(La leggenda del pianista sullóceano -The legend of 1900).Diretor: Giuseppe Tornatore. Tim Roth, Pruitt Taylor Vince, Melanie Thierry. 116 min
Uma lenda, ou uma história. Em qualquer caso um filme original. 1900 é o nome do protagonista que nasceu nesse ano num navio, e nele ficou pelo resto da sua vida. Toca piano, compõe, movimenta-se com classe no cenário, possui conversas animadas e com substância, tem sentido de realidade. Mas, sempre, no navio. Sair dele é enfrentar-se com o desconhecido, tirar os pés do chão, e partir para uma aventura que não conhece e onde possivelmente não se sairá bem. Outros, sim, devem fazer isso, e o navio é apenas um meio de transporte ou de lazer. Para 1900, o navio é a sua vida, e lá, nesse reduzido espaço, tem de tornar ela útil, fazer da sua existência uma contribuição real para melhorar o mundo à sua volta.
O sentido de realismo é perfeitamente compatível com os sonhos, e com os desafios. Sobrevém uma tempestade e o nosso protagonista encontra-se, como quase sempre, tocando piano. Um salão de festas, vazio, escuro, porque os passageiros retiraram-se, cada um na sua cabine, em luta individual contra a indisposição, enquanto a tripulação se debate com as ondas gigantes.
(Scent of a woman). Diretor: Martin Brest. Al Pacino, Chris O’Donnell. USA 1992. 156 min.
“Não presto para nada. Estou podre”. Eis a afirmação mais sincera do velho coronel Frank Slade, que destila do seu cinismo habitual. Um militar reformado, cego como resultado de uma imprudente brincadeira durante práticas bélicas, é o ponto de partida do filme. Um homem revoltado consigo mesmo e, por tabela, com Deus e todo o mundo. Cético quanto à moral e princípios, descrente da vida e do ser humano. Não são, neste contexto, de estranhar os diálogos que emprega, grosseiros e, com frequência molestos. É o fel que Frank, que perdeu o respeito por si mesmo, vomita nos seus semelhantes. Um homem simplesmente intratável.
Por que o perfume? É sabido ser o olfato o sentido que mais aviva a memória, envolvendo em odores as vivências de lembranças marcantes. Frank aposta no olfato, agarra-se a ele na procura de lembranças melhores. E no seu íntimo, a busca de um perfume permanente, aquele que ainda está do seu lado quando acorda de manhã. O desejo de estabilidade; no fundo, uma petição de afeto e compreensão.
Cinismo, casmurrice, sensualidade, revolta, desprezo pela humanidade. Eis o universo de Frank Slade, que não é nenhum modelo de virtudes. Na peça em bruto pouco podemos extrair de valor. Mas, na vida, os valores nem sempre vem dados por arquétipos estáveis, reunidos num compêndio de virtudes de fato. É na superação dos defeitos, na capacidade de mudar, onde se encerram estes tesouros. Na ginástica persistente que o homem deve praticar para ir domando o seu temperamento vai surgindo o diamante polido, lapidado, valioso. Daí destilam valores, dessa luta; e decanta o maior de todos: a esperança, saber que é possível mudar.
O coração humano encerra riquezas que, como o petróleo, é preciso ir fundo para extraí-las. A podridão externa representa, em não poucos casos, as necessárias camadas de decomposição que albergam no fundo o ouro negro. O filme é um “mano a mano” nessa ginástica de superar-se, de ir perfurando até sondar o que de valioso se encerra nas entranhas. E tudo na base de um crescimento na confiança, na amizade sincera, na doação desinteressada que quebra as crostas opacas e permite entrar a luz do sentido da vida, a redescoberta de que vale a pena continuar a viver. Amizade, doação, confiança: estas são as brocas eficazes que perfuram aparências e atingem o âmago do homem, do desesperado Frank.
E aí, sim, surge o petróleo em forma de sabedoria, porque Frank é um homem sábio…. que estava enferrujado. Quando a pauta é ajudar os outros, se transforma e resgata o pulso da vida, aquela que não fazia sentido. Cenas antológicas, com diálogos magníficos. A garota tímida a quem ensina a dançar tango: “não tenha medo de errar; o tango não é como a vida. Se você erra, você continua dançando”. O discurso final em defesa de Charlie: “Vocês não sabem o que é um líder…Não existem próteses para quem tem o espírito amputado”. E por ai afora.
Perfume de mulher é a história de uma amizade crescente, redentora, que extrai do jovem companheiro de Frank heroísmos que o protagonista não suspeitava possuir. É o benefício mútuo que a amizade traz consigo.
Um filme de corte atual para falar de valores de sempre. Uma injeção de ânimo para que não deixemos de acreditar que as pessoas mudam e que ninguém se encontra definitivamente mergulhado na maldade. Um apelo para calibrar os padrões -frequentemente superficiais- da amizade verdadeira. Filme contido na forma, desbocado nos diálogos, e magnificamente interpretado por Al Pacino -polariza a produção inteira, cada cena- que vai descobrindo que, além de dançar tango maravilhosamente e de dirigir uma Ferrari como ninguém, existem muitos outros motivos para viver.
Parker J. Palmer. “The Courage to Teach”.Jossey-Bass. S.Francisco. 1998. 200 pgs.
Eis um livro essencial para todos os que se aventuram a ensinar. Um livro para professores que querem se comprometer com algo que é uma missão, uma vocação, não um trabalho. O autor é claramente um outsider – não deve ser fácil integrá-lo às estruturas rígidas das instituições de ensino – que se dedica à formação de professores e a escrever. Este livro é mais do que uma coleção de conselhos e facilmente se demonstra: são experiências vividas e sobre as quais muito se refletiu. São 200 páginas de sabedoria, para ler em “câmara lenta”, observando na margem as ideias que surgem – com certeza virão! – relativas ao nosso mundo e que as considerações do autor despertam.
Embora o livro não tenha desperdiço, se alguns capítulos precisassem ser destacados, eu o faria com 4 deles:
A Introdução e o Primeiro capítulo (O Coração de um Professor), colocam a questão crucial no início para que ninguém se deixe enganar pelo livro, pensando que é mais um aventura de autoajuda. O autor comenta que os professores muitas vezes se perguntam o que ensinar (o conteúdo da disciplina). Todos eles fazem isso: é uma condição de sobrevivência. Outros, muito menos, pensam no método: como ensinar? Outros, menos ainda, ousam pensar: e a quem devo ensinar isso? E quase ninguém faz a pergunta mais importante: no final, quem ensina? E conclui: Porque, gostemos ou não, ensinamos o que somos. Ensinar bem não se limita às técnicas, mas resulta da identidade e integridade do professor que ensina. A coragem de ensinar – título do livro – é ter o coração aberto para ir além do convencional. Em seguida, ele desenvolve o que seria identidade e integridade, e o que acontece quando o professor “perde o coração” (deixa de ensinar desde o fundo do seu coração).
O Segundo capítulo (Uma cultura do medo) nos coloca diante do desafio dos novos paradigmas educacionais. Os medos que nos ajudam a sobreviver e os que nos paralisam. O medo de perder a posição conquistada – de sair da zona de conforto – de se entregar à missão de ensinar. Sem novos paradigmas, que envolvam correr riscos, o diagnóstico dos alunos será medíocre e a ajuda do professor muito limitada. Aborda a questão de encontrar perguntas que você não sabe como responder e que o ameaçam. Na verdade, isso é educação: buscar juntos respostas que construam o conhecimento, do professor e do aluno. As responsabilidades que devem ser atribuídas ao aluno, pois ele tem de assumir as suas. Medo de perder popularidade. O medo determina o que aprendemos e o que ensinamos.
(Between the Devil and the blue sea. Li) Diretor: Marion Hänsel. Stephen Rea, Ling Chu, Adrian Brine 92 min.
Hong Kong, encruzilhada dos mares. Um navio pertencente a uma empresa em falência, fundeia no porto. O barco foi vendido e os marujos, fiel reflexo da malograda companhia, consomem os dias enquanto aguardam enrolar-se em outro serviço. Tempo gasto na indolência, tédio infinito, bebida e mulheres que atendem em domicílio, num bordel flutuante. A sordidez do ambiente é retratada num filme que, por ser europeu, acrescenta suas pitadas de niilismo, de esvaziamento vital. Nikos, o protagonista, acrescenta à tônica coletiva deprimente as angústias de um passado escuro e baforadas de ópio.
Mas entre o esterco nascem as flores. Li, uma menina de dez anos, cuja vida destroçada nada tem a invejar a dos marinheiros podres, surge como ponto de esperança na vida de Nikos. Uma miniatura, em porcelana chinesa, de encanto e feminilidade. Sensatez e ternura, timidez de mulher feita -”nunca choro na frente de estranhos”- e fantasias de criança, juntam-se em Li, um monumento de doação. A simplicidade da menina perfuma o passar das camisas, o esfregar das panelas e o coração do marujo, náufrago da vida. “Você cuida de todos, inclusive de mim” – confessa o infeliz. “É nisso que consiste o melhor da vida”. Um guindaste de amor que extrai da lama uma vida em decomposição….e exige, -mulher com classe- que se barbeie quando acorda.
Curioso tema este, o da menina que se mostra mulher, descortinando entre os modos ternos de adolescente o esplendor da alma feminina. O filme não se prende nestas questões, mas é inevitável pensar nelas. Somos mesmo, como gostam de afirmar os filósofos vitalistas, seres sexuados. A condição sexuada -da qual a sexualidade é apenas um caso particular- imprime o selo em tudo o que se faz. E assim, quando sorrimos ou choramos, quando nos sentamos, escovamos os dentes ou arrumamos as gavetas, a condição sexuada -feminina ou masculina- carimba indelevelmente o procedimento. É um modo de ser que acompanha o amplo espectro do nosso viver. Está presente nas funções peculiaríssimas da sexualidade, na fecundação e na maternidade, e também nas rotinas mais prosaicas. Existe, por isso, um jeito feminino e masculino de fechar uma janela, de atender o telefone ou descascar uma laranja. É como se essa qualidade particular fluísse através da ação até o sujeito, modificando suas feições com traços firmes de masculinidade ou delicados perfis femininos. Homem e Mulher são, em modos de ser pessoa. Uma verdade contundente que resolve muitos dos dilemas e das toneladas de tinta gasta com essa questão.
(Conspiracy Theory) Diretor: Richard Donner. Mel Gibson, Julia Roberts, Patrick Stewart.136 min. USA 1997
Jerry é um motorista de Taxi que suspeita de tudo e de todos. A sua vida gira em volta de teorias de atentados políticos, ameaças terroristas, e uma verdadeira obsessão por conspirações contra o regime estabelecido. O seu delírio é tão sistemático que bastam os primeiros cinco minutos de filme para convencer-nos de que é um perfeito paranoico. E como não poderia deixar de ser, quando se fala do amor, observa a distância, contempla sua amada que, naturalmente, ignora o amor que Jerry devota a ela. Temos, pois um perfeito D. Quixote, que ao invés de moinhos de ventos luta contra ameaças políticas de espiões, que, na sua mente, estão perfeitamente organizados.
Mel Gibson encarna o papel sob medida. Sobra-lhe realismo e naturalidade para representar o paranoico que é, ao mesmo tempo, patético, perspicaz, ágil, tremendamente romântico. É como uma variação aprofundada e madura daquele policial com tendências suicidas que nada tem a perder quando se enfrenta com os bandidos sem escrúpulos da série “Máquina Mortífera”. Uma variação muito mais poética, sensível, pois afinal, D. Quixote é um cavalheiro andante. E como o fidalgo de La Mancha, sabe encaixar os golpes com elegância, sem poupar-se do sofrimento. Enquanto isso se agarra ao amor -enorme- que não confessa por timidez. Um herói encabulado, sem jeito. “Pensei em pedir a você que casasse comigo, como no estilo antigo…” O amor é um talismã para o cavalheiro: “Beije-me. Isso me dará boa sorte”.
Dulcinéia é Alice, uma Procuradora da Justiça, que Julia Roberts representa maravilhosamente. Ponderada, continuamente surpresa com as audácias do Jerry, mas encantada e atraída por algo do que não consegue livrar-se. Falta no quadro Sancho, o contrapeso da realidade, que inutilmente procuramos sem encontrá-lo. Não seremos nós, os espectadores, os Sanchos que a trama requer para o perfeito equilíbrio do filme? E aqui, no envolvimento do espectador, está a originalidade desta produção arrojada, singular.
(Schindler´s List) Dir: Steven Spielberg. Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes. 185 min.
AMISTAD
(Amistad) Dir: Steven Spielberg. Djimon Hounsou, Matthew Mc Conaughey, Anthony Hopkins, Morgan Freeman, Nigel Hawthorne. 152 min.
A contribuição de Steven Spielberg ao cinema é inegável. Mundos da fantasias, ficção e aventuras; sonhos variados e temáticas emanadas de uma imaginação fértil, divertida , com substância. Mas é talvez o problema humano, o assim chamado cinema adulto de Spielberg, o que nos brinda oportunidades únicas para a reflexão. É o caso deste dois filmes, aqui apresentados em conjunto porque são variações sobre o mesmo tema. Houve até quem comentou que com Amistad, Spielberg tinha reeditado a Lista de Schindler. Tal afirmação é incorreta, até porque as temáticas são diferentes, os envolvidos –leia-se responsáveis pela tragédia- também. Convergem, sim, no fator humano e tal é o motivo de que as recordemos em paralelo. As reflexões incidem sobre aspectos diferentes e, dependendo de cada um, se detêm numa cena ou em outra. Afinal, cada um reflete sobre o que lhe diz respeito e, deste modo, tira proveito próprio das cenas e dos filmes que se lhe oferecem.
Na Lista de Schindler, o nosso olhar dirige-se para o final do filme. Mais de 1000 judeus foram poupados ao holocausto, pela iniciativa de Oskar Schindler que, sendo humanitária, tinha também muito de interesse próprio. De repente, no final, Schindler repara que poderia ter feito muito mais. Tranquilizam lhe os judeus, mostram-lhe quantas famílias lhe serão eternamente gratas, e afirmam que já fez muito, sem dúvida, muitíssimo mais do que qualquer um. Mas ele, Oskar, não está satisfeito. Reflete, cai em si. Sabe que não é um modelo de virtudes; gastador, mulherengo, bom vivant. Ele, e somente ele sabe, o quanto mais poderia ter feito. E chora, desconsolado. O carro, o broche, poderia tê-los vendido e salvado mais gente com eles. Mas não o fez. A cena é cativante porque mostra como um líder não pode ter outro parâmetro de avaliação a não ser a própria consciência. Não basta comparar-se com a média, ver o que os outros fazem, contentar-se com o confete que te jogam. Somente no íntimo –ele e Deus- o líder sabe quanto fez e quanto poderia ter feito a mais. Essa é a sua grandeza, e a sua cruz. O peso da responsabilidade, a solidariedade que deve demonstrar com a liderança.
PARA ROSEANNA(Roseanna’s Grave) Dir: Paul Weiland. Jean Reno, Mercedes Ruehl, Polly Walker, Mark Frankel. 93 min. 1997
Existe o filme perfeito? Quer dizer, aquele filme redondo, que transpõe para a tela, sem deixar nenhum fio solto, tudo o que pensamos sobre este ou aquele assunto? Deste modo o filme será perfeito se tem a virtude de ser, principalmente, o acabado tratado das nossas teorias. Convenhamos que é muito pedir. E quando o assunto é o amor, o romantismo, tão levado e trazido -e pouco compreendido, seja dito de passagem- o desafio em que embrenhamos o coitado diretor de cinema é superlativo.
Mas há pessoas que não se acabam de convencer de semelhante utopia, e por isso, talvez, não aprovam de bate pronto nenhum filme. Sempre se poderia ter mostrado aquele aspecto, eliminar outro, usar uma perífrase, carregar o diálogo, encurtar os finais…Enfim, que querendo ou não, passam a vida corrigindo o que outros fazem e perdem a oportunidade de saborear tantas coisas boas que nos serve o cinema. É como o plano perfeito, a agenda irrepreensível, onde tudo está absolutamente previsto; como a culinária refinadíssima que precisa de ingredientes exatos. Bom será almejar tudo isso, mas com a sensatez de não morrer de fome, ou de desperdiçar miseravelmente o tempo e a vida à espera do programa com qualidade total.
Não, provavelmente não existe o filme perfeito. Como também é inútil a velha tentativa de comparar filmes, de elaborar as listas dos melhores, e desses confrontos que mesmo sendo de elementos de ficção não são por isso menos odiosos. Odiosos e inúteis. Pois comparar é, de um modo ou outro, excluir. E a exclusão pode ser perda considerável. Não existe o filme perfeito, nem o cinema pretende esgotar o tema. Seria uma pretensiosa tentativa de delimitar a vida, e padronizar o ser humano no universo do amor, que é disso que trata o filme que nos ocupa. Existe sim o filme original, e Para Roseanna é um deles. Um notável filme original, uma variação audaz sobre um tema manuseado por todos, maltratado até.
Às terças feiras à noite -isto faz mais de 50 anos- a televisão dedicava um programa aos astros do cinema. Lembro de um simpático velhinho, um pouco fanhoso e muito compenetrado, que fazia alguns comentários antes de passar o filme. Mais do que comentários eram afirmações rotundas: resultava evidente que para ele o cinema era algo muito sério. Não apenas um passatempo, como algum dos telespectadores poderia irresponsavelmente pensar, comodamente sentado na poltrona, depois do jantar. “Se você quiser relaxar, ou dormir, melhor mudar de canal. Aqui vamos trabalhar, vamos ver cinema do bom”.
Penso que nunca chegou a dizer isto, mas era o que eu -criança- conseguia ler nas suas feições. Provavelmente isso contribuiu para engordar minha curiosidade pela sétima arte. E, certamente foi lá onde ouvi pela primeira vez falar de Frank Capra. O velhinho fazia uma pausa, tomava fôlego e até enchia a boca quando pronunciava este nome. Deve ser alguém importante – pensei. Alguém muito sério, como este senhor…
Os programas de terça à noite eram ótimos. Não conseguia relacionar o que o comentarista falava com os filmes que, apesar da seriedade do velhinho, divertiam-me à beça. As imagens que de lá guardo sempre me acompanham, com o sabor peculiar do que marca na infância. James Stewart, que ficava de pé horas a fio para “manter a palavra” no senado americano, comendo maças, lendo a Bíblia para os parlamentares. E nas galerias aquela moça bonita, Jean Arthur se chamava, torcendo por ele. Já a tinha visto antes, judiando do Gary Cooper -um dos meus ídolos da infância- naquele filme onde ele fica rico de repente… “Mr. Deeds”. E Bárbara Stanwyck -minha mãe sempre falava dela- embrulhada num sobretudo em cima da camisola, segurando Gary Cooper -novamente ele- para que não pulasse do terraço na noite de Natal. Eram momentos emocionante, divertidos, românticos.
O ESPELHO TÊM DUAS FACES(The mirror has two faces) Diretor: Barbra Streisand. Barbra Streisand, Jeff Bridges, Lauren Bacall, George Segal, Mimi Rogers. 126 min. USA 1996
O cinema tem sua magia particular. Uma magia que envolve linguagem, sentimentos, evocações e todo um festival de associação de ideias servidas a gosto de quem dirige, sempre e quando o produtor não imponha suas manias de bilheteria. Na verdade, cada diretor faz os filmes de que gosta, pinta o mundo ao seu capricho e, querendo ou não, torna-se transparente entre os fotogramas dos seus próprios filmes, verdadeiro mosaico da sua alma. Depois surgem os críticos, comentaristas e o público que interpreta e qualifica, julga e condena. Mas isso é já outra questão. O filme está lá, para quem quiser vê-lo e, sobretudo, vivê-lo. Vai muito na sensibilidade de quem assiste o poder usufruir do que é servido no celuloide. É um problema de paladar fílmico; algo que naturalmente pode ser educado, quando se possui suficiente capacidade de ressonância interior. Daí as controvérsias que as manifestações artísticas costumam suscitar; onde muitos apenas vem cores, outros distinguem figuras, e alguns identificam os sentimentos do artista. Traços pictóricos, notas musicais, versos de um poema; expressões, todas, que são radiografia do espírito criador, para quem é capaz de captá-las.
O cinema possui linguagem própria, como arte que é. E existem infinidade de dialetos do idioma fílmico, variações que enriquecem o vocabulário e possibilitam a expressão adequada ao momento. É como os sonetos e as odes; sinfonias, prelúdios ou árias, mas em linguagem visual. Cada sentimento exige a modalidade oportuna.
A Opera esteve presente na Educação Humanística da SOBRAMFA desde os inícios. Alunos e professores combinaram para assistir representações de Opera na cidade de São Paulo conforme a agenda permitia: a agenda deles, e, sobretudo, a agenda dos eventos operísticos.
A assistência das Operas costumava ser precedida por uma explicação simples -argumento, destaque para as principais passagens, árias e duetos de maior impacto- de modo que os alunos conseguiam abrir os olhos e ouvidos para essa forma clássica de arte.
A seguir, recolhe-se a crônica resultado do primeiro encontro para assistir uma Opera. Corria o mês de Novembro de 1997. O Elixir do Amor, de G Donizetti, foi a overture inesquecível deste projeto educacional.