LADO A LADO: A mãe nos alicerces da família.

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(Stepmon) Diretor: Chris Columbus. Susan Sarandon, Julia Roberts, Ed Harris, Liam Aiken, Jena Malone.  124 min.

Em certa ocasião, um amigo me confidenciou que estava preocupado com os filhos. Nada de especial, uma preocupação “preventiva”, mas sentia que tinha de fazer algo. “Veja bem… Meus filhos comentaram estes dias com a mãe, não sem certa perplexidade, acerca do ambiente do colégio. Parece que os colegas da escola –bastantes deles- falam do ‘namorado da minha mãe’ ou da ‘namorada do meu pai’ com a mesma naturalidade com que a gente pede batatas fritas para acompanhar o hambúrguer do McDonald.” Silêncio. “E o que você pretende fazer? Explicar a diferença entre namorada e amante? Ler a cartilha da família bem constituída?” Meu amigo balanço  negativamente a cabeça: “Isso eles já sabem…,Mas tenho que fazer alguma coisa, ouvi-los talvez, entender suas dúvidas. Será que eles pensam que uma família normal, como a nossa, é algo em extinção?”. Recomendei-lhe algo pouco convencional, ou pelo menos assim me pareceu no momento, mas confesso que foi a melhor ideia que me veio à cabeça: “Peça uma pizza, alugue um filme….e depois de assistir todos em família, escute-os”. “Mas,  que filme? ” –perguntou o meu amigo. “ Lado a lado acho que pode funcionar”.  E, pelo que dias depois me comentou, funcionou mesmo. Já passaram alguns anos desde essa conversa, mas sempre que penso neste filme revivo o diálogo com sensação de atualidade.

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O Patriota

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(The Patriot) 2000. Diretor: Roland Emmerich. Mel Gibson, Heath Ledger, Joely Richardson. 160 min. http://www.imdb.com/title/tt0187393/

Lembro muito bem do lançamento do filme. Foi na virada do milênio, na real e não na fictícia comemorada um ano antes. Isso por aquilo de que o ano zero nunca existiu, e o milênio virou no final de 2000. Um aluno –hoje médico e colaborador nas empreitadas educacionais, que muito tem de aventura e de sonho- comentou-me: “precisamos ver esse filme, todos juntos”. Á minha cara de interrogação, seguiu-se a explicação imediata: “Sim, é para que as pessoas aprendam como se carrega uma bandeira”. Confesso que fui assistir ao filme com esse comentário girando na minha cabeça e querendo descobrir o que seria esse “carregar a bandeira”.

São quase três horas de aventuras bélicas, dúvidas e decisões, batalhas e gritos rasgados de independência que se misturam com o sangue, as tragédias familiares, os apelos ao heroísmo, enfim, um verdadeiro épico, como os de antigamente. “Onde está a bandeira, a que temos que aprender a carregar?” – perguntava-me eu enquanto desfrutava do filme.

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O SHOW DE TRUMAN

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The Truman Show.  Diretor: Peter Weir. Jim Carrey, Ed Harris, Laura Linney, Noah Emmerich, Natasha McElhone. 110 min. 1998 USA.

Truman é uma criatura do seu tempo, ou melhor, do nosso tempo, pois somos nós os que a criamos. Desde o seu nascimento, sem lhe pedir licença, já é parte de um projeto. Uma vida sem nenhum direito à intimidade, onde o que conta é o sistema e o circo que é montado para albergar o cotidiano de Truman que nem desconfia ser o ator principal desse grande teatro. Transmitido sem interrupção, 24 horas no ar, para os 5 continentes, onde as pessoas estão pendentes da vida de Truman, muito mais do que da própria. Até parece que a própria vida careceria de sentido se não tivesse o simpático Truman na TV  –que em rotina encantadora cumprimenta o mundo, pensando apenas cumprimentar o seu vizinho. Bom dia, boa tarde e, caso não veja vocês, boa noite.

            Peter Weir, diretor australiano, tem gosto e sabe tratar, os temas que atingem a pessoa e a enfrentam com um sistema que abdica da liberdade. Enaltece o homem que não abre mão do seu compromisso vital, e que consegue extrair do seu interior riquezas que nem mesmo ele sabia possuir. Baste lembrar a Sociedade dos Poetas Mortos, A Testemunha, Gallipoli e O Mestre dos Mares

            O Show de Truman é um ensaio sobre as possibilidades da liberdade humana. O bom Truman, inofensivo e dócil, marionete do sistema que rende milhões em publicidade e recorde de audiência decide, de repente, exercer a sua liberdade, ser “espontâneo”. Uma atitude que não tinha sido prevista pelos criadores do show, pelo megalomaníaco controlador do sistema. Truman suspeita que algo não anda bem nesse mundo de faz de conta onde nada acontece. Entenda-se, nada ruim, já que tudo é previsto, organizado, contratado, projetado. Quando o ser humano não enfrenta dificuldades desconfia que esteja sonhando. É como aquele velho ditado: “se depois dos 50 anos, acordas de manhã e não doe nada, provavelmente estás morto”. As dificuldades e, sobretudo, os atritos no trato com os nossos semelhantes, que pulem as arestas do temperamento, são coisas de ordinária administração. E nessas dificuldades e desafios é onde a pessoa cresce e se constrói realmente. Uma vida que visa apenas evitar dificuldades é irreal, torna-se aborrecida.

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A FESTA DE BABETTE

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(Babette’s feast) Diretor: Gabriel Axel. Stephane Audren, Brigitte Federspiel, Bodil Kjer, Jalr Kulle. Dinamarca 1987. 102 min

Extrair poesia dos aspectos prosaicos da vida requer imaginação, em primeiro lugar. Depois,  um olhar penetrante que não resvale no superficial; sensibilidade para captar os detalhes e o lirismo que se esconde atrás do corriqueiro; talento expressivo para transmiti-lo de modo atraente. E, em todo momento, medida e ponderação para não carregar as tintas ou tornar-se repetitivo, mantendo, do começo ao fim, a beleza e o bom gosto.

Se o prosaico é um banquete, e o modo poético de mostrá-lo é o cinema, a tarefa não é fácil. Gabriel Axel, diretor dinamarquês, aceita o desafio e supera a prova com louvor. A festa de Babette é uma obra de arte, um primor cinematográfico que destila poesia em cada fotograma.

É claro que não são os l00 minutos de duração do filme, prosa poética em torno a um banquete. Mas os prólogos e preparativos, o entorno histórico gira em volta da “festa”, atingindo no momento da comida -isso mesmo, comida e muita- o ápice da produção. É um condensado de valores, com uma delicadeza e sobriedade pouco comum no cinema de hoje e na arte em geral.

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INSTINTO: Os sonhos como resistência ao sistema

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(Instinct) Diretor: Jon Turteltaub. Anthony Hopkins. Cuba Gooding Jr., Donald Sutherland. 123 min.

Não é fácil lutar contra o sistema, lutar sempre, ao longo de toda a vida. Opor-se de modo esporádico, protestar sazonalmente, é algo que muitos fazem. Geralmente dura pouco, não é uma oposição consistente. Perseverar em opinião contrária ao sistema, de modo sereno, trocando os gritos espasmódicos pelo labor eficaz, em atitude positiva, construindo uma realidade diferente daquela que se critica, é atributo de poucos. Talvez o mais importante seja saber o porquê do contraste, explicitar os motivos reais que nos levam a agir de modo diferente aos outros. Atuar em divergência com o sistema, sem saber por que, é irracional, e não perdura.

            Não há como deixar de lado uma história já comentada, a do telefone do filósofo inglês. Tinha esse filósofo uma curiosa gravação que atendia os chamados telefônicos quando ausente. A secretária eletrônica –answering machine, em inglês, textualmente “máquina de responder”- dizia : “Isto não é uma máquina de responder; é uma máquina de fazer perguntas –questioning machine. Quem é você e o que quer da vida?” Diante da surpresa, o perplexo interlocutor ouvia alguns segundos depois prosseguir a gravação: “Não se assuste. A maioria das pessoas vêm a este mundo e vão embora, sem ter respondido estas duas simples questões”. Saber quem somos e o que queremos é condição sine qua non para atuar de modo consciente, responsável e, quando necessário, situar-se em oposição ativa e racional a um sistema.

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UM GOLPE DO DESTINO

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(The Doctor). Diretor: Rainda Haines. William Hurt, Christine Lahti, Elizabeth Perkins. USA 1991. 123 min.

Os filmes de médicos sempre tiveram seu espaço no cinema e, em termos gerais, uma aceitação razoável da crítica. Talvez por trazer à tona uma situação na qual, antes ou depois, todos nós -humanos e mortais- estaremos envolvidos. Ninguém foge à doença e, via de regra, acaba caindo nas mãos de um médico. A solidariedade de qualquer ser humano com semelhantes circunstâncias explica a fácil sintonia do espectador com a temática do “filme-médico”, ou do “filme-hospital”.

A dimensão humana do médico costuma ser nota comum deste filmes, desde sempre. Já no ano l939, era levado ao cinema o conhecidíssimo romance de A.J. Cronin,  A Cidadela, um protótipo de gênero. No fundo, falar do médico como homem, é falar do paciente como pessoa. Eis a mensagem que vai implícita, e de importância singular. O doente é muito mais do que uma patologia ou um diagnóstico: é um ser humano que padece. Como tal, espera encontrar no médico muito mais do que competência científica. Espera compreensão, afeto, consolo e ânimo para defrontar-se com a moléstia que o acomete.

Quem sabe os filmes de médicos têm audiência porque todos gostamos de ver retratados neles o médico ideal, o médico que gostaríamos de ter quando, porventura, assumamos a condição de paciente. Destacar as virtudes que deve possuir, diminuir os defeitos, que sempre denunciam a despersonalização da medicina mais do que simples imperícia,  é o que todos almejamos.

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PATCH ADAMS – O AMOR É CONTAGIOSO

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PATCH ADAMS – O AMOR É CONTAGIOSO (Patch Adams) Diretor: Tom Shadyac. Robin Williams, Daniel Londosn, Monica Potter. USA 1998. 115 min

Vivemos num mundo de paradoxos, de contrastes. Na verdade sempre foi assim. É o tributo necessário que paga a liberdade humana e que rende seus dividendos em forma de heroísmos ou mesquinharias, traições ou fidelidades. Depende, claro está, do uso que cada um faz desse potencial que é o livre arbítrio. A novidade está em que o homem deste fim de século perdeu a capacidade de admiração, acostumou-se a viver entre paradoxos sem perguntar-se os motivos de por que perante o mesmo estímulo desafiador as respostas são tão variadas e antagônicas. E não apenas as respostas, mas as simples opiniões, os gostos corriqueiros, contrariam-se em oposição formal. Contraste pacífico, isso sim, pois não é do nosso estilo as batalhas ideológicas, e tudo o que possa cheirar a fundamentalismo. Afinal -poder-se-ia pensar- os gostos variam, nada mais natural. E fica por isso mesmo. São poucos os que se questionam sobre o porquê da variedade, numa atitude essencialmente filosófica. E para essa minoria, a pergunta vital pode descortinar um panorama imenso.

            As críticas não receberam “Patch-Adams” com bons olhos. São os entendidos em cinema, os comentaristas oficiais de tudo o que é produzido no campo da sétima arte, que pontualmente entregam suas apreciações profissionais para revistas de divulgação, jornais, e parafernália de opinião. Exagerado, grosseiro, desproporcional, e outros epítetos vinham desqualificar o filme que, na opinião dos sisudos críticos, chegava a tornar-se tedioso. “Robin Williams já esgotou suas possibilidades no papel de médico. Um chato de branco”.

            Sempre tive queda -uma espécie de carinho a priori– pelos filmes que a crítica se empenha em desqualificar. Não por aqueles que ignora, mas pelos que faz questão de destruir. Se o produto é ruim, não vale a pena gastar tinta denegrindo-o; ele mesmo se afunda. Quando se empregam páginas inteiras para dizer que é ruim, talvez seja porque simplesmente incomoda. Ou incomoda a reação do público que, contra todo prognóstico, elogia um filme que na opinião dos entendidos não passa de medíocre. Neste clima de expectativa, a curiosidade aumenta quando, no meio médico, principalmente entre os estudantes de medicina -que a muito custo conservam o ideal que lhes arrastou até a profissão mais polêmica do momento- comprova-se que o filme é recebido com entusiasmo. Está armado mais um paradoxo. Impõe-se parar, pensar, e, naturalmente assistir ao filme.

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A LENDA DO PIANISTA DO MAR

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(La leggenda del pianista sullóceano  -The legend of 1900).Diretor: Giuseppe Tornatore. Tim Roth, Pruitt Taylor Vince, Melanie Thierry. 116 min

Uma lenda, ou uma história. Em qualquer caso um filme original. 1900 é o nome do protagonista que nasceu nesse ano num navio, e nele ficou pelo resto da sua vida. Toca piano, compõe, movimenta-se com classe no cenário, possui conversas animadas e com substância, tem sentido de realidade. Mas, sempre, no navio. Sair dele é enfrentar-se com o desconhecido, tirar os pés do chão, e partir para uma aventura que não conhece e onde possivelmente não se sairá bem. Outros, sim, devem fazer isso, e o navio é apenas um meio de transporte ou de lazer. Para 1900, o navio é a sua vida, e lá, nesse reduzido espaço, tem de tornar ela útil, fazer da sua existência uma contribuição real para melhorar o mundo à sua volta.

            O sentido de realismo é perfeitamente compatível com os sonhos, e com os desafios. Sobrevém uma tempestade e o nosso protagonista encontra-se, como quase sempre, tocando piano. Um salão de festas, vazio, escuro, porque os passageiros retiraram-se, cada um na sua cabine, em luta individual contra a indisposição, enquanto a tripulação se debate com as ondas gigantes.

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