pequena. Daí o nome do livro.

Parker J. Palmer: The Courage to Teach: Guide for Reflection and Renewal

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Jossey-Bass. Wiley and sons Inc. S. Francisco, 2007. 180 pgs/ DVD 70 min.

     De tanto promover e falar, em aulas e congressos, de um livro que muito agregou à minha tarefa de professor e já comentado neste espaço, vim recolher um importante fruto. Um colega, amigo e assistente às minhas reuniões de formação de professores, apareceu numa delas com este livro. É a continuidade do anterior; ou melhor, uma lente amplificadora das importantíssimas questões colocadas pelo autor em obras precedentes, e também de modo sistemático no Centro de educação que ele fundou e dirige (http://www.couragerenewal.org/).

Esta guia –assim denomina o autor a sua obra- é o mapa para a viagem que conduz à intimidade do professor. Uma viagem que mergulha no silêncio e na reflexão dos que se sabem chamados vocacionalmente a ensinar. Não é um livro de pedagogia, nem sobre processos educacionais. É uma análise profunda –uma verdadeira dissecção- do sujeito docente, do professor. Este é o principal recado que o autor repete –por escrito, e nas entrevistas recolhidas no DVD que acompanha o livro-, e que se poderia sintetizar no seguinte pensamento: “Quase todos se perguntam o que têm de ensinar (conteúdos); alguns pensam em como fazê-lo (técnicas) e a quem devem ensinar (público); mas poucos alcançam a questão chave: quem está ensinando? Porque, afinal, ensinamos o que somos”. Educar vai muito além dos conteúdos, ou das técnicas, depende radicalmente de quem está ensinando, e de como cuidamos dele – quer dizer, de nós mesmos professores. “A técnica é o que se utiliza até que aparece o verdadeiro professor: um simples esquentamento”. Essa questão primordial está reforçada na primeira parte do livro, resumindo e enfatizando os temas abordados no livro mãe, publicado dez anos antes.

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Terra das sombras

Pablo González Blasco Filmes 1 Comments

(Shadowlands) Diretor: Richard Attenborough. Anthony Hopkins, Debra Winger. Inglaterra 1994. 130 min.

O relacionamento de C.S. Lewis, professor de Oxford, solteirão intelectual, com a poetisa americana, Joy Gresham, de origem judia e convertida ao cristianismo, em parte pelas obras de Lewis, nos brinda um filme encantador, uma jóia cinematográfica apresentada com excelente bom gosto. Os l30 minutos da produção transcorrem sem cansar, como delicada melodia onde a plasticidade das imagens, belíssimas, se continua com a poesia de fundo e com o realismo das personagens, humanas, próximas do espectador.

“Terra das sombras” é a nossa terra, a nossa vida: sombras e luz, em contraste vital, de sofrimento, alegrias e amor. Tudo é compatível como também o são as luzes e sombras de uma pintura ou da fotografia artística. “Deus nos fala baixinho nos prazeres, conversa na nossa consciência, mas nos grita nas nossas dores; o sofrimento é o megafone de Deus para despertar um mundo adormecido”. Uma história de solidariedade humana, de compaixão -padecer com alguém- de amor, temperada pelo sofrimento, ingrediente necessário na vida. “Querer excluir a possibilidade do sofrimento que a ordem da natureza e a existência do livre arbítrio envolvem, é excluir a própria vida”, nos diz Lewis em “O problema do sofrimento”.

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Juan Manuel de Prada: La Nueva Tiranía.

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Juan Manuel de Prada: La Nueva Tiranía. Libroslibres. Madrid. 2009.  350 págs.

Coleção de artigos publicados principalmente em ABC e em XL Semanal, onde o autor exprime-se à vontade, sem nenhuma classe de eufemismo. O estilo é direto, jornalístico, às vezes excessivamente saturado de epítetos –o que mostra o caráter apaixonado de Prada- e permeado de divertidos traços  de casticismo hispânico.  Vai direto ao ponto que lhe interessa e dá o recado de modo claro.

As críticas mordazes e destruidoras à esquerda espanhola de hoje (PSOE e todos os sucedâneos), sem poupar a direita medíocre e sem propostas. As raízes cristãs e católicas colocadas sem tapumes, com interessantes crônicas dos dias Romanos que rodearam a morte de João Paulo II, onde o autor desempenhava a função de correspondente no Vaticano. Suas raízes familiares, as saudades do cinema de sempre, os autores e personagens que marcaram sua formação, e as considerações que ele mesmo faz do Evangelho e da Doutrina Cristã, tudo escrito num estilo desenfadado, claro, contundente e ameno.

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Mercedes Salisachs. Desde la dimensión intermedia.

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Mercedes Salisachs. Desde la dimensión intermedia. Ed. BSA. Barcelona. 2006. 453 págs.

Excelente romance da veterana MS, com força narrativa, prende a atenção. Um verdadeiro exame de consciência, desde a dimensão intermédia, das coisas que valem a pena na vida, e das que são simples miragens. Sem medo de mostrar a condição humana, sem camuflagem, mas com elegância e estilo. Um bom investimento do tempo