FORREST GUMP -O CONTADOR DE HISTÓRIAS
(Forrest Gump). Diretor: Robert Zemeckis. Tom Hanks, Robin Wright, Gary Sinise, Sally Field. USA, l994. l40 min

A vida humana é um mosaico de paradoxos. Assistimos, neste final de século, a uma proliferação de aberrações, novo renascimento das paixões humanas de sempre, agora formatadas em linguagem atual e pajeadas pela multimídia. Concomitantemente, o grito à procura da verdade, dos valores e da dignidade humana que encontra neles seu apoio consistente, ecoa de modo ininterrupto. O homem procura a verdade, o bem, a felicidade, no tempo em que se sente envolvido pela sordidez do meio que ele mesmo criou.

O cinema, que quando bom é vida, reflete esta procura; e também dá seus gritos de sobrevivência, reclamando para os homens valores mais altos. Atravessamos momentos carentes de simplicidade, de amor, de beleza e harmonia. E, vez por outra, nos chegam filmes como este que é todo ele um canto à simplicidade, uma apologia da virtude, de que fazer o bem compensa. A crítica, nem sempre justa, soube reconhecer a categoria de “Forrest Gump”, agraciando-o com os principais Oscar do ano. Na verdade, não há como não gostar deste filme. Gostar, todos gostam; explicar o atrativo requer algumas reflexões.

Comenta um humanista contemporâneo que a franqueza e a simplicidade são próprios do louco, da criança e do santo. O louco -e aqui cabem os diminuídos e retardados, toda a gama de indivíduos peculiares- é sincero porque carece dos dispositivos habituais de inibição. A criança é simples porque não mede o alcance das suas palavras e atuações. O santo, finalmente, porque age diante de Deus pouco se importando com o que os homens possam pensar a seu respeito.

Usar o santo -quer dizer, o homem virtuoso e honesto- como marketing de valores não parece acerto comercial e o espectador nem sempre está preparado para estes desafios frontais. Assim, sobram a criança e o louco, que Hollywood tem utilizado insistentemente como meio de transmitir valores. Uma estratégia atenuada, politicamente correta, que funciona e vende bem. Bandeira que não incomoda, útil para gritar por um mundo melhor.
“Forrest Gump”é a beleza do mundo vista com olhos de QI rebaixado. São as verdades que todos almejamos, revestidas da ingenuidade simplória de um homem que é criança. Mas são verdades que tocam, beliscam o coração e o fazem sangrar. A desconcertante ingenuidade de Forrest Gump nos chega na magnífica interpretação de Tom Hanks que monopoliza o filme, conquistando cada fotograma. É difícil, vendo o jeito desengonçado e bobão, com nobreza de fundo que se impõe em qualquer ambiente fazendo-o ficar por cima, sem contaminar-se, não lembrar daqueles filmes de sempre. Gary Cooper me vinha à memória: o rico bobo (O galante Mr. Deeds) que inunda os vizinhos de bondade e de dólares. Ou então o herói de guerra (Sargento York), que -como Forrest- ganha as batalhas com os desejos de paz e a camaradagem leal. Não é vulgar associação de ideias, mas a prova de que o homem de ontem e de hoje tem ideais semelhantes. Perdeu-se, talvez, a sinceridade de procurá-los abertamente, sem melindres. E por isso somos obrigados a veiculá-los na figura de um retardado para disfarçar nossos anseios mais profundos.
São muitas as lições que encerra este filme e destacar algumas entranha o perigo de abafar as restantes, que são também importantes: a procura de sentido, o mimetismo dos homens-rebanho, a delicada questão da educação e do exemplo, a convivência serena com a dor que nos enriquece e abre novas perspectivas, o poder redentor do amor, da amizade. E, envolvendo todas, uma lição peculiar: o aproveitamento das próprias limitações. É condição humana reclamar do que nos falta, invejar o quintal do vizinho que sempre parece melhor do que o próprio. Atitude esta que é comodismo, falto de agradecimento pelos talentos recebidos, isenção fácil de quem não os coloca para render. Não é pouca sabedoria a de quem superando reclamações e invejas, conforma-se com o que tem, e coloca nessas faculdades todo o seu potencial. Deixemos de lado as críticas e os possíveis para ater-nos com afinco ao cumprimento do dever, nas condições, modestas ou não, que possuímos. Aprender a fazer “com o que Deus te deu, o melhor possível”, é uma das grandes lições deste filme esplêndido.
Deste modo, com simplicidade e amor generoso, com o esforçado investimento das capacidades que temos, imitaremos os homens virtuosos -que Hollywood fantasia de retardados- atarefados em construir o seu destino com garra. Para eles, a vida é também uma “caixa de bombons, cheia de surpresas” mas serão sempre surpresas doces, fecundas e duradouras. Esse será também o nosso futuro se encaramos a vida como um gostoso desafio, ideal que decanta em realidades diárias se há esforço catalisador.
Forrest Gump: um filme que destila valores e que, de um jeito muito americano, sabe, como a mãe do protagonista, explicar-nos as coisas grandes da vida de modo que as entendamos bem, criando uma inveja saudável das toneladas de simplicidade, encantadoras até a última grama. E um recado final: “Eu não sou inteligente, mas sei o que é o amor”. Pareceu-me escutar Santo Agostinho quando afirmava: “Ama e faz o que quiseres”.
Comments 3
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